O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

E chegamos a marca de trinta capítulos... Todos prontos para mais uma praga?
Obs.: O terceiro flash back é narrado pela terceira pessoa.



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   Por Hadany

 

   Ando pelas margens do Nilo montada em meu imponente cavalo branco, sentindo a brisa tocar em meu rosto e desalinhar os fios negros de minha peruca, bem como seus adornos de ouro. Ainda que talvez não fosse prudente sair do palácio, eu precisava me ver fora daqueles muros. Me despedir de meu pai foi uma das piores coisas que já fiz em minha vida, principalmente por saber que meu tio o proibiu de voltar. É doloroso imaginar que talvez eu não volte a ver o homem que me ensinou tanto, que esteve ao meu lado quando dei meus primeiros passos e que me amou desde o momento em que soube que eu crescia dentro do ventre de minha mãe, dividindo espaço com minha irmã.

 

  —Calma, faraó! — Falo assim que sinto o animal se agitar de uma forma que nunca fez antes. — O que há com você?

 

   O relinchar do cavalo mais parece querer me avisar de alguma coisa, como se sentisse que há algum perigo por perto. Então, sinto que estou sendo observada, que há alguém próximo a mim. Olho para todas as direções, mas não vejo ninguém. Até que, de detrás de um capim alto, surge um casal de simples camponeses.

 

  —O que vai ser de nós agora? — Desolado, o homem chora como uma criança.

 

  —Acalme-se, meu marido. — A mulher pede. — Encontraremos uma solução.

 

  —Que solução? Todos os nossos animais estão mortos. — Ele argumenta. — Estamos arruinados.

 

  —Como Ápis pode permitir uma coisa dessas? — Ela questiona, se referindo ao deus que protege os animais do Egito.

 

  —Isso não é culpa de Ápis, nem de nenhum dos nossos deuses! — O homem fala com raiva. — Isso é culpa daqueles hebreus miseráveis! Malditos sejam!

 

  —É a filha da princesa Henutmire. — A mulher fala ao notar minha presença.

 

  —Nada aconteceu ao cavalo dela. — Ele me olha de uma forma estranha, o que me causa medo. — Os deuses estão protegendo a realeza.

 

   O homem dá um passo a frente na intenção de se aproximar de mim, mas eu dou meia volta com meu cavalo e saio a galope em direção ao palácio, sem sequer olhar para trás. O que pode ter acontecido para que aquele homem culpasse os hebreus pela morte de seus animais?

 

 

   Por Ramsés

 

  —Soberano! — Ikeni praticamente invade a sala do trono. — Não tenho boas notícias.

 

  —Fale de uma vez, Ikeni. — Peço. — Aproveite que estou de bom humor.

 

  —A praga enviada pelo deus de Moisés. — Ele fala. — Os animais do palácio estão mortos, inclusive o cavalo preferido do rei.

 

  —Não é possível! — Me recuso a acreditar que esse deus invisível mais uma vez derrotou um de nossos deuses.

 

  —Então, venha ver com seus próprios olhos, majestade.

 

(...)

 

  —Isso não pode estar acontecendo. — Falo ao ver o meu cavalo morto bem diante de meus olhos. — Hebreus malditos!

 

  —O que faremos, senhor? — Bakenmut pergunta, mas não tenho resposta.

 

   Então, vejo Hadany chegar montada no cavalo que lhe dei de presente quando era criança. Seus olhos parecem assustados, mas se espantam ainda mais ao verem mortos os demais cavalos do palácio. Ela desce de seu cavalo e o entrega ao servo que é responsável por cuidar dos animais.

 

  —Lhe dê água. — Hadany pede. — Viemos depressa e ele deve estar cansado.

 

  —A seu dispor, alteza. — O servo faz um reverência e se distancia um pouco, levando o cavalo de Hadany consigo.

 

  —Saiu do palácio sem a guarda real? — Pergunto para minha sobrinha.

 

  —Precisava ficar um pouco sozinha. — Ela responde, olhando ao seu redor. — O que está havendo? Eu vi vários animais mortos pelas ruas de Pi-Ramsés e agora aqui no palácio.

 

  —É outra praga, princesa. — Ikeni responde.

 

  —Seu irmão está novamente me desafiando, Hadany. — Falo, olhando-a seriamente.

