O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 57
Um Amor Além de Nós (parte II)


Notas iniciais do capítulo

Vamos de segunda parte.



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Sorrio ao ouvir as gargalhadas de meus netos brincando nas margens do rio, sob os olhares atentos de Alon e Eliel. Quão doce e inocente são seus olhares, contemplam a vida da forma simples e bela que ela é aos olhos de uma criança. Poucas vezes em minha vida me senti tão plena como agora.

 

—Os olhos de minha sogra têm um brilho especial quando olha para seus netos. — Sara chama minha atenção para si.

 

—Eles são sangue do meu sangue, são uma parte mim neste mundo. — Repouso minha mão sobre o ventre volumoso de minha nora. — Olharei para esta criança da mesma forma.

 

—Héber acha que é um menino. — Ela me olha. — E que herdará os olhos da avó.

 

Às vezes chega a ser espantoso a forma como a herança de cor de meus olhos prevalece em minha descendência. Hadany e Tany, assim como Héber, herdaram de mim o olhar azul e tal herança deram a seus filhos. Eu seria tola em duvidar que os filhos de meus netos também herdarão a cor do céu em seus olhos.

 

—Adivinha quem é. — Sou surpreendida por pequenas mãos cobrindo meus olhos e por uma voz que conheço muito bem.

 

—É a minha sobrinha mais linda. — Respondo.

 

—Assim não vale. — As mãozinhas deixam meus olhos e logo vejo Mirena diante de mim. — A senhora sempre acerta.

 

—É porque te conheço desde de que nasceu. — Sorrio. A menina corresponde a meu sorriso, mas logo leva uma das mãos até a boca. — O que houve, minha pequena?

 

—Não posso sorrir.

 

—Por que não? — Pergunto e como resposta ela mostra o espaço vago em sua boca causado pela perda de um dente.

 

—Caiu hoje de manhã. — Ela diz, tristonha.

 

—Toda criança passa por isso, Mirena. — Sara tenta confortá-la. — Logo nascerá outro no lugar do que se foi.

 

—Não deve deixar de sorrir por isso, está bem? — Digo ao tocar em seu queixo, fazendo com que olhe em meus olhos.

 

—Sim, senhora. — A menina então me dá seu mais largo sorriso. — Eu posso fazer uma pergunta?

 

—Quantas quiser.

 

—Minha mãe é sua sobrinha, mas a senhora diz que ela também é sua filha. — Mirena me olha com ares de confusa. — Se é assim, eu sou sua sobrinha e também sua neta?

 

—Exatamente. — Respondo.

 

—Então, eu devo te chamar de titia ou de vovó? — Pergunta, me fazendo rir.

 

—Como achar melhor. — Sorrio.

 

—Estamos fazendo um castelo de areia, Mirena. — Uri diz ao se aproximar, juntamente com Ágata. — Quer ajudar?

 

—Quero sim. — Mirena responde.

 

—Então, vamos. — Ele pega uma das mãos da menina e juntos dão alguns passos a frente, mas param ao perceber que falta alguém. — Você não vem, Ágata?

 

—Podem ir, eu já vou. — Ela responde e os dois se dirigem a margem do rio. Só então percebo que minha neta esconde uma das mãos atrás de si. — Trouxe uma coisa para a senhora, vovó.

 

—E o que é? — Pergunto, curiosa. Logo uma bela flor de pétalas brancas surge diante mim.

 

—Encontrei na margem do rio. — Ágata diz ao colocar a flor entre meus cabelos.

 

—É linda, meu amor. — Sorrio para ela. — Se encontrar outras, traga-as para mim que eu farei com elas uma linda coroa para você.

 

—Está bem. — Seus olhos azuis brilham para mim.

 

—Será que eu posso ajudar a construir o castelo? — Sara pergunta.

 

—Claro, tia Sara. — A menina se anima. — Mas, a senhora consegue ir até lá?

 

—Seu primo está um pouco pesado, mas ainda consigo andar. — Sara ri. — Minha sogra se importa de ficar sozinha?

 

—Nunca estou sozinha, minha querida. — Falo. Minha nora então se levanta com o máximo de rapidez que o tamanho de seu ventre permite.

