O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 56
Um Amor Além de Nós (parte I)


Notas iniciais do capítulo

Esta é a primeira parte do capítulo especial, que é narrado por Henutmire. Espero que gostem!


Elenco:

Vera Zimmermann - Henutmire
Letícia Persiles - Hadany
Fernanda Vasconcellos - Tany
Rafael Cardoso - Héber
Bruna Hamú - Mayra
Marcos Pitombo - Alon
Milena Toscano - Sara
Rômulo Estrela - Eliel

Crianças:

Jesuela Moro - Ágata
Yuri Novotny - Uri
Lorena Queiroz - Mirena

Flash Back:

Floriano Peixoto - Hur
Anna Rita Cerqueira - Hadany (jovem)
Letícia Medina - Tany (jovem)
Kíria Malheiros - Mayra (criança)
Larissa Maciel - Miriã
Juliana Didone - Leila
Denise del Vecchio - Joquebede
Guilherme Winter - Moisés
Giselle Itiê - Zípora
Luiz Eduardo Toledo - Eliézer
Gustavo Henzel - Gérson



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"O amor é belo, o amor é puro
O amor não se importa com a desolação
Ele fui como um rio pela alma
Protege, percebe e persevera
E nos faz sentir completos."
(How Does A Moment Last Forever - Céline Dion)

 


"Minha querida tia, espero que este papiro a encontre bem e plena da alegria que sempre emana de suas respostas a mim. Escrevo para lhe dar uma bela notícia: eu serei mãe. Dentro de algumas luas carregarei em meus braços meu primeiro filho, ou filha. Se for menina irá carregar o seu nome, assim como eu. Se há algo de que me orgulho é de levar seu nome junto ao meu. E lhe prometo que continuarei honrando seu nome sendo rainha do Egito e jamais deixarei que seja esquecida. Onde quer que esteja, será sempre a princesa deste reino.
Lembro-me como se fosse hoje de meu avô Paser sentado a meu lado contando-me histórias sobre a senhora, a princesa destemida que enfrentou faraós por amor a um bebê escravo e por amor a um nobre hebreu. Quisera eu ter um terço de sua coragem! Lembro-me também de ver meu pai esconder suas lágrimas quando a saudade de sua irmã pesava em seu coração, ao mesmo tempo em que um sorriso único tomava seus lábios por saber que, embora distante dele, ela estava feliz como sempre mereceu. Certa vez ele me disse: "Henutmire era a única na dinastia de Ramsés I que herdou puramente dele os olhos azuis. Você tem os olhos de sua tia e será tão nobre de coração como ela é." Neste dia percebi o quanto meu pai a admirava e soube que sempre deveria me sentir honrada por possuir e por vir a possuir alguma característica sua, além do nome e da tonalidade dos olhos. A senhora é e sempre será meu referencial, minha inspiração. Meu maior desejo é um dia poder estar com a senhora e lhe dar o abraço que guardo comigo desde criança. Sei que prometi visitá-la em breve, assim que meus afazeres como rainha me permitissem algum tempo para me ausentar do reino. Mas, com a notícia da gravidez, fui orientada a não fazer uma viagem tão longa. Todavia, mantenho minha promessa. Quando meu filho nascer e estiver em condições de viajar, iremos ao acampamento dos hebreus ou quem sabe até Canaã, caso já estejam na terra prometida. Transmita lembranças minhas a seu marido, a minhas primas e meu primo, e principalmente a minha irmã. Não conheço seus rostos, mas levo cada um de vocês em meu coração.

Com todo amor e carinho, sua sobrinha,
Amyla Henutmire
Rainha-faraó do Egito."

 


Um sorriso toma meus lábios ao terminar de ler a mensagem enviada por minha sobrinha contendo tão boa notícia. Ramsés e Nefertari reergueram o Egito, mas Amyla foi quem recebeu a missão de torná-lo novamente a nação que foi um dia, de devolver ao reino sua soberania e poder. Uma menina que não conheci e que carrega meu nome junto ao seu hoje governa o reino onde nasci e sua fama como rainha percorre além das fronteiras do Egito. Amyla está as portas de completar seus trinta e cinco anos, doze deles sentada no trono como soberana absoluta do Egito. Apesar de casada, seu marido não se tornou rei e é respeitado por todos os súditos como consorte da Rainha-faraó. Trinta e cinco anos também se completam desde que parti do Egito, deixando para trás a princesa que um dia fui. Tantos anos caminhando no deserto, dias e noites onde Deus nunca deixou de nos guiar com sua coluna de nuvens ou de fogo, que nos deu água saída da rocha, que todas as manhãs envia maná para nos alimentar. Trinta e cinco anos onde coisas extraordinárias aconteceram, tanto boas quanto más.

