O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

E para quem achou que Anat já morreu, saibam que a sacerdotisa ainda fica viva por alguns instantes...



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   Por Tany

 

   Ao atingir o chão o monumento de pedra despedaçou-se por completo e rolou pelos degraus do templo. Todavia, meu olhar não se desvia da mulher gravemente ferida bem diante de mim. Corro até ela e, com a ajuda de Simut, arrasto-a para dentro do templo. Me sinto aliviada ao ver que ela ainda respira em meio a gemidos agudos de dor. Seguro a sacerdotisa em meus braços, embora boa parte de seu corpo machucado esteja sobre o chão. Ela então dirige seu olhar a mim, porém nada diz.

 

  —Você salvou a minha vida. — Falo ao compreender seu gesto de me empurrar para longe de si quando percebeu que a estátua de pedra cairia sobre nós.

 

  —Em algum momento eu teria que fazer algo de bom. — Anat se esforça para falar.

 

  —Poupe suas forças, minha sobrinha. — Paser pede. — Assim que a tempestade passar, voltaremos ao palácio e eu cuidarei de você.

 

  —Não será necessário, eu não tenho muito mais tempo. — Ela diz. — Me deixem a sós com a princesa.

 

   Diante das palavras de Anat, que mais soam como um último pedido, Paser e Simut se afastam de nós. A sacerdotisa faz por onde olhar para mim, com sua cabeça repousa em meu braço direito. Ela tenta silenciar um grito de dor, afim de que isto não a impeça de falar.

 

  —Obrigada. — Falo.

 

  —Não agradeça, alteza. Não mereço que seja grata a mim quando lhe fiz tanto mal. — Ela fala com dificuldade. — Eu poderia lhe pedir perdão, mas não estaria sendo sincera.

 

  —Não espero isso de você.

 

  —Eu... eu não me arrependo das coisas que fiz, sobretudo de ter amado seu pai e achar que podia tê-lo de qualquer forma. — Anat relembra o passado. — Não me arrependo de ter voltado ao palácio e de cada vez que tirei sua mãe do sério, fazendo com que a ira lhe subisse a cabeça a ponto de me desferir bofetadas diversas vezes.

 

  —E do quê você se arrepende? — Pergunto.

 

  —De morrer antes de cumprir minha vingança. — Ela responde. — Mas, Henutmire estava certa quando disse que se eu ficasse em Pi-Ramsés estaria decretando minha sentença de morte.

 

  —Reconhece isso tarde demais, não é?

 

  —Eu me arrependo de mais uma coisa, princesa. — Ela olha em meus olhos. — De não poder contar a verdade ao meu filho.

 

  —Seu filho? — Indago, incrédula. — Mas, sacerdotisas não podem ter filhos.

 

  —Foi muito antes de eu me tornar adoradora de Seth, quando eu era uma jovenzinha tola e apaixonada pelo homem errado. — Anat interrompe suas palavras ao começar a tossir e logo eu vejo sangue surgir em sua boca. — Quero lhe fazer um último pedido, princesa.

 

  —Diga.

 

  —Em meus aposentos, há um pequeno baú escondido debaixo da cama. Nele, estão guardados dois papiros. — A voz da sacerdotisa começa a falhar. — Entregue-os a meu filho, ele merece saber a verdade mesmo que não seja por mim.

 

  —Mas, como eu vou saber quem é o seu filho? — Pergunto, sem ter ideia de como fazer o que ela me pede.

 

  —Será mais fácil do que pensa. — Ela responde. — Leia os papiros e assim saberá.

 

  —Está bem, farei o que me pede.

 

  —Obri... Obrigada. — Anat sorri, embora ainda emita um gemido que indica quanta dor está sentindo. — Adeus, alteza.

 

   Ela olha uma última vez para meu rosto, antes de fechar seus olhos para sempre. Sua respiração cessa, seu corpo não produz mais nenhum movimento e eu consigo sentir seu coração parar de bater. E então, em meio ao som do alvoroço das ruas, um privilégio dado a todos os mortais abandona a sacerdotisa de Seth, o privilégio chamado vida.