 

  —Moisés apenas está obedecendo as ordens de Deus. — Ela defende o irmão. — Nada disso estaria acontecendo se o rei tivesse permitido que os hebreus fossem ao deserto desde o início.

 

  —Os hebreus jamais colocarão os pés para fora do Egito e já é hora de Moisés entender isso. — Afirmo e então volto minhas atenções para outro lugar. — Por que nada aconteceu ao seu cavalo quando todos os outros animais do reino estão morrendo?

 

 

  —Majestade, Moisés havia dito que nenhum dos animais que pertence aos hebreus seria morto por essa praga. — Bakenmut responde no lugar de Hadany. — Talvez isso explique o fato de...

 

  —É claro! — Interrompo o general. — Minha estimada sobrinha é filha de um hebreu, portanto é uma meio hebreia.

 

  —Eu não tenho culpa se o Deus dos hebreus protege o seu povo. — Ela ressalta.

 

  —De fato. — Concordo. — Mas, eu não vou tolerar que esse deus invisível se exiba dentro do meu palácio.

 

  —O que vai fazer? — Hadany me olha.

 

  —Você, venha até aqui. — Chamo o servo, que de imediato se aproxima. — O cavalo de minha sobrinha deve ser morto imediatamente.

 

  —Não! — Ela protesta.

 

  —Obedeça! — Esbravejo ao ver que o homem hesita em acatar minhas ordens por causa de Hadany. — Faça o que estou mandando ou você será morto no lugar do animal.

 

  —Por que está fazendo isso comigo? — Minha sobrinha questiona, enquanto o servo leva o belo cavalo branco para ser sacrificado longe de nós.

 

  —Porque ninguém é mais poderoso que o Hórus vivo na terra. — Respondo.

 

 

   Por Henutmire

 

   Flash back on

 

  —Me deixe enxugar essas lágrimas. — Hur pede ao me ver chorar. Ele então seca as lágrimas de meu rosto com um pequeno e macio tecido branco. Eu apenas permaneço olhando-o, sem ação alguma. — Olhos tão lindos quantos os seus nunca deveriam ser maculados com tanta dor.

 

  —Você é muito bom para mim. — Falo sem conseguir tirar meu olhar dele.

 

  —Seria ainda mais se me permitisse.

 

   Flash back off

 

   As lágrimas caem sobre o tecido de minhas vestes, tornando o seu tom azul ainda mais escuro do que realmente é. Lembranças têm sido minha companhia desde que entrei nesta cela e de certa forma é o que não tem permitido que eu entregue minha sanidade nas mãos da loucura. A essa hora Hur já deve ter deixado o palácio e, por mais fria que a despedida pudesse ser de minha parte, ele merecia a chance de me dizer adeus. No entanto, eu lhe neguei isso e agora me arrependo grandemente. Por maior que seja a minha mágoa, eu amo Hur e queria muito tê-lo abraçado uma última vez. Sim, uma última vez... Mas, não porque talvez eu não volte a vê-lo e sim porque sinto cada vez mais que não sairei desta cela com vida.

 

   Flash back on

 

  —Eu não me canso de admirar o Nilo. — Falo, olhando para o nosso rio sagrado.

 

  —É bonito mesmo. — Hur concorda.

 

  —E pensar que as cheias que tornam as nossas terras férteis vem das lágrimas de tristeza de Ísis com saudades do seu marido.

 

  —Até em seus infortúnios os deuses nos favorecem. — Ele fala. — Sem as águas sagradas do Nilo sequer existiríamos.

 

  —É verdade. — Concordo. — E o deus dos hebreus, Hur? Esse deus invisível, sem rosto... Como é que ele é?

 

  —Faz tanto tempo que eu me afastei dessa fé. — Ele responde. — Mas, sei que ele não gosta de dividir sua adoração com nenhum outro deus.

 

  —Interessante. Aqui no Egito servimos a tantos deuses que o deus de Israel até poderia ser mais um.

 

  —Os hebreus não o adoram como os egípcios adoram seus deuses.

 

  —Não? — Indago surpresa. — E como é que eles fazem?

 

  —Não existem rituais, rezas prontas. O relacionamento se dá através da fé. — Hur explica, esclarecendo minhas dúvidas.

