O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Continuando...



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   Por Hadany

 

  —Mamãe... — Choro ainda mais ao perceber que, pela primeira vez em toda a minha vida, minha mãe não virá correndo até mim ao me ouvir chamar por ela.

 

  —Sinto muito, mas..

 

  —Tire suas mãos de mim! — Interrompo meu tio ao me soltar bruscamente de seus braços. — O que você tem no lugar do coração? Uma pedra?

 

  —Sei que está chateada, mas compreenda que eu fiz isso para o próprio bem de sua mãe. — Ele responde. — Henutmire perdeu a razão! Eu não podia permitir que ela cometesse tamanha loucura.

 

  —Loucura? — Indago, perplexa. — Então agora chamamos de loucura o desejo de uma mãe de proteger seus filhos?

 

  —Não, isso chamamos de amor incondicional. — Meu tio fala. — Mas, sua mãe estava disposta a sair do palácio e me ridicularizar diante de todos. Sim, porque isso seria o mesmo que decretar publicamente o seu apoio a Moisés.

 

  —Acaso ela está errada em decidir de qual lado quer estar nesta maldita guerra? — Pergunto, nervosa. Meu tio apenas me olha em silêncio, sem conseguir elaborar uma resposta para a minha pergunta. — Nada justifica a sua atitude, tio. Nada!

 

  —Eu prometi a minha mãe em seu leito de morte que cuidaria de Henutmire. — Ele fala com certo pesar. — E vou cumprir minha promessa, seja como for.

 

  —Suas noções de cuidado estão altamente equivocadas se pensa que prender sua própria irmã é cuidar dela.

 

  —Me perdoe, minha sobrinha, mas não há nada que eu possa fazer.

 

  —Eu não espero que faça nada! Depois do que acabo de presenciar, tenho medo do que possa fazer. — Falo, olhando-o de frente e sem temor algum de talvez estar afrontando o rei. — Da mesma forma, não espere que eu possa perdoá-lo porque isso jamais vai acontecer.

 

  —Um dia você irá entender meus motivos e sua mãe ainda irá agradecer o que fiz. — Ele fala.

 

  —Muito em breve o faraó se dará conta de que prender minha mãe foi apenas um de seus grandes erros. — A segurança de minhas palavras deixam meu tio sem reação alguma. — Não esteja aqui quando eu voltar, já tive o bastante de sua presença por hoje.

 

   Então, de forma solene, dou as costas a meu tio e deixo os aposentos de minha mãe. Limpo as lágrimas de meus olhos e tento me recompor, mas principalmente tento encontrar forças dentro de mim mesma. O que acaba de acontecer me abalou de tal forma que jamais serei capaz de apagar de minha mente a imagem de minha mãe sendo levada pelos guardas como se fosse uma criminosa.

 

  —Princesa? — Leila chama por mim ao nos encontrarmos no corredor. — Está tudo bem?

 

  —Está vindo dos aposentos de Tany? — Respondo com outra pergunta.

 

  —Sim, eu a ajudei a guardar alguns de seus pertences e estava indo até os aposentos de sua mãe para ajudá-la também. — Ela me olha com atenção. — Seus olhos estão vermelhos... Estava chorando?

 

  —Leila, me leve até meu pai. — Peço. — Sozinha eu não vou conseguir chegar a lugar algum.

 

 

   Por Hur

 

  —Deixe que eu termino isso, pai. — Uri pede ao ver que não consigo terminar a jóia na qual trabalho. — Está preocupado com a princesa, não é?

 

  —Sempre, mas desta vez é diferente. — Respondo. — Sei que Henutmire nunca escuta muito o que digo, mas o fato de estarmos brigados tornou isso ainda pior.

 

  —Acha mesmo que ela teria coragem de deixar o palácio? — Uri pergunta.

 

  —Até parece que não conhece sua madrasta. — Falo rindo, mas de nervoso que estou. — Quando Henutmire coloca algo em sua cabeça não há ninguém que a faça mudar de ideia.

 

  —Ao menos sabemos que Moisés cuidará bem delas, se realmente saírem do palácio. — Ele tira sua atenção da jóia e volta-a para mim. — O senhor não vai com elas?

 

  —Em nenhum momento Henutmire me incluiu nessa espécie de fuga do palácio. — Falo, infeliz pelo afastamento de minha esposa. — Estamos cada vez mais separados.

 

  —Se a princesa quisesse mesmo essa separação, teria pedido o divórcio. — Uri ressalta. — Ela o ama, apesar de tudo.

 

  —Será? Será mesmo que a minha mentira não foi capaz de destruir todo o amor que Henutmire tem por mim?

 

  —Pai... — Hadany me chama ao entrar na oficina, acompanhada por Leila. Minha filha corre até mim e se joga em meus braços e logo sinto suas lágrimas me molharem.

 

  —Minha filha, o que houve? — Pergunto. — Por que está chorando desse jeito?

 

  —Meu tio enlouqueceu completamente! — Ela se esforça para falar. — Ele mandou prender minha mãe.

