O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito? Espero que não. rsrs Quem aí está assistindo "O Rico e Lázaro"? Eu particularmente estou amando a rainha Neusta, personagem da nossa Vera Zimmermann, e dando muitas risadas com ela.
Todos prontos para o retorno de Yunet?



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   Por Henutmire

 

   De todas as insanidades de Ramsés, esta certamente é a maior delas. Para ter permitido o retorno dessa mulher, a loucura de meu irmão só pode ter atingido o ápice. Não é possível que o desejo de vencer o confronto com Moisés tenha feito o rei se esquecer de todas as atrocidades cometidas por Yunet.

 

  —Ramsés! — Exclamo ao entrar na sala do trono. — Precisamos conversar.

 

  —Já imagino qual seja o assunto.

 

  —Como pôde aceitar essa assassina de volta? — Pergunto. — Por acaso se esqueceu que ela matou Maya, que matou meus filhos ainda no meu ventre?

 

  —Não todos. — Ramsés ressalta, servindo-se de vinho. — Hadany e Tany transbordam vida através dos olhos azuis que herdaram de você.

 

  —Elas só não tiveram o mesmo destino dos outros bebês que tive em meu ventre porque Yunet não estava mais no palácio para me envenenar.

 

  —Ela fez com que você abortasse os filhos que teve com Disebek. — Ele fala. — Hadany e Tany são filhas de Hur, isso garante que Yunet não fará nada contra elas.

 

  —Aquela mulher me odeia, isso está mais do que nítido em seus olhos. — Falo. — Nada impede que ela faça mal a minhas filhas somente pelo mero prazer de me fazer sofrer.

 

  —Yunet se mostrou arrependida, fiel ao reino e a seu soberano. — Meu irmão fala e eu tento entender como ele pode ser tão ingênuo. — Ela me trouxe o cajado de Moisés.

 

  —E somente por isso permitiu que ela voltasse ao palácio? — Questiono, indignada.

 

  —Não entende, minha irmã? Sem o cajado seu filho não pode mais me ameaçar. — Ele sorri, ingenuamente acreditando que isso resolve o problema. — Sem cajado, sem poder, sem pragas.

 

  —Tirar o cajado de Moisés não vai impedir que as pragas venham. — Afirmo. — Se foi isso que Yunet disse a você, ela está te enganando.

 

  —Isso é o que veremos. Agora, retire-se e deixe que eu cuide dos assuntos do reino.

 

  —Por favor, Ramsés... — Minha voz é embargada, devido ao choro que agora não consigo mais conter. — Eu lhe imploro, por favor... Não faça isso comigo!

 

  —Não chore, Henutmire. — Meu irmão desce do trono e vem até mim.

 

  —E o que quer que eu faça se estou vendo a vida de minhas filhas e a minha própria em perigo e você não faz nada para impedir? — Pergunto, magoada.

 

  —Você é minha irmã, eu te amo. Hadany e Tany são suas filhas, minhas sobrinhas. — Ele limpa as lágrimas de meu rosto. — Eu jamais faria algo que te magoasse ou que colocasse você e as meninas em risco.

 

  —Então, por que? — Pergunto, sem o mínimo de vergonha por estar aos prantos na presença do rei.

 

  —Confie em mim, Henutmire. — Meu irmão pede. — Não permitirei que Yunet faça nada contra você e suas filhas.

 

  —Durante anos ela nos enganou sem que nenhum de nós desconfiasse dela. Yunet é traiçoeira, esperta, vingativa... — Olho nos olhos de meu irmão. — Eu tenho medo, Ramsés.

 

  —Não tenha. Eu sou o rei, se ela fizer qualquer coisa que me desagrade eu a expulsarei novamente, isso se não a fizer pagar com vida. — Ele fala, tentando me transmitir confiança. — Enxugue essas lágrimas e enfrente a situação como a princesa que é. Eu preciso que seja forte, e suas filhas precisam ainda mais.

 

  —Está bem, meu irmão. Eu não vou mais chorar diante de você tentando fazer com que haja com a razão. — Limpo as lágrimas de meu rosto e faço o possível para que meus olhos não sejam novamente tomados por elas. — Eu só espero que não tenha que me ver morta para se dar conta do seu erro e me pedir perdão.

 

  —Henutmire! — Ramsés chama por mim ao me ver lhe dar as costas e sair da sala do trono.

 

 

   Por Hur

 

   Não me encontro em condições de trabalhar hoje, não tenho inspiração para criar novas peças e menos ainda consigo me concentrar nas jóias que preciso terminar. A verdade é que, depois do que houve entre mim e Henutmire, eu não vejo sentido em mais nada. Nada me dá satisfação, alegria... Me tornei um escuro e fundo poço de tristeza. Ainda posso ver a imagem de minha esposa completamente furiosa, a ponto de atirar uma taça em mim. Desde que atravessou aquelas portas, eu não voltei a vê-la... E isso dói tanto. Dói porque é a primeira vez em que olhos de Henutmire choram e eu não posso enxugar suas lágrimas. É a primeira vez em que seu coração está triste e eu não posso lhe oferecer meu abraço como forma de consolo. Eu perdi o grande amor da minha vida... para sempre.