 

  —Da fé? — Pergunto, confusa. — Como assim? Eu não entendo.

 

   Hur então se senta ao meu lado e me olha atentamente por alguns segundos, antes de voltar a falar.

 

  —É a certeza de que vamos receber o que esperamos, mesmo sem nenhum indício de que vá acontecer. — As palavras de Hur são tão firmes e verdadeiras que ele parece sentir em seu coração o que acaba de dizer. — Isso é fé.

 

  —Curioso isso. — Falo com meus olhos presos a Hur. — E você tem essa fé?

 

  —Gostaria de ter.

 

   Flash back off

 

   Fé... Uma palavra tão pequena, mas que pelo que já ouvir de Hur, Leila e até mesmo de Moisés, parece ter um significado e um poder tão grandes. Será que eu posso ter essa fé de que o Deus dos hebreus é de fato único e que está no controle de tudo o que acontece?

 

  —Bom dia, princesa. — Anat fala ao entrar em minha cela.

 

  —Vá embora, Anat. — Peço. — Você é uma das últimas pessoas que eu quero ver na minha frente.

 

  —Quanta falta de cortesia, alteza. — Ela demonstra uma falsa indignação. — Eu vim visitá-la nesse lugar imundo e é assim que me trata?

 

  —Você veio tripudiar em cima do meu sofrimento, isso sim. — Falo.

 

  —Na verdade eu vim conferir se ainda estava viva. — A sacerdotisa diz. — Tolice de minha parte, já que a princesa parece ter sido contemplada com a imortalidade dos deuses.

 

  —Por que diz isso? — Pergunto, intrigada.

 

  —Digamos que eu tenha colocado a prova sua capacidade de permanecer viva. — Ela me olha.

 

  —Do que está falando, sacerdotisa? — Questiono, nervosa.

 

  —Eu vou lhe contar.

 

   Flash back on

 

   Escorando-se pelas paredes, Anat entra na cozinha real. O lugar está completamente desorganizado devido a falta de água. O jovem Chibale nota a presença da sacerdotisa e se preocupa ao vê-la tão pálida e aparentemente fraca.

 

  —Em que posso ajudá-la, senhora? — Ele pergunta.

 

  —Estou com muita sede, preciso beber algo que não seja vinho. — Ela responde.

 

  —Acho que ainda tem um pouco de suco de fruta. — Chibale fala. — Posso serví-la?

 

  —Sim, por favor. — Anat fala ao se sentar. Então, a sacerdotisa nota uma bandeja sobre a mesa com uma jarra dourada e duas taças. — Para quem é?

 

  —Para a princesa Henutmire. — Ele responde.

 

   Aproveitando-se do fato de o rapaz estar de costas para ela, Anat despeja dentro da jarra o conteúdo de um pequeno frasco que carregava consigo desde o dia em que retornou ao palácio.

 

  —Aqui está. — Chibale entrega a taça com suco a sacerdotisa.

 

  —Obrigada. — Ela agradece.

 

  —Se não se importa, preciso levar o vinho aos aposentos da princesa. — O jovem toma nas mãos a bandeja que estava sobre a mesa.

 

  —Claro, pode ir. — Anat fala e o filho de Gahiji se retira. Um sorriso maquiavélico toma conta de seus lábios, enquanto ela bebe o suco que lhe foi servido.

 

   Flash back off

 

  —Aquele veneno deveria tê-la matado. — Anat fala, com certa raiva na voz. — A menos que não tenha bebido daquele vinho.

 

  —Sim, eu bebi. — Afirmo ao me lembrar do quão sedenta eu estava naquela ocasião.

 

  —Então, vossa alteza é mais protegida pelos deuses do que imaginei. — Ela afirma. — Eu tinha certeza de que aquele veneno daria um fim a sua vida e não sabe como me alegrei com isso.

 

  —MALDITA! — Esbravejo ao esbofetear o rosto de Anat. — Sua mizerável! Mulher profana!

 

  —A princesa já parou para contar quantas vezes me bateu? — Ela pergunta com sarcasmo.

 

  —Saia daqui! — Ordeno. — Agradeça aos deuses por eu não matar você agora mesmo e com minhas próprias mãos.