 

  —O quê? — Falo, incrédulo. — Como isso aconteceu?

 

  —Ele descobriu que ela tinha planos de deixar o palácio e ficou furioso. — Minha filha responde. — Eles acabaram discutindo e meu tio deu ordens aos guardas para que levassem minha mãe para a prisão.

 

  —Pelos deuses! — Uri exclama, abismado. — Como ele pode mandar prender a própria irmã, seu sangue?

 

  —Nós temos que fazer alguma coisa. — Hadany fala. — Minha mãe não pode ficar naquele lugar.

 

  —Acalme-se, princesa. — Leila a abraça, tentando confortá-la.

 

  —Ela não cometeu nenhum crime, Leila. — A voz de minha filha é frágil, devido ao choro que a toma. — Ela só queria proteger a mim e a minha irmã.

 

  —Que marcas são essas em seus braços? — Uri pergunta e então eu noto marcas avermelhadas nos braços de minha filha.

 

  —Meu tio me segurou para que eu me afastasse de minha mãe e não fosse atrás dela. — Ela responde. — Eu tentei me livrar de todas as formas, mas ele é mais forte do que eu.

 

  —Isso não vai ficar assim! — Decreto enfurecido por saber que Ramsés, além de prender minha esposa, machucou minha filha.

 

  —O que vai fazer, meu pai? — Uri pergunta.

 

  —Eu vou falar com o rei.

 

(...)

 

  —Como ousa entrar aqui sem ser anunciado? — O rei não esconde seu desagrado ao me ver entrar na sala do trono.

 

  —Perdão, senhor. — Peço, escolhendo com cuidado cada palavra que irei dizer. — Mas, eu vim até aqui implorar que o soberano não se volte contra sua irmã.

 

  —Eu me volto contra qualquer um que me desafiar, com a energia que se fizer necessária. — Ele afirma. — Além disso, Henutmire estava prestes a cometer uma insanidade. Eu precisava intervir de algum modo.

 

  —Ela não merece ficar presa como se fosse uma criminosa, soberano. Henutmire somente pensava em proteger nossas filhas, estava apenas ouvindo seu coração. — Falo. — Eu lhe suplico, senhor do Alto e Baixo Egito, não faça isso com a princesa.

 

  —Você é um excelente joalheiro, Hur, mas é apenas isso. — O soberano fala, sem ter ideia de como suas palavras me ferem. — Coloque-se no seu lugar! Não diga ao rei o que ele deve ou não fazer.

 

  —Não estou aqui como um funcionário do rei e sim como marido e como pai. — Tomo coragem de encarar o faraó. — Vossa majestade mandou prender minha esposa, machucou uma de minhas filhas e espera que eu fique de braços cruzados sem fazer nada?

 

  —Ora, ora, ora... Vejo que agora está revelando quem você é de verdade. — Ele me olha, mas sou incapaz de descrever seu olhar. — O que o faz pensar que pode se dirigir a mim dessa maneira?

 

  —Eu sou o homem que ama sua irmã mais que a própria vida, vida esta que não hesitaria em dar por cada um de meus filhos. — Respondo com firmeza. — Não vim aqui com a intenção de afrontá-lo, apenas peço que reconsidere sua atitude para com Henutmire.

 

  —Eu ainda me pergunto como permiti que uma princesa como Henutmire se casasse com um hebreu. — O rei fala, pensativo. — Acho que os anos de convivência com você acabaram contaminando os pensamentos de minha irmã.

 

  —Acredite, eu jamais tive tamanha influência sobre minha esposa a ponto de mudar o que ela pensa ou acredita.

 

  —Sejamos francos e diretos, Hur. — O rei se acomoda em seu trono, sem desviar seus olhos de mim um só instante. — Você também pretende me enfrentar e desafiar o meu poder?

 

  —E-eu... — Não consigo responder ao faraó.

 

  —Permita-me reformular a pergunta, já que parece não ter entendido bem. Henutmire pretendia deixar o palácio não somente para proteger as filhas, mas também para apoiar Moisés, ou seja, apoiar os escravos. Pretende fazer o mesmo? — O olhar severo do rei me impede de dizer uma só palavra. — Seu silêncio é sua resposta. A partir de agora está destituído do cargo de joalheiro real e expulso do palácio.

 

  —Mas, majestade...

 

  —Tem até amanhã para ir embora e está terminantemente proibido de voltar. – O rei me interrompe. — Seu casamento com minha irmã será revogado e nunca mais verá suas filhas. Ao passar pelos portões, será um escravo como outro qualquer.

 

 

   Por Henutmire

 

   O olhar do general foi o primeiro a se voltar para mim quando me viu adentrar a prisão do palácio. De início, ele não entendeu porque dois oficiais me conduziram até ali, na verdade nem eu mesma entendia. Até que Bakenmut questionou um dos homens sobre o que estava acontecendo e a única resposta dada foi: "São ordens do rei.". Sim, isso explica o que está acontecendo comigo. Ramsés agora é um rei cego pelo orgulho, um homem que está perdendo sua sanidade aos poucos sem que ninguém se dê conta.