 

—Tia Henutmire? — Mayra chama e me assusto com sua presença. — Desculpe, não queria assustá-la.

 

—Tudo bem, eu estava distraída e não te vi chegar. — Percebo seu olhar sobre o papiro em minhas mãos. — É de sua irmã.

 

—Boas notícias? — Pergunta ao sentar-se a meu lado.

 

—Amyla está grávida. — Respondo e um enorme sorriso ilumina o rosto de minha sobrinha. — Você será tia.

 

—Eu não esperava que, antes mesmo de conhecer minha irmã caçula, ela me daria um sobrinho. — Mayra deixa mais do que claro sua felicidade pela notícia, mas logo fica pensativa.

 

—O que houve, minha menina? — Questiono ao notar que ela não está pensativa e sim triste.

 

—O sangue do meu sangue reina sobre o Egito. — Responde. — Quando partimos eu sequer sabia que minha mãe estava grávida e hoje tenho uma irmã que não conheço.

 

—Se arrepende de ter deixado o Egito?

 

—Em momento algum. Se tivesse ficado teria me tornado rainha, algo que jamais desejei ser. — Mayra me olha. — Eu não trocaria nada do que vivi nesses mais de trinta anos pelo governo do reino no qual nasci.

 

—Mais de trinta anos... — Repito ao suspirar. — Às vezes não parece que tanto tempo se passou, exceto quando me olho no espelho e vejo o que os anos me fizeram.

 

—Seus olhos continuam tendo a beleza única que pertence somente a eles, e o azul que causa inveja ao céu. — Mayra sorri para mim. — Seus cabelos dourados não são menos belos por agora serem grisalhos, nem seu sorriso deixou de transmitir a paz e o carinho de sempre. A senhora continua linda, minha tia, em todos os sentidos que esta palavra possa ter.

 

—E você continua sendo a menina doce e gentil que eu vi nascer. — Falo, emocionada por suas palavras. — Fico feliz em vê-los assim, crescidos e felizes. Sei que cumpri com honras o meu papel de mãe cuidando e amando meus filhos. — Olho para Mayra e levo minha mão a seu rosto. — Todos eles.

 

—Tia... — Ela se emociona.

 

—Você nasceu para ser minha filha, Mayra, e foi assim que eu sempre te vi. — Sorrio. — A minha filhinha caçula, que apenas foi gerada em outro ventre por um equívoco do destino.

 

—A senhora sempre foi mais do que uma mãe para mim e eu sempre a amei muito além de um amor entre tia e sobrinha. — Ela agora é quem sorri. — Posso não ter nascido de seu ventre, mas nasci de seu coração e me orgulho disso muito mais do que me orgulharia se tivesse crescido no palácio como a filha esquecida do faraó.

 

—Você e seu dom de me deixar sem palavras. — Falo sem ação. Ao desviar meu olhar de minha sobrinha, acabo esbarrando-o em minha mão esquerda, mais precisamente no anel dourado em meu dedo anelar.

 

—Ainda sente falta dele, não é? — Mayra pergunta se referindo a Hur.

 

—Sempre. Não há um só dia que eu deixe de pensar em Hur e de sentir saudades do seu sorriso, do seu abraço. — Suspiro. — Mas, me conforta saber que ele está nos braços do Senhor e que em breve estaremos juntos novamente.

 

—Não fale assim, tia.

 

—Pessoas não são eternas, Mayra, apenas sentimentos o são. Hur e eu vivemos um amor além de nós, que não coube apenas em dois corações. — Sorrio. — Nosso amor extendeu-se em três filhos, em dois netos e mais um que está a caminho. Toda a nossa descendência será consequência desse amor, por isso ele será eterno.

 

—E é assim que uma história dura para sempre. — Ela sorri.

 

—Com licença, senhoras. — Héber pede ao entrar com seu típico sorriso, herança de seu pai. — Interrompo alguma coisa?