 

  —Adeus, Anat. — Falo, ainda segurando seu corpo em meus braços. Mentiria se dissesse que não me entristeço por ser eu a última visão que seus olhos claros tiveram, tal coisa abala qualquer um. Mas, não há porque chorar por isso.

 

 

   Por Henutmire

 

   Tento transparecer tranquilidade diante de Hadany e Mayra, mas a verdade é que jamais me vi tão nervosa. Leila se ofereceu para buscar uma fórmula calmante para mim, mas não retornou até agora. Aliás, duvido muito que as fórmulas do sumo sacerdote irão surtir efeito em mim. Eu só vou me acalmar quando tiver Tany entre meus braços, quando sentí-la junto a mim e ter a certeza de que ela está bem.

 

  —Leila. — Falo ao ver minha dama entrar em meus aposentos. — Por que demorou tanto?

 

  —Paser também não está no palácio. — Ela responde. — Me disseram que ele foi ao templo com Simut e Anat antes da praga começar.

 

  —Então, meu avô está lá fora em meio a essa tempestade? — Mayra pergunta, preocupada.

 

  —Não se preocupe, minha menina. — Eu a abraço. — Deus irá proteger seu avô.

 

  —A senhora pediu isso ao deus dos hebreus? — Ela me olha.

 

  —Sim, mas você também pode pedir. — Respondo. — Hadany pode te ajudar a fazer uma oração.

 

   Surpreendentemente, minha sobrinha não questiona sobre como fazer o que lhe disse. Ela apenas une suas mãos as de Hadany e fecha seus olhos, exatamente como sua prima faz. Mayra cresceu como a princesa egípcia que é, foi ensinada a adorar os deuses egípcios e aprendeu até mesmo alguns rituais. Todavia, ter crescido nessa crença não impede que agora ela reconheça o poder do Deus dos hebreus e acredite que Ele pode atender ao seu pedido, porque mesmo que Mayra não se dê conta é exatamente isso o que sua atitude significa.

 

  —Moisés veio ao palácio chamado pelo soberano. — Leila fala em voz baixa ao se aproximar de mim.

 

  —Você o viu? — Pergunto.

 

  —Vi de longe, quando estava saindo daqui com Arão. — Ela responde. — Não sei muito a respeito, mas parece que o rei concordou em deixar os hebreus partirem se a chuva de pedras cessar.

 

  —Então, meu filho foi colocar fim a esta praga. — Concluo, aliviada.

 

  —Vossa alteza acredita que o soberano manterá sua palavra?

 

  —Sim e não. Depois que mandou me prender, espero qualquer coisa de Ramsés. — Falo, sentindo-me um tanto desconfortável. — Mas, esta praga está destruindo o Egito de uma forma assombrosa. Não é possível que ele vá insistir com essa teimosia vendo o reino sucumbir diante de seus próprios olhos.

 

  —Perdão pelo que vou dizer, mas eu não duvido que seu irmão volte atrás em sua decisão mais uma vez.

 

  —Eu tampouco. — Concordo. Sinto-me ainda mais desconfortável e só então noto que isso se deve a um enjôo que surgiu do nada.

 

  —A senhora está bem? — Leila pergunta.

 

  —Não, estou enjoada. — Respondo e tento alargar um pouco minhas vestes, pois de uma hora para a outra me senti horrivelmente apertada dentro delas.

 

  —Eu disse que a senhora não deveria ficar tão nervosa. — Minha dama tenta fazer com eu fique mais a vontade. — Seu nervosismo extremo está causando estes enjôos súbitos.

 

  —Acha que eu posso estar com alguma doença no estômago? — Pergunto, embora saiba que Leila não pode me responder com certeza.

 

  —É melhor a senhora falar com Paser, quando ele voltar. — Ela aconselha.

 

  —Espero que ele volte. — Falo para mim mesma.

 

  —Tia! — Mayra me chama, eufórica. — Olhe!

 

   Minha sobrinha aponta para a janela, para onde dirijo meu olhar. Então, vou até a varanda e vejo o negro do céu dar lugar ao seu típico tom de azul de sempre e a luz do sol volta a irradiar sobre o Egito. A tempestade cessa, bem como os gritos apavorados das ruas. Todavia, olho ao redor e tudo o que vejo é destruição. Construções e monumentos desfeitos como areia do deserto, espalhados pelo chão, bem como os corpos sem vida de vários egípcios inocentes que pagaram caro pela intransigência de seu rei. É torturante o que faço, mas tento indentificar se entre os muitos mortos está a minha filha amada.