 

   Entrei na cela escura como uma criança pequena entra em uma casa desconhecida. Sei que afirmei não pertencer ao palácio, mas também não pertenço a esse lugar. E agora, olhando para as paredes ao meu redor, o único que faço é chorar... Sinto-me como se meu coração gritasse pedindo por ajuda, mas ninguém além de mim mesma pode escutá-lo. Choro por estar presa, pelos gritos de Hadany que ainda ecoam em meus ouvidos, por saber o quanto Tany e Hur irão sofrer ao saber o que Ramsés fez comigo. Mas, choro principalmente por saber que minhas filhas estão a mercê de Yunet e que eu não posso mais protegê-las como gostaria. Uma dor tão grande se faz presente dentro de mim que sequer consigo reprimí-la. Me envolvo em meus próprios braços, na tentativa de não me sentir tão só. Choro cada vez mais e cada vez mais forte. De tão intenso, meu pranto está sendo capaz de revirar meu estômago a ponto de me fazer achar que vou vomitar.

 

  —Conforme-se, Henutmire. — Falo para mim mesma. — Estes agora são os novos aposentos da princesa do Egito.

 

   É como se minha vida passasse diante de meus olhos, lembranças boas e ruins se atropelam em minha mente no curto espaço de tempo entre uma lágrima e outra. Sinto que estou escapando de mim mesma, sem que eu nada possa fazer para evitar. Tristezas do passado só aumentam minhas lágrimas e alegrias do presente não conseguem me fazer sorrir.

 

   Flash back on

 

  —Eu fui um canalha, eu sei, e me arrependo profundamente. Mas, acredite ou não, eu te amo muito, Henutmire. — Disebek fala e eu tento entender porque pernameço aqui escutando-o. — Quero guardar comigo tudo de bom que nós vivemos e foram muitas coisas.

 

  —SAI DAQUI, DISEBEK! — Ouço meu próprio grito ecoar pelos aposentos.

 

  —Olhe para mim... — Ele pede e se aproxima.

 

  —Não me toque! — Ordeno e o olho de frente, sem medo algum. Aliás, o único que sinto é ódio, desprezo e uma imensa vontade de matar esse homem que um dia chamei de marido.

 

  —Eu fui um mal marido, reconheço. — Disebek fala, um tanto intimidado com meu olhar. — Mas, ultimamente nós estávamos tão felizes, meu amor.

 

  —Eu aturei muitas coisas e estou profundamente arrependida de ter aturado. — Falo com firmeza. — Você não me ama coisa nenhuma! Não sabe nem o que é amar. Eu sim, eu te amei, de imbecil que era. — Não me reconheço em minhas próprias palavras, mas a dor que estou sentindo está fazendo com que uma nova Henutmire nasça. — Eu peço aos deuses que me façam esquecer de tudo o que vivemos. Eu não quero me lembrar de nada, NA-DA!

 

   Flash back off

 

   De fato, eu nunca mais me lembrei de um momento sequer que vivi ao lado de Disebek, mas únicamente porque Hur apareceu em minha vida e me fez esquecer de todo o sofrimento do passado. Hur foi mais que um amigo, mais até do que um marido... Ele foi o meu consolo no momento em que eu mais precisava. O seu amor foi o que me tornou novamente completa, que me encheu da alegria de viver quando eu pensava estar morta em vida. Por um momento, comparei Hur a Disebek, mas estive grandemente errada. Hur mentiu para mim, escondeu algo grave... Mas, por pior que tenha sido o seu erro, ele jamais foi infiel e sempre demonstrou de todas as formas possíveis o quanto me ama. Estou sim magoada, mas não posso deixar de reconhecer que Hur foi para mim o mais incrível dos homens e para minhas filhas o melhor dos pais.

 

 

   Por Tany

 

  —Hadany! Uri! — Entro desesperada na oficina chamando por meus irmãos. — Por favor, me digam que é mentira! Me digam que meu tio não foi capaz de um absurdo como esse.

 

  —Sim, ele foi. — Minha irmã fala. — Eu estava com nossa mãe, presenciei tudo.

 

  —Como ele pôde fazer isso com a própria irmã? Como? — Exclamo em meio a lágrimas, enquanto sinto meu corpo perder suas forças.

 

  —Tany! — Uri me apara em seus braços, impedindo que eu desabe no chão.

 

  —Nós temos que tirá-la de lá. — Falo. — Minha mãe não pode ficar naquele lugar.

 

  —Lamento muito, minha irmã, mas não há nada que possamos fazer. — Uri fala. — Não podemos ir contra as ordens do rei, talvez isso piorasse a situação da princesa.

 

  —Eu não posso me conformar com isso! — Esbravejo e acabo descontando minha frustração em meu irmão ao lhe dar leves socos no peito.

 

  —Olhe para mim, Tany! — Hadany me segura pelos braços com firmeza e me faz olhar para ela. — Nós vamos tirar nossa mãe da prisão de alguma forma, mas ficar nervosa e agredir as pessoas não vai adiantar nada!

