O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Prontos para a sétima praga?



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   Por Hur

 

   Flash back on

 

  —Paser. — O rei pronuncia ao ver que o sumo sacerdote finalmente sai dos aposentos de Henutmire. — E então?

 

  —A princesa está bem. — Ele fala com um largo sorriso. — Teve um desmaio devido ao esforço que fez e ainda está fraca, mas vai se recuperar.

 

  —Graças aos deuses. — O soberano sorri.

 

  —E meu filho? — Pergunto. — Ele está bem?

 

  —É melhor que veja com seus próprios olhos. — Paser responde.

 

   Passei muito tempo me preparando para este momento, mas a verdade é que definitivamente não estou pronto. Ouço Paser dizer ao soberano que precisa lhe falar sobre algo importante e os dois saem em direção a sala do trono. Respiro fundo antes de caminhar em direção as portas e em seguida entrar no quarto. Logo os olhos de Henutmire se dirigem a mim, bem como seu sorriso. Mas, eu... Eu tento acreditar que o estou vendo é real e não fruto de minha imaginação. Eu não poderia ter uma mente tão fértil para ter a visão de dois bebês nos braços de minha esposa.

 

  —Não vai dizer nada? — Ela pergunta.

 

  —São... — Não consigo completar o que digo, pois a emoção e o espanto prendem as palavras em minha garganta. — Dois?

 

  —Estas são suas filhas, Hur. — Minha esposa sorri.

 

  —Isso é... — Suspiro. — Uma grande surpresa.

 

  —Por serem meninas? — Ela pergunta.

 

  —Por serem duas. — Respondo ao me sentar ao seu lado. — Acho que eu sempre quis que fosse menina. — Acaricio levemente os rostinhos de minhas filhas. — São tão lindas.

 

  —Nós fomos grandemente abençoados.

 

  —Sim. — Sorrio e olho para Henutmire. — Desde que você me contou que estava grávida eu soube que essa criança viria para ser o símbolo maior do nosso amor. — Uno suavemente meus lábios aos seus. — Eu só não imaginava que seria um símbolo duplo.

 

   Flash back off

 

  —Hur? — Ouço a voz distante de Moisés chamar por mim, mas na verdade ele está ao meu lado. — Está tudo bem?

 

  —Sim. — Respondo, triste.

 

  —Estava pensando em minha mãe? — Ele pergunta.

 

  —Sempre.

 

  —Não se preocupe. — Moisés coloca sua mão em meu ombro. — Eu garanto a você que ela está bem, eu mesmo vi com meus próprios olhos que ela está saudável e forte como antes.

 

  —Fico feliz por isso, embora não pareça. — Falo.

 

  —Ela perguntou por você.

 

  —Está falando sério? — Pergunto, radiante por saber que minha esposa se lembrou de mim.

 

  —Eu não teria motivos para mentir, Hur. — Moisés sorri. — O amor de vocês é muito especial e eu tenho a certeza que por esse amor minha mãe vai te perdoar.

 

  —Que assim seja. — Falo, esperançoso.

 

  —Moisés? — Arão entra na casa chamando pelo irmão, mas se surpreende ao me ver. — Shalom, Hur.

 

  —Shalom, Arão. — Falo com o máximo de seriedade possível.

 

  —Vocês já vão, meus filhos? — Joquebede fala ao aparecer na sala.

 

  —Sim. — Arão responde. — Está pronto, meu irmão?

 

  —Estou. — Moisés pega seu cajado e se prepara para sair, mas antes volta suas atenções para mim. — Fique tranquilo, meu amigo. Sua família está protegida no palácio.

 

  —Até logo, mãe. — Arão se despede de Joquebede.

 

  —Que Deus os acompanhe. — Ela diz.

 

   Quando Moisés se aproxima de Joquebede para também se despedir, ouvimos batidas na porta. Arão vai atendê-la e qual não é a minha surpresa ao ver Ikeni adentrar a casa. Ele me olha e acena com a cabeça como um cumprimento, mas logo seus olhos sérios se voltam para Moisés.

 

  —Eu vim a mando do rei. — Ikeni fala. — A senhora precisa vir comigo.

 

  —Por que? — Moisés pergunta. — O que Ramsés quer com minha mãe?

 

  —Eu sinto muito, Moisés. — É tudo o que Ikeni diz, com notável tristeza em sua voz.

 

   Então, ouvimos um certo alvoroço do lado de fora, pessoas gritam e outras choram. Olho pela porta aberta e vejo oficiais arrastando alguns hebreus. Oseias, o filho de Arão, entra na casa afoito e visivelmente assustado.