 

—Interrompe, mas eu o perdôo por isso. — Mayra diz divertida.

 

—Sempre convencida a rainha destronada. — Meu filho ri ao brincar com o fato de sua prima ter sido a herdeira do trono egípcio.

 

—Tenha respeito por aquela que te carregou no colo, seu insuportável. — Ela lhe atira uma almofada e ri. Suas palavras acabam por me fazer lembrar da primeira vez que tive meu filho em meus braços.

 

Flash back on

 

Sinto o vento suave balançar meus cabelos, enquanto caminho sozinha e afastada da multidão, porém ainda dentro dos limites do acampamento. Tento me distrair com a paisagem, as areias finas do deserto e o céu tão azul quanto meus olhos, mas na não consigo.

 

—Não deveria ficar tão distante. — Ouço uma voz próxima e me deparo com Miriã olhando-me risonha.

 

—Você também está aqui. — Falo com um sorriso. — E suponho que não veio atrás de mim.

 

—Certamente que não. — Ela ri. — Vim tentar me distrair um pouco.

 

—Vim fazer o mesmo, mas não tive êxito pois não consigo parar de pensar em Hur, em Moisés. — Falo, preocupada. — Não imaginei que em meio ao deserto passaria novamente pela angústia de ter um marido e um filho na guerra.

 

—Deus está com eles e com todos os que também foram para a luta contra os amalequitas. — Miriã afirma. — O Senhor os protegerá e os trará de volta para nós.

 

—Assim seja. — Sorrio e repouso minhas mãos sobre meu ventre.

 

—Sua barriga está tão crescida. — Ela observa e seus olhos parecem brilhar. — Como é ter alguém crescendo dentro de você?

 

—É como se cada dia te trouxesse algo novo. Como se cada nascer do sol fosse mais terno e o azul do céu fosse ainda mais encantador. — Respondo, acariciando meu ventre. — É se tornar melhor a cada instante, enquanto guarda um pequeno ser em seu ventre e espera ansiosa para tê-lo em seus braços. Ser mãe certamente é o que há de mais divino neste mundo.

 

Seus olhos azuis me sorriem, mas antes que eu possa retribuir sinto uma forte dor repentina em meu ventre que de tão intensa me faz gritar, assustando a irmã de Moisés.

 

—Princesa! — Ela me ampara, preocupada. — O que está sentindo?

 

—Muita dor. — Falo por entre os dentes. — Não é possível que... — Me interrompo ao sentir um líquido escorrer em minhas pernas e molhar minhas vestes.

 

—O seu bebê! — Miriã exclama ao entender o que está acontecendo.

 

—Ainda não é hora.

 

—Quanto tempo falta? — Pergunta.

 

—Duas semanas. — Minha resposta é seguida por mais um grito de dor. — O parto não deveria se adiantar.

 

—Adiantado ou não, seu filho vai nascer agora. — Miriã diz. — Se apóie em mim, temos chegar a sua tenda o mais rápido possível.

 

(...)

 

—Estou sentindo muita dor, Joquebede. — Falo, ofegante, após sucessivas tentativas de trazer meu filho ao mundo. — Não deveria ser assim.

 

—Nenhum parto é igual ao outro, nem mesmo o de filhos que vieram do mesmo ventre. — Ela diz.

 

—O parto de Mayra se adiantou e por muito pouco Nefertari não morreu. — Falo ao me recordar.

 

—Isso não significa que o mesmo irá acontecer com a senhora. — Leila diz ao segurar uma de minhas mãos. — Se concentre em trazer seu filho ao mundo.

 

—Não tenho mais forças. — Falo. — Eu não vou conseguir.

 

—Não desista, senhora. — Leila segura firme em minha mão. — Sabe que é mais forte do que pensa.

 

—Se Deus lhe deu este filho, também lhe deu a força necessária para trazê-lo ao mundo. — Miriã olha em meus olhos, mesmo estando a determinada distância de meu rosto. — Não desista.

 

—Seja forte, Henutmire. — Joquebede pede ao me sorrir. — Tudo isso vai passar quando estiver com seu filho nos braços.

