Às vezes estamos tão presos dentro de nós mesmo que mal enxergamos que há uma janela de onde pode se pode ver a luz em meio a essa escuridão que nos afoga.

Aquele era um dia tenso pra mim, Ehtan já estava instalado no novo hospital e mais exames seriam feitos para verificar se ele tinha condições de receber alta. Uma mini UTI seria montada em dos quartos e assim ele poderia estar ao nosso lado sempre. Cuidaríamos dele de perto. Estava apreensiva. Tinha medo de que do nada quando não estivéssemos olhando ele passasse mal e por estar em coma não saberíamos como cuidar dele. Sentia me sufocada.

Mas ai eles apareceram. Convidando-me para entrar no mundo deles. Não pareciam que queria algo em troca. As pessoas se aproximavam apenas com esse intuito então eu desconfiei e não quis me abrir muito. Mas eles emanavam um calor humano bom. Assim eu confie algumas informações e permiti que eles adentrassem a minha casa e talvez mais na frente, a minha vida.

Laís era animada e gentil, seu namorado Daniel era muito tranquilo e parecia ser aquele tipo de rapaz dengoso, mas que luta pelo que quer quando necessário. Leonardo era o mais espontâneo.  Era daqueles que queria ajudar tudo e todos. Eu não era perita assim, só que aquelas pessoas eram fáceis demais de ler. Como um livro aberto. Aquilo me deixou um pouco tranquila.

— Não reparem na bagunça, ainda estou organizando tudo. - eu disse assim que eles entraram. Havia muitos móveis para realocar e coisas para guardar, algumas roupas para lavar. Eu passaria o dia inteiro ocupada.

— Bem, isso aqui parece trabalho para um homem. - Leonardo disse ao ver alguns móveis que precisavam ser subidos ao andar de cima.

— Eu ajudo. - Daniel se prontificou.

— Ah Elisa, se importa de eu chamar mais quatro pessoas? - quatro? Bem. Por que não?

— Tudo bem.  – eu respondi a ele.

— Você vai gostar deles. São três rapazes e uma garota.

— Certo. - eu não sabia se era a coisa certa a se fazer, deixar que várias pessoas invadissem assim a minha casa, mas aquele rapaz tinha uma áurea tão boa que eu tive de deixa-lo entrar.

— Não vai convidar a Tayla? - Laís perguntou.

— Sim, claro. Elisa então é cinco pessoas tudo bem?

— Certo.

Eles realmente estavam interessados em me ajudar. Os meninos carregaram os móveis para cima. Meia hora depois chegaram os outros. Três rapazes muito bonitos, um deles parecia ser asiático assim como uma das garotas. Um ruivo e um loiro muito encantadores e por fim a outra garota que percebi que era a namorada do Leonardo.

— Desculpa invadir assim sua casa. Meu namorado não tem muito senso comum. - ela se desculpou sorrindo.

— Tudo bem. Fico feliz em ter ajuda. Sintam-se em casa e não reparem na bagunça.

Aos poucos eles se apresentaram e se dispuseram a ajudar. Kevin, Matheus, Renan, Hirome e Tayla.

Quase duas horas depois tudo estava quase pronto. Eu nem sabia o que dizer. Eles estavam realmente colaborando comigo. Eu tinha ao menos de preparar uma refeição decente pra eles.

— Bem, eu estou sem palavras. - deu uma risada nervosa. - Fico feliz que estejam aqui. Ajudando-me.

— Tudo bem Elisa. Agora vamos fazer um bom almoço pra essas gente toda? - Laís comentou e fomos pra cozinha. Os outros se acomodaram na sala e começaram a estudar.

— Obrigada Laís. De verdade. - eu disse mais uma vez enquanto estávamos a sós. Optamos por fazer uma macarronada. Era mais rápido e daria para todos comerem bem.

— De nada. Eu estou aqui se precisar conversar. - ela lia a minha mente? Eu realmente estava a ponto de explodir. Mas por mais gentis que eles se mostrassem eu não podia confiar tudo a eles ainda.

— Sim, eu agradeço.

— Bem eu vou falar um pouco sobre eles pra você. Leonardo é o meu irmão e meio que é o líder do grupo. Depois tem os melhores amigos dele que são o Daniel, meu atual namorado. Primeiro alias. - ela riu disso. - Matheus, a mente pensante do grupo, Renan, o anti social fofinho. E por fim Kevin.

— O loiro?