 

  —O que houve, meu filho? — Arão pergunta.

 

  —Pegaram Eleazar. — Oseias responde, ofegante. — Levaram-o para a forca, junto com outros hebreus.

 

  —É por isso que está aqui, Ikeni? — Moisés o olha. — Veio levar minha mãe para a morte?

 

  —São ordens do soberano. Ele exigiu que seis hebreus fossem mortos e que sua mãe estivesse entre eles. — O oficial responde. — Lamento muito, mas infelizmente não há nada que eu possa fazer.

 

  —Eu vou com o oficial. — Joquebede caminha até Ikeni.

 

  —Não. — Moisés tenta impedí-la.

 

  —Mais importante do que salvar a minha vida é salvar todo o nosso povo. — Ela diz ao olhar nos olhos do filho. — Vá com seu irmão e cumpra as ordens do nosso Deus.

 

 

   Por Henutmire

 

   Já não bastasse a atual situação de minhas filhas, uma nova praga ameaça o Egito. Mesmo sabendo o que vai acontecer, Ramsés não avisou ao povo sobre a chuva de pedras e pessoas andam normalmente pelas ruas como se este fosse um dia como outro qualquer. Meu irmão dá tão pouca importância ao que Deus disse que irá fazer que, ao invés de temer, ordenou que seis hebreus sejam mortos, um para cada praga que atingiu o nosso reino.

 

  —Já sei o que veio dizer. — Ramsés fala ao me ver entrar na sala do trono. — Vai dizer mais uma vez que eu enlouqueci.

 

  —Já não se pode chamar de loucura o que você tem feito, Ramsés. — Falo, séria. — Que ideia estúpida foi essa de mandar matar seis hebreus inocentes?

 

  —Seis escravos não farão falta, eles são muitos. — Ele responde. — Além disso, não são nada perto do número de egípcios que foram mortos pelas pragas.

 

  —Você realmente não tem ideia do que está provocando. — Falo. — Acha que Deus vai permitir que você cometa tamanha crueldade com o seu povo?

 

  —Saiba que me desagrada grandemente ouvir você falar nesse deus invisível como se acreditasse nele. — Ramsés me olha, contrariado.

 

  —Eu reconheço o poder do Deus de Israel, seria sábio de sua parte fazer o mesmo.

 

  —NUNCA! — Ele esbraveja. — Essa divindade de escravos não tem mais poder do que eu e isso vai ficar bem claro para todos neste reino.

 

  —O que você fez, Ramsés? — Pergunto ao notar seu olhar maléfico.

 

  —Mandei seis hebreus para a forca, mas isso você já sabe. — Ele sorri de uma forma medonha. — O que você não sabe, minha irmã, é que um deles é a mãe de Moisés.

 

  —O quê? Como... — Fico desnorteada com a notícia. — Como você pôde fazer uma coisa dessas?

 

  —Eu sou o Hórus vivo, o amado de Ptáh. Eu posso tudo, Henutmire. — Ramsés fala. — Vamos ver se o deus de Moisés é capaz de salvar da morte a mãe do seu... escolhido.

 

 

   Por Anat

 

  —Devagar. — Peço, enquanto Alon caminha pelo aposento apoiando-se em mim.

 

  —Eu já consigo andar sozinho, Anat. — Ele protesta. — Pare de se preocupar tanto.

 

  —Então, pare de achar que já pode correr só porque já consegue levantar da cama. — Falo. — Isso é um ferimento sério, ainda não cicatrizou por completo e pode voltar a sangrar ou qualquer outra complicação.

 

  —Acho que nem mesmo minha própria mãe cuidaria tão bem de mim como você. — Ele fala ao se sentar na cama.

 

  —Eu faria muito mais por você, Alon. — Sento-me ao seu lado. — Quero que me prometa uma coisa.

 

  —O que você quiser.

 

  —Me prometa que irá se cuidar e que não colocará sua vida em risco novamente. — Peço. — Me prometa que nunca deixará de ser como é e que vai lutar por quem ama, pelo que acredita ser certo.

 

  —Por que está dizendo essas coisas? — Alon me olha, intrigado.

 

  —Não sei, apenas tive vontade de dizer. — Respondo. — Você promete?

 

  —Prometo. — Ele diz, me fazendo sorrir.

 

  —Talvez te pareça estranho o que vou dizer agora, mas você é a única pessoa com a qual realmente me importo. — Acaricio seu rosto. — Eu amo você, Alon. Amei desde o primeiro momento e amarei para sempre, nunca duvide disso.

 

  —Você está me assustando.

