O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 46
Capítulo 46




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Por Henutmire

 

Sete dias se passaram desde que Moisés anunciou uma nova praga, dias nos quais passei noites sem dormir. É como se eu não conseguisse pensar em outra coisa a não ser no sofrimento que a morte de tantos primogênitos trará. Mães e pais que perderão seus primeiros filhos, não consigo imaginar coisa pior. E sobretudo, penso nos primeiros filhos homens que tenho perto de mim, a começar por Amenhotep. Sei que meu sobrinho não é minha responsabilidade, mas saber que a sua vida corre perigo me deixa apreensiva. Ele pode ser um rapaz mimado, que se acha superior aos outros, mas a sua morte trará a seus pais tamanha dor que sou incapaz de mensurar. No entanto, Amenhotep é minha menor preocupação. Uri é o primogênito de Hur, assim como Alon é o primogênito de Anat e Disebek. Ambos são meus enteados, minha responsabilidade dentro deste palácio. Passo a maior parte de meu tempo pensando em uma forma de protegê-los desta praga, mas não encontro solução.

 

—Henutmire! — Nefertari entra em meus aposentos sem a menor cerimônia e visivelmente nervosa. — Eu preciso de sua ajuda.

 

—Se estiver ao meu alcance, farei com prazer. — Falo.

 

—Me ajude a convencer Ramsés a deixar os escravos partirem. — Ela pede e eu tento disfarçar um sorriso inoportuno. — Está sorrindo?

 

—A vida é uma ironia sem fim, minha cunhada. — Eu a olho. — Uma vez eu fui até a você, fiz o mesmo pedido que me faz agora e a rainha se negou a me ajudar.

 

—Mas, você não é a rainha, não é como eu. Você é a princesa, bondosa e acima de tudo justa. — Nefertari segura minhas mãos. — Você é mãe como eu, compreende o meu desespero diante da possibilidade de perder meu único filho.

 

—Sim, eu sei bem como se sente.

 

—Então, eu imploro que me ajude. — Seus olhos suplicantes são tomados por lágrimas. — Amenhotep pode morrer, eu não posso ficar parada sem fazer nada.

 

—Não apenas Amenhotep, mas todos os primogênitos do Egito. — Eu a repreendo por ainda pensar somente em seu filho em um momento como este. — O que exatamente quer que eu faça? Sabe muito bem que Ramsés não me dará ouvidos.

 

—Venha comigo até a sala do trono. — Minha cunhada pede. — Somos as mulheres mais importantes na vida de Ramsés, se juntas pedirmos para que deixe os hebreus partirem talvez ele reconsidere.

 

—Não tenha tanta esperança, Nefertari. Eu vi a forma como meu irmão expulsou Moisés do palácio, ele estava furioso. — Falo. — Além disso, até mesmo seu pai já tentou abrir os olhos do rei e convencê-lo a deixar o povo hebreu partir, mas Ramsés segue irredutível.

 

—Você agora tem aquilo que os hebreus chamam de fé, não tem? — Sua pergunta me surpreende. — Será que essa tal fé não te faz acreditar que Ramsés pode mudar de ideia?

 

—Faria, se eu não conhecesse meu irmão tão bem como conheço. — Respondo. — Mas, eu irei com você.

 

Por Hur

 

Desde que Moisés nos disse o que irá acontecer, passo todo o meu dia preocupado pensando em Uri, o meu primogênito. Deus também disse a Moisés o que deve ser feito para assegurar a sobrevivência dos primogênitos de nosso povo e por isso tomei a perigosa decisão de vir até o palácio, com meu neto, para falar com Uri.

 

—Acha que ele irá conosco? — Bezalel pergunta, apreensivo, enquanto esperamos Uri do lado de fora do palácio.

 

—Eu espero que sim. — Respondo. — Seu pai não seria tão tolo a ponto de arriscar sua própria vida.

 

—Olhe, ele está vindo. — Meu neto fala ao avistar Uri vindo em nossa direção.