 

  —Isso só seria um motivo a mais para passar o resto de sua vida neste lugar. — Anat ressalta. — Acredito que não queira isso, não é?

 

  —Guarda! — Chamo pelo oficial, que logo entra na cela. — Por favor, tire essa mulher daqui antes que eu cometa uma loucura.

 

  —Vamos, senhora. — O oficial faz por onde conduzir a sacerdotisa para fora.

 

  —Tire suas mãos de mim! — Ela ordena. — Vai mesmo obedecer a ela?

 

  —A senhora Henutmire pode estar presa, mas ainda é a princesa do Egito, filha do grande faraó Seti. — O oficial fala e eu não consigo esconder meu sorriso ao ver o homem me defender. — Retire-se ou eu terei que usar a força.

 

   Anat deixa a cela e o oficial faz o mesmo, fechando novamente a porta me tranca aqui dentro. Então, me sento na cama e choro desesperadamente. Coloco minhas mãos sobre meu ventre ao me lembrar da criança que tive dentro de mim sem sequer me dar conta. Não foi a primeira praga que me fez perder o meu filho, tampouco a minha idade. Foi Anat! Ela quis me matar, mas matou o meu filho. Ela me envenenou e fez com que eu abortasse o bebê que esperava.

 

(...)

 

   De tanto chorar, adormeci sem sequer me dar conta. Talvez eu precisasse desse descanso para amenizar um pouco a situação terrível que estou vivendo. Não bastasse estar presa, agora sei que perdi meu filho por culpa da maldade e do ódio que Anat tem por mim. Todavia, apesar de já conhecer o método usado pela sacerdotisa, ela não me envenenou com a intenção de abortar o bebê que eu gerava, como Yunet fez por diversas vezes. Anat queria me matar.

 

  —Gahiji? — Falo surpresa ao ver o cozinheiro real entrar na cela. — O que está fazendo aqui?

 

  —Pensei que algumas guloseimas especias podiam alegrá-la um pouco, princesa. — Ele coloca diante de mim uma bandeja repleta das melhores delícias que somente Gahiji sabe fazer.

 

  —Eu estou faminta. — Falo ao me servir. — Não me trouxeram nada para comer o dia todo.

 

  —Pois então irei reparar essa falha agora mesmo. — Gahiji me entrega uma taça com suco de fruta.

 

  —Obrigada, Gahiji. — Agradeço. — Você é sempre tão atencioso comigo.

 

  —Servir a princesa é um prazer do qual eu não me privarei.

 

  —Ramsés sabe que está aqui? — Pergunto.

 

  —Não, mas creio que o soberano não vá se importar. — Ele responde. — A senhora está confinada nesta cela, mas ainda é a princesa do Egito, aquela que todos estimamos muito.

 

  —Fico muito grata pela gentileza, Gahiji. — Sorrio. — Como estão as coisas no palácio?

 

  —Houve outra praga, senhora. — Ele fala. — Desta vez ela atingiu os animais do reino, todos estão mortos.

 

  —Com esta já são cinco pragas. — Concluo. — E Ramsés não mudou de ideia, certo?

 

  —Infelizmente não.

 

  —Então, a próxima praga será ainda mais terrível. — Afirmo.

 

  —Vossa alteza acha que o deus dos hebreus enviará mais pragas? — Gahiji pergunta.

 

  —Eu tenho certeza que sim. — Respondo. — O Deus dos hebreus fará com que pragas e mais pragas atinjam o Egito até que Ramsés ceda a sua vontade.

 

  —A princesa fala como se acreditasse no deus de Moisés.

 

  —E acredito, meu amigo. — Falo para sua surpresa. — Eu entreguei a minha vida nas mãos do Deus de meu filho.

 

 

   Por Hadany

 

   Sozinha no jardim, observo as estrelas enfeitarem o negro do céu anoitecido. Elas brilham como todas as noites, como se não fossem testemunhas do caos que estamos vivendo. Não falo apenas do que o Egito tem sofrido com as pragas, falo do que eu tenho sofrido. Às vezes sinto que tudo isso será como um trauma no futuro que eu jamais poderei superar. Não sei o que fazer, o que pensar... Me sinto em um quarto sem janelas e sem portas, onde eu grito com toda a minha força, mas ninguém consegue me escutar.