 

  —Não pensei que o encontraria aqui. — Anat fala ao entrar na oficina.

 

  —E onde esperava que eu estivesse? Debaixo das areias do deserto? — Pergunto, sem paciência.

 

  —E o que te faria estar debaixo das areias quentes do deserto?

 

  —A morte.

 

  —Poucas vezes em minha vida eu vi pessoas desejarem a morte. — Ela caminha pela oficina. — Mas, eu entendo você. Se eu estivesse em seu lugar, desejaria o mesmo.

 

  —O que você sabe sobre o que está acontecendo comigo? Nada! — Falo. — Você não sabe de nada, Anat!

 

  —Pelo contrário, meu querido, eu sei de tudo. — Um estranho sorriso toma os lábios de Anat. — Sei que sua princesa está furiosa porque você escondeu dela seu envolvimento com Miriã.

 

  —Como você pode saber disso? — Eu a olho.

 

  —Porque fui eu mesma quem contou tudo a ela. — Anat se aproxima de mim, plena de orgulho do que fez. — Não achava que depois de descobrir algo tão terrível eu deixaria de contar a verdade a Henutmire, não é?

 

  —Por que fez isso? — Furioso, agarro Anat pelos braços e tal atitude a assusta.

 

  —Porque eu não sou hipócrita como você! — Ela esbraveja. — Eu não iria permitir que continuasse enganando a princesa.

 

  —Não tente se fazer de boazinha porque eu sei muito bem que você não se importa com Henutmire! — O tom de minha voz é mais alto do que deveria. — Você só quer o mal da minha família.

 

  —Sim, você tem razão. Eu odiaria vê-los felizes e não fazer nada para atrapalhar essa felicidade. — Anat fala com seu cinismo típico. — Mas, não fui eu a esconder da princesa um erro do passado.

 

  —Sua víbora! — Ergo minha mão em direção a Anat, mas me contenho ao perceber que isso seria uma atitude insana.

 

  —Vamos! Me bata! — Ela ordena. — Será um prazer andar pelo palácio exibindo as marcas de seus dedos em meu rosto. Mas, saiba que não será poupado de punição por agredir uma sacerdotisa de Seth.

 

  —Você não é uma sacerdotisa, Anat. Não é sequer um ser humano. — Falo ao abaixar minha mão. — Você é um demônio!

 

  —Então, deveria ter medo de mim.

 

  —Não, você quem deveria ter medo de mim. — Olho em seus olhos e ela se intimida com isso. — Eu não tenho mais nada a perder, Anat. Poderia muito bem colocar fim a sua vida com minhas próprias mãos, sem me importar com o que vai acontecer comigo depois.

 

  —Afaste-se! — Anat recua ao ver que me aproximo dela.

 

  —Está com medo, Anat? — Pergunto. — Medo de que eu mate você agora mesmo?

 

  —AFASTE-SE, HUR! — Ela grita, apavorada. — Você não pode fazer nada contra mim! Pense em suas filhas, em como elas se sentiriam tendo um pai assassino.

 

  —Talvez elas até sintam orgulho quando souberem que a morte que me tornou um assassino foi a sua. — Falo. — Mas, não vale a pena sujar minhas mãos com o sangue de uma mulher profana como você.

 

  —Pai! — Uri entra afoito na oficina, chamando por mim. Mas, se surpreende ao encontrar Anat, visivelmente assustada. — Está tudo bem?

 

  —Com licença. — Anat se retira apressadamente e acaba esbarrando em Uri.

 

  —O que houve aqui? — Meu filho pergunta.

 

  —A maldade dessa mulher não tem limites! — Falo, nervoso. — Foi ela quem contou a Henutmire sobre Miriã.

 

  —Acho que esse é o menor dos problemas que a princesa tem agora.

 

  —Do que está falando, Uri?

 

  —Yunet, meu pai. — Uri responde. — Ela está novamente no palácio e com a permissão do soberano.

 

  —Henutmire. — Não penso em mais nada e saio correndo da oficina em busca de minha esposa.

 

 

   Por Henutmire

 

  —Ramsés jamais deveria ter permitido uma coisa dessas. — Falo, nervosa.

 

  —Yunet é ardilosa, senhora. — Leila fala. — Vai saber o que disse ao rei para convencê-lo a deixá-la ficar no palácio.

 

  —Absurdos, com toda a certeza. E Ramsés está tão cego pelo orgulho que não vê o que está fazendo. — Meu nervosismo é tão grande que ando de um lado para o outro. — Mas, eu não vou permitir essa loucura! Não vou!

 

  —A senhora precisa se acalmar. — Minha dama pede. — Ficar nervosa não vai ajudar em nada.

 

  —Eu não vou me acalmar, Leila! Yunet tem que ir embora daqui! — Decreto. — Ou ela sai, ou saio eu!

 

  —O que a senhora pretende fazer?

