O Maior Amor escrita por Sâmara Blanchett


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Peço que perdoem a demora. Passei por um momento difícil e estava desanimada de muitas coisas. Mas, aqui está o cap. 16. Todos prontos?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691593/chapter/16

Por Henutmire

A sala do trono está assustadoramente silenciosa. Não há nenhum dos oficiais que sempre estão aqui ou qualquer outra pessoa do palácio. Vejo que alguém está sentado no trono, mas a pouca luz que o ilumina não me deixa ver seu rosto.

—Ramsés? — Chamo por meu irmão. Afinal, quem mais poderia estar sentado no trono do Egito além dele? O homem se levanta e com passos solenes desce os degraus, até que eu vejo seu rosto claramente, como que iluminado pela luz do sol, e meu espanto é inegável. — Pai?

—Você está ainda mais linda, minha filha. — Ele se aproxima de mim e acaricia meu rosto.

—O senhor está morto. — Falo, assustada. — Como pode estar aqui?

—Você precisa salvar o Egito, Henutmire. — Meu pai pede, me deixando confusa. — Precisa impedir que o nosso reino pereça.

—Do que está falando? — Pergunto. — O Egito é a nação mais poderosa da terra.

—Basta uma peça fora do lugar para que todo o jogo seja perdido. — Ele fala e tento compreender o sentido de suas palavras. — Por isso você precisa ficar.

—Ficar? — Questiono. — Mas, eu não vou a lugar algum.

—Seu lugar é no palácio. — Ele insiste. — O seu e desse filho que espera.

—Filho? Mas, eu não estou... — Não completo minha frase pois, ao olhar para mim mesma, vejo o tamanho de meu ventre indicar que estou grávida.

—Ele será um príncipe, e futuro rei do Egito. — Meu pai fala e eu fico ainda mais espantada.

—Talvez o meu lugar seja no palácio... — Concordo, dando as costas a meu pai. — Mas, o lugar de minha descendência não é no trono.

—Salve o Egito, minha filha. — Ele pede mais uma vez. — Assim, decidirá o seu destino e o de todos.

Como o destino de todos pode estar em minhas mãos? Aliás, como o meu próprio destino pode estar em minhas mãos? A vida é como linhas incertas nas mãos dos deuses, nunca sabemos o que pode acontecer. Então, me viro para meu pai, porém me deparo com o vazio.

—Pai? — Chamo ao olhar por todos os lados e constatar que ele desapareceu.

—Mãe... — Hadany surge de repente, chamando por mim. — Nós precisamos ir.

—Para onde? — Pergunto.

—Moisés está nos esperando. — Ela responde.

—Moisés? — Indago, surpresa. — Ele voltou?

—Sim, e está esperando por nós. — Ela sorri. — Vamos.

—Henutmire... — Ouço a voz de Ramsés e me deparo com meu irmão sentado no trono, que há pouco estava ocupado por nosso pai. — Você vai me abandonar?

—Claro que não. — Respondo. — Eu só quero ver o meu filho.

—Não vá, mãe. — É então que vejo Tany de pé, ao lado de Ramsés. — Fique, por favor.

—Eu vou voltar e trarei seu irmão comigo. — Falo.

—Se a senhora for com Moisés, estará levando o meu irmão para longe de mim. — Tany fala, se referindo a criança que carrego em meu ventre.

—Vamos, mãe. — Hadany pega minha mão. — Moisés está nos esperando.

—Você não pode nos deixar, Henutmire. — Ramsés fala. — Não pode deixar o Egito sem sua princesa.

—Mas, eu não vou a lugar algum! — Falo com firmeza ao repetir o mesmo que disse a meu pai. — Eu só quero ver Moisés.

—Por favor, mãe, não vá. — Tany pede mais uma vez.

—Temos que ir, mãe. — Hadany fala novamente.

Ao abrir meus olhos, vejo que estou sentada em minha cama, e não de pé na sala do trono em meio a uma disputa de ir ou ficar. Foi apenas um sonho... Meus pensamentos se confundem, pois várias perguntas se formam em minha cabeça. Para onde Ramsés e Tany me pediam para não ir? Por que Hadany dizia que Moisés havia voltado, mas eu não o via? Por que meu pai me pedia para salvar o Egito? E a criança que eu esperava? Então, sinto as mãos de Hur sobre meus ombros e, ao olhar para ele, noto o quanto está assustado.

—Você está bem? — Ele pergunta, preocupado.

—Foi um pesadelo. — Respondo, tentando regular minha respiração.

—Se acalme. — Hur me abraça. — Seja o que for, já acabou.

—Foi horrível. — Falo, me lembrando de cada detalhe do sonho e da estranha sensação de estar dividida entre dois deveres, que não sei quais são.