 

Uno minhas forças e mais uma vez faço por onde trazer meu filho ao mundo, porém nada acontece. Penso em Hur, no quanto ele aguarda a chegada desta criança e nos planos que já chegou a fazer para ela. Nas vezes em que adormeceu acariciando meu ventre e sorriu como bobo ao sentir nosso filho se mexer. Penso em Hadany e Tany, em quando se reconciliaram após uma briga séria por saber que eu estava grávida e no quanto cuidaram de mim desde então. Penso em Mayra, que mesmo sem entender soube que uma vida crescia dentro de mim, que mais de uma vez disse que este filho terá olhos como os meus e que irá me ajudar a cuidar dele. Eu não posso fraquejar agora! Sonhei com este filho, o senti crescer dentro de mim. E mesmo que às vezes eu ficasse desconfortável devido a gravidez, eu sorria por saber que o coração que batia além do meu era um pedaço meu e de Hur, do nosso amor. Novamente reuno minhas forças, agora decidida a trazer meu filho ao mundo mesmo que seja a última coisa que eu faça.

 

—Respire, senhora. — Leila pede ao me ver praticamente desfalecida sobre as almofadas da cama. Meus olhos pesam e eu acabado permitindo que se fechem em meio a minha respiração irregular devido a dor e ao esforço.

 

—Você vai ter que ajudá-la, Miriã. — Ouço a voz distante de Joquebede. Tento abrir meus olhos, mas simplesmente não consigo.

 

—Ajudá-la? — Miriã se surpreende. — Mas, como?

 

—Coloque suas mãos sobre a barriga de Henutmire e ajude-a a empurrar a criança, mas sem machucá-la. — Joquebede orienta.

 

—Está bem. — Miriã concorda e logo sinto suas mãos pousarem suavemente sobre mim. Com isso, obrigo meus olhos a se abrirem.

 

—Está pronta? — Leila me pergunta.

 

—Como sempre estarei. — É tudo o que digo e com grande esforço.

 

—Quando sentir que é o momento, empurre a criança com toda sua força. — Joquebede diz. — Miriã irá te ajudar, está bem?

 

Apenas concordo com um aceno de cabeça, sequer disponho de forças para falar. Meus olhos insistem em pesar, mas não permito que se fechem. A última coisa que posso agora é perder os sentidos. Inúmeros pensamentos se atropelam em minha mente, o principal deles é a preocupação pelo parto ter se adiantado e por saber que não sou nenhuma jovenzinha que suporta com firmeza as dores de trazer uma criança ao mundo. Por um momento, penso novamente em Hur. Meu filho escolheu nascer antes do tempo e com seu pai estando em meio a uma guerra.

 

—Leila. — Faço com que se aproxime de mim de forma que apenas ela irá escutar o que irei dizer. — Se algo acontecer comigo, me prometa que cuidará do meu filho.

 

—Eu prometo. — Ela diz e suas palavras me fazem sorrir. — Mas, Deus não permitirá que nada aconteça a senhora ou a seu filho. Tenha fé.

 

Respiro profundamente mais uma vez. Olho para Miriã, que apenas com o olhar diz estar pronta para me ajudar. É hora de um esforço final pelo meu filho, o momento decisivo para mim e para ele. Com as poucas forças que me restam, faço por onde dar à luz a meu filho. E em meio a meu grito estridente, rompe o choro de um bebê.

 

—É um lindo garotinho, Henutmire. — Joquebede fala sorridente com meu filho em seus braços. Ele ainda chora, mas logo ela o envolve em uma manta e o traz até mim. Assim que Joquebede o coloca em meus braços, seu choro cessa.

 

—Meu menino. — Falo e no mesmo instante seus pequenos olhinhos se abrem para mim e passam a me olhar, como se estivesse reconhecendo minha voz e sabendo que sou sua mãe. Sorrio ao ter meu filho junto a mim, ao sentir seu corpo tão frágil e indefeso junto ao meu. Por tantos dias sonhei com esse momento, mas nada do que imaginei se compara ao que vivo agora. — Seja bem-vindo, meu filho.

 

Lágrimas de emoção e alegria se dividem com meu sorriso ao olhar para meu filho e perceber cada traço seu. Ele é uma mistura perfeita de mim e de Hur, mas ainda assim parece ser único em cada traço seu. Seu par de olhos azuis não se desviam de mim um só instante, quase posso dizer que ele sorri para mim apenas com seus olhos. Beijo seu rostinho delicado, satisfeita comigo mesma por ter sido forte o bastante para trazê-lo ao mundo.

