O amanhã sempre chega escrita por Sazi


Capítulo 9
Respingos


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, obrigada por estarem ao meu lado o tempo todo. Espero que esteja tudo do seu agrado. Perdoem os erros que eu cometo e fico animada em poder entreter vocês.



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Sempre achei que o sono fosse o maior reparador de dores, já que quando eu dormia eu não era mais nada e nem ninguém. Era apenas o sono, um lugar onde eu não levava meus problemas, como também não levava as minhas alegrias. Apenas mergulhava no que me era proposto sem me preocupar de que aquela fosse a minha realidade. Eu era apenas mais um ponto em meio ao nada. Submersa em um universo onde eu era apenas isso. Vazia. Era uma válvula de escape tão acessível. Tão simples e ao mesmo tempo tão útil. Era assim que eu me preenchia quando queria me esvaziar. Era o resultado alcançado era a meta batida. E me pergunto, questiono, implico, necessito saber se para ele, para o Ehtan esses estado de perda total é a maneira que ele encontrou de ganhar alguma coisa? O tempo voa e já fazem quatro meses. Longos quatro meses. E não há qualquer vestígio de melhora. Qualquer resquício de esperança. Apenas um coração que insiste em trabalhar quando um corpo inteiro insiste em querer deixar de lado tudo o que um dia importou. E eu o olho, todos os dias. Toco em seu corpo, não está frio. Ele está crescendo. Dia a dia, mudando. E nós mechemos com ele para que ele um dia possa voltar a fazer isso sozinho.
Hoje era mais um dia como esse. Eu estava sozinha em casa ao lado do meu irmão. Quando éramos apenas nós eu não fechava o quarto. A primeira coisa que eu fazia era trocar a roupa dele. Já havia me habituado a vê-lo apenas de cueca. Estava um pouco mais magro, mas ainda assim era um corpo bonito.
Meu pai decidiu que uma vez a cada semana nós daríamos um banho de verdade nele. Pegávamos uma piscina inflável e enchíamos de água. Com a ajuda do meu namorado e de Leonardo ele era banhado. Eu sempre ficava do lado de fora. Esperando. Imaginando como ele iria se sentir feliz quando pudesse fazer isso sozinho. Esse processo era feito apenas quando estava muito quente. O corpo dele parecia reagir melhor. Leonardo estava cursando medicina, o que eu queria também, mas diferente dele eu queria ser Neurologista. Porém o primeiro passo já estava sendo dado por ele. Era de grande ajuda.
Então meu irmão ficava bem limpo e tinha um cheiro melhor do que quando banhávamos ele apenas com algodão húmido e sabonete liquido em cima daquela cama. Depois que o banho estava concluído, era sempre a hora do almoço e enquanto todos iam comer eu ia hidratar o corpo dele com cremes. Meu namorado não gostava disso. Mas em relação a isso eu não me importava. Era o meu momento ao lado do meu irmão. Era apenas nosso. Colocava baixinho suas músicas prediletas e contava a ele como estavam os meus dias e o que eu queria fazer ou cursar. Ele me ouvia. Eu tinha certeza. Mesmo que uns dissessem que não. Eu sabia que ele estava ali. Mesmo que aquele corpo não se movesse, mesmo que o coração lutasse dia a dia. Eu sabia, eu entendia, sonhava, queria. Que logo ele acordasse. E logo poderíamos voltar a nossa rotina. Da mesma maneira. O mesmo sorriso de antes, as brincadeiras. A alegria. Não importa quanto tempo for. Eu estava disposta a esperar.
Estava chovendo e o vento frio inundava o quarto pela janela que fora esquecida aberta. Ehtan estava coberto e bem agasalhado então não me preocupei muito. Ao invés disso me debrucei na janela e fiquei levando leves respingos no rosto. Sentindo a sensação de estar viva.
– Elisa? - meu pai me tira do meu transe.
– Sim.
– Já preparou o quarto pro seu namorado? Devia se dedicar mais a ele. - ele disse sentando- se ao lado cama do meu irmão.
– Já fiz isso hoje de manhã.
– Mas se tiver alguma poeira ou irregularidade? É bom conferir não é?
– Vou daqui a pouco.
– Certo. Mas só acho que você está descuidando do seu namorado filha. Não faça isso. Você não pode perder um bom partido assim como ele.
– Eu sei pai, eu não vou perder.
Aquilo tudo estava ficando chato e bem repetitivo. Eu estava perdendo um pouco da minha paciência e não queria me irritar com meu pai, não naquele momento das nossas vidas. Se ele achava que a presença do Leonny era algo com que ele pudesse contar eu faria de tudo para que aquele rapaz ficasse ao meu lado. Eu estava realmente tentando mudar. Me esforçando. Deixando de comer demais. Reduzindo muito a minha alimentação. Entrei para o clube de boxe com a Tayla e estava aprendendo com ela várias coisas além de ir perdendo peso. No inicio eu passei mal duas vezes. Aquele regime realmente era pesado. Mas eu não iria desistir assim tão facilmente. Eu precisava ir adiante. Não podia pestanejar. E nesses meses eu já estava alcançado a marca dos setenta e seis quilos. Não era de todo alta, mas isso já contribuía muito e eu me sentia muito bem. Algumas roupas já cabiam em mim e eu estava aprendendo a me arrumar com a Laís. Mudei a cor do cabelo. Pela primeira vez na vida eu os tingi fiz umas mechas e ficou tão bonito que no fundo nem eu me reconheci quando me olhei no espelho. Junto com essas mudança as discussões também vieram. O meu namorado compreensivo e encantador estava ciumento e inseguro. Segundo ele eu estando da maneira que era ficava mais bonita e que não era necessário que eu emagrecesse mais. Já que estava chamando muito a atenção de todos os rapazes. E por eu ser bem mais nova do que ele, no fundo, se sentia ameaçado por isso. Era uma besteira da parte dele. Creio que não houve ironia maior. Ele se separou se suas namoradas por causa da insegurança que elas demostravam e hoje em dia ele é o detentor da insegurança. Não posso fazer muito em relação a isso, porém eu estou tentando não me afetar demais por isso. Meu relacionamento virou mais uma obrigação do que algo por amor. E eis uma questão de vida. Por você ser grato a uma pessoa isso implica que deverás ser fiel a ela por toda a sua vida? Em algum momento, por mais que você retribua isso de mil e uma maneiras não será o suficiente? Creio que ser grato é algo bonito e difícil de se achar nos dias de hoje. Mas por mais que eu faça algo por uma pessoa, mesmo que seja algo suficientemente grande, isso não significa que ela tenha de ser minha escrava pelo resto da vida. E era assim que eu me sentia. Assim que eu supunha.
As vezes eu voltava pra minha antiga cidade e via a minha mãe. Eu saia com ela e sua namorada e aquela mulher parecia melhor, mais animada. Comprava roupas pra mim e junto com Roberta me arrumava como uma boneca. Dizia que eu estava mais e mais bonita a cada dia e era gentil. Como se o passado não houvesse existido em momento algum. Eu apenas fazia de conta que não importava, mas no fundo eu me sentia mal. Aquelas roupas, acessórios, maquiagens, joias. Parecia que ela queria tapar um buraco. Como se eu precisasse de tudo aquilo para perdoa-la. Eu apenas sorria e aceitava. Existem pessoas que são especialistas em enganar a si mesmas. Minha mãe era esse tipo de pessoa. E eu não queria ser como ela. A realidade batia a minha porta e eu não poderia recusar em abri-la.

Por Elisa Ann Dicksen


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