 

  —Por que ele fez isso, Hadany? — Pergunto, chorando cada vez mais. Então, minha irmã me abraça na tentativa de me confortar. — Por que?

 

  —A mamãe prometeu que vai ficar tudo bem. — Hadany fala. — Devemos confiar nisso, ela jamais deixou de cumprir uma promessa.

 

  —Pai... — Uri fala quase em um sussuro ao ver nosso pai adentrar a oficina. Seu semblante triste logo me faz entender que algo ainda mais grave aconteceu. — O senhor falou com o rei?

 

  —Sim. — Ele responde.

 

  —E o que ele disse? — Hadany pergunta, visivelmente ansiosa.

 

  —Me expulsou do palácio, me tirou o título de nobre e me proibiu de voltar. — Meu pai responde com pesar.

 

  —O quê? — Me é impossível acreditar no que acabo de ouvir. — Meu tio não pode ter feito uma coisa dessas!

 

  —Em parte é minha culpa por ter achado que podia interceder por Henutmire, deveria ter imaginado que o soberano não me daria ouvidos. — Ele olha para mim, em seguida para Hadany. — Como eu posso ir embora deixando minha esposa e meus filhos aqui?

 

  —O senhor não tem culpa de nada, pai. — Eu o abraço e Hadany faz o mesmo, enquanto Uri e Leila apenas observam, penalizados, essa espécie de despedida. — Meu tio está louco e todos nós estamos sendo vítimas de sua loucura.

 

  —Me perdoem, minhas filhas. — Meu pai chora, o que poucas vezes em minha vida eu o vi fazer. — Eu não queria abandonar vocês, ainda mais agora.

 

  —O senhor não está nos abandonando, jamais pense isso. — Hadany olha nos olhos dele. — Minha mãe vai sair daquela prisão e nós encontraremos um jeito de ficarmos juntos novamente como família que somos.

 

(...)

 

  —Abram as portas. — Hadany ordena aos guardas ao ver que eles não permitem a nossa entrada nos aposentos de minha mãe.

 

  —Perdão, alteza. — Um dos homens fala. — Temos ordens para não deixar ninguém entrar.

 

  —Abram essas malditas portas ou eu entrarei nesse quarto após derrubá-las! — Ela ordena, enérgicamente.

 

   Assustados, os guardas acatam as ordens de minha irmã e finalmente entramos nos aposentos. Qual não é a nossa surpresa ao nos depararmos com uma mulher sentada na cama, deliciando-se com uma taça de vinho e com um sorriso maléfico estampado no rosto.

 

  —Yunet... — Pronuncio o nome da mulher, que ao me ouvir volta suas atenções para mim e minha irmã.

 

  —Sim, sou eu. — Ela se levanta e nos olha fixamente. — Vocês devem ser as filhas de Henutmire, certo? Estava ansiosa por conhecê-las.

 

  —O que está fazendo aqui? — Hadany pergunta com certa impaciência.

 

  —Estes agora são os meus aposentos. — Yunet responde, plena de satisfação. — Espero que não se importem, afinal, sua mãe não vai mais precisar deste quarto.

 

  —Ponha-se daqui para fora! — Hadany ordena.

 

  —Veja como fala comigo, garota! — Yunet se irrita. — Eu quem deveria colocar vocês para fora já que estão em meu quarto.

 

  —Este quarto é de minha mãe! — Exclamo, nervosa. — Saia daqui!

 

  —Este é o meu quarto, me foi dado por minha filha. — Yunet fala. — Se querem contestar as ordens da rainha, vão discutir com ela.

 

  —E vamos, não tenha dúvidas disso. — Hadany se aproxima da mulher. — Mas, antes eu vou colocar você para fora daqui.

 

  —O que pensa que está fazendo? — Yunet fala furiosa assim que minha irmã agarra seu braço. — Me solte, sua princesinha imunda!

 

  —Eu vou soltar. — Hadany então arrasta Yunet para fora dos aposentos. A infeliz até tenta resistir, mas minha irmã consegue ser mais forte e joga Yunet do lado de fora, atirando-a com força contra o chão.

 

  —Você vai pagar por isso! — Yunet ameaça, completamente enfurecida.

 

  —Olhe bem para mim e veja se eu tenho medo de você, Yunet. — Hadany fala, olhando-a de cima. Então, a mulher se levanta e vai embora. — Guardas, ninguém entra neste quarto além de mim e de minha irmã. Fui clara?

 

  —Como vossa alteza ordenar. — Um dos oficiais fala.

 

 

   Por Nefertari

 

   Sinceramente não sei se considero sábia ou completamente insana a atitude de Ramsés. Concordo que Henutmire estava prestes a cometer uma loucura, mas talvez tenha sido exagero da parte de meu marido mandar prender sua própria irmã. Não sei mais o que pensar sobre esse assunto! O único que sei é que não há nada que eu possa fazer, seja para o bem de minha cunhada ou para o seu mal.

 

  —Nefertari! — Minha mãe entra afoita em meus aposentos.