 

(...)

 

  —Eu vou procurá-la. — Me levanto, decidida a ir atrás de Tany.

 

  —A senhora não vai a lugar algum nervosa desse jeito. — Hadany me impede de sair do aposento.

 

  —Preciso encontrar sua irmã, viva ou morta. — Falo sem pensar.

 

  —Tany não está morta! — Minha filha segura em meus braços, olhando em meus olhos. — Não repita isso.

 

  —Então, por que ela não retornou até agora? — Esbravejo, completamente fora de mim.

 

  —Acalme-se, mãe! — Hadany altera o tom de voz, afim de me fazer entender que preciso me acalmar. — A senhora está muito agitada, isso vai lhe fazer mal.

 

  —Princesa Tany. — Leila exclama ao vê-la entrar em meus aposentos.

 

  —Filha! — Corro até ela e a abraço com força, até que o medo que eu senti de perdê-la desapareça por completo.

 

  —A senhora está me sufocando, mãe. — Tany fala rindo.

 

  —Não sabe como eu fiquei preocupada com você. — Falo ao olhá-la com mais atenção. Ela está totalmente desalinhada, o que é compreensível já que esteve em meio a loucura das ruas durante a praga. — Graças a Deus você voltou para mim, sã e salva.

 

  —Peço perdão por te desobedecer e me colocar em risco. — Ela diz. — Mas, agora eu compreendo que o destino queria que eu estivesse lá fora.

 

  —Por que diz isso? — Hadany pergunta, confusa.

 

  —Aconteceu algo inesperado. — Tany responde. É a primeira vez em muitos dias que a vejo dirigir a palavra a irmã. — Anat... Ela morreu, em meus braços.

 

  —Como aconteceu? — Hadany pergunta novamente.

 

  —Uma estátua da porta do templo foi atingida por uma bola de fogo e caiu sobre Anat. — Tany fala, mas parece triste com o que relata. — Ela foi esmagada, mas logo em seguida o monumento de pedra se desfez e a deixou muito ferida. A sacerdotisa não resistiu e faleceu, olhando em meus olhos.

 

  —Eu sinto muito que tenha passado por uma experiência como essa. — Hadany tenta se aproximar da irmã, mas recua com medo de sua reação.

 

  —Você está triste pela morte dela. — Concluo, indignada. — Como pode ter pena daquela mulher?

 

  —Não tenho pena, mas não há como não estar triste sabendo que fui eu a última visão que uma pessoa teve antes de morrer. — Tany se explica. — Tente se colocar em meu lugar e imagine como estou me sentindo.

 

  —Não posso fazer isso, Tany. — Tento falar com calma, mas é inútil. — Anat fez tanto mal a nossa família e você lamenta a morte dela quando deveria estar feliz.

 

  —Ela morreu em meus braços! — Minha filha esbraveja. — Entende o que isso significa para mim?

 

  —Não, eu não entendo! — Falo, descontrolada. — Anat matou o meu filho, o que houve com ela é mais do que justo.

 

  —Ela matou o seu filho, mas salvou a vida da sua filha. — Tany eleva sua voz. — Quando Anat caiu eu tentei ajudá-la, mas ela me empurrou para longe quando viu que a estátua iria cair sobre nós.

 

   Fico sem ação, de minha boca não sai uma só palavra. A verdade é que tento acreditar no que me foi dito, pois parece grandemente inacreditável que Anat tenha salvo a vida de minha filha quando sempre deixou mais do que claro o quanto me odeia e seu desejo de me ver sofrer. Como pode a mulher que no passado quase destruiu a minha vida ter tido uma atitude tão louvável para com alguém de meu sangue? Mais parece que, de uma vilã inescrupulosa, Anat tornou-se uma heroína.

 

  —Onde ela está? — Pergunto, me referindo a sacerdotisa.

 

  —Eu não sei. — Tany responde. — Simut trouxe o corpo de Anat nos braços, mas quando chegamos ao palácio eu vim direto até a senhora.

