O amanhã sempre chega escrita por Sazi


Capítulo 13
Tumultos internos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas eu peço perdão por estar me arrastando nessa história quando eu pretendia termina-la hoje. Algumas coisas me ficaram na mente e ao mesmo tempo a nossa Elisa está em um grande impasse enquanto o Leonardo já resolveu o que tinha de resolver na sua vida. Apesar de ele fazer mais drama ela sabe bem o que quer e o que não quer. Então ajudem a Elisa a se decidir. Já que está bem difícil. E ai se fosse você, perdoaria ou não esse irmão?



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Meus passos pareciam que estavam em câmera lenta, eu não sabia se corria até ele ou se me afastava. Esperei durante tanto tempo pelo momento em que eu veria a cor daqueles olhos tão vivos e brilhantes outra vez que por um momento me esqueci do que ele havia feito conosco. Naquela hora aqueles dois sentimentos se chocaram e me fizeram pensar duas vezes antes de correr para tentar abraçar aquele rapaz.

Só que algo mais me impediu, esse algo, foi a maneira com que ele olhou ao redor e pra mim. Realmente eu estava tão diferente assim? Eram o cabelo, as roupas, a maquiagem? Ele nunca me via usar nada disso e pelo tempo que se passou eu perdi bastante peso. Mas creio que a expressão que ele deveria mostrar não era bem aquela.

— Quem é você? - aquela pergunta me atingiu de forma densa. Como assim, quem eu era?

— Ehtan, você não está me reconhecendo?

— Ehtan - ele repetiu seu nome de maneira arrastada. Ficou por um tempo olhando pros lençóis que o cobriam e depois teve a sua crise de histeria. Nesse momento meu pai entrou no quarto aturdido e quando lançou seu olhar sobre o meu irmão teve a mesma reação que eu. E os dois tentaram acalmar o rapaz que estava tendo um surto.

Não era de todo tarde. Nossa maior vontade era de conversar com ele, deixar que ele dissesse qualquer palavra sequer. Estávamos impressionados e maravilhados com ele. Como se aquele rapaz houvesse nascido agora. Os médicos foram chamados e passamos aquela noite em claro. Tínhamos medo de que ele voltasse a dormir e não abrisse mais os olhos. Lhe oferecemos comida, água. Nem sabíamos se ele poderia ou não comer. Seu estômago estava acostumado a sonda. Então ele vomitou um pouco. Se sentiu nauseado ao tentar andar. Era tudo novo ali.

Como se aos poucos ele fosse aprendendo a viver de novo. A manhã logo chegou e com ela a minha coragem de avisar ao resto das pessoas que ele havia acordado. Fui mandando as mensagens aos poucos e era respondida. Lenny estava a caminho e meus amigos também. Quando eles chegaram eu sabia que devia ter dito isso antes no exato momento. Mas no fundo meu pai e eu tínhamos medo de estarmos apenas tendo uma breve alucinação. Mas no final não era. E o que mais intrigava era o fato de que ele não se lembrava de nós.

Aquelas primeiras semanas que se passaram foram as mais difíceis. Minha mãe veio nos ver junto de sua namorada. Ehtan não sabia quem ela era e por incrível que parece, ela quis assim. Eu estava feliz demais para me incomodar com isso. Eu ia pra escola e ele ficava quieto, não dava nenhum trabalho sequer para a moça que cuidava dele. Ela me dizia que meu irmão passava os dias lendo coisas sobre a atualidade e olhando álbuns antigos ou tudo que o pudesse lhe trazer lembranças sobre de quem ele era. Andar era uma coisa nova pra ele.

Sua musculatura estava enrijecida e aos poucos nós tínhamos de fazê-la funcionar novamente. Eu tinha forças, mas mesmo assim tinha medo de cair e arrasta-lo. Então esperava que a noite chegasse e com a ajuda do meu pai, nós três caminhávamos pela casa. Já que Leonardo e os outros não vinham mais a minha casa. Eu via as meninas na escola e elas estavam sempre preocupadas. Como se eu estivesse sobre o mesmo teto que algum maníaco. E realmente, era assim que elas o viam. Que eu muitas vezes o via, mesmo lutando contra isso. Ele estava diferente, assim como um recipiente vazio. Pronto para novas experiências. Mas eu tinha medo, um extremo pânico de que um dia ele voltasse a ter as memorias originais de antes. Ele estava tão perfeito como estava. Não implicava com o que eu vestia ou com o modo com que eu me penteava ou a cor dos cabelos. Me elogiava apenas quando achava necessário e quando meu namorado ia a nossa casa eles conversavam tranquilamente sobre tudo. Como se fossem realmente amigos. Coisas que nunca seriam. E o melhor era que ele não ficava me olhando. Passava seu tempo tentando aprender sobre a nossa família. Quando nosso pai chegava a noite eles conversavam. Era tudo muito bom pra mim e no fundo eu não queria que acabasse.

— Podemos voltar pra nossa casa agora. - meu pai soltou essas palavras em dos nossos jantares.

— Eu não quero voltar. Eu gosto daqui. - completei.