 

  —O que houve, mãe? — Pergunto. — Por que está tão nervosa?

 

  —Aquelas princesinhas insolentes me expulsaram do meu próprio quarto! — Ela responde e logo eu entendo que se refere a Hadany e Tany. — Elas me jogaram para fora como se eu fosse mais desprezível que um escravo. Eu nunca fui tão humilhada, minha filha.

 

  —Disse a elas que eu lhe dei os aposentos?

 

  —Sim, mas elas agiram como se não fosse uma ordem vinda de sua soberana. — Minha mãe se aproxima de mim. — Você precisa fazer alguma coisa, Nefertari. Coloque essas meninas em seu devido lugar!

 

  —O palácio tem muitos quartos, minha mãe. — Falo, deixando-a confusa. — Garanto que a senhora ocupará um dos melhores e mais confortáveis.

 

  —O que está dizendo, Nefertari? — Ela me olha, incrédula. — Vai deixar que as filhas de Henutmire contrariem suas ordens?

 

  —Foi um erro lhe dar o quarto de Henutmire. — Assumo. — Ramsés não ficou nem um pouco satisfeito quando soube, mas não disse nada para não provocar uma discussão entre nós.

 

  —Eu não estou acreditando nisso! Você vai se submeter a vontade daquele par de imundinhas? — Ela pergunta, me encarando. — Foi para isso que se tornou rainha, Nefertari?

 

  —Já chega, mãe! Ao menos finja que não é tão invejosa. — Falo com seriedade. — Eu vou lhe dar um conselho: não mexa com nada que pertence a Henutmire, principalmente com as filhas dela.

 

  —Eu não criei você para se curvar diante dos outros, Nefertari.

 

  —Tem razão, a senhora me criou para ser rainha do Egito e é isso que eu sou. — Lanço-lhe um olhar intimidador. — Não faça nada contra minhas sobrinhas ou vai ter que se entender comigo.

 

  —Está me ameaçando?

 

  —Não, apenas estou lhe alertando. — Dou um passo a frente, me aproximando de minha mãe, mas ela recua ao dar um passo para trás. — Hur pode ter sido expulso e Henutmire presa, mas na ausência deles é dever meu e de Ramsés cuidar e zelar pelo bem estar de Hadany e Tany. Entendeu bem?

 

  —A grande esposa real foi muito clara. — Minha mãe fala com certa ironia. — Tenho permissão para me retirar?

 

  —Sim.

 

   Observo minha mãe deixar meus aposentos, enquanto penso em tudo o que acabo de dizer. Nada me tira da cabeça que ela tem algo a ver com a prisão de Henutmire, mas não tenho como provar se estou certa ou não. É difícil para mim reconhecer que minha própria mãe não hesitaria em fazer mal a Hadany e Tany pelo simples fato de serem filhas de quem são. Todavia, eu fiz uma promessa a Henutmire e irei cumprí-la.

 

   Flash back on

 

  —Nunca mais nos dê um susto como esse, Nefertari. — Henutmire pede. — Não sei o que teria sido de nós se você tivesse morrido.

 

  —Dos outros eu não sei, mas meus filhos estariam em excelentes mãos. — Falo, olhando para a frágil menina em meus braços. — Você prometeu que cuidaria deles, que os amaria como se fossem seus.

 

  —Não poderia fazer diferente, são meus sobrinhos. — Ela sorri. — Mas, por mais amor que eu desse a eles, jamais substituiria o seu amor de mãe.

 

  —Se um dia eu faltar a meus filhos, você ainda manterá sua promessa?

 

  —Claro que sim, Nefertari. — Minha cunhada toca meu rosto com carinho. — Mas, só se você me prometer o mesmo. — Ela sorri. — Se um dia for eu a faltar a minhas filhas, me prometa que irá cuidar delas e protegê-las.

 

  —Eu prometo, Henutmire. — Seguro em sua mão. — Prometo pela minha vida.

 

   Flash back off

 

  —Com licença. — A voz de Tany me traz de volta de minhas lembranças.

 

  —Entre. — Falo e ela vem até mim. — Em que posso ajudar?

 

  —Pode começar me explicando porque deu os aposentos de minha mãe para Yunet.

 

  —Foi uma atitude impensada, Tany. Minha mãe insistiu que queria os aposentos de Henutmire e eu acabei me deixando levar. — Olho para minha sobrinha. — Foi um erro, peço desculpas.

 

  —Teria se redimido se minha irmã não tivesse colocado sua mãe para fora do quarto? — Ela pergunta.

 

  —Talvez, quando tivesse tempo para pensar melhor em minha atitude. — Respondo. — Eu imagino como você e sua irmã estão se sentindo pelo que houve com Henutmire. Sinto muito!

 

  —Poderia demonstrar isso fazendo algo para ajudá-la.

 

  —Não há nada que eu possa fazer, Tany. — Afirmo, triste. — Qualquer coisa que eu diga a Ramsés pode piorar a situação de sua mãe.

