O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 52
Capítulo 52




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Por Henutmire

 

O momento chegou, a despedida final é agora um fato. Estes serão os últimos olhares, os últimos abraços, os últimos sorrisos. Ramsés despediu-se de mim, mas recusou-se a fazer o mesmo com minhas filhas alegando que dar adeus a meninas que viu crescer seria maior dor do que poderia suportar. Eu não estava presente quando ele se despediu de Mayra, mas minha sobrinha contou-me que pela primeira vez viu lágrimas nos olhos de seu pai quando ele lhe entregou sua coroa de princesa do Egito e deu-lhe um último abraço. E enquanto Paser se despede de Simut e Radina, olho a minha volta e um sorriso se divide com uma ponta de tristeza. Deixarei para trás o palácio onde nasci e cresci, onde criei Moisés e onde encontrei meu grande e verdadeiro amor. Onde me casei com Hur, onde trouxe ao mundo minhas filhas e onde eu as vi crescer. As boas lembranças de tudo o que vivi neste lugar sempre estarão vivas dentro de mim.

 

—Não chore, vovô. — Mayra pede quando lágrimas tomam Paser ao se colocar diante da neta. — Eu vou embora, mas sempre estarei pensando no senhor. Assim, vai me sentir sempre bem pertinho do seu coração.

 

—Que criança especial é você, minha neta. — Ele abraça a menina e acaricia seus cabelos, que agora não mais se escondem sob uma peruca. — Que privilégio eu tenho de ter visto você nascer e ter tido sua presença em minha vida.

 

—Quero que fique com ela. — A menina entrega sua boneca favorita a Paser. — Guarde para se lembrar de mim.

 

—Guardarei com muito carinho. — Paser sorri para sua neta.

 

—Não deixe que a mamãe sinta raiva de tia Henutmire por ela estar me levando. — Mayra pede e então passa a me olhar. — Uma vez eu a fiz prometer que se um dia fosse embora do palácio me levaria com ela. — Minha sobrinha fala, me fazendo recordar daquela ocasião. — Diga a mamãe que minha tia apenas está cumprindo a promessa que me fez.

 

—Sua mãe irá entender, tenho certeza. — Ele afirma, mas a verdade é que eu já imagino minha cunhada enfurecida quando souber que sua filha partiu comigo e com permissão do pai. — Eu tenho e sempre terei muito orgulho de você, Mayra.

 

—Eu te amo, vovô. — Ela o abraça mais uma vez, antes de lhe dar um último sorriso e se colocar ao meu lado.

 

—Eu posso lhe fazer uma última pergunta, meu sábio amigo? — Pergunto a Paser e seu sorriso me responde que sim. — Não sei quanto tempo caminharemos pelo deserto até chegar a Canaã. Você acha que isso pode oferecer algum risco a minha gravidez?

 

—Todo o cuidado se faz necessário quando uma mulher carrega uma vida dentro de si. Mas, vossa alteza estará cercada das pessoas que ama, seu coração estará feliz e isso é o mais importante para o bem estar da senhora e da criança em seu ventre. — Ele responde. — Mas, se houver qualquer imprevisto, Simut estará por perto para ajudá-la.

 

—Assim o mestre vai deixar a princesa ainda mais preocupada. — Simut diz, com jeito divertido tão típico, e nos faz rir.

 

—E quanto ao funeral de meu irmão? — Hadany pergunta.

 

—Eu mesmo cuidarei pessoalmente de todos os detalhes, princesa. — Paser diz. — Uri será embalsamado e sepultado com todas as honrarias que lhe são devidas como nobre que era.

 

—Como ele sempre desejou. — Suspiro e um leve sorriso se forma em meus lábios.

 

—Princesa Henutmire? — Ouço uma voz masculina chamar por mim.

 

—Oseias? — Indago ao me deparar com o rapaz, que está acompanhado por um outro jovem.

 

—A senhora está... diferente. — Ele sorri e noto seu olhar atento sobre meus cabelos loiros. — Este é meu irmão, Eleazar.

 

—Alteza. — Eleazar me dirige uma pequena reverência.