 

—Vamos? — Ela estende sua mão para a menina.

 

—Espera. — Ágata pede e em seguida deposita um beijo em meu rosto.

 

Minha neta então sorri ao unir sua mão com a de Sara e juntas caminham até a margem do rio. É impossível não me impressionar cada vez que olho para Ágata e percebo o quanto ela é uma cópia fiel minha quando criança. Fisicamente, nada herdou de Tany ou de Alon. Ela é exatamente igual a mim, até mesmo o tom dourado de seus cabelos. É sem dúvida a maior representação de minha continuidade neste mundo. Já Uri tem de mim apenas os olhos e alguns traços de personalidade, sendo em traços físicos uma mistura de Hadany e Eliel.

 

—Você iria gostar de estar aqui agora. — Falo ao olhar para a aliança em minha mão esquerda. Acabo rindo sozinha ao me lembrar de como ela veio parar em meu dedo.

 

Flash back on

 

—Mostre para o papai quantos anos você vai fazer. — Hur pede.

 

—Três. — Héber responde com sua voz terna de criança e logo coloca três dedinhos diante do pai.

 

—Olha o que eu achei, tio Hur. — Mayra diz ao aparecer na sala com um brinquedo de Héber que estava sumido pela tenda.

 

—Brinca comigo, Mayra. — Héber pede para a prima. Logo a menina se senta com ele e os dois passam a brincar.

 

—Está tão calada, meu amor. — Hur nota meu silêncio ao sentar-se a meu lado. — Aconteceu alguma coisa?

 

—Apenas pensando.

 

—Em quê? — Pergunta enquanto se serve de água.

 

—Hur, você aceita se casar comigo? — Bastou eu terminar de falar para meu marido se engasgar com a água que bebia.

 

—Que tipo de pergunta é esta, Henutmire? — Ele me olha confuso e eu começo a rir. — Nós já somos casados.

 

—Eu sei, meu amor. Mas nos casamos segundo os costumes do Egito, achando que nossa união era abençoada por divindades que na verdade não existem. — Explico. — Não acha que deveríamos nos casar dentro das tradições hebreias?

 

—Não discordo. — Ele diz, mas não parece estar convencido. — Acha mesmo que há necessidade?

 

—É apenas um desejo meu, pensei muito nisso desde o casamento de Arão e Joana. — Falo e passo a olhar nos olhos de meu marido. — Sei que você sempre esteve nos planos de Deus para mim, que desde o início foi Ele que nos uniu. Por isso, eu quero ser sua esposa com a bênção do Senhor e segundo os costumes do povo de Israel. — Acaricio seu rosto ao lhe sorrir. — E então? Você aceita?

 

—Acho que não é certo você me pedir em casamento. — Suas palavras me deixam um tanto quanto desapontada. Todavia, Hur faz com que eu fique de pé e em seguida se ajoelha em minha frente. Ele toma minha mão esquerda na sua, antes de me olhar com seu sorriso único. — Henutmire, você aceita ser minha esposa mais uma vez?

 

—É claro que sim. — Acabo por me emocionar, como se fosse a primeira vez que passo por isso. Hur se levanta e olha em meus olhos, enquanto uma de suas mãos acariciam meus cabelos loiros agora já compridos. — Aceitaria todas as vezes, desde que em todas elas fosse você a fazer o pedido.

 

—Eu te amo. — Ele sussura com ternura e então une seus lábios aos meus.

 

(...)

 

—Quer nos dizer algo, mãe? — Hadany pergunta, certamente ao notar-me um pouco inquieta.

 

—Aconteceu alguma coisa enquanto fomos ao rio? — Tany questiona enquanto se serve de água para aliviar o calor da caminhada do rio até nossa tenda.

 

—Seu pai e eu vamos nos casar. — Falo e no mesmo instante Tany se engasga com a água, exatamente como aconteceu com Hur.

 

—Como? — Hadany indaga.

 

—Sei que já somos casados, mas por uma cerimônia egípcia diante de falsos deuses. — Respondo. — Seu pai e eu vamos nos casar segundo as tradições hebreias. Somos parte do povo de Israel, nada mais certo do que honrar os costumes.