 

  —Princesa. — Ouço uma voz chamar por mim e me deparo com Alon. — Vossa alteza está bem?

 

  —O que você acha? — Falo, mas sem a intenção de parecer grosseira.

 

  —Lamento muito o que houve com seus pais, eles não mereciam o que o soberano fez. — Ele fala ao se sentar a meu lado. — Imagino como está se sentindo.

 

  —Você realmente imagina, Alon? — Pergunto. — Por acaso sabe o que é ficar longe das pessoas que te deram a vida, que te ajudaram a crescer?

 

  —Vossa alteza tem a certeza do amor de seus pais, conhece seus rostos e pode imaginar que estão ao seu lado quando dorme. — Alon fala e eu noto certa tristeza em seus olhos. — Transforme isso em um consolo para o seu coração e seja forte.

 

  —Eu não tenho mais forças. — Lágrimas caem de meus olhos, mesmo que eu tenha tentado contê-las. — Eu me sinto sozinha, lutando contra algo que é muito maior do que eu.

 

  —Não está sozinha. — Alon toca meu queixo suavemente e leva meu olhar de encontro ao seu. — Sei que se separou de seus pais contra a sua vontade, mas ainda tem seus irmãos, sua cunhada e até mesmo a princesa Mayra.

 

  —Por que está aqui afinal?

 

  —Porque eu a amo, embora não acredite nisso. — Ele responde. — Porque eu me importo demais com vossa alteza para vê-la triste e não fazer nada.

 

  —E o que você pode fazer? — Pergunto.

 

  —Posso lhe dar um abraço sincero, sem esperar nada em troca. Ou talvez posso oferecer um pouco de conforto ao seu coração. — Alon abre seus braços para mim. — Quem sabe assim a princesa se dá conta de que não está sozinha e que, além de sua família, também tem a mim.

 

   Não sei o que toma conta de mim, mas acabo me entregando ao abraço do jovem guardião. Seus braços me envolvem com carinho e firmeza, o que me transmite a segurança que eu não sentia há muito tempo. Então, pela primeira vez, sinto que o sentimento que esse rapaz diz ter por mim é verdadeiro. Eu estive errada sobre ele, estive errada quando alimentei uma antipatia por ele somente pelo fato de ter chegado ao palácio com Anat. Alon não é como ela... Não é e nunca será, mesmo que convivam juntos para o resto de suas vidas.

 

  —Não posso corresponder ao seu amor, mas agradeço por ser um bom amigo para mim agora que preciso tanto. — Falo ainda envolvida em seus braços, enquanto lágrimas ainda tomam meus olhos.

 

  —Tudo o que mais desejo é vê-la feliz e desejo isso porque a amo, mas sem esperar que tenha por mim o mesmo sentimento. — Ele fala com doçura na voz. — A princesa pode ver em mim um amigo, com o qual poderá contar sempre.

 

 

   Por Tany

 

   Permaneci imóvel a uma certa distância, meus olhos pareciam não acreditar no que viam. Não sei o que senti ao presenciar tal cena, mas simplesmente não consigo crer que seja verdade. É uma espécie de tristeza, revolta, insatisfação... Não saberia descrever com exatidão.

 

  —Alteza. — Chibale faz um reverência simples ao nos encontrarmos no corredor. — Está vindo do jardim?

 

  —Sim.

 

  —Aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta, certamente ao ver que permaneço perplexa.

 

  —Eu acabo de ver Hadany e Alon no jardim. — Respondo. — Eles estavam juntos, abraçados.

 

  —Isso não é possível. — Chibale fala, incrédulo. — A princesa Hadany nunca teve grande simpatia por esse rapaz.

 

  —Então, ela mudou de opinião porque não parecia nem um pouco contrariada por estar envolvida nos braços dele. — Falo, sem saber o que me leva a dizer tais palavras de forma tão dura.

 

  —Acha que ela pode estar apaixonada por ele?

 

  —Ela eu não sei, mas Alon é apaixonado por minha irmã desde que a viu pela primeira vez. — Respondo. — Se bem que depois do que vi, poderia dizer que Hadany está começando a corresponder os sentimentos do guardião.