 

—O que fazem aqui? — Pergunto. — Não deveriam estar se preparando para partir?

 

—Meu tio Moisés pediu para virmos ao palácio buscar a senhora e suas filhas. — Oseias responde. — E pelo que vejo, já se preparavam para deixar o palácio.

 

—O rei nos deu permissão para partir com os hebreus. — Tany se pronuncia. — Já estávamos para ir até a vila.

 

—Como Moisés sabia que iríamos? — Questiono.

 

—Ele não sabia, senhora. — Eleazar responde. — Mas, quando nos mandou vir até aqui o fez com tamanha certeza que talvez Deus tenha falado ao seu coração que sua mãe e irmãs iriam conosco.

 

—Isso é possível, mãe? — Hadany pergunta.

 

—Nada é impossível para Deus, minha filha. — Sorrio.

 

—É tudo o que irão levar? — Oseias pergunta sobre os poucos baús com pertences meus, de minhas filhas e de minha sobrinha.

 

—Não precisaremos de mais do que isso. — Respondo com um sorriso.

 

—Estou pronta, tia. — Mayra segura firme em minha mão, demonstrando sua confiança em mim para cuidar dela de agora em diante.

 

—Não é a filha do rei? — Eleazar indaga, surpreso.

 

—Agora eu sou filha dela. — Minha sobrinha responde.

 

—Ela irá comigo, meu irmão permitiu. — Falo sorrindo.

 

Hadany e Tany se despedem de Paser, enquanto os filhos de Arão pegam nossos poucos pertences para levarem até a vila. O baú no qual estão as coroas dadas por Ramsés está nas mãos de Eleazar, que mesmo sem saber do que se trata o carrega com todo o cuidado que é capaz. Então, olho uma última vez para o palácio antes de caminhar com minhas filhas e sobrinha em direção aos portões. Simut e Radina seguem nossos passos e logo ficamos todos diante dos portões, que no mesmo instante se abrem para nós. Repouso uma de minhas mãos em meu ventre e olho para trás, me deparando com o sorriso de Paser ao me fazer uma última reverência. Olho para Hadany e Tany, que mesmo em meio a tristeza de seus olhos conseguem sorrir confiantes para mim, assim como Mayra faz. Suspiro, como que enchendo meu coração de coragem e esperança, e atravesso os portões.

 

Por Hur

 

Ando de um lado para o outro pela sala vazia, deixando claro meu nervosismo ao esperar que os filhos de Arão retornem. Não sei de onde veio a certeza de Moisés quando afirmou que Henutmire e nossas filhas partirão conosco para a terra prometida, mas confesso que me encheu de esperanças. Mesmo sabendo que Ramsés jamais permitiria, talvez minha esposa tenha conseguido convencê-lo de alguma maneira.

 

—O senhor está me deixando nervoso com tanta inquietação. — Bezalel me repreende.

 

—Se acalme, meu sogro. — Leila pede, em vão.

 

—Talvez não seja prudente que Henutmire venha conosco. — Falo e minha nora me olha abismada.

 

—Por que está dizendo isso? — Ela pergunta.

 

—Henutmire está grávida, serão dias de caminhada pelo deserto. — Respondo, nervoso. — Talvez isso não faça bem a ela e a nosso filho.

 

—Ela terá todos os cuidados que precisar, Hur. — Leila diz. — Além disso, a princesa certamente conta com a proteção e cuidado do próprio Deus.

 

—O senhor não quer deixar sua esposa para trás, quer? — Bezalel pergunta e eu afirmo que não.

 

—Minha irmã também está grávida e mesmo assim irá atravessar o deserto como todos os outros. — Leila acrescenta, afim de que isso me acalme.

 

—Mas, a gestação de Abigail ainda está no início. — Ressalto. — A de Henutmire já completou seis luas.

 

—O que significa que não falta muito para que conheça seu filho. — Meu neto diz e sorri. — Não se preocupe, meu avô. Deus está no controle de tudo, se Ele fez por onde a princesa partir conosco cuidará dela no deserto.