 

  —Se Ramsés quer Yunet aqui, vai ficar com ela aqui. Mas, vai perder uma irmã e duas sobrinhas. — Respondo. — Eu vou embora do palácio, Leila, e vou levar minhas filhas comigo.

 

  —Eu ouvi bem? — Hur me surpreende com sua chegada. — Você quer deixar o palácio?

 

  —Desde quando você entra em meus aposentos sem bater? — Pergunto, ríspida.

 

  —Não é hora para isso, Henutmire. — Ele fala. — Você está mesmo pensando em ir embora do palácio?

 

  —Não estou pensando, eu vou embora do palácio. — Afirmo com toda segurança.

 

  —Henutmire, isso é loucura! — Ele me olha, mas não se aproxima de mim. — Você não pode fazer isso!

 

  —Você é a pessoa menos qualificada para dizer o que eu posso ou não fazer. — Falo com frieza.

 

  —Eu ainda sou o seu marido. — Hur argumenta.

 

  —Somente porque quando nos casamos eu jurei que seria sua esposa até o fim de meus dias. — Acrescento. — Por mais que eu tenha motivos, não quero quebrar o meu juramento.

 

  —Eu sei o quanto você está abalada com a volta de Yunet, mas não deixe que isso atrapalhe o seu discernimento.

 

  —Meus pensamentos nunca foram tão claros, Hur. — Minhas palavras são tão calmas que deixam Hur desconcertado. — Será que você não percebe que nossas filhas correm perigo com essa mulher no palácio?

 

  —Eu sei, mas ir embora agora não é a melhor solução. — Ele dá um passo a frente. — O rei ficaria furioso com você e interpretaria sua atitude como traição.

 

  —Ramsés pode pensar o que quiser! Ele trouxe um monstro para dentro do palácio e espera que eu fique quieta? — Indago, nervosa. — Não, Hur! Eu não vou ficar de braços cruzados enquanto Yunet trama algum mal contra minhas filhas ou até mesmo contra mim.

 

  —Pense bem, meu amor.

 

  —Não me chame assim! Não tem esse direito! — Esbravejo, cada vez mais nervosa. — Você pode ficar se quiser, não precisa vir comigo. Mas, eu vou embora do palácio com minhas filhas e ninguém vai me impedir!

 

  —Eu não posso permitir que você cometa uma loucura dessas.

 

  —VOCÊ NÃO TEM QUE PERMITIR NADA! — Grito descontrolada ao empurrar de cima da mesa uma bandeja com suas taças e um jarro com água. — Eu já era dona da minha vida muito antes de te conhecer! Ninguém nunca mandou em mim e não será você a mandar.

 

  —Acalme-se, senhora. — Leila pede, ao se aproximar com cautela.

 

  —Eu não quero me acalmar! — Com força, jogo uma cadeira no chão e faço o mesmo com a mesa de madeira onde ficam algumas caixas com minhas jóias e minha maquiagem. — Eu estou cansada de tudo isso!

 

  —Não, meu sogro. — Leila impede Hur de se aproximar de mim. — É melhor ir embora, ela está muito nervosa.

 

  —Mas...

 

  —Escute o que sua nora diz, Hur. — Meu olhar para meu marido é de plena fúria. — Saia daqui antes que eu resolva descontar minha raiva em você e não nos móveis.

 

  —Vá. — Minha dama insiste. — Eu cuido dela.

 

   Então, ainda que assustado com minha atitude e preocupado comigo, Hur deixa os aposentos. Um grito de dor escapa de minha boca, um grito vindo de minha alma. Desabo no chão frio do quarto, chorando copiosamente. Leila então se aproxima de mim e me abraça. Eu nada faço a não ser me render aos braços de minha dama e molhar suas vestes com minhas lágrimas.

 

  —Chore, princesa, vai lhe fazer bem. — Ela fala, me abraçando mais forte.

 

  —Eu não aguento mais, Leila! — Falo. — A presença de Anat, a volta de Yunet, a mentira de Hur... Eu não posso suportar tudo isso de uma vez só.

 

  —Não desista agora, princesa. — Leila olha em meus olhos. — A senhora precisa ser forte.

 

  —Você também acha que é loucura o que eu quero fazer?

 

  —Eu acho que a senhora é mãe e uma mãe é capaz de qualquer coisa por seus filhos. — Ela responde. — Se ir embora do palácio é o que precisa para manter suas filhas seguras é isso que deve fazer.

 

  —Mantê-las seguras sempre será minha prioridade. — Falo. Leila sorri para mim, demonstrando assim que está do meu lado e que irá me apoiar, seja qual for a minha decisão. Então, ainda envolvida em seus braços carinhosos, eu olho a minha volta e vejo taças, jóias e muitos outros objetos espalhados pelo chão. — Me desculpe, Leila.

 

  —Pelo quê? — Ela me olha sem entender.

 

  —Por isso. — Mostro a ela a grande bagunça que eu fiz ao ficar totalmente fora de mim. — Você sempre mantém meu quarto tão arrumado, olha só o que fiz.

 

  —Não se preocupe com isso, senhora. — Leila ri. — Eu coloco tudo no lugar mais rápido do que imagina.