— Sim, o loiro. Já as meninas são Tayla, a namorada do Leo. E a Hirome. Ela se juntou a nós recentemente, era amiga da ex do meu irmão. Ajudou muito quando precisamos e adotamos ela ao nosso grupo.

Pareciam uma família. Nunca tive amigos de verdade que quisessem estar ao meu lado para me consolar ou apoiar. Apenas pessoas que queriam alguma coisa e eu estava lá para atendê-las. Sempre sem esperar que me dessem algo em troca por isso. Era chato e meio que me deixava incomodada. Não sabia nunca quando eles diziam alguma coisa que fosse real. Mas dessa vez era diferente. Eles pareciam ser outras pessoas. Eram melhores.

— O que foi? - Tayla havia chegado perto de mim e eu nem havia percebido. Eu estava chorando?

— Nada. - enxuguei as lágrimas bem rápido. - Só estou feliz. Meio que eu nunca tive pessoas que quisessem estar ao meu lado sem esperar nada em troca. - será que eu estava me lamentando?

— Estamos aqui.

— Viemos pra ficar. - Laís completou o que Tayla havia dito.

Eu pensei que eles iam embora logo após o almoço. Mas não. Eles ficaram para estudar mesmo. Brincavam e riam. Sempre animados e dispostos a tornar aquela tarde mais feliz. Kevin parecia demais com o Lewis. Eu sei que existem pessoas que são iguais nesse mundo, mas eles eram impressionantemente parecidos. Eu evitei ficar olhando pra ele. Realmente não me causava lembranças boas.

Eram mais ou menos umas dezesseis horas quando alguns deles foram embora. Primeiro Matheus e Hirome. Depois Renan e Tayla. Ficaram apenas os irmãos, Daniel e Kevin. Por que esse teve de ficar? Algo me deixava incrivelmente incomodada com a presença dele.

— Você vai ficar aqui sozinha até que horas?  - Daniel me perguntou.

— Acho que até uma vinte e duas horas no máximo.

— Nossa. É muito. Tem certeza de que não quer que nós fiquemos com você por hoje? - Laís se pronunciou.

— Não precisa. Passaram quase a tarde inteira aqui comigo. Não há a necessidade de ficarem mais.

— Eu tenho de ir. - Daniel se levantou e eu o levei até a porta junto com a namorada dele.

— Obrigada pela ajuda. - eu disse isso a todos que iam saindo. Laís deu um beijo nele quando eu me afastei.

— Vamos Laís? - Leonardo estava caminhando para a porta. Daniel ainda não tinha ido e então eles saíram juntos. Mas antes a moça me deu um longo abraço.

— Se importa se eu ficar mais um pouco? - o loiro sobrou. - Preciso ficar só mais meia hora. Que é o tempo que minha mãe sai do trabalho. Assim eu chego em casa ao mesmo tempo que ela.

— Você não quer chegar antes dela? Geralmente é assim que alguns fazem.

— No meu caso não. Ela quer que eu saia mais com os meus amigos e sempre diz que sou muito anti social.

— Desculpa dizer, mas nem de longe parece. - eu meio que sorri envergonhada e fechei a porta. - Quer ver tv? Só não lhe ofereço o computador, por que ainda não vieram instalar a internet.

— Eu tenho pelo celular. - ele disse tirando o aparelho do bolso e dando um sorriso. - Bem. Eu percebi que você meio que estava me evitando. - ele começou a dar aquela risada de quem está nervoso. - Eu fiz alguma coisa errada?

Aquele rapaz era bem direto, bem se ele estava aqui até agora de fato quem se sentiu incomodado foi ele.

— Bem. Você é muito... - ai como eu digo isso. - parecido, fisicamente. - ele se levantou e ficou me olhando nos olhos. - Com um cara que eu não gostava muito.

— Ahhh, entendi. - decidi encarar aquele olhar dele. - Mas eu não sou ele.

— Eu sei. Só se parecem. - droga, será que eu estou sendo muito ofensiva com ele? - Me desculpa serio. - eu realmente estava nervosa. Fui passar por ele as pressas e acabei tropeçando no bendito tapete. Pronto! Eu iria cair feio no chão na frente de um convidado. Pior, de um rapaz que eu nem conheço.

— Cuidado. - antes que eu pudesse notar ele havia me segurado. Eu estava soando? Fedendo? Tinha algo errado? Pois o rapaz roçou o nariz de leve no meu cabelo.

— Obrigada de novo. - quando eu me equilibrei fiquei realmente sem graça.