 

—E nós, que somos a família hebreia da senhora Henutmire, também cuidaremos dela. — Leila afirma com um sorriso de satisfação.

 

Por Hadany

 

Atravessamos uma multidão de pessoas até chegar a vila. Durante o caminho, notei que os egípcios davam aos hebreus objetos de ouro, prata e tantos outros objetos de valor. Parece até que estão pagando aos hebreus pelos anos em que foram escravos no Egito.

 

—Estou ficando sem jeito com os olhares deles. — Tany fala, incomodada com alguns olhares curiosos sobre nós.

 

—Deve ser porque é a primeira vez que vêem egípcias que possuem seus cabelos naturais. — Falo.

 

—Mas, não somos puramente egípcias. — Ressalta.

 

—Nossa mãe e nossa prima são.

 

Assim como nossa mãe, Tany e eu chegamos a conclusão de que não fazia sentido usar perucas, que são claramente parte da cultura egípcia, depois de saber que iremos partir com os hebreus. Nossos cabelos e a fé no Deus de Israel são as únicas características hebreias que temos, até o presente momento.

 

—Eu não imaginei que fossem tantos. — Minha mãe fala sobre os hebreus.

 

—A nação de Israel é grandemente numerosa, princesa. — Oseias fala com um sorriso. — São milhares de pessoas que hoje deixam para trás anos de escravidão, sem contar nos muitos egípcios que se juntaram a nós.

 

—Princesa Hadany? — Alguém chama por mim e logo me deparo com Chibale. Não consigo disfarçar meu incômodo ao vê-lo e sentir seu olhar sobre mim. — Vossa alteza também irá partir com os hebreus. — Ele conclui ao ver os báus carregados por Oseias e Eleazar. — É uma grande surpresa, jamais pensei que o rei permitiria que as princesas deixassem o Egito. — Seu olhar não se desvia de meus olhos, mas permaneço séria e em silêncio. — Quando deixei o palácio na noite de ontem, pensei que nunca mais voltaria a vê-la e que a última lembrança sua que eu teria seria a discussão que tivemos quando eu lhe propus fugir do palácio. — Meu silêncio deixa Chibale desconcertado. — Eu me arrependo de minha atitude naquele dia, alteza. Peço que me perdoe, por fav...

 

—Não me dirija a palavra. — Falo friamente ao lhe interromper. — Creio que fui bastante clara quando disse para ficar com seu arrependimento e não me pedir perdão. — Dou-lhe as costas, deixando claro o quanto ignoro sua existência.

 

—Será que vocês podem me dizer onde encontro Moisés? — Simut pergunta quando volto minhas atenções para a conversa. — Eu tenho que entregar isso a ele.

 

—Meu tio ainda deve estar em sua casa, eu te levo até lá. — Oseias diz. Ele entrega a mim e a Tany os pertences que trazia em suas mãos e em seguida se retira com Simut em direção a casa de meu irmão.

 

—Senhora Henutmire! — Alon exclama com felicidade ao ver minha mãe.

 

—Alon! — Ela o surpreende com um abraço e um sorriso. — Não sabe como é bom vê-lo bem, meu querido.

 

—Eu digo o mesmo, minha senhora. — Ele sorri e volta seu olhar para mim, minha irmã e minha prima. — Se vossas altezas estão aqui, isso significa que...

 

—Que não será dessa vez que você se verá livre de nós. — Falo rindo e percebo que meu sorriso para Alon incomoda Chibale. Todavia, faço o possível para permanecer indiferente a isso. — Também vamos deixar o Egito.

 

—Nós também vamos para a terra prometida, tio. — Mayra fala sorridente. Porém, sua última palavra nos deixa confusos e ela se dá conta disso. — Ele é irmão de minha mãe, não é? Sendo assim, é meu tio.

 

—Acho que nenhum de nós havia parado para pensar nisso, minha menina. — Minha mãe ri.

 

—Hur ficará tão feliz quando vê-las. — Alon diz e apenas isso basta para os olhos de minha mãe brilharem.

 

—Onde ele está? — Ela pergunta, ansiosa.

 

—Na casa de Abigail. — Eleazar responde. — Eu levo as princesas até lá.