 

  —Peço desculpas por isso, mas eu só quero que você saiba o quanto é importante em minha vida. — Seguro em suas mãos. — Você preencheu um grande vazio que eu tinha em meu coração e sempre serei grata por isso.

 

  —Saiba que eu também tenho um enorme carinho por você, Anat. — Ele sorri para mim. — Você é como a mãe que eu não tive, exatamente da forma como imaginei que ela seria. Obrigado por tudo o que fez por mim desde que nos conhecemos.

 

  —Eu quem devo agradecer a você. — Eu o abraço, emocionada por suas palavras. — Preciso ir, meu tio está me esperando.

 

  —Vai ao templo?

 

  —Sim. — Me levanto. — Se comporte até eu voltar.

 

  —Ou então você me coloca de castigo? — Ele pergunta divertido.

 

  —Acho que eu gostaria disso. — Falo rindo e faço menção de me retirar.

 

  —Espere! — Alon me impede de dar um passo a diante. — Isso não é uma despedida, é? Você volta.

 

  —Claro que volto. — Lhe dou um beijo na testa. — Eu nunca deixei de voltar para você.

 

  —Eu te dizia isso quando ia para os treinamentos quando criança. — Ele se lembra.

 

  —E eu nunca esqueci. — Sorrio. — Nunca esqueça também.

 

 

   Por Henutmire

 

  —Está me ouvindo, filha? — Pergunto ao vê-la distraída. — Hadany?

 

  —Sim? — Ela fala, assustada. — Perdão, mãe. O que a senhora estava dizendo?

 

  —Não importa mais. — Me sento ao seu lado. — O que há com você?

 

  —Acho que estou adoecendo de tristeza. — Ela responde. — Tany se nega a reconhecer o quanto foi injusta comigo. Não aguento mais essa situação, mãe.

 

  —Se ela reconhecer seu erro, você estaria disposta a perdoá-la?

 

  —Sim, pois ela é minha irmã e eu a amo. — Hadany diz. — Mas, o fato é que temos que nos perdoar. Tany agiu mal, mas eu também não estou de todo certa nessa história pelas coisas que disse a ela.

 

  —Você reconhece seu erro e se arrepende dele, por menor que tenha sido. — Sorrio para minha filha. — Não que tenha errado menos ou mais que sua irmã, mas agora cabe a ela dar o próximo passo.

 

  —E se ela não der? — Ela me olha. — Terei que passar o resto de minha vida brigada com minha irmã?

 

  —Eu não permitirei que isso aconteça, prometo. — Falo ao abraçá-la.

 

  —Senhora! — Leila entra afoita em meus aposentos. — Temos problemas.

 

  —Mais? — Falo, um tanto irônica. — O que houve agora?

 

  —A princesa Tany. — Leila fala e eu me levanto no mesmo instante. — Ela não está no palácio.

 

  —Como não? — Indago, já tomada pelo nervosismo.

 

  —Eu a procurei por todos os lugares, mas não a encontrei.

 

  —Isso não pode estar acontecendo! — Olho para Hadany. — Eu pedi para você e sua irmã não saírem do palácio, não pedi?

 

  —Na verdade, praticamente ordenou. — Minha filha vem até mim. — Não nos disse o motivo, apenas disse que não deveríamos sair do palácio sob circunstância alguma.

 

  —O que faremos, senhora? — Minha dama pergunta, preocupada.

 

  —Eu vou atrás dela. — Falo, decidida a trazer minha filha de volta.

 

  —A senhora não pode sair do palácio, meu tio proibiu. — Hadany ressalta.

 

  —Não me interessa! — Exclamo. — Não posso deixar minha filha lá fora com o que está prestes a acontecer.

 

  —O que vai acontecer, mãe? — Ela pergunta.

 

   Antes que eu responda minha filha, vejo o céu escurecer de repente através da janela. O vento torna-se tão forte que balança as cortinas a ponto de quase arrancá-las do lugar, bem como faz minhas vestes e adornos dançarem no ar e objetos caírem no chão. Ao chegar em Hadany, o vento tempestuoso consegue fazer com que sua peruca voe para longe e seus longos cabelos castanhos se soltem de imediato. Relâmpagos brilham diante de nossos olhos, trovões parecem estremecer o chão e raios rasgam o céu de uma forma que jamais vi.

 

  —O que é isso? — Minha filha segura em minha mão, visivelmente assustada com o que vemos.

 

  —Deus está cumprindo a sua promessa. — Falo, sem desviar meus olhos da janela. — Uma nova praga está começando.