 

—Quando Ikeni me disse que estavam aqui eu quase não acreditei. — Meu filho diz assim que ficamos frente a frente. — Por que se arriscou vindo até aqui, pai?

 

—Porque a sua vida é importante para mim, meu filho. — Falo e olho em seus olhos. — Você é meu primogênito, Uri. Estará em perigo se ficar aqui.

 

—Se o que Moisés disse realmente acontecer, minha vida corre risco dentro do palácio ou fora dele.

 

—Isso não é de todo verdade. — Bezalel fala, chamando a atenção de seu pai para si. — Deus disse a Moisés o que temos que fazer para proteger os primogênitos hebreus.

 

—E isso é possível? — Uri indaga.

 

—No dia da praga, deveremos marcar as portas de nossas casas com o sangue de um cordeiro imaculado. Assim, quando o anjo destruidor passar pelo Egito estaremos protegidos. — Falo. — Mas, o rei não deve saber ou então não haverá chance de salvar nenhum primogênito.

 

—Pai, o senhor tem que vir para a vila conosco. — Bezalel diz com firmeza.

 

—Eu não posso. — Uri se nega. — Não posso deixar o palácio de uma hora para a outra, tenho toda uma vida aqui.

 

—A sua vida será ceifada se continuar aqui. — Olho nos olhos de meu filho. — Eu sou seu pai, criei você sozinho mas mesmo assim eu te amei e te amo com toda a força que há em mim. Eu não quero perder você, Uri.

 

—O senhor não vai me perder, pai. — Ele me dirige um sorriso confiante. — O soberano ainda pode mudar de ideia, talvez a rainha e a princesa consigam convencê-lo a ceder.

 

—E se não conseguirem? — Meu neto questiona.

 

—Não seja tão incrédulo, Bezalel. — Uri diz e nos olha. — Tudo irá acabar bem, vocês verão.

 

Por Hadany

 

Em silêncio, observo Mayra e Pepy distraídos com um brinquedo. Olhar para o filho de Karoma me faz lembrar que ele é primogênito, assim como tantos outros, e que sua vida também corre perigo. No entanto, o que mais me apavora é a possibilidade de perder meu irmão. Uri me viu crescer, esteve ao meu lado desde que nasci. E mesmo que às vezes se sinta inferior, sei que não hesitaria em dar a sua vida para proteger a mim e a Tany. Ele sempre foi o irmão mais velho, o mais responsável. Aquele que nos chamava a atenção e que nos livrava dos perigos.

 

Flash back on

 

—Para quê serve isso? — Pergunto com uma ferramenta da oficina em mãos.

 

—Cuidado, você pode se machucar. — Uri pega a ferramenta. — É para a lapidação de pedras.

 

—E isso? — Pergunto sobre uma pedra vermelha e brilhante.

 

—É um rubi. — Ele responde. — Sua mãe gosta de rubis.

 

—Uri, por que a minha mãe não é sua mãe? — Pergunto.

 

—Pensei que você já houvesse entendido o porquê.

 

—Eu só tenho cinco anos. — Mostro meus cinco dedos da mão diante dele. — Eu não entendo tudo.

 

—Venha cá. — Meu irmão me toma em seus braços e me coloca sentada sobre a mesa, assim eu fico a sua altura. — A minha mãe foi a primeira esposa de nosso pai, foi do ventre dela que eu nasci. Ela faleceu quando eu ainda era muito pequeno, mais novo do que você. Nosso pai ficou sozinho durante muito tempo, até conhecer a princesa Henutmire e se apaixonar por ela. Os dois se casaram e dessa união nasceram Tany e você. Por isso nós temos o mesmo pai, mas não a mesma mãe.

 

—Então, a mamãe é a segunda esposa do papai?

 

—Sim, assim como o papai também é o segundo marido da princesa. — Ele diz e me deixa confusa. — Mas, este não é um assunto para você.

 

—Por que não?

 

—Porque você ainda é uma criança. — Uri me coloca no chão.