 

—Já falou com Moisés sobre isso? — Tany pergunta.

 

—É o que vou fazer agora.

 

(...)

 

—Shalom. — Falo ao entrar na tenda de meu filho.

 

—Shalom, minha mãe. — Moisés se aproxima e deposita um beijo em meu rosto.

 

—Shalom, Henutmire. — Joquebede sorri. — Sente-se, por favor.

 

—Obrigada. — Falo e nos sentamos os três. — Estão apenas vocês dois?

 

—Sim, Miriã e Zípora foram lavar roupas no rio e os meninos foram com elas. — Meu filho responde e passa a me olhar com atenção. — A senhora quer dizer alguma coisa?

 

—Quero sim.

 

—Então diga. — Moisés serve-se de água, enquanto espera o que tenho a dizer.

 

—Hur e eu queremos nos casar. — Foi preciso apenas eu completar minha frase para Moisés se espantar e também se engasgar com a água. — Por que todos reagem assim? — Pergunto comigo mesma.

 

—Casar? — Meu filho indaga. — Mas, já são casados.

 

—Sim, eu sei. Mas, Hur e eu nos casamos dentro da cultura egípcia, baseada em deuses que não existem, embora isso não diminua a veracidade do nosso amor e do que vivemos e construímos juntos. — Argumento. — Queremos nos casar conforme as tradições hebraicas, termos a bênção de Deus em nossa união.

 

—A senhora tem certeza disso? — Ele questiona.

 

—Absoluta, meu filho. — Respondo. — Mas sei que como líder do povo, você precisa dar seu consentimento.

 

—É uma atitude muito nobre de sua parte, Henutmire. — Joquebede me sorri, enquanto Moisés parece pensativo. — Não é necessário, mas você o faz para honrar nossas tradições.

 

—Apesar de minha origem egípcia, é ao povo de Israel que eu pertenço. — Olho para meu filho, que continua em silêncio e com expressão séria.

 

—Moisés, pare com isso ou vai fazer Henutmire morrer do coração. — Joquebede o repreende e em seguida ri. Logo Moisés passa a rir também e eu suspiro aliviada ao ver que meu filho estava brincando comigo ao aparentemente não aprovar minha ideia.

 

—É claro que tem o meu consentimento e ficarei muito feliz em celebrar a cerimônia. — O sorriso de meu filho me faz sorrir também. — Mas, tem um porém.

 

—Qual? — Pergunto, já angustiada.

 

—Diga a Hur que ele deve vir me pedir a sua mão pessoalmente. — Moisés diz divertido.

 

—Posso fazer isso agora mesmo. — Ouço a voz de Hur e me deparo com ele dentro da tenda de Moisés. Hadany e Tany devem ter contado ao pai o que vim fazer aqui.

 

—Eu não estava falando sério, mas se quiser não irei dispensar a formalidade. — Meu filho brinca.

 

—Moisés... — Hur se aproxima dele com certa cautela. — Você me concede a mão de sua mãe em casamento?

 

—Jamais negaria isso a você, meu amigo. — Moisés sorri e abraça Hur.

 

Flash back off

 

Na época parecia aos outros a ideia mais estúpida que já tive. A notícia de que a mãe adotiva do libertador iria se casar novamente com seu marido percorreu todo o acampamento, agradando a uns ou desagradando a outros. Todavia, nada disso importou. Hur construiu a huppah com ajuda de amigos, enquanto eu me envolvia com a preparação do meu vestido, do véu e das flores que usaria no cabelo e as que iriam decorar a huppah. Passei dias rodeada por Hadany, Tany, Leila, Zípora e até mesmo Mayra. Pareciam mais animadas com os preparativos do que eu própria. Até que, dois dias após o terceiro aniversário de Héber, o povo se reuniu próximo a huppah para assistir a cerimônia de meu casamento.