 

  —Eu ajudo você.

 

  —Não precisa, nem é tanta coisa. — Ela recusa minha ajuda. — Teria sido pior se a senhora tivesse destruído todo o aposento.

 

  —Eu assustei você, não é?

 

  —Um pouco, afinal eu nunca a vi tão furiosa a ponto de derrubar coisas no chão. — Ela fala de uma forma que me faz rir. — Mas, não se procupe. A senhora precisava colocar essa mágoa para fora de algum jeito.

 

  —Tem certeza que não precisa de ajuda?

 

  —Tenho sim. Agora, levante-se. — Leila me ajuda a ficar de pé novamente, o que só consigo com muito esforço pois minhas pernas parecem não ter forças para sustentar meu corpo. — Seque essas lágrimas de seus olhos e procure por suas filhas. Se vão mesmo deixar o palácio, precisa conversar com elas.

 

(...)

 

  —Ir embora do palácio? — Hadany indaga, incrédula.

 

  —Sim, é o certo a se fazer. — Respondo. — Yunet está de volta e eu não quero que por motivo algum ela machuque vocês.

 

  —Eu entendo que a senhora esteja pensando em nossa segurança, mas para onde nós iríamos? — Tany pergunta.

 

  —Para junto de seu irmão. — Falo para surpresa delas. — Eu tenho certeza que Moisés não se negaria a nos receber.

 

  —A senhora enlouqueceu? — Tany olha para mim. — Isso despertaria a ira de meu tio de tal maneira que nenhum lugar seria seguro o suficiente para nos proteger dele.

 

  —Mãe, não podemos fazer isso. — Hadany fala. — É muito arriscado.

 

  —E o que esperam que eu faça? Que fique sentada esperando o pior acontecer? Vocês só conhecem Yunet de ouvir falar, não sabem do que ela é capaz. — Falo ao me lembrar de cada uma das atrocidades cometidas por aquela mulher. — Ela não tem escrúpulos, não tem limites, não tem medo de nada nem de ninguém.

 

  —Então, por que meu tio deixou ela voltar para o palácio? — Hadany questiona.

 

  —Porque Ramsés está louco! Mas, eu não vou compactuar com sua loucura. — Falo com segurança. — Nós vamos embora do palácio e está decidido.

 

  —Eu não quero ir! — Tany se manifesta. — Minha vida é aqui.

 

  —A sua vida está em perigo se continuar aqui. — Olho seriamente para minha filha. — A sua vida, a de sua irmã e até mesmo a minha.

 

  —Se formos embora, iremos voltar algum dia? — Hadany pergunta. — Quero dizer, se conseguirmos sair do palácio é bem provável que meu tio não permita a nossa volta.

 

  —Se sairmos, Ramsés pode nos acusar de deserção. — Repondo. — Não poderemos voltar.

 

  —Então, vamos viver o resto de nossas vidas com os hebreus? — Tany se mostra insatisfeita. — Nós não somos hebreus, mãe!

 

  —Vocês são! — Faço com que minha voz seja mais firme e mais alta. — Se viver com os hebreus é o que vai manter vocês seguras, é melhor começarem a aceitar que a vida de egípcias que tiveram até aqui acabou.

 

   Me levanto e faço menção de me retirar do jardim. O mundo parece estar caindo sobre minha cabeça e isto tem me deixado nervosa ao extremo. Qualquer coisa me deixa alterada e me faz gritar quando deveria falar com calma. Eu espero que sair do palácio também sirva para que eu me acalme um pouco. Esta não é a Henutmire que eu sou.

 

  —Mãe? — Hadany chama por mim, que estou a apenas três passos longe dela.

 

  —Sim? — Volto minha atenção para minha filha.

 

  —São novos? — Ela aponta para os braceletes em meus braços.

 

  —Presentes do seu pai. — Respondo ao olhar para as jóias. Quando troquei minhas vestes e jóias esta manhã simplesmente não consegui não usar os braceletes que Hur me deu. Meu coração me pedia para colocá-los de novo e, mesmo sem entender, apenas obedeci.

 

(...)

 

  —Moisés... — Sussuro ao avistar meu filho vindo pelo corredor. Apresso meus passos em direção a ele, que faz o mesmo ao me ver. — Ikeni, por favor, preciso conversar um instante a sós com meu filho.

 

  —Claro, minha senhora. — O oficial prontamente atende ao meu pedido e se afasta, mantendo certa distância de mim e de Moisés.

 

  —Leila me falou que estava no palácio e eu vim correndo te procurar. — Falo para meu filho.

 

  —Eu fiquei tão angustiado pensando em como a senhora estaria durante as pragas. — Ele segura minhas mãos. — Não a procurei primeiro porque tinha que falar com Ramsés.

 

  —Tudo bem, eu entendo. — Falo e abraço Moisés fortemente. Não sei porque sinto que este é um abraço de despedida, como se eu não fosse voltar a ver meu filho. Mas, isso é bobagem! Como eu poderia não voltar a ver Moisés se pretendo sair do palácio para ficar ao lado dele? — Eu te amo tanto, meu filho.