 

 

   Por Tany

 

   O lindo dia de sol converteu-se em um tom de cinza de uma hora para a outra. Os relâmpagos e trovões fazem parecer que o céu está prestes a cair sobre nossas cabeças. Agora, entendo porque minha mãe pediu com tanta firmeza para que Hadany e eu não saíssemos do palácio, ela sabia o que iria acontecer. Grito assustada ao ver um raio atingir o chão, bem próximo a mim. Sinto uma gota de água cair em minha pele, mas a chuva cai do céu acompanhada de pedras esbranquiçadas que atingem e ferem com força o que está em seu caminho. Apavorada, corro pelas ruas em busca de abrigo, assim como os outros egípcios.

 

  —Deus dos hebreus, me ajude. — Peço.

 

 

   Por Ramsés

 

   Da sacada, vejo egípcios apavorados correndo por todos os lados, tentando se proteger das pedras que caem do céu. Detesto reconhecer, mas desta vez pequei grandemente contra o deus dos escravos não deixando seu povo ir. Jamais em toda a história do Egito aconteceu algo assim. Entro novamente na sala do trono e vejo Nefertari entrar. Caminho até ela e a abraço fortemente.

 

  —Está assustada? — Pergunto.

 

  —Sim, mas nosso filho está mais. — Ela responde. — Amenhotep está apavorado, Ramsés, nunca antes eu o vi dessa maneira. Tentei acalmá-lo dizendo que é apenas uma chuva. — Nefertari me olha. — Mas, não é só isso, é?

 

  —Nossos deuses nos abandonaram? — Falo, nervoso. — Eu não deveria ter enfrentado o deus dos miseráveis, é isso? Deveria ter cedido as ameaças de Moisés?

 

  —Se acalme, meu amor. — Minha esposa pede.

 

  —EU NÃO VOU CEDER! — Exclamo, enquanto subo os degraus do trono. — Já resistimos a seis pragas, resistiremos a mais essa. Não vou ceder! Não vou!

 

 

   Por Henutmire

 

   Muitas vezes em minha vida me julguei corajosa, mas a verdade é que talvez seja impossível não ter medo diante do que está acontecendo. Jamais vi ou sequer ouvi falar de uma tempestade semelhante a esta. Hadany permanece abraçada a mim, assustada com os relâmpagos, trovões e gritos das pessoas nas ruas. Tento lhe transmitir o máximo de segurança possível, mas a preocupação com Tany abala grandemente essa segurança.

 

  —Tia! — Mayra vem correndo até mim assim que entra em meu quarto, com Leila.

 

  —Está tudo bem, minha menina. — Pergunto ao ver minha sobrinha totalmente apavorada. — É só uma chuva, logo vai passar.

 

  —Não estamos na época de chuvas, não pode ser apenas isso. — Ela discorda. — É outra praga, não é?

 

  —Sim, mas não se preocupe. — Olho em seus olhos. — O palácio é uma fortaleza construída para resistir a grandes guerras, estamos seguras aqui.

 

  —Venha cá. — Hadany chama a prima, que de imediato sobe na cama e se senta ao seu lado.

 

  —Você tem cabelo grande? — Mayra pergunta ao ver soltos os cabelos de sua prima.

 

  —Sim, mas isso é um segredo. — Hadany responde sorrindo.

 

  —Não contarei a ninguém, prometo. — A menina fala. — Eu posso tocar?

 

  —Claro que sim. — Minha filha diz e no mesmo instante Mayra passa a brincar com seus fios castanhos.

 

  —Senhora. — Leila faz sinal para que eu vá até ela, me afastando da cama.

 

  —Alguma notícia de Tany? — Pergunto.

 

  —Nada ainda. — Minha dama responde. — Creio que ela tenha sido pega de surpresa pela tempestade e não teve como retornar ao palácio.

 

  —Não acredito que isso está acontecendo! — Exclamo, nervosa. — Tany nunca foi de me desobedecer, tinha de fazê-lo justo hoje?

 

  —Acalme-se, princesa. — Ela pede. — A senhora não pode ficar tão nervosa.

 

  —Eu só vou me acalmar quando minha filha estiver aqui, a salvo do que está acontecendo lá fora. — Falo, com voz embargada. — Moisés foi muito claro quando disse que todo animal ou pessoa que não estivesse recolhido a sua casa seria morto pela chuva de pedras.

 

  —Tenha fé, princesa. — Leila pede com firmeza. — A senhora confiou a sua vida a Deus, confie também que Ele irá proteger sua filha.

 

  —Eu vi alguma coisa. — Mayra fala para Hadany.

 

  —Não é nada, Mayra. — Hadany fala.

 

  —Eu vi. — Minha sobrinha desce apressadamente da cama e vai em direção a varanda.