 

  —Ao menos tente, tia. — Tany pede ao segurar minhas mãos. — Se tem o mínimo de consideração que seja por mim e por Hadany, ao menos tente.

 

  —Farei o que puder, mas não tenha muita esperança. — Abraço minha sobrinha. — O que eu realmente posso fazer por Henutmire já estou fazendo.

 

 

   Por Henutmire

 

   A noite parece ter demorado a cair, mas agora ela apenas parece contribuir para que o silêncio desta cela seja mais torturante que juntas as quatro pragas que já atingiram o Egito. Nenhum bom pensamento está sendo capaz de não ser reprimido por estas paredes que me aprisionam. A única opção que tenho é esperar... Esperar que esse pesadelo logo termine ou que eu me acostume de uma vez com a ideia de que nunca mais sairei daqui. Eu poderia pedir ajuda aos deuses, mas já não confio que realmente possam fazer algo por mim. Poderia pedir ajuda ao Deus dos hebreus, mas a verdade é que, mesmo tendo reconhecido o seu poder, não sei se ele me escutaria, afinal, não sou parte de seu povo.

 

  —Leila? — Falo ao ver a porta da cela se abrir e minha dama entrar por ela.

 

  —Senhora... — Ela caminha lentamente até mim. — Como o rei pode tê-la colocado nesse lugar?

 

  —Eu espero que não seja por muito tempo.

 

  —Trouxe pão e frutas, Gahiji separou suas preferidas. — Leila coloca sobre a cama a pequena cesta que trazia nas mãos.

 

  —Obrigada, minha querida. Mas, acho que agora o que eu mais preciso é de um abraço.  — Então, Leila me abraça forte e demoradamente. Seus braços repletos de carinho sincero são o conforto que meu coração precisa, depois de passar todo um dia em companhia da solidão. E de fato não há nada pior do que a solidão. — Como estão minhas filhas?

 

  —Arrasadas, senhora. — Ela responde. — Queriam vir vê-la de qualquer maneira, com muito custo consegui fazer com que mudassem de ideia.

 

  —Leila, por favor, não deixe que elas venham até aqui em hipótese alguma. — Peço. — Esse lugar já é terrível demais para que eu tenha que suportar ver o sofrimento de minhas filhas pelo que está acontecendo.

 

  —Não se preocupe, farei o possível para tentar contê-las, ao menos por alguns dias.

 

  —O que me conforta é saber que Hadany e Tany ainda têm o pai. — Falo. — Tenho certeza que Hur está cuidando de nossas filhas e não permitirá que nenhum mal as atinja.

 

  —Aconteceu algo que a senhora não sabe. — Leila fala, como se escolhesse com cuidado cada palavra. — Hur tentou interceder a seu favor, mas o rei interpretou sua atitude como uma afronta e o expulsou do palácio.

 

  —Não! Não pode ser! — Me nego a acreditar. — Ramsés não pode ter feito algo assim. Ele me prometeu que jamais se voltaria contra Hur.

 

  —Eu lamento muito, princesa, mas é a verdade. — Ela fala. — Meu sogro tem até amanhã para ir embora e está proibido de voltar ao palácio.

 

  —Meu irmão enlouqueceu de vez! Só pode ter feito isso para me punir pela decisão que tomei. — Falo, nervosa, enquanto Leila tenta disfarçar um risinho inoportuno. — Qual é a graça, Leila?

 

  —Nenhuma, princesa. — Ela responde, tentando ficar novamente séria. — Na verdade, eu não consigo me conter só de imaginar o que suas filhas fizeram.

 

  —Do que está falando?

 

  —Yunet tentou se apossar de seus aposentos, mas suas filhas não permitiram. — Leila fala me deixando surpresa. — Elas jogaram a víbora para fora como se fosse um animal indesejável.

 

  —Está me dizendo que Hadany e Tany enfrentaram Yunet? — Pergunto, sem conseguir acreditar.

 

  —Sim.

 

  —Não sei se fico aliviada por saber que minhas filhas sabem se defender de Yunet ou se fico ainda mais angustiada do que já estou. — Falo, apreensiva. — Yunet não vai tolerar ter sido humilhada dessa maneira, ainda mais por minhas filhas.

 

  —Fique tranquila, princesa. Ela não poderá fazer nada com suas meninas. — Leila afirma com tamanha certeza que me impressiona.

 

  —Por que fala com tanta segurança? — Eu a olho, intrigada.

 

  —A grande esposa real me procurou para pedir um favor. — Ela fala. — Pediu que eu viesse lhe trazer um recado.

 

  —Que recado?

 

  —Ela pediu para a princesa não se preocupar, porque apesar das circunstâncias suas filhas estão a salvo de Yunet. — Leila responde. — A rainha disse que lhe fez uma promessa e que irá cumprí-la.

 

  —Quando Mayra nasceu, Nefertari pensou que iria morrer e me fez prometer que cuidaria de seus filhos. — Falo ao me lembrar daquele dia. — Mas, ela sobreviveu e me fez a mesma promessa quanto a minha filhas.