 

  —Eu te amo tanto, minha mãe. — Ele sorri para mim e isso conforta meu coração de alguma forma.

 

  —Se há algo que eu tenho que agradecer ao seu deus é por tê-lo enviado até mim.

 

  —A senhora está bem? — Moisés me olha, desconfiado.

 

  —Eu precisava muito falar com você, Moisés. — A seriedade do assunto transparece em minha voz. — Há algo que preciso lhe contar.

 

  —Fale, minha mãe.

 

  —Ramsés está com o seu cajado. — Respondo.

 

  —Eu sei.

 

  —Yunet foi quem o trouxe. — Falo e Moisés se surpreende. — Ela usou isso para conseguir o perdão do rei e retornar ao palácio.

 

  —Ramsés a perdoou por causa do cajado? — Meu filho indaga, incrédulo.

 

  —Meu irmão acha que sem ele você não terá como enviar mais pragas.

 

  —Ele está enganado, isso não vai impedir que elas venham.

 

  —Foi exatamente o que eu disse, mas há muito tempo Ramsés não escuta nada do que digo. — Falo. — Eu pretendia devolver o cajado a você.

 

  —Não é necessário, mãe. — Moisés novamente segura minhas mãos e sorri. — Não quero que a senhora se arrisque a contrariar Ramsés e se indispor com ele.

 

  —Moisés, eu tomei uma decisão e preciso de sua ajuda. — A expressão séria de meu rosto deixa meu filho preocupado. — Quero ir embora com minhas filhas.

 

  —Está me dizendo que pretende deixar o palácio? — Ele pergunta, espantado, e eu afirmo que sim. — Minha mãe, a senhora refletiu bem a respeito?

 

  —Eu não pertenço mais a esse lugar, meu filho. Além disso preciso proteger Hadany e Tany, mantê-las longe de Yunet para que essa serpente não faça nenhum mal a elas. — Respondo. — Nos leva com você?

 

  —Agora não é o momento adequado, mãe. — Moisés fala em voz baixa, certamente para que Ikeni não nos ouça. — Precisamos fazer isso da melhor maneira possível para que eu tenha condições de deixar a senhora e minhas irmãs em segurança, está bem?

 

  —Está bem, eu posso esperar. — Afirmo, mas não consigo acreditar em minhas próprias palavras. Pelos deuses! Que sensação  é essa de que eu já não tenho muito tempo para esperar ou fazer coisa alguma?

 

  —Eu preciso ir agora, mas darei notícias assim que possível. — Ele toca meu rosto com ternura. — Fique bem.

 

  —Até breve, meu filho. — Eu o abraço, mas novamente sinto que esta é uma despedida entre mim e Moisés. Então, eu o aperto entre meus braços, quando na verdade meu desejo é não soltá-lo nunca mais.

 

 

   Por Anat

 

  —Vigiando a princesa? — Minha pergunta assusta a mulher que estava escondida atrás de uma pilastra, enquanto a princesa Henutmire passava por perto.

 

  —Por Ísis! Quer me matar de susto? — Ela fala com reprovação, mas em seguida me olha dos pés a cabeça. — Uma sacerdotisa?

 

  —Sim, sou esposa de Seth e pertenço ao templo de Om, mas estou passando uma temporada no palácio. — Respondo. — Não me reconhece?

 

  —Creio que seu rosto me é familiar, mas não me lembro de onde a conheço.

 

  —É compreensível, na última vez em que nos vimos eu ainda era criança. — Falo. — Eu mudei tanto assim?

 

  —Quem é você afinal?

 

  —Anat.

 

  —A sobrinha de Paser que morava em Aváris? — Ela indaga, sem acreditar. — Não é possível! Você é Anat?

 

  —Sim, sou eu. — Afirmo. — E você é Yunet, o pior pesadelo da princesa Henutmire.

 

  —Pelo visto você também conhece minha fama no palácio. — Ela me olha. — Saiba que não preciso de mais ninguém me reprimindo pelo que fiz no passado.

 

  —Acalme-se, minha tia. Não passou pela minha cabeça fazer tal coisa. — Falo. — Além disso, compartilhamos do mesmo sentimento para com a princesa.

 

  —O único sentimento que tenho por Henutmire é ódio! — Yunet exclama com nervosismo.

 

  —E por acaso acha que eu caio de amores pela irmã do soberano? — Falo no mesmo tom de voz que minha tia. — Foi por culpa dela que me tornei sacerdotisa e passei tantos anos longe de minha única família. Ela me obrigou a ir para Om para preservar a minha vida, do contrário eu estaria no mundo dos mortos.

 

  —O que fez para que a princesa agisse dessa maneira com você? — Ela pergunta, demonstrando seu interesse no assunto.

 

  —Me apaixonei pelo marido dela.

 

  —Você se apaixonou por Hur, o joalheiro hebreu? — Yunet ri como uma louca. — Desculpe, mas isso é no mínimo engraçado.

 

  —Eu não achei graça quando soube que você foi expulsa do palácio e que só estava viva por compaixão da grande esposa real. — Eu a ataco.