 

—Obrigada, Eleazar. — Minha mãe agradece.

 

Por Henutmire

 

Eleazar nos trouxe até a casa da irmã de Leila e em seguida se retirou para ir de encontro a sua família. Alon e minhas filhas conversam sobre as mortes de Amenhotep e Uri, enquanto eu permaneço imóvel olhando para a porta da casa e tentando imaginar qual será a reação de meu marido ao nos ver.

 

—Tio Hur está aí dentro? — Mayra pergunta e eu aceno afirmativamente com a cabeça. — Então, o que a senhora está esperando para entrar?

 

—Não sei. — Respondo rindo. — Acho que meu coração está tão feliz que chega a ter medo.

 

—Não precisa ter medo, tia. — Ela sorri com doçura. — A felicidade não machuca ninguém.

 

—Você tem razão. — Sorrio.

 

—Princesas! — Leila exclama com um sorriso ao sair da casa e nos ver.

 

—Leila! — Abraço-lhe fortemente.

 

—A senhora se lembra das muitas vezes em que estava triste por achar que iria ficar longe de seu marido e eu lhe disse para ter fé? — Ela me olha, emocionada. — Foi para que acreditasse que viveria este momento, senhora.

 

—Agora mais do que nunca eu sei que quando confiamos plenamente em Deus, Ele age a nosso favor e satisfaz os desejos de nossos corações. — Falo com um enorme sorriso.

 

—Ele está esperando. — Leila fala se referindo a Hur. — Entrem.

 

—Está tudo bem, minha mãe? — Hadany pergunta ao notar que me paraliso diante da porta.

 

—Sim. — Suspiro. — Não poderia estar melhor.

 

—A porta é o único que nos separa de sermos uma família completa outra vez. — Tany sorri. — Precisamos passar por ela.

 

—Eu espero por vossas altezas aqui. — Alon fala e coloca nossos pertences junto a ele.

 

—Vocês primeiro. — Falo para minhas filhas.

 

Leila abre a porta devagar e logo entramos silenciosamente na casa. Já não há móveis ou qualquer outro pertence, tudo está vazio. Detenho meus passos ao estar no meio da sala. Mayra permanece ao meu lado, mas minhas filhas não fazem o mesmo. Elas vão até Hur, que por estar de costas não percebe nossa presença.

 

—Pai? — Tany chama assim que ela e a irmã se aproximam dele.

 

Hur se vira solenemente e um largo sorriso ilumina seu rosto assim que seus olhos contemplam Hadany e Tany. Os três se abraçam de imediato e tal cena me emociona de forma que lágrimas em meus olhos contrastam com o sorriso em meus lábios.

 

—Minhas filhas! — Ele diz, ainda abraçado a elas. — Como eu tive medo de nunca mais pode abraçá-las.

 

—Não sinta mais medo, pai. — Hadany diz quando o abraço se desfaz. — Nós somos uma família e sempre estaremos juntos.

 

—Sempre. — Hur fala e então seu olhar se volta inteiramente para mim. Seu sorriso cativante agora é somente meu, assim como seu abraço que logo envolve meu corpo junto ao seu. E ao sentir meu coração bater junto ao de Hur, sinto-me plenamente completa outra vez. Não sou mais metade, sou inteira novamente.

 

—Eu estou aqui, meu amor. — Falo ao notar que Hur parece ter medo de me soltar e eu ir embora. — Estou aqui com você e nunca mais iremos nos separar.

 

—Eu tive tanto medo, Henutmire. — Ele olha em meus olhos. — Medo de partir e te deixar.

 

—Nenhuma razão, por maior e mais forte que seja, é capaz de separar duas vidas que o amor uniu para sempre. — Sorrio e repouso minha mão em seu rosto. — O meu lugar é onde você está.

 

—Eu te amo tanto, meu amor. — Hur diz e em seguida une seus lábios suavemente aos meus.

 

—Eu também te amo. — Falo com toda a doçura de que sou capaz.

 

—Você está linda. — Ele sorri, um tanto quanto emocionado, ao tocar em meus cabelos. Logo sua mão repousa sobre meu ventre. — Como está grande.