 

  —Eu preciso ter a certeza de que tudo isso está realmente acontecendo. — Falo e me dirijo para fora de meus aposentos.

 

 

   Por Paser

 

   Trazer o corpo de minha sobrinha de volta para o palácio não foi uma das tarefas mais fáceis que já realizei. Por mais que eu saiba todo o mal que Anat causou, quando olho para ela apenas consigo me lembrar da criança doce e inocente que era, da adolescente bondosa da qual minha irmã tanto se orgulhava.

 

   Não precisou de muito tempo para que a notícia de sua morte se espalhasse pelo palácio, pegando a todos de surpresa. Todavia, quem mais sente esta tragédia é Alon. Ele foi o primeiro a me procurar para saber se era verdade e agora permanece ajoelhado ao lado da cama onde repousa o corpo sem vida de sua senhora.

 

  —Antes de ir para o templo, ela disse que me colocaria de castigo se eu não me comportasse até ela voltar. — Alon ri, enquanto segura junto de si a mão direita de Anat e lágrimas escapam de seus olhos. — Eu senti que aquilo era uma despedida, mas não poderia imaginar que...

 

  —Eu sinto muito, Alon. — Falo ao vê-lo se calar devido a tristeza. — Sei o quanto você e ela eram próximos.

 

  —Ela disse inúmeras vezes que me amava como o filho que não podia ter. — Ele diz. — Sempre tivemos uma ligação muito forte, às vezes parecia até mais que amizade entre uma sacerdotisa e um guardião.

 

  —Algumas pessoas possuem ligação de alma, algo sem explicação porém intenso. — Coloco minha mão em seu ombro. — Seja forte, meu rapaz. Guarde cada boa lembrança dela, assim sempre a terá consigo.

 

  —Eu prometi que manteria viva a sua lembrança dentro de mim e irei cumprir minha promessa. — Alon deposita um beijo sobre a mão de Anat e acaricia seu rosto gélido.

 

   Então, vejo a princesa Henutmire entrar no local. Caminho até a irmã do soberano, que permanece paralisada ao contemplar Anat sem vida sobre a cama, como se até agora estivesse desacreditada de sua morte.

 

  —Alteza. — Chamo por ela, tentando fazer com que volte de seu transe.

 

  —Ela está mesmo morta? — A princesa pergunta.

 

  —Sim, minha senhora. — Respondo. — Anat foi atingida por uma estátua de pedra durante a tempestade de fogo.

 

  —O que Tany me contou é verdade? — Ela me olha. — Anat salvou a vida de minha filha?

 

  —Vossa filha tentou ajudar minha sobrinha quando ela caiu, mas Anat percebeu que a estátua as atingiria e empurrou a princesa Tany para longe, antes de o monumento acertá-la em cheio.

 

  —Eu não entendo. — Ela fala, atordoada. — Não entendo o que levaria Anat a fazer isso.

 

  —Nunca entenderemos, alteza. — Falo. — Mas, é inegável o fato de que, em sua morte, Anat foi melhor pessoa do que em toda a sua vida.

 

  —Eu gostaria de poder agradecê-la pelo que fez, mas não sei se sou capaz. — A princesa fala. — De todas as coisas ruins que Anat me fez, a pior delas foi matar o meu filho. No entanto, agora ela salvou a vida de minha filha.

 

  —Anat não sabia que vossa alteza carregava um bebê no ventre. — Falo. — Talvez por isso ela fez o que fez, para não privá-la também de sua filha.

 

  —Acho que preciso de tempo para assimilar tudo isso. — Ela olha para Alon. — Como ele está?

 

  —Muito abalado. — Respondo. — Era a única pessoa mais próxima a ela, o único com o qual ela se importava de verdade.

 

  —Vão enterrá-la aqui?

 

  —Não, em Aváris. Os pais de Anat estão sepultados lá e em uma ocasião ela me disse que gostaria de ser enterrada junto a eles. — Falo. — Haverá um cortejo fúnebre até os limites da cidade, para lhe conceder as honrarias devidas como sacerdotisa de Seth.

 

  —Quando será?