 

  —Não se meta em assuntos que não lhe dizem respeito. — Yunet me encara. — Eu sou a mãe da rainha, não ouse me afrontar.

 

  —Eu apenas quero ajudá-la. Certamente deseja fazer com que a princesa pague caro pelo que fez a você.

 

  —Isso não é da sua conta! — Ela fala, ríspida. — Mesmo que odeie Henutmire tanto quanto diz, você já teve a sua oportunidade. Agora, é a minha vez de atormentar a vida dela.

 

  —Seria melhor me ter como aliada do que como inimiga. — Falo, todavia o que sinto é a mão pesada de Yunet golpear meu rosto com força.

 

  —Seu ódio é nada, é mimo de criança! — Ela esbraveja, enquanto sinto minha pele arder. — Eu não preciso da ajuda de ninguém para fazer o que eu quero, muito menos da sua. Não fique no meu caminho ou eu faço você sumir dele.

 

  —O mesmo digo a você, titia! — Elevo o tom de minha voz. — Você não me conhece, não sabe do que sou capaz.

 

  —Mas, você sim sabe do que eu sou capaz, sabe tudo o que já fiz. — Yunet me olha com tom de ameça. — E eu posso fazer muito pior, adoro me superar.

 

  —Onde vai? — Pergunto ao vê-la me dar as costas e se afastar.

 

  —Vou a sala do trono falar com meu genro. — Ela responde, mas suas palavras são plenas de superioridade por ser sogra do soberano. — Eu tenho um assunto muito importante a tratar com ele.

 

 

   Por Henutmire

 

  —Seu filho tem razão, senhora. — Leila fala. — Sair do palácio agora seria muito arriscado, é melhor esperar.

 

  —Eu sei, mas tenho medo. Cada segundo que passa aumenta a chance de Yunet fazer algum mal contra mim ou minhas filhas. — Falo, aflita. — Por sorte eu não tive a infelicidade de cruzar com ela pelo palácio.

 

  —E suas filhas? — Ela pergunta. — Conversou com elas?

 

  —Sim. Elas entenderam que tomei essa decisão para o bem delas, mas Tany se mostrou resistente a ideia de viver com os hebreus. — Olho para Leila. — Ela vai para a vila comigo e a irmã, mas contra a sua vontade.

 

  —Tente entendê-la, senhora. Ela nasceu e cresceu aqui, é esse o mundo que ela conhece. — Leila fala e eu não deixo de lhe dar razão.

 

  —O mundo que ela conhece está desabando e é meu dever como mãe proteger minhas filhas, seja como for.

 

  —Quando a hora chegar, eu irei com a senhora. — Leila fala, decidida.

 

  —E Uri? — Questiono. — Vai abandonar seu marido?

 

  —Se ele não for comigo, saberá onde me encontrar. — Ela responde.

 

   Como a vida é surpreendente. Eu planejo deixar o palácio com minhas filhas, mas em momento algum considerei a hipótese de ter Hur ao meu lado. Leila, por sua vez, decide me acompanhar mesmo que isso signifique deixar Uri para trás. Sempre fomos uma família tão... diferente. Leila sempre foi para mim como uma filha, mais até do que eu deveria considerar Uri, já que ele é meu enteado. É como ter a minha filha casada com o filho do meu marido.

 

   O ruído das portas dos aposentos se abrindo chama a nossa atenção. Eu esperava ver qualquer pessoa entrar por elas, menos quem eu realmente vejo. Leila empalidece de tal forma que por um momento chego a pensar que ela vai desmaiar. Nenhuma palavra sai de minha boca, apenas sinto meus olhos se agigantarem de espanto e ao mesmo tempo de raiva.

 

  —Olá, princesa. — Yunet fala, plena de cinismo. — Como vai?

 

  —Como vou, Yunet? Eu estou abismada em vê-la pisando novamente no chão desse palácio. — Falo de tal forma que não me reconheço. — E admirada que os deuses ainda permitam que ande, quando deveria rastejar feito uma cobra.

 

  —Quanta mágoa, princesa. — Ela caminha até mim, mas não se aproxima tanto. — Esqueceu-se de que durante anos eu me dediquei a senhora, fui a mais fiel amiga que poderia ter?

 

  —Por acaso você se esqueceu que enquanto se fazia de minha amiga, me envenenava, me traía com o meu marido e cometia assassinato?

 

  —Reconheço que termos nos apaixonado pelo mesmo homem abalou nossa amizade. — Yunet fala e eu tento manter a calma. — Mas, a princesa soube muito bem como continuar sua vida após a morte de Disebek. Casou-se novamente, ainda que não tenha escolhido tão bem seu novo marido, e até tem duas filhinhas imundas.

 

  —Mantenha sua língua mentirosa atrás de seus dentes ou eu farei com que ela esteja fora de sua boca. — Falo, nervosa. — Você não tem o direito de ofender minhas filhas!

 

  —Não fui quem se casou com um escravo e ainda teve a audácia de trazer ao mundo duas pestilentas. — Ela me provoca. — Aliás, você sempre foi tão cegamente apaixonada por Disebek. Duvido muito que tenha deixado de amá-lo, mesmo que tenha se casado com o joalheiro.