 

Flash back off

 

—Obrigada por ficar com as crianças, alteza. — A voz de Karoma me traz de volta de minhas lembranças.

 

—Não precisa agradecer. — Falo. — Está mais calma?

 

—Sim, embora o medo de perder Pepy ainda me deixe angustiada. — Ela fala. — Mas, não quero demonstrar este medo diante de meu filho, ele é quem mais precisa que eu seja forte e segura.

 

—Eu sei o que está sentindo, essa praga também ameaça a vida de meu irmão. — Suspiro. — Não entendo como meu tio pode insistir com esta loucura. Nove pragas atingiram e destruíram o Egito, Amenhotep pode morrer e nada disso parece convencer o rei.

 

—Uma coroa é colocada sobre a cabeça, mas às vezes ela cega quem a está usando. — Karoma diz.

 

Por Henutmire

 

Conforme Nefertari pediu, tentei ajudá-la a convencer Ramsés, mas meu irmão não escuta ninguém. Agora, eu os observo discutir como se eu não estivesse aqui. Fiz o que pude, mas logo desisti diante da teimosia do rei. Ao contrário de Nefertari, que acha que gritar mais alto do que o marido fará como que ele lhe dê ouvidos.

 

—Eu já disse que não! — Ramsés fala, com tom de voz elevado. — Eu não vou ceder perante um deus sem rosto, sem nome.

 

—Nem mesmo para salvar a vida de nosso filho? — Nefertari questiona.

 

—Você não está acreditando que realmente irá acontecer, está? — Ele pergunta.

 

—Tudo o que Moisés disse aconteceu, nove pragas foram anunciadas e todas elas se cumpriram. — Ela responde. — Por que seria diferente desta vez?

 

—Eu pensei que você fosse mais inteligente, Nefertari. — Meu irmão diz, deixando a esposa sem ação. — Amenhotep é o herdeiro do trono, como tal é protegido pelos deuses.

 

—Eu não vou ficar de braços cruzados enquanto nossos deuses duelam com o deus de Moisés! — Minha cunhada esbraveja. — É a vida do meu filho que está em jogo!

 

—Nosso filho. — Ramsés ressalta. — Eu não serei conhecido como o rei que se curvou diante de escravos. Isso jamais!

 

—Chega! — Esbravejo, farta de tanto ouvir gritos. — Tudo isso é uma completa perda de tempo.

 

—De acordo, minha irmã. — Ele diz. — Estão perdendo o tempo de vocês se acham que vão me convencer.

 

—Ouça bem, Ramsés. — Nefertari o encara. — Se o meu filho morrer, eu nunca irei te perdoar. Nunca!

 

(...)

 

—Então, existe uma forma de salvar os primogênitos. — Falo, esperançosa.

 

—Sim, senhora. — Leila fala. — Por isso Hur e Bazalel vieram ao palácio para falar com Uri.

 

—E ele?

 

—Se negou a ir para a vila e parece não acreditar no que irá acontecer. — Ela responde, triste. — Meu marido só não é mais teimoso que o próprio rei.

 

—Detesto admitir, mas esta é uma tragédia que já não posso evitar. Fiz tudo o que pude, mas a decisão cabe a Ramsés e ele já a tomou de forma errada. — Olho para Leila. — Sabe se Hur disse a Uri quando será?

 

—No décimo quarto dia do mês de Abibe. — Leila fala. — Dentro de alguns dias, Moisés irá viajar pelo Egito para falar a todos os hebreus sobre o que irá acontecer.

 

—Isso levará algum tempo, o Egito é um reino muito grande e há hebreus por toda a parte. — Concluo, pensativa. — Leila, nós teremos tempo até o dia da praga para convencer Uri a deixar o palácio.

 

—A senhora acha que isso é possível?

 

—Impossível também não é. — Respondo. — Eu não posso salvar todos os primogênitos do Egito, mas posso salvar Uri e até mesmo Alon.


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Notas finais do capítulo

Vai que tua, Henutmire!



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