 

Flash back on

 

—Acho que nenhum filho terá a honra que tenho agora em realizar a cerimônia de casamento de minha mãe, da mulher que me criou e dedicou a mim todo o seu amor. — Moisés sorri enquanto fala. — Eu e muitos aqui sabemos que vocês já compartilham uma vida e uma família juntos. Seus caminhos se encontraram ainda no Egito e que desde então não são mais dois e sim apenas um. O amor de vocês é exemplo em todos sentidos, maior e mais forte que obstáculos. — Meu filho me olha. — Mesmo sem saberem, Deus guiou seus passos, lhes presenteou ao colocar um na vida do outro e a partir de hoje terão a bênção do Senhor em sua união.

 

Com um gesto de meu filho, inicio as sete voltas em torno de meu marido. Embora talvez não se possa ver com clareza, devido ao véu que cobre meu rosto, meu sorriso é impossível de ser contido. O olhar de Hur me encontra cada vez que passo diante dele e assim eu vejo seu sorriso ser totalmente para mim. Ao dar a última volta, meu olhar vai de encontro a meus filhos. Héber permanece de pé entre Hadany e Tany, segurando as mãos das irmãs. Seus sorrisos enquanto presenciam a cerimônia são os mais belos presentes que eu poderia receber agora. Me coloco novamente ao lado de Hur, que recebe de Moisés uma taça com vinho.

 

—Eu pertenço a minha amada e ela me pertence. — Ele diz após beber do vinho e entrega-me a taça.

 

—Eu pertenço ao meu amado e ele me pertence. — Falo com um sorriso que tenta disfarçar minha emoção. Faço por onde levantar o véu que cobre meu rosto apenas o suficiente para levar a taça aos lábios e beber do vinho.

 

Hur volta seu olhar para Mayra, que se aproxima trazendo em suas mãos duas alianças douradas. Com delicadeza, ele toma minha mão esquerda na sua e coloca a aliança em meu dedo, sobrepondo sobre ela um beijo terno. Só então percebo que no meio dela brilha uma pequenina pedra azul. Então, é a minha vez de tomar sua mão e colocar a aliança em seu dedo, depositando também um beijo sobre ela.

 

—Bendito és tu, Senhor, que se alegra e abençoa a estes noivos. Que sejam ainda mais felizes, tendo uma vida de paz e harmonia. — Moisés sorri. — Diante de Deus e do povo de Israel, eu os declaro marido e mulher.

 

Foi então que nos colocamos frente a frente e Hur retirou o véu de sobre meu rosto. Nossos olhares se encontram por alguns instantes, como se dissesem o que palavras não podemos dizer. Neste momento, sou mais uma vez esposa do grande amor da minha vida.

 

—Assim eu te torno minha esposa. — As palavras de Hur são acompanhadas de seu sorriso.

 

—Assim eu te torno meu marido. — Sorrio.

 

—Felicidade aos noivos! — Moisés exclama e a multidão repete em conjunto. E em meio aos aplausos de todos, meu marido une seus lábios aos meus.

 

Flash back off

 

—Onde os pensamentos de minha mãe estão? — A voz de Hadany me traz de volta de minhas lembranças. Ela e a irmã se sentam a meu lado, me deixando entre elas.

 

—Estava me lembrando de quando seu pai e eu nos casamos. — Respondo. — Até hoje penso que metade das pessoas que estavam presentes queriam apenas ver com seus próprios olhos uma princesa egípcia se casando como uma hebreia.

 

—Não pode negar que foi no mínimo curioso para todos. — Tany fala rindo.

 

—A senhora honrou as tradições hebraicas mesmo tendo outras origens. Foi nobre e corajosa. — Hadany diz. — Ainda me lembro de tudo, principalmente de sua coroa. Foi a mais linda que já vi, embora não tenha sido tão fácil encontrar flores azuis no deserto.

 

—Na verdade, nós tingimos algumas de azul. — Tany brinca, me fazendo rir.

 

—Minha descendência está crescendo. — Sorrio ao olhar as três crianças e em seguida ver Héber depositar um beijo carinhoso sobre o ventre de sua esposa.

 

—Tanto a descendência de sangue quanto a descendência de coração. — Hadany acrescenta. — Os filhos de Moisés são homens feitos, em breve te darão bisnetos.

 

—Isso prova que de fato estou ficando velha. — Falo rindo. — Ainda me lembro do dia em que os conheci.