 

  —Não fale como se isso já fosse algo definitivo porque não é. — Ela segura minhas mãos. — A soberana irá cuidar de suas filhas até que a senhora saia daqui.

 

  —Leila, eu quero que me prometa que cuidará de Hadany e Tany por mim. — Olho em seus olhos, quando na verdade tento esconder que começo a não acreditar que vou sair desta cela, não com vida.  — Nefertari pode dar proteção, mas somente você poderá dar o apoio que elas precisam.

 

  —A senhora tem a minha palavra. — Leila fala, deixando meu coração um pouco menos aflito. — Assim que possível eu volto para vê-la.

 

  —Não se preocupe comigo, minha querida. Eu ficarei bem. — Afirmo. — O mais importante agora é que fique ao lado de minhas filhas.

 

  —Pedirei a Deus que proteja a senhora e que logo esteja com seus filhos. — Ela sorri.

 

  —Faça isso. — Retribuo o sorriso de Leila. — Talvez o Deus dos hebreus seja o único que pode me ajudar agora.

 

  —Quer que eu diga algo a Hur?

 

  —Peça apenas que ele não venha se despedir. — Falo com tristeza, principalmente por saber que há a possibilidade de eu não voltar a ver meu marido. — Apesar de ainda estar muito magoada, seria doloroso demais dizer adeus ao homem que amo.

 

  —Não consegue perdoá-lo?

 

  —Todo casamento tem seus altos e baixos, mas uma mentira é capaz de reduzir a cinzas o mais forte dos sentimentos. — Desvio meu olhar para o vago. — Sinto que em meu coração não há espaço para perdão, para ressentimentos, para nada... Há apenas um enorme vazio que está sendo ocupado pela dor de saber que Hur mentiu para mim.

 

 

   Por Hadany

 

   Sentada na cama de minha mãe, tento imaginar como ela pode estar naquela cela, mas a verdade é que tenho medo de meus próprios pensamentos. A noite só conseguiu me deixar ainda mais preocupada com o fato de minha mãe estar presa e de meu pai ter sido expulso. Tais coisas até fazem o confronto entre meu tio e Moisés parecer nada.

 

  —Hadany... — Minha irmã fala ao despertar e me ver ao seu lado. — Eu adormeci sem sequer me dar conta.

 

  —Fique tranquila, não dormiu por muito tempo.

 

  —Será que podemos passar essa noite aqui? — Tany pergunta ao se sentar. — Nos sentiríamos perto da mamãe, de alguma forma.

 

  —Vamos passar todas as noites aqui até que ela saia da prisão. — Falo. — Amanhã nosso pai vai deixar o palácio e teremos apenas uma a outra para enfrentar essa situação.

 

  —Não sei se terei forças para isso, Hadany. — Ela desabafa. — O que faremos sozinhas? Ninguém pode nos ajudar ou ajudar nossos pais.

 

  —Está enganada. — Discordo. — Há alguém que pode ajudar nossa mãe, nosso pai e até mesmo nós duas.

 

  —E quem seria?

 

  —O deus dos hebreus. — Respondo e sinto o olhar incrédulo de minha irmã sobre mim.

 

  —Acha mesmo que esse deus invisível nos ouviria? — Ela questiona. — De algum modo somos parte de seu povo, mas crescemos como egípcias, adorando aos deuses egípcios.

 

  —Acho que já é hora de reconhecer que nossos deuses não estão fazendo absolutamente nada por nós. — Falo com segurança. — Se voltarmos nossos corações para o deus de Moisés, certamente ele nos atenderá. Só precisamos ser sinceras e ter fé.

 

  —Fé? — Tany indaga. — Nem você, nem eu sabemos o que é isso, Hadany.

 

  —Se lembra que quando éramos crianças Leila nos dizia que a fé é a certeza de que vamos ter o que esperamos, mesmo que nada demonstre que vá acontecer? — Pergunto e ela afirma que sim. — É exatamente o que precisamos fazer: confiar em Deus e ter fé.

 

  —E como faremos isso? — Ela pergunta. — Como vamos pedir ajuda a esse deus se sequer podemos vê-lo?

 

  —Nós não podemos vê-lo, mas ele nos vê e nos ouve. — Repito o que Leila dizia para mim e Tany quando éramos crianças. Apesar de termos sido criadas como egípcias, minha mãe nunca impediu Leila de compartilhar sua crença conosco, de nos contar histórias de seu povo e de nos falar sobre seu Deus. — Ora comigo?

 

  —Está bem. — Tany segura minhas mãos.

 

  —Deus dos hebreus, eu não o conheço mas tenho ouvido falar do teu poder e que o Senhor está acima de todos os outros deuses. Eu confio em Ti e peço, por favor, que dê forças a mim e a minha irmã para enfrentarmos essa situação. Proteja minha mãe naquela cela e nos mostre uma meneira de tirá-la de lá.

 

  —Dê forças a meu pai para que ele se mantenha firme fora do palácio e não se deixe abater por estar longe das pessoas que ama. — Minha irmã me surpreende ao fazer seu pedido ao Deus dos hebreus. — Permita que voltemos a ser a família unida que sempre fomos.