— Se você diz assim, mas não podemos ficar aqui na casa daquela mulher pra sempre.

— Aluguemos uma, vendemos aquela, compramos outra. Eu não sei. Só sei que eu não vou mais embora daqui. - Lenny me olhou assustado. Parecia que não era eu quem estava ali falando com ele. Só podia ser. Já que o moreno não desviou o olhar.

— Eu não entendo você. - meu pai jogou as palavras. Meu irmão apenas comia. Ele não entendia nada do que se passava.

— Não tem nada a não entender pai. Eu era infeliz lá. E aqui eu tenho o que nunca tive, eu nunca reclamei nada e nem disse nada. Ajudei sempre no que pude e que não pude e me deixei arrastar de um lado para o outro. Mas agora eu quero ficar aqui. Eu gosto da escola, tem uma faculdade próxima que eu vou cursar. Tenho amigos, pela primeira vez na vida. Eu tenho uma vida. - nunca a raiva foi tão sentida por meus poros. Eu quis realmente gritar com eles. Com aquela situação que me era imposta.

— Tudo bem filha, mas você não fica com pena do seu namorado que tem de vir aqui sempre lhe ver? - olhei pra Lenny que me direcionou um olhar de duvida. Realmente era aquilo que eu estava ouvindo?

— Sim eu tenho pena dele por vir aqui me ver. Mas eu infelizmente não posso desistir dos sonhos que eu tracei pra mim.

— Eu não estou pedindo isso meu amor. Apenas voltar pra nossa cidade seria mais cômodo.

— Pra vocês dois?

— Sim Elisa, pra mim e pro seu namorado. - ele bateu com força as mãos na mesa. - Sinceramente, não sei de onde saiu essa rebeldia assim do nada. Não seja egoísta garota. Estamos fazendo das tripas coração para...

— Para cuidar do meu irmão. - senti que aquelas palavras foram soltas em um momento de raiva. Já que infelizmente era a verdade e não poderia ser negada assim. - Eu estou mentindo?

— Não Elisa, não está. - olhei pra Ehtan que comia tranquilamente. Depois que ele acordou ficou mais difícil saber o que se passa em sua mente.

— Desculpem, façam o que quiserem. Eu vou pro meu quarto. - abandonei a mesa deixando a comida intocada.

Não percebi quando o meu irmão me seguiu e parou na porta do quarto.

— Posso entrar Elisa?

— Sim, vem. - eu estava sentada na cama e ofereci um lugar ao lado.

— Me conta direito o porque de vocês estarem aqui. Eu peguei alguns trechos soltos da conversa e bem, se a culpa é minha, eu preciso entender o motivo.

Eu respirei fundo. Não sei se faria bem a mente dele saber de tudo daquela maneira. Ainda mais tendo se passado tão pouco tempo desde que ele recobrou sua consciência. Não sabia se dizia ou não.

— Antes que você me diga algo eu percebi que seu namorado não gosta muito de mim. Então seja lá o que eu fiz foi grave. - ele continuou sem tirar os olhos do chão.

— Você sabe de alguma coisa?

— A moça que cuidava de mim, ela meio que soltou uma coisa e outra. Juntando ao que seu namorado me contou e que eu ouvia pelos cantos da casa deduzi que eu era um monstro. - ele soltou uma risada anasalada visivelmente nervoso. - Então só completa o que eu sei e vamos parar com esses rodeios.

Me sentei em uma posição bem melhor na cama e fitei seus olhos que agora me encaravam e comecei a narrar tudo. Detalhe por detalhe. Não devo omitir que minha mente se contorcia e eu tinha a impressão que iria chorar a qualquer momento ao me lembrar de certas coisas. Era torturante e eu queria muito fugir dali. Daquela situação. Porém creio que já o fiz demais e a cada palavra que eu dizia era como se, no fundo, um enorme peso saísse de cima das minhas costas. Meu irmão escutava, seus olhos estavam cheios de lágrimas e ele as vezes desviava o olhar do meu. Parecia sentir vergonha, pela primeira vez, do que havia feito e entendido tudo.

— Você é muito boa ou muito estupida garota. - ele disse por fim me surpreendendo.- Eu no seu lugar á teria matado esse projeto de irmão enquanto ele dormir. - dos seus olhos gotejavam lágrimas sorrateiras que ele não fazia mensal de enxugar. - Eu posso pedir perdão? - ele mordia os lábios e parecia abalado. Pela primeira vez em anos eu senti que ele não estava fingindo nada. Aquela pessoa que acordara daquele coma não estava sendo falso comigo.

— Peça, mas saiba que a maior prova de que eu te desculpei foi estar ao seu lado todos os dias rezando para que você abrisse os olhos de novo. Mesmo que você tentasse mais um vez seguir adiante com esse seu amor possesivo. Mesmo que...- ele colocou o dedo indicador nos meus lábios me impedindo de prosseguir.