 

   Diante de minhas palavras, Chibale se retira desnorteado, me deixando sozinha. Eu estou ficando louca! Desde quando um abraço entre um homem e uma mulher significa que ambos estão apaixonados um pelo outro? Desde quando um abraço é sinônimo de que um romance se inicia? Ainda mais se tratando de Hadany e Alon. Não foram uma nem duas as vezes em que vi minha irmã tratá-lo mal e deixar bem claro que não gostava dele. Como eu pude ser tão cruel com Chibale ao afirmar que Hadany está apaixonada por outro, quando ele é completamente apaixonado por ela?

 

 

   Por Henutmire

 

   Uma angústia toma conta de meu coração, mas não sei explicar do que ela procede. Sinto apenas em meu íntimo que preciso estar ao lado de minhas filhas agora. Porém, como posso fazer isso se estou trancada nesta cela e, de certa forma, proibi Hadany e Tany de virem me visitar? Meu coração se inquieta cada vez mais, dando a entender que não é somente por minhas filhas. Também é por Moisés, alguma coisa aconteceu a meu filho.

 

  —Ramsés? — Indago com surpresa, mas sobretudo com indignação por colocar meus olhos novamente na pessoa que me mandou para cá.

 

  —Surpresa em me ver?

 

  —Surpresa não seria a palavra a correta. — Respondo com frieza. — O que veio fazer aqui?

 

  —Por que está me tratando assim, Henutmire? — Ele pergunta, mas não deixa que eu responda. — Ah, claro! Já deve saber que expulsei Hur do palácio.

 

  —Sim, eu sei.

 

  —Seria pedir demais que confie em mim e que estou fazendo o melhor para você?

 

  —Eu não confio em alguém que volta atrás em sua palavra e que quebra suas promessas. — Altero a voz. — Você me prometeu que não se voltaria contra Hur, por mais motivos que tivesse.

 

  —Você deveria me agradecer, Henutmire. Seu marido teve a ousadia de afrontar o Hórus vivo e ser expulso foi a menor das consequências que teve o seu ato. — Ramsés fala. — Aliás, Hur não continuará sendo seu marido por muito tempo.

 

  —Do que está falando? — Pergunto, com medo da resposta.

 

  —Em breve seu casamento com Hur será anulado, minha irmã. — Ele responde. — Eu não posso ter a princesa do Egito casada com um mero escravo.

 

  —Quando foi que você se tornou um monstro, Ramsés? — Pergunto, tentando segurar as lágrimas. — Você é pior do que nosso pai!

 

  —Vou considerar isso um elogio. — Meu irmão faz uma breve pausa, antes de voltar a falar. — Moisés esteve nos portões do palácio exigindo que eu a libertasse e que o deixasse levá-la com ele.

 

  —E o que você fez?

 

  —Tentei matá-lo. — Ramsés responde. Sinto minhas forças abandonarem meu corpo só de imaginar meu filho morto diante do palácio. Agora entendo porque eu estava tão angustiada ao pensar em Moisés. — Mas, não consegui.

 

  —Está me dizendo que...

 

  —Que seu filho continua vivo, se isso te alegra. — Ele me interrompe. — Você deve saber que não é difícil para mim matar alguém, perdi as contas de quantas vidas tirei em batalha.

 

  —Mas, matar alguém que se ama não é a mesma coisa, certo? — Questiono.

 

  —Não, não é.

 

  —Ramsés, por favor, acabe com isso de uma vez por todas. — Peço. — Já basta desse confronto onde os únicos que estão sofrendo são os egípcios, o nosso povo.

 

  —Moisés não se importa com o nosso povo e menos ainda se importa com você. — Ramsés afirma. — Ele sabe que as pragas te atingem, mas não faz nada para impedir que elas venham e assim poupar a própria mãe de tanto sofrimento.

 

  —Meu filho está cumprindo as ordens de Deus. — Falo com firmeza.

 

  —Ele deveria desistir desse absurdo e voltar para Midiã. — Meu irmão fala. — Os hebreus continuarão trabalhando como escravos no Egito, servindo ao deus-rei.

 

  —E se Moisés não desistir, se não for embora?

 

  —Então, eu sinto muito, minha irmã, mas você não sairá desta cela. — Ramsés responde. —  E talvez seja mais fácil usar minha espada na próxima vez.


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