 

—Ele tem os seus olhos, senhora. — Leila diz e só então eu percebo seu sorriso ao olhar para meu filho.

 

—Mãe. — Hadany entra no quarto acompanhada por Tany e Mayra. Elas aguardavam na sala desde o momento em que cheguei a nossa tenda trazida por Miriã.

 

—A senhora está bem, tia? — Mayra pergunta ao se aproximar de mim.

 

—Melhor impossível. — Respondo com um sorriso.

 

—É mesmo um menino como a senhora disse? — Ela pergunta e eu afirmo. A menina então passa a olhar para o bebê em meus braços. — Eu disse que ele teria olhos azuis como os seus.

 

—Vão ficar aí paradas feito duas estátuas? — Pergunto divertida ao ver minhas filhas imóveis. — Não querem conhecer seu irmão?

 

Hadany e Tany então se aproximam cautelosamente, parecendo ter medo do que quer que seja. Logo suas atenções são dirigidas apenas para o irmão mais novo, que olha para elas com certa curiosidade.

 

—Ele é lindo. — Tany diz, encantada pelo irmãozinho. — Posso segurá-lo, mãe?

 

—Claro que sim. — Com cuidado, coloco meu menino nos braços de minha filha, que o segura com tanta cautela que parece ter medo de quebrá-lo.

 

—Ele não é tão pequeno como outros recém nascidos que já vi. — Hadany fala ao segurar carinhosamente a mãozinha do irmão. — Deve ter dado trabalho a mamãe para vir ao mundo.

 

—Você nem imagina o quanto. — Leila diz divertida e rimos.

 

—Eu serei eternamente grata pelo que fizeram por mim e por meu filho. — Falo ao me dirigir a Joquebede e sua filha. — Principalmente a você, Miriã.

 

—Eu não fiz nada demais, princesa. — Ela diz, tímida.

 

—Você fez muito mais do que pensa, minha querida. Sem sua ajuda, sei que não conseguiria trazer meu menino ao mundo. — Seguro sua mão. — Muito obrigada, Miriã.

 

(...)

 

—Ele se parece com a senhora e com o papai. — Hadany sorri para o bebê em seus braços. — Aliás, não acham que ele está demorando a voltar?

 

—Estou aflita com essa demora. — Falo. — Mas, se antes eu já não podia fazer nada, agora posso menos ainda.

 

—O que a senhora pode fazer é se acalmar e lembrar que acabou de dar à luz e precisa de repouso. — Tany adverte. — Ouviu o que Joquebede disse, não é?

 

—Sim, ouvi. — Reviro os olhos. — Mas, esta espera está me consumindo.

 

—Sei o que vai deixá-la mais calma. — Hadany diz e em seguida coloca meu filho em meus braços. De fato ao tê-lo junto a mim não me preocupo com mais nada, apenas em olhar para ele e sorrir, enquanto em silêncio agradeço a Deus pelo imenso presente que me deu ao permitir que eu carregue em meus braços mais uma vida gerada por mim.

 

—É verdade, ele nasceu! — Ouço Mayra falar eufórica com alguém na sala. — Venha ver!

 

Não demora muito para que minha sobrinha entre no quarto, trazendo Hur pela mão. Meu marido se paralisa ao olhar para mim e eu ao olhar para ele. O encontro de nossos olhares dura até que seu olhar vai de encontro a nosso filho. Seu sorriso tão belo ilumina seu rosto e lágrimas fazem seus olhos brilharem. Hadany e Tany, que estavam a meu lado, dão espaço para que Hur se aproxime de mim. Ele, por sua vez, caminha lentamente em minha direção, sem deixar de sorrir um só instante.

 

—Quer conhecer nosso filho? — Falo assim que tenho meu marido junto a mim.

 

—É mesmo um menino? — Hur pergunta e eu afirmo. Ao ouvir a voz do pai, meu filho abre seus olhos e passa a olhá-lo. — Ele tem os seus olhos, Henutmire.

 

—Eu espero que ele tenha o seu sorriso. — Olho para meu marido.

 

—Quando cheguei e Leila me contou eu mal consegui acreditar. — Ele diz.

 

—Meu irmãozinho não quis esperar mais. — Hadany ri. — Já sabemos quem será o apressado da família.

 

—Como se nós duas fôssemos muito pacientes, não é? — Tany fala rindo.