 

  —Não ouse insinuar que eu ainda tenha sentimentos por Disebek! — Altero o tom de minha voz. — Esse homem está morto e dos mortos não se fala.

 

  —Eu lhe entendo, princesa. — Yunet fala. — Deve ter sido muito difícil se dar conta de que o marido amava outra mulher e só se casou por interesse.

 

  —Como você é tola, Yunet! Realmente achava que ele te amava? — Acabo por rir com certo deboche. — Você era apenas mais uma na lista de infidelidades de Disebek. — Falo com imenso prazer por saber que estou ferindo Yunet onde mais dói. — Ele jamais teria se casado com uma vagabunda feito você!

 

  —Como ousa falar assim com a mãe da rainha? — Ela esbraveja, furiosa, e se aproxima de mim.

 

  —Sou irmã do rei, eu tenho sangue real! — Rebato, fazendo minha voz sobressair a dela. — Não vou permitir que você me desrespeite.

 

  —Lembre-se que sangue real corre, como qualquer outro.

 

  —Não ouse me ameaçar, sua meretriz! — Nervosa, desfiro um tapa no rosto de Yunet com toda a minha força. — Fique longe de mim e de minha família.

 

  —Sou uma pessoa paciente, princesa... Muito paciente. — Ela fala. Seu cinismo me tira do sério cada vez mais. Nem mesmo as marcas avermelhadas de meus dedos em seu rosto fazem com que essa mulher se coloque em seu lugar. — Vou saber esperar até que se acostume com minha presença no palácio e reveja sua atitude tão pouco cordial para comigo.

 

  —A única coisa que gostaria de rever é a piedade que tive com uma adúltera assassina como você! — Exclamo. — Uma surra foi pouco, muito pouco.

 

  —É verdade que nesse caso cometeu um grande erro. Teria sido muito melhor para vocês e para aquelas criaturinhas horrendas que chama de filhas se eu já tivesse ido ao encontro de Osíris. — Yunet sorri, maliciosamente. — Mas, estou aqui e mais viva do que nunca. Consciente disso, desespere-se, princesa... Você e essa corja de hebreus imundos que protege.

 

  —Saia daqui, Yunet! — Ordeno. — FORA DO MEU QUARTO, JÁ!

 

  —Acalme-se! Eu já vou embora. — Ela me fita com seus olhos maldosos. — Mas, não se esqueça que não estarei muito longe.

 

   Acompanhada da falsidade que estampa em seu rosto, Yunet caminha para fora de meus aposentos, mas antes de se retirar me dirige um sorriso que é capaz de me fazer estremecer por dentro. Leila respira aliviada ao ver que a mulher se foi, mas eu só fico cada vez mais nervosa.

 

  —Desgraçada! Maldita! — Grito furiosa ao atirar uma taça nas portas de meu quarto. — Eu tive que me controlar para não matá-la com minhas próprias mãos!

 

  —Calma, senhora! — Leila pede ao servir água em uma outra taça e em seguida entrega-a a mim. — Beba, por favor. A princesa precisa se acalmar.

 

  —Eu não vou permitir que essa mulher volte para a minha vida, Leila. — Falo, após beber a água que não me acalma nem um pouco. — Eu não vou permitir que Yunet me atinja, nem a mim e nem a ninguém que eu ame.

 

(...)

 

  —A senhora está mais calma? — Hadany pergunta, enquanto me observa guardar algumas roupas em um baú de porte médio.

 

  —Estou sim, minha filha. — Sorrio. — Leila não teria saído daqui se eu não tivesse me acalmado.

 

  —Onde ela foi?

 

  —Ajudar Tany a arrumar suas coisas. — Respondo. — Não sei quando vamos partir, mas Moisés não deve demorar a mandar notícias. Temos que estar prontas.

 

  —Tem certeza que estamos fazendo a coisa certa, mãe? — Ela indaga, com certo receio. — Não sabemos como é a vida fora do palácio.

 

  —Eu não posso mais voltar atrás, Hadany. — Falo. — Sei que não será fácil, mas ficar aqui está além de minhas forças.

 

  —Eu tenho medo, mãe. — Minha filha me abraça. — Se meu tio descobrir, eu não sei o que pode fazer conosco.

 

  —Não se preocupe, meu amor. — Eu a abraço forte e a mesma sensação de despedida que tive quando abracei Moisés toma meu coração. — Vai ficar tudo bem, eu prometo.

 

   Nos assustamos ao ver as portas dos aposentos abrirem-se de repente, todavia mais assustada eu fico ao ver Ramsés entrar no quarto. Seu olhar sério se dirige para o baú e as roupas sobre a cama, mas em seguida recai sobre sobre mim. Jamais em toda a minha vida vi meu irmão me olhar da forma como me olha agora.

 

  —Então, é verdade. — Ele fala, dando a entender que já sabe de tudo. — O que pensa que está fazendo, Henutmire?