 

—Ele cresce mais a cada dia. — Falo e no mesmo instante meu filho se faz notar ao se mexer dentro de mim, o que deixa Hur como um bobo.

 

—Ele se mexeu, Henutmire! — Meu marido diz com um enorme sorriso.

 

—Isso já não é novidade, pai. — Hadany ri. — Meu irmãozinho é um tanto inquieto, às vezes não deixa a mamãe dormir à noite.

 

—Mas, basta ela conversar com ele que logo ele se acalma. — Tany acrescenta com um sorriso.

 

—Vocês também eram assim quando estavam aqui dentro. — Hur fala, nostálgico. — Quando se agitavam, bastava o som doce da voz de sua mãe para acalmá-las. — Ele me olha e sua mão desliza sobre meu ventre. — Eu passei tantas noites acordado, imaginando que não conheceria o rosto dessa criança, que não a veria crescer. Meu coração de pai chorava por amar tanto um filho que não viria a conhecer.

 

—Não pense mais nisso, meu amor. — Olho em seus olhos. — Você verá nosso filho nascer, estará ao seu lado quando ele der seus primeiros passos, o verá crescer.

 

—Ele terá olhos da cor do céu, como os de tia Henutmire. — Mayra ressalta, nos fazendo rir.

 

—Eu não duvido disso, pequena alteza. — Meu marido sorri e em seguida me olha. — Sua sobrinha irá conosco?

 

—Sim. — Respondo. — Mayra pediu ao pai para vir comigo e ele concordou.

 

—Confesso que estou surpreso. — Ele fala. — A propósito, como convenceu Ramsés a deixá-las partir?

 

—Eu nada fiz. — Minha resposta o deixa confuso. — Nenhuma palavra foi dita, nenhum pedido foi feito. Ele apenas me disse: "Vá e seja feliz".

 

—A morte de Amenhotep fez meu tio abrir seus olhos e reconsiderar suas atitudes, redimir seus erros. — Tany fala. — Assim como ele deu a liberdade aos hebreus, deu também a nós.

 

—Agora ficaremos juntos, meu amor. — Sorrio ao abraçar Hur e logo trago minhas filhas e sobrinha para dentro do abraço. — Eu, você, nosso menino e nossas três meninas.

 

(...)

 

—Como sua barriga está crescida, minha mãe. — Moisés sorri ao tocar em meu ventre. — Tem certeza que é apenas um?

 

—Nem me fale uma coisa dessas, meu filho. — Falo, rindo. — Eu já estou contrariando demais as leis da natureza humana para estar grávida de gêmeos novamente.

 

—Aposto que Hur não acharia ruim se fossem dois. — Moisés fala e olha para meu marido. — Não é mesmo, Hur?

 

—Certamente que sim. — Hur responde e eu o olho com certa repreensão. — Mas, apenas um está bom.

 

—Agradeço por isso. — Falo, fazendo todos rirem.

 

—Pode contar conosco para o que precisar, princesa. — Joquebede fala com toda a sua gentileza. — A senhora e suas filhas agora são parte de nossa família.

 

—Muito obrigada, Joquebede. Eu nem sei o que dizer. — Falo um tanto quanto emocionada. — É uma nova etapa em nossas vidas, diferente de tudo o que já vivemos. Mas, poder contar com pessoas boas como você e sua família tornará tudo mais fácil.

 

—Não sabemos muito sobre a forma como os hebreus vivem, mas estamos dispostas a aprender. — Hadany fala.

 

—E nós, a ensinar. — Miriã diz ao sorrir, mas algo me dá a impressão que seu sorriso não é de todo espontâneo. — Em pouco tempo irá parecer que viveram como hebreias a vida toda.

 

—Que Deus te ouça, Miriã. — Tany ri. É incrível como aparentemente estamos nos dando tão bem com a família hebreia de Moisés.

 

—É bom que aprendam mais sobre nossa cultura, sobre nosso Deus. — Meu filho leva seu olhar até Hadany, Tany e Mayra. Em seguida, leva-o até mim. — Mas, o mais importante vocês já têm. A fé e a certeza de que o Senhor de Israel é o único e verdadeiro Deus.