— Eu não sei o que dizer em defesa a aquele ser humano que estava aqui antes dessa consciência que eu tenho agora. Mas olhando pra você dessa maneira e nessas semanas que se seguiram eu pude posso entender porque  ele se apaixonou. Desculpa Elisa, eu acho que o erro sou eu por inteiro. - ele afastou os dedos dos meus lábios e se acomodou ficando em frente a mim. Seus olhos encontraram os meus com mais precisão. Quem era aquele? -

Depois que eu acordei me disseram que você era a minha irmã. E eu odiei isso. Eu me apaixonei por você de novo. E creio que não importa quantas vezes eu vá e volte eu vou me apaixonar por você. Só que o bom é que eu não penso de uma maneira doentia. Diferente dessa que você me contou que eu era. Eu quero sim, me redimir, e queria de todo coração não ter o mesmo sangue que você. - ele me surpreendeu por cada palavra sincera que saia de sua boca. Assim ele se levantou e ficou me fitando por uns instantes. - Eu não sei como apagar esse passado. Claro que não há como. - ele estava soluçando agora. -  Mas por favor me ajuda. Se foi esse sentimento que eu sinto agora que causou tudo isso, me ajuda a não senti-lo. - ele limpou as lágrimas que escorriam e lançou um sorriso. Eu realmente não sabia o que dizer a ele.

A única coisa que eu pude fazer foi me levantar e puxa-lo para um abraço. Ao tocar seu corpo eu senti que ele tremia um pouco e aquilo mexeu comigo. As vezes eu odiava o meu irmão e as vezes eu o amava. Eram sentimentos totalmente contraditórios um dos outros. Mas no fundo eu não me permitia sentir pena dele. Já que eu não sabia quando ele iria voltar a ser o irmão que eu sempre tive. Quando nos afastamos do abraço eu pude olhar nos olhos dele de uma maneira que eu nunca havia feito antes e visto que aquela pessoa que estava na minha frente tinha chances de tentar redimir o que o outro eu dele havia feito.

— Eu vou pro meu quarto. Obrigado por me ouvir. - ele disse saindo.

Fiquei sozinha com os meus pensamentos. Naquela noite Lenny veio dormir ao meu lado. Meu pai não ligava que pra isso e nos deitávamos na mesma cama. Ele nunca tentava nada mais do que beijos e abraços e isso me deixava um pouco segura.

— É por causa daquele pessoa que você não quer voltar pra casa?

— Eu já estou em casa. Eles não tem nada a ver com a minha decisão. Eu simplesmente tive aqui em menos de um ano o que não tive em quinze naquela cidade.

— Eu entendo você, mas eu estou me cansando sabe. Seu pai e eu conversamos e agora que o Ehtan acordou não há nada que nos prenda aqui. Podemos voltar. - ele se inclinou de lado para me olhar melhor. As vezes eu questionava quem realmente estava sendo egoísta ali.

— Eu quero muito ficar aqui. - eu disse de maneira sucinta. Sabia que meu pai iria me levar e eu estava começando a entrar em desespero. Definitivamente não tinha vontade alguma de voltar. Pensei nos meus amigos, na alegria que ganhara, nos sonhos que eu tinha e na forma como tudo estava sendo feita por mim, por aquele grupo de pessoas naquele tempo.

Nos dias seguintes eu conversei com os meus sobre tudo que havia se passado. Estávamos juntos como sempre no quarto do Leonardo.

— Eu realmente não quero ir embora. - sussurrei como quem pra mim mesma

— O que te impede de ficar? - Laís soltou a pergunta. Ela estava visivelmente com raiva. - Você pode ficar aqui conosco.

— Eu concordo com a minha irmã. Mas temos de saber se o pai dela também concorda com isso.

— Se for esse o problema, tem a minha casa. - Hirome de pronunciou.

— A minha ou a do Kevin. - Renan disse calmamente. - Passamos muito tempo sem companhia. Ter uma irmãzinha seria muito legal.  - aquilo me deixou comovida e eu sorri pro ruivo com todo carinho do mundo.

O loiro estava quieto. Alias desde aquele dia nós não tocamos mais sobre o assunto. Mas quando nos víamos ficávamos juntos. Mesmo que ele não pedisse que eu terminasse ou impôs-se qualquer coisa. Apenas nos entregávamos ao momento. Eram beijos e caricias tão intensas que eu tinha medo de me entregar cedo demais. Já que não havia feito isso nem pro meu namorado. Mas ele me respeitava. Ele me guiava e mantínhamos a calma. Eu não sabia realmente se o que eu sentia por ele passava de um desejo ou se já era paixão.

— Quando eles pretendem ir? - Daniel questionou.

— Talvez mês que vem. Mas ainda não é certeza. Já que o melhor amigo do meu pai está lucrando bastante com a gestão dele aqui.

— Mesmo que não seja certeza ou que seja nós vamos te ajudar. Fique tranquila. Você só vai embora dessa cidade quando você quiser. - Kevin que estava calado desde então se pronunciou me deixando sem jeito. Seu olhar iam quente de encontro ao meu e eu pressentia que já não daria mais para esconder por muito tempo que eu estava ligada a aquele rapaz por um vinculo maior do que uma simples amizade.

Por Elisa Ann Dicksen


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