 

—Ele é lindo, Henutmire. — Hur acaricia o rostinho de nosso filho e se emociona. — Obrigada por esta grande alegria, meu amor.

 

—Sou eu quem devo agradecer a você por tudo e por tanto. — Levo minha mão a seu rosto e prendo seu olhar ao meu. — Eu te amo.

 

—Eu também te amo. — Ele sorri antes de unir nossos lábios em um beijo suave.

 

—Tia, qual vai ser o nome dele? — Mayra pergunta.

 

—Isso é seu tio quem sabe. — Respondo e olho para meu marido — E então, meu amor? Como vai se chamar o nosso menino?

 

—Héber. — Hur diz ao tomar nosso filho em seus braços e no mesmo instante lembro-me do sonho que tive, onde meu filho dizia que era este o seu nome. Uma lágrima de emoção escapa de meus olhos, mesmo se quisesse não poderia conter. — Que significa companheiro.

 

Flash back off

 

—É de Amyla? — A pergunta de meu filho me traz de volta a realidade.

 

—Sim. — Respondo ao enrolar o papiro. — O trono do Egito ganhará um herdeiro.

 

—Fico feliz por minha prima, espero um dia conhecê-la. — Ele sorri.

 

—Certa vez, ainda no Egito, Hadany sonhou que Ramsés coroava uma nova rainha sobre Egito, com uma coroa feita de ouro adornada com flores azuis. — Falo ao me recordar. — No mesmo sonho, o trono de meu irmão estava destruído e em seu lugar havia um novo trono igualmente adornado das mesmas flores azuis.

 

—O trono de Amyla é adornado de flores azuis que passaram a brotar nas margens do Nilo após seu décimo quinto aniversário. — Mayra me olha. — O sonho de Hadany foi...

 

—Uma profecia. — Héber interrompe ao completar o que a prima dizia. — Sobre a cabeça da rainha do Egito repousa a coroa dourada e azul.

 

—Mayra, pode por favor pegar aquele baú? — Peço a minha sobrinha, mostrando-lhe um baú a certa distância. Não demora para que ela traga o objeto a minhas mãos.

 

—Sempre quis saber o que tem dentro deste baú, mas a senhora nunca me mostrou. — Héber diz.

 

—É um presente que Ramsés me deu quando parti. — Abro o baú diante de meu filho, revelando as coroas douradas dentro dele. Héber permanece olhando-as com curiosidade, como se não soubesse o que realmente são. — São a lembrança física mais forte que eu e suas irmãs temos da época em que fomos princesas do Egito.

 

—São lindas. — Ele toma nas mãos uma das coroas, a minha. — Esta é a sua?

 

—Sim, a primeira que foi feita para uma princesa da dinastia de Ramsés I. — Respondo. — Estas são de Hadany e Tany, iguais e feitas por seu pai.

 

—Ele era muito talentoso no que fazia. — Meu filho sorri de uma forma única. — Você também tem uma, Mayra?

 

—Sim, foi feita por Uri. — Ela responde.

 

—O irmão que não conheci. — Héber sussura e em seguida olha atentamente para algo. — Esta é diferente. De quem é?

 

—É sua. — Respondo e meu filho me olha, surpreso. — Seu tio mandou que fosse feita, antes mesmo de você nascer. Ele disse que você também seria um príncipe do Egito, independente de onde estivesse. — Pego a coroa de ouro e prata em minhas mãos e de forma solene coloco-a sobre a cabeça de Héber. O objeto reluzente faz contraste com seus cabelos negros. — Deixamos títulos para trás há mais de trinta anos, mas não podemos negar que somos do sangue da casa real do Egito. — Olho nos olhos de meu filho. — Você cresceu como um filho de Israel, mas a partir de hoje sabe que é também um príncipe.

 

—Eu não sei o que dizer. — Ele se mostra emocionado e seus olhos me sorriem. — Obrigado, mãe.

 

—Não há nada o que agradecer, meu menino. — Sorrio.

 

—O que acham de um passeio em família? — Mayra sugere e só então percebo que ela também se emocionou. — Está um dia tão bonito, acho que devemos aproveitar.

 

—Ótima ideia, minha prima. — Héber concorda. — Vou avisar aos outros. Onde nos encontramos?

 

—No rio. — Falo.


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