— Seu cabelo... - ele hesitou um pouco. - Tem um cheiro bom. - eu fiquei sem palavras por um momento e passei a olhar firme para aquele oceano que se refletia nos olhos dele. Ficamos assim nos olhando, não sei por quanto tempo. Até que o celular dele vibra e saímos desse momentâneo transe. - Tenho de ir. Obrigada pelo almoço.

Eu o levei até a porta.

— E ah, não precisa me agradecer não. Acho que você nunca fez isso tantas vezes em um dia. - ri disso.

— Não, realmente nunca mesmo.

— E ah, bem. A Laís tem razão. Você parece uma boneca. - após dizer isso ele saiu. Levando consigo as palavras que eu poderia dizer.

...

Mais tarde o meu pai chegou em casa. Trouxe pizza como desculpa por ter chegado depois das vinte e duas horas. Como eu não tinha sono e nem iria à escola no dia seguinte comi com ele.

— Você arrumou a casa inteira?

— Eu tive ajuda.

— De quem?

— Os vizinhos. Eles são da minha faixa de idade. Vieram e me ajudaram. Mas trouxeram amigos. O senhor tinha de ver. Logo terminamos de arrumar a casa inteira e como recompensa eu cozinhei pra eles.

— Fico feliz filha. Isso é muito bom.

— Como foi hoje no trabalho?

— Foi ótimo. Elvis parece um anjo nas nossas vidas, assim como o filho dele.

— É sim. Lenny é um sonho. - falando nisso eu mandei poucas mensagens pra ele hoje e nem comentei sobre os novos amigos que eu fiz. Também não falei sobre o loiro ainda.

— Falou com ele hoje?

— Sim, um pouco. Estava ocupada com os meus novos amigos.

— Mas não se esqueça nunca do seu namorado. Isso nunca. Ele não comente salvou seu irmão. Como também esperou por você por tantos anos. - era a primeira vez que e o meu pai jogava isso na minha cara. Me senti um pouco desconfortável. Mas não podia teimar com ele ou dizer como eu me sentia. Por enquanto não.

— E meu irmão.

— Amanhã vou ao hospital antes do expediente. Os exames dele ainda não ficaram prontos.

Terminamos de comer e eu lavei o que tinha para ser limpo. Eram quase uma hora da manhã quando Lenny me ligou.

— Desculpa a hora meu amor, está tudo bem ai com você? No fim de semana eu vou te ajudar a arrumar a casa.

— Já está pronta.

— Como assim? Pronta?

— Meus novos amigos me ajudaram a arrumar tudo.

— Você já fez amigos?

— Na realidade eles que fizeram amizade comigo. Dependendo de mim eu ainda não havia falado com ninguém.

— Entendo, mas são muitas pessoas? Pois a casa é grande e tem muito o que arrumar.

— Sim, eram três garotas e cinco garotos.

— Entendi. Mas só não consigo acreditar que você deixou estranho entrarem assim na sua casa do nada. Não sabe o quanto isso é perigoso? E se eles fossem assaltantes, uma quadrilha. Não sei. - ele tinha razão. Mas por sorte não aconteceu nada.

— Desculpa Lenny, serei mais cuidadosa da próxima vez.

— Você ao menos sabe quem são eles? De onde são?

— São os vizinhos, estudam todos na mesma escolha pra onde eu vou. Sendo que mais da metade deles se forma esse ano. E ano que vem vou para a mesma sala que as duas mais nova, Laís e Tayla.

Houve silencio por um momento.

— Olha, meu amor, eu quero que você nunca mais faça isso, me entendeu?

— Claro, me perdoe. Serei mais cuidadosa.

— Bem e os garotos?

— O que tem eles?

— Nome e idade, por favor. - achei engraçado ele ter ciúmes de uma pessoa como eu.

— Bem, deixa eu ver. Leonardo, Kevin, Daniel, Matheus e Renan possuem a mesma idade. - me lembro que eles se apresentaram e disseram suas idades. Só que Matheus ainda não havia completado dezessete anos. - Laís e Tayla tem quinze anos assim como eu. E a Hirome tem dezessete anos assim como os meninos.

— Huum, quanta gente. Quem é o mais bonito ?

— Você Lenny. Apenas você. - pude ouvi-lo rir do outro lado da linha. - Que bom. Não se esqueça que eu te amo e que você é apenas minha certo?

— Sim, eu sei. Também o amo. Vou dormir. Boa noite.

— Boa noite. - desliguei o telefone e adormeci rapidamente. Mas devo confessar que acordei umas duas vezes com aqueles olhos azuis vendo através dos meus pensamentos.

Por Elisa Ann Dicksen