 

  —Amém.

 

  —Será que fizemos certo? — Tany pergunta.

 

  —Creio que da melhor forma que consegimos. — Sorrio e logo em seguida nos abraçamos. Meu coração se inunda de paz, o que para mim é uma sensação estranha mas ao mesmo tempo boa. É como se isso me desse a certeza de que Deus nos ouviu e que vai nos ajudar.

 

 

   Por Hur

 

   Em minha última noite no palácio, passei todo o tempo acordado. Não porque o divã talvez não me proporcionaria um bom descanso, mas sim porque eu queria guardar cada detalhe da imagem de minhas filhas adormecidas, entregues ao sereno descanso que conseguiram ter em meio ao caos que estamos vivendo. Todavia, o dia nasceu e o prazo que me foi dado para deixar o palácio se esgotou. Não foi fácil estar na oficina real pela última vez, dizer adeus ao lugar onde trabalhei toda a minha vida fazendo uma das coisas que mais me davam satisfação. Um lugar tão repleto de lembranças... Me lembro de quando ensinei Bezalel, ainda criança, a lidar com as jóias. Ou das muitas vezes em que Hadany e Tany corriam de um lado para o outro, desconcentrando Uri do trabalho. Ou até mesmo das conversas que tive com Henutmire, quando ela me considerava apenas um bom amigo e eu já era completamente apaixonado por ela.

 

   Todavia, mais doloroso do que me despedir da oficina é o que vou enfrentar agora. Estou diante dos portões do palácio, a apenas alguns passos de deixar para trás toda uma vida, e entre eles e eu está minha família, as pessoas que mais amo nesse mundo. Tento me mostrar forte e conter as lágrimas, mas na verdade minha vontade é chorar até que não ter mais forças.

 

  —É melhor não dizer nada, pai. — Tany é a primeira a se pronunciar. — Palavras são péssimas em momentos como esse.

 

  —Então, o que eu faço? — Pergunto com grande esforço para que minha voz se sobreponha ao choro.

 

  —Apenas nos abrace. — Hadany responde.

 

  —Minhas filhas... — Eu as abraço, como nunca abracei antes, como se elas estivem escapando de meus braços mesmo que eu não queira soltá-las. — Eu amo vocês, nunca se esqueçam disso.

 

  —Não vamos esquecer. — Tany fala com um sorriso.

 

  —Não se preocupe, pai. — Hadany limpa de meu rosto uma única lágrima que escapou de meus olhos. — Nós vamos ficar bem.

 

  —Eu sei que vão. — Sorrio para elas.

 

  —Fale com o rei, meu pai, peça perdão. — Uri agora é quem se aproxima. — Ele certamente irá permitir que o senhor fique.

 

  —Eu seria capaz de me humilhar diante do rei se isso garantisse a liberdade de Henutmire, mas permanecer no palácio não vai mudar nada. — Falo ao colocar uma de minhas mãos sobre o ombro de Uri. — Você é o meu filho mais velho, o primeiro que eu ouvi me chamar de pai. Cuide de suas irmãs, proteja-as com a sua vida se preciso for, é sua responsabilidade agora.

 

  —Eu prometo que assim o farei. — Meu filho então me abraça fortemente.

 

  —Vamos sentir muito a sua falta, meu sogro. — Leila fala assim que Uri e eu nos separamos. — Lamento que o senhor vá embora sem se despedir da princesa.

 

  —Foi um pedido dela, não é? Não estou em condições de negar nada a Henutmire. — A tristeza é notável em meu tom de voz. — Dói muito deixar o palácio sem dar um último abraço em minha esposa, sem dizer uma última vez o quanto a amo... Mas, preciso me conformar.

 

  —Ela irá perdoá-lo, tenho certeza disso. — Minha nora afirma, mas não consigo acreditar em suas palavras.

 

  —Escrevi isto para Henutmire. — Entrego um papiro a Leila. — Entregue a ela quando achar que é o momento certo.

 

  —Será entregue. — Ela então me abraça timidamente, mas também com carinho.

 

   Então, antes que qualquer outra palavra seja dita ou que eu me entregue ao choro como uma criança, pego meus poucos pertences e me preparo para deixar o palácio. Com passos lentos caminho até os portões, que se abrem para mim. Então, contemplo o mundo fora dos altos muros e tento me convencer de que esta agora é a minha realidade. Olho para trás e vejo minha nora e meus três filhos unidos em um abraço. Lágrimas tomam os doces olhos azuis de Hadany e Tany, que estão entre Leila e Uri. Então, uno forças para lhes dirigir um último sorriso e em seguida atravesso os pesados portões que logo são fechados. Minha vida no palácio acabou, agora sou apenas um escravo que foi obrigado a se separar de seus filhos e que em breve não terá mais como esposa a mulher que tanto ama.

 

  —Senhor, cuide de Henutmire e de meus filhos. — Clamo a Deus. — É tudo o que eu lhe peço.


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