 

  —Mayra, não. — Corro atrás dela, juntamente com Hadany e Leila.

 

   Ao chegar na varanda, não consigo acreditar no que vejo. O céu se torna ainda mais escuro, embora iluminado pelos muitos relâmpagos. Então, em meio aos raios e trovões, bolas de fogo caem do céu com imensa força, atingindo e destruindo tudo o está em seu caminho, sejam monumentos ou pessoas.

 

  —Deus, proteja minha filha. — Suplico em silêncio, enquanto tento dissipar de minha mente pensamentos ruins ao imaginar Tany em meio a esse caos.

 

 

   Por Tany

 

   Os gritos das pessoas me deixam completamente desnorteada, fazendo com que eu corra sem destino pelas ruas da cidade. Tento me desviar de vários egípcios, mas é impossível me proteger dos fortes esbarrões. Igualmente impossível é acreditar que meus olhos vêem fogo cair do céu e incendiar casas, atingir pessoas e destruir todo o Egito, o lugar onde eu nasci e passei toda a minha vida.

 

  —É a princesa Tany! — Ouço uma voz familiar em meio ao alvoroço.

 

  —Paser. — Viro-me na direção de onde vem a voz e me deparo com o sumo sacerdote, seu assistente e sua sobrinha.

 

  —Pelos deuses, alteza. O que faz fora do palácio? — Paser pergunta.

 

  —Eu poderia lhe perguntar o mesmo. — Respondo.

 

  —Mestre, eu não sei se o senhor percebeu, mas estão caindo bolas de fogo do céu. — Simut fala. — Aqui não é o melhor lugar para ficarmos.

 

  —Simut, tem razão. — Anat concorda. — Precisamos encontrar um local seguro ou vamos acabar mortos.

 

  —Mas, não há como voltar para o palácio nessa situação. — Acrescento.

 

  —Vamos para o templo. — O sumo sacerdote aponta para o lugar, que não está muito longe de nós. — Lá estaremos seguros até a tempestade acabar. — Paser, bem como Anat, Simut e eu, se assusta quando uma bola de fogo atinge o chão muito próximo nós, mais precisamente próximo a mim. Todavia, me espanto ao ver o fogo se apagar de imediato, antes que pudesse me fazer algum mal. — Temos que ir agora ou será tarde demais.

 

   Então, começamos a correr em direção ao templo, atravessando o alvoroço de pessoas desesperadas e nos desviando das construções que se desfazem como areia do deserto. Simut ajuda Paser, enquanto ironicamente Anat corre ao meu lado. Um homem passa desesperado em nossa frente, mas é atingido pelo fogo e logo cai sem vida no chão, porém, bem diante do caminho da sacerdotisa, que tropeça nele e de imediato se choca contra o solo.

 

  —Venha. — Ajudo Anat a levantar-se.

 

  —Isso está mesmo acontecendo? — Ela pergunta ao me olhar. — Você me ajudando?

 

  —Sei que não faria o mesmo por mim, mas sou muito diferente de você. — Seguro em sua mão, puxando-a para a frente. — Vamos.

 

   Continuamos correndo, mas devido a agitação das ruas logo solto a mão da sacerdotisa. Paser e Simut são os primeiros a chegar ao templo e, ao olharem para trás e nos ver ainda em meio a multidão, acenam para que sejamos rápidas. Não demoro muito a subir com rapidez os degraus da entrada do templo, fazendo com que sobre minha cabeça tenha um teto para me proteger. Todavia, ao subir os três últimos degraus, Anat tropeça no tecido de suas vestes e seu corpo vai de encontro ao chão com toda a força.

 

  —Alteza, não. — Simut tenta me impedir de ir até a sacerdotisa, mas não consegue.

 

  —Não, vá. — Ela pede ao ver que tento ajudá-la. Um pequeno gemido de dor sai de sua boca e Anat leva uma de suas mãos até sua perna esquerda.

 

  —Não vou deixar você aqui. — Afirmo.

 

  —Ninguém em sã consciência arrisca a sua vida para salvar um inimigo. — Anat fala. — Já me bastam as culpas que carrego, não quero ser culpada da sua morte.

 

  —Nem eu da sua. — Pego sua mão. — Vem!

 

  Antes que ela se levante, uma bola de fogo acerta em cheio uma enorme estátua na porta do templo, destruindo-a como se fosse nada.

 

  —Princesa! — Anat exclama ao me empurrar para longe de si com certa brutalidade e eu caio sentada no chão, próxima a Paser e Simut.

 

  —ANAT! — Grito ao ver uma parte do grandioso monumento de pedra cair sobre a sacerdotisa.


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