 

  —Ainda não sei, senhora. Muitos ossos de Anat se quebraram por causa da estátua que caiu sobre ela, isso pode fazer com que o processo de embalsamar o corpo demore mais que o normal. — Respondo. — Além disso, um mensageiro foi enviado a Om para avisar a grande sacerdotisa Atalia sobre o ocorrido, temos que esperar a sua chegada.

 

 

   Por Tany

 

   Quase três dias se passaram desde a morte Anat, mas a imagem de seus olhos fixos em mim pela última vez não sai de minha cabeça. Minha mãe teme que isso se torne um trauma para mim e sei muito bem que Paser a instruiu sobre como agir comigo para que isto não aconteça. Todavia, não é tão fácil tentar esquecer o que houve quando Anat me fez um último pedido e eu prometi que faria o que pediu, promessa esta que agora irei cumprir.

 

  —Deve ser este. — Falo ao puxar de debaixo da cama um pequeno báu.

 

   Abro-o e dentro dele encontro dois papiros, exatamente como Anat disse. Para estarem escondidos certamente são algo extremamente particular da sacerdotisa. Todavia, ela disse que eu poderia lê-los e que assim saberia quem é o seu filho, para poder entregá-los a ele. Fico indecisa sobre qual papiro devo ler primeiro, mas o selo do templo de Om em um deles desperta meu interesse e eu o abro.

 

 

  "Não sei como vai reagir ao que tenho a dizer, mas espero que esteja pronta para grandes revelações. Há alguns dias, um menino praticamente invadiu o templo a minha procura, dizendo que uma mulher precisava muito falar comigo. Intrigada, segui o menino até uma casa simples e pobre. Ele me levou até o quarto, onde me deparei com uma mulher claramente vivendo seus últimos instantes de vida. Seu nome era Ramunah, suas feições deixavam claro que fora muito bela em sua juventude. Ela sorriu ao me ver e eu me aproximei de sua cama. Com grande esforço, Ramunah contou-me que há vinte anos atrás um homem a procurou, trazendo consigo um bebê recém nascido, um menino. Ele lhe ofereceu uma boa quantia em ouro para que ela levasse a criança até o templo e a deixasse lá, de forma que ninguém desconfiasse da ligação do homem com aquele menino. Ramunah aceitou a proposta, mas impôs ao homem a condição de saber quem ele era e porque estava tentando se livrar daquele bebê. O homem então disse que se chamava Disebek e era general do exército do faraó. Aquele menino era seu filho, um bastardo que ele jamais poderia assumir por ser casado com a princesa Henutmire.

Anat, o bebê que Ramunah deixou na porta do templo é Alon. Para que eu não tivesse dúvidas de que estava dizendo a verdade, ela repetiu cada palavra escrita no papiro que encontrei com a criança. Por uma infeliz coincidência, o falecido general Disebek é o pai de Alon. Mas, isso não é tudo. Se lembra quando me contou sobre o filho que teve na juventude e sobre o homem que o arrancou de seus braços? Sinto em dizer que Ausar e Disebek são a mesma pessoa. A descrição que você me deu do pai de seu filho é a exatamente igual a que Ramunah me deu do general. Disebek se apresentou a você com outro nome para te enganar, para que não soubesse quem ele era de verdade. Alon é seu filho, é ele o menino que você achou que estava morto e pelo qual chorou por todos esses anos. Infelizmente, Ramunah faleceu logo depois de me contar todas essas coisas, mas em breve eu irei a Pi-Ramsés e você terá tudo o que precisa para acreditar no que digo neste papiro. Não faça nada antes da minha chegada, não diga nada a ninguém, principalmente a Alon. Esta história é incrível demais para que alguém acredite nela sem provas, embora você saiba que eu jamais mentiria sobre um assunto tão sério."

 

 

   Trêmula, deixo o papiro cair de minhas mãos e mesmo sem ver meu rosto, posso afirmar que a expressão que ele carrega é de espanto como jamais senti antes. Inacreditável! É a única palavra na qual consigo pensar para definir o que acabo de ler.

 

  —Anat poderia ter levado este segredo para o túmulo, mas quis que justamente eu o descobrisse. — Falo para mim mesma, desnorteada. — Isso não pode estar acontecendo!

 


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Notas finais do capítulo

Agora a casa cai.



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