 

Flash back on

Imerso em seu sono frágil, coloco Héber entre as pequenas e macias almofadas de seu cestinho após amamentá-lo. Certamente um grande privilégio que tive em minha vida foi poder eu mesma alimentar meus filhos quando ainda dependiam de meu leite, mesmo tendo amas que podiam fazê-lo por mim, como quando Hadany e Tany nasceram. Confesso que nunca lidei bem com a ideia de ver meus filhos nos braços de outra mulher, sempre pensei que amamentar trata-se um momento único e precioso entre uma mãe e seu bebê.

 

—Mãe? — Moisés chama por mim ao entrar. Ele me vê zelando pelo sono do irmão caçula e sorri. — Incomodo?

 

—De maneira nenhuma, meu filho. — Respondo, indo até ele. Noto que há algo diferente em seu olhar e um sorriso insistente em seus lábios. — Está tudo bem, Moisés?

 

—Tenho uma surpresa para a senhora.

 

Sem entender, vejo Moisés sair e me deixar sozinha na sala. Não demora muito para que meu filho retorne trazendo consigo uma mulher e duas crianças, dois meninos. Tão curiosos quanto os seus olhares sobre mim é o meu sobre eles.

 

—Esta é minha esposa, Zípora, e estes são nossos filhos. — Meu filho os apresenta.

 

—É um prazer em conhecê-la, minha sogra. — A mulher dá um passo a frente e me dirige um sorriso. — Moisés sempre falou muito sobre a senhora.

 

—Ele também me contou maravilhas a respeito de minha nora. — Sorrio e lhe dou um abraço. — Fico muito feliz por finalmente conhecer você, Zípora.

 

—A senhora é mais bonita do que o papai nos contou. — Um dos meninos diz ao se aproximar de mim com um sorriso nos lábios. — Eu sou Eliézer.

 

—E eu sou Gérson. — O outro menino também se aproxima. — Podemos te dar um abraço, vovó?

 

—Claro que podem. — Falo, emocionada, e no mesmo instante sou envolvida por seus braços, assim como eles pelos meus. — Que netos lindos você me deu, Moisés.

 

—Fiz o melhor que pude, minha mãe. — Ele brinca, nos fazendo rir.

 

—É menino ou menina? — O olhar de Eliézer vai de encontro ao bebê no cestinho.

 

—Menino. — Respondo. — Se chama Héber.

 

—Ele também é tio de vocês. — Moisés acrescenta.

 

—Mas, ele é tão pequenininho. Parece mais um irmãozinho caçula do que nosso tio. — Gérson diz, rindo.

 

—Podem chegar perto dele. — Falo e meus netos então se aproximam do bebê.

 

—Cuidado para não acordá-lo. — Zípora adverte ao ver que os filhos tocam levemente a mãozinha de Héber. — Há quanto tempo que ele nasceu?

 

—Três meses. — Falo e a reação de minha nora me faz rir. — Não se dê ao trabalho de disfarçar seu espanto, minha querida. Sei que é surpreendente eu ter um filho mais novo que meus netos.

 

—Héber é um milagre e uma bênção que Deus concedeu a minha mãe. — Moisés diz ao abraçar a esposa pela cintura. — Sem contar que é o centro das atenções de toda a família.

 

—É um anjo que o Senhor me presenteou. — Sorrio. — Já conheceu minhas filhas?

 

—Sim, e também o senhor seu marido. — Zípora responde. — Estavam lá fora quando cheguei e Moisés nos apresentou.

 

—Os meninos ficaram abismados por terem mais duas tias, além de Miriã e das seis irmãs de Zípora. — Moisés fala. — Acho que posso dizer que tenho mulheres demais em minha família.

 

—Hur diz o mesmo. Acho que ele agradece a Deus todos os dias pela chegada de Héber, pois assim deixou de ser o único homem entre quatro mulheres nesta tenda. — Falo e rimos.

 

Flash back off

 

—A senhora tem uma excelente memória, mãe. — Tany diz.

 

—Bons momentos nunca devem ser esquecidos. Lembranças e seus detalhes compõe o que chamamos de viver. — Falo.