 

  —Eu estou indo embora do palácio. — Falo, sem me deixar intimidar por seu olhar sério.

 

  —VOCÊ NÃO VAI A LUGAR ALGUM! — Os gritos de Ramsés assustam Hadany de tal forma que ela se esconde atrás de mim e segura fortemente minha mão esquerda. — E ainda por cima pensava em levar minhas sobrinhas com você.

 

  —Antes de serem suas sobrinhas, são minhas filhas. — Argumento. — Onde eu for, elas irão.

 

  —Você enlouqueceu! É a única explicação! — Ele fala. — Nós somos irmãos! Como pode se voltar contra mim dessa maneira?

 

  —Eu te amo, meu irmão, e sempre te amarei. — Faço uma breve pausa antes de continuar. — Mas, não posso continuar compactuando com as coisas que anda fazendo.

 

  —E o que eu tenho feito além de proteger o reino e zelar por todos nós? — Ramsés pergunta, mas eu permaneço em silêncio. — Responda!

 

  —Você está se deixando cegar pelo seu orgulho! — Falo com voz alterada. — Será possível que não percebe o que está acontecendo? O Egito está perecendo, sem comida, enfraquecido pelas pragas. É questão de tempo para o reino que nosso pai nos deixou desaparecer por completo.

 

  —Isso jamais vai acontecer. — Meu irmão discorda. — O Egito é a nação mais poderosa da terra.

 

  —Ficar repetindo isso não vai solucionar o problema, Ramsés! — Falo com firmeza. — Existe uma força muito maior do que todos nós. Nem você, nem nenhum de nossos deuses é capaz de contê-la.

 

  —Não está se referindo ao deus invisível dos escravos, está?

 

  —Sim, estou. — Afirmo. — Por favor, meu irmão, deixe os hebreus partirem antes que seja tarde demais.

 

  —E o que poderia acontecer, Henutmire? — Ele pergunta com ironia. — O deus dos hebreus não tem mais poder que eu sobre o meu próprio reino.

 

  —Pare de insistir que está tudo sobre controle por que não está! — Falo, irritada com a teimosia de meu irmão. — Reconsidere a sua atitude enquanto é tempo ou o Egito vai sofrer mais do que já tem sofrido.

 

  —Está mesmo disposta a deixar o palácio, abandonar a minha proteção e renegar aos nossos deuses para se juntar ao seu filho? — Ramsés pergunta, mas meu silêncio apenas afirma que sim. — Tem noção do que está fazendo, Henutmire?

 

  —Me perdoe, Ramsés... Mas, a partir de agora eu entrego a minha vida nas mãos do Deus de Moisés. — Minhas palavras não surpreendem somente a meu irmão, mas também a minha filha. — Ele irá me proteger.

 

  —GUARDAS! — Ramsés grita enfurecido e logo dois oficiais entram em meus aposentos.

 

  —Mãe... — Vejo o medo estampado nos olhos de minha filha.

 

  —Fique calma. — Peço ao segurar firme em sua mão.

 

  —Prendam a princesa. — Ele ordena, me deixando incrédula de sua atitude.

 

  —Não! — Hadany se agarra a mim. — Por favor, meu tio, não faça isso!

 

  —Sua mãe não me deu escolha, Hadany. — Ramsés fala, sem o mínimo de piedade ao ver lágrimas tomarem os olhos de sua sobrinha. — Afaste-se ou eu deixarei que levem você também.

 

  —Não! Me solte! — Sinto meu coração se partir em mil pedaços ao ver minha filha chorando descontroladamente, enquanto Ramsés segura bruscamente em seu braços, afastando-a de mim. — Me solte! Me solte agora mesmo!

 

  —Eu lhes dei uma ordem, o que estão esperando? — Ramsés fala para os oficiais. Então, os dois homens se aproximam de mim e seguram meus braços com firmeza, ao mesmo tempo em que tomam cuidado para não me machucar.

 

  —Você não pode prender minha mãe como se ela fosse uma criminosa! — Hadany esbraveja, se debatendo na tentativa de se livrar dos braços de Ramsés, que a segura com força.

 

  —Acalme-se, Hadany! — Meu irmão pede, ou melhor, ordena. — Acalme-se ou vai acabar se machucando.

 

  —Olhe para mim, filha. Olhe para mim! — Peço e ela assim o faz. — Vai ficar tudo bem, eu prometo.

 

  —Ele não pode fazer isso com a senhora, mãe. — Ela fala, chorando cada vez mais.

 

  —Levem a princesa. — Ramsés ordena aos guardas.

 

  —Não! Não! Não! — Hadany volta a se debater entre os braços de seu tio.

 

   Então, os oficiais me conduzem para fora de meus aposentos. A última imagem que tenho antes de atravessar as portas é a de minha filha chorando desesperadamente e meu irmão segurando-a com brutalidade. Não! Eu não posso mais chamar Ramsés de irmão.

 

  —MÃE! — Do corredor, ouço o grito desesperado de Hadany, mas eu sequer posso voltar para tentar acalmar minha filha.


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Notas finais do capítulo

Nada tão ruim que não possa piorar...



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