 

—A cada dia que se passa esta certeza apenas aumenta. Seria impossível não acreditar e reconhecer o poder de Deus ao carregar dentro de mim um milagre concedido por Ele. — Sorrio e repouso minhas mãos sobre meu ventre. Logo Hur envolve seus braços em minha cintura e suas mãos se colocam sobre as minhas. Meus olhos de mãe brilham ao olhar para meus três filhos. — Eu sempre sonhei em ser mãe, mas achava que era um sonho impossível e distante. Então, Deus me deu Moisés, o filho que meu coração escolheu e amou desde o primeiro momento. — Minhas palavras emocionam Moisés, que sorri para mim. — Depois, o Senhor me deu Hadany e Tany de uma só vez, as filhas nascidas de mim, meu sangue e todo meu amor. E agora, Ele me deu este que ainda guardo comigo e não vejo a hora de tê-lo em meus braços.

 

—O Senhor é justo e excelente em seus planos. — Joquebede diz, sorrindo. — Ele jamais coloca um sonho em nosso coração que seja impossível de se realizar.

 

—Com licença. — Arão pede ao entrar na casa de sua mãe. Em meio a tantas pessoas, o olhar do irmão de Moisés recai diretamente sobre mim e um belo sorriso logo me é dado. — Princesa Henutmire.

 

—Como vai, Arão? — Sorrio para ele.

 

—Muito bem. — Responde. — Fico muito feliz que a senhora, suas filhas e sua sobrinha irão partir conosco.

 

—Mais felizes estamos nós, acredite. — Falo.

 

—Conte comigo e minha família para o que precisar. — Ele diz com seu sorriso que não se desfaz por nada enquanto me olha.

 

—Eu agradeço muito a gentileza de todos vocês. — Sorrio mais uma vez para Arão, mas logo percebo que Hur não está satisfeito com tal coisa, embora disfarce extremamente bem.

 

—Estão todos prontos, meu irmão? — Moisés pergunta.

 

—Sim, eu vim mesmo para avisá-lo. — Arão responde e finalmente seu olhar se desvia de mim. — Estamos apenas aguardando você.

 

—A senhora e as meninas estão prontas? — Moisés me pergunta.

 

—Sim. — Respondo.

 

—Então, chegou a hora. — Moisés sorri ao tomar nas mãos o seu cajado.

 

Então, todos deixamos a casa e logo nos vemos em meio a uma multidão de inúmeros hebreus. Nos olhos de cada mulher, homem, jovem, criança ou ancião reluz o brilho da liberdade enfim conquistada. Moisés e Arão tomam seus lugares a frente do povo e ao sinal de meu filho todos caminham em direção aos portões da cidade. Minha família e eu caminhamos logo atrás de Moisés e Arão, juntamente com o restante da família hebreia de meu filho. Hadany e Tany seguram as mãos uma da outra, enquanto trocam olhares cúmplices e sorrisos confiantes. Mayra segura firmemente a minha mão esquerda e me sorri da forma única que somente ela consegue. Minha mão direita está entrelaçada a mão de meu marido, que me olha com toda sua ternura e amor. Um largo sorriso ilumina meu rosto enquanto meu coração parece querer saltar pela boca tamanha é a minha felicidade. Não demora muito para que passemos em frente ao palácio e ao olhar para cima vejo Ramsés na sacada a observar a multidão que deixa o Egito. Me é impossível descrever seu olhar e com tal dizer o que está sentindo. A expressão de seu rosto é neutra, nada demonstra. Até que seus olhos encontram a mim no meio da multidão. Ramsés fica a me olhar por alguns instantes, assim como eu mesma faço. Então, inesperadamente, um tímido sorriso nasce em seus lábios e ele, com uma de suas mãos sobre o lado esquerdo de seu peito, fecha seus olhos e curva sua cabeça em sinal de reverência a mim. Fico sem reação alguma, mas quando meu irmão volta a me olhar eu lhe sorrio ao sussurar-lhe um último adeus.


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