 

—Do que as senhoras tanto falam com estes sorrisos que podem ser vistos de longe? — Héber pergunta ao se aproximar e sentar-se conosco.

 

—Lembranças. — Hadany responde. — Tem alguma boa lembrança, irmãozinho?

 

—Muitas. — Ele responde e fica pensativo. — Se lembram de quando eu quis aprender a manejar uma espada?

 

—Seria impossível esquecer, nossa mãe quase teve um ataque do coração. — Tany ri e minha mente se perde em lembranças.

 

Flash back on

 

—Não, Héber. — Nego mais uma vez.

 

—Mas, Hadany sabe lutar de espada e Tany é boa com arco e flecha. — Ele argumenta. — Por que eu não posso, mamãe?

 

—Você só tem nove anos, ainda é muito pequeno para pegar em armas. — Falo.

 

—Não vejo razão em não deixar, Henutmire. — Hur intervém.

 

—Você quer ver nosso filho se arriscando com uma espada na mão? — Pergunto, indignada. — Ele pode se machucar, Hur.

 

—Não se ele for bem treinado. — Meu marido ressalta. — Mais cedo ou mais tarde ele terá que aprender, Henutmire. Melhor que seja agora, não acha?

 

—Não, não acho. — Discordo. — Héber ainda é uma criança.

 

—E por isso sua capacidade de aprender é maior que a de qualquer um de nós aqui. — Ele diz. — Você aprendeu tudo o que uma princesa deve saber quando ainda era uma criança. Meu pai me ensinou a lidar com jóias quando eu ainda era criança.

 

—Se eu não aprender, não poderei ser um guerreiro do exército de Israel. Não poderei ajudar nosso povo a conquistar a terra prometida, nem proteger a senhora, minhas irmãs e minha prima. — Os olhos azuis de meu filho me olham de uma forma que nunca antes fizeram. — Eu prometo que só vou lutar na guerra quando eu for grande e que sempre vou voltar para a senhora, mamãe.

 

—Você está certo, meu menino. Você é um filho de Israel e tem o direito de lutar pelo nosso povo, quando chegar o momento. — Me abaixo a altura de meu filho e olho em seus olhos. — Tem minha permissão.

 

—Obrigado, mamãe. — Ele me abraça fortemente.

 

—Suas irmãs irão treinar você. — Falo.

 

—Nós? — Hadany e Tany indagam ao mesmo tempo.

 

—Por que não? Seu irmão só veio me fazer este pedido porque viu vocês treinando suas habilidades a certa distância do acampamento. — Respondo. — Agora, irão treiná-lo e desejo boa sorte desde já.

 

Flash back off

 

Naquela época, colocar minhas filhas para treinar o irmão mais novo pareceu a forma mais segura de deixá-lo aprender a lidar com armas, já que eu tinha a certeza de que elas não iriam machucá-lo. Anos depois, soldados experientes perdiam para Héber nos treinos. Meu filho se tornou o melhor e mais habilidoso guerreiro da tribo de Judá, e praticamente todos duvidavam quando ele dizia que aprendera tudo o que sabia com suas irmãs.

 

—Está atrasada. — Héber fala divertido quando Mayra se aproxima de nós.

 

—Não me atrasei, Mirena quem se adiantou e me deixou para trás. — Minha sobrinha ri. — Trouxe este bolo que acabei de fazer, ainda está quentinho.

 

—O cheiro está maravilhoso. — Hadany diz. — Eu trouxe frutas frescas que colhi esta manhã.

 

—Eu trouxe suco e um pouco de vinho. — Tany fala.

 

—E Sara trouxe pães. — Acrescento, rindo. — Parece que teremos uma refeição em família na beira do rio.

 

—Garanto que não há coisa melhor do que isso. — Mayra sorri. — Podemos estender um tecido no chão para colocar a comida e nos sentarmos todos juntos. O que acham?

 

—Minha prima e suas ótimas ideias. — Héber ri.

 

—Eu tenho um tecido grande que dará exatamente para isso. — Tany então se levanta. — Vou buscar na nossa tenda, não demoro.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês nos comentários.



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