(...)

—Não quer mesmo que eu vá com a senhora? — Hadany pergunta.

—Não precisa, Leila vai comigo. — Respondo. — Além disso, não pretendo me demorar.

—Está tão estranha hoje, mãe. — Ela fala. — Aconteceu alguma coisa?

—Nada, minha filha. — Falo. — Apenas tive um sonho ruim.

—Não quer me contar? — Ela me olha, com certa curiosidade. — Talvez assim se sinta melhor.

—Dizem que se contamos os sonhos, independente de serem bons ou ruins, eles podem se realizar.

—Como preferir. — Hadany volta suas atenções para as jóias a sua frente, escolhendo quais irá usar. — A senhora soube da festa que meu tio está preparando?

—Sim, Jahi virá nos fazer uma visita e Ramsés quer recebê-lo com uma grande festa.

—Quando será?

—Em dois dias, talvez menos. — Falo. — Sabia que você e sua irmã interromperam uma festa quando nasceram?

—Não. — Minha filha fala rindo. — Como foi isso?

—A festa era em homenagem ao nascimento de Amenhotep. — Falo com nostalgia ao me lembrar daquele dia. — De repente eu comecei a me sentir mal e seu tio teve de me levar nos braços para meus aposentos, enquanto Paser foi chamar a parteira.

—Se Amenhotep soubesse que minha irmã e eu atrapalhamos a sua festa, ficaria uma fera.

—Foi por um bom motivo. — Falo rindo.

—Me ajuda a colocar? — Hadany pede. Então, vejo em suas mãos um adorno feito de ouro, algo que me traz belas lembranças.

*Flash back on*

—Olhe o que achei, Tany. — Hadany fala para irmã ao retirar um adorno de ouro, parecido com uma coroa, de dentro do baú.

—É lindo. — Tany admira a peça.

—É seu, mamãe? — Hadany pergunta.

—Traga aqui. — Peço e de imediato a menina traz o objeto até mim. Ao tê-lo em minhas mãos, me dou conta de que é o mesmo adorno que eu usava no dia em que encontrei Moisés nas águas sagradas do Nilo. — Sim, é meu. Faz muito tempo que eu o usei...

—É tão lindo, os detalhes das flores... — Ela olha com atenção. — Foi o papai que fez?

—Não, foi outro artesão do palácio. — Falo. — Eu era muito jovem, ainda não conhecia o seu pai.

—Será que ele faz um igual para mim? — Hadany pergunta.

—Fique com esse. — Falo ao entregar o adorno para ela. — Ainda vai demorar um pouco para que caiba em você, mas pode guardá-lo até lá.

—Vou guardar bem, prometo. — Ela fala, satisfeita com o presente. — Eu vou usá-lo no dia que Moisés voltar.

*Flash back off*

—Você guardou... — Falo, tomada pela emoção.

—Como prometi. — Hadany sorri. — Coloque em mim, por favor.

—Se lembra que disse que usaria quando Moisés voltasse? — Falo ao colocar o adorno em sua peruca e me dar conta do quão bela ela ficou usando-o.

—Talvez se eu usá-lo meu irmão volte mais depressa. — Ela fala e algo dentro de mim apenas concorda, mesmo sabendo que tal coisa é improvável.

Por Anat

Olho para o horizonte a minha frente, para as fronteiras que parecem cada vez menores... Depois de tantos anos, estou voltando para Pi-Ramsés. Mas, eu não sou a mesma de quando parti, muitas coisas mudaram. Deixei o palácio como uma aprendiz do sacerdócio e retorno como uma sacerdotisa de Seth, poderosa e respeitada por onde passo. Os anos que passei no templo de Om com Atalia não foram capazes de me fazer esquecer que deixei o palácio obrigada pela princesa Henutmire e muito menos diminuiu o desejo que tenho de me vingar dela. O amor que eu tinha por Hur desapareceu aos poucos, foi levado pelo vento assim como as areias do deserto. Afinal, hoje o meu coração e tudo em mim pertence a Seth. Mas, assim como o deus do qual sou esposa, eu posso provocar um verdadeiro caos se essa for a minha vontade. E assim será quando eu colocar os pés novamente no palácio. A princesa Henutmire não sabe o que a espera.

—Quando chegaremos a Pi-Ramsés? — Alon pergunta ao se aproximar de mim.

—Em breve. — Respondo. — Está ansioso?

—Não mais do que você, tenho certeza. — Ele fala, me fazendo rir. — Não é sempre que se tem a oportunidade de conhecer o palácio do grande faraó Ramsés.

—Por isso quis vir?

—Sabe muito bem que eu vim porque a senhora Atalia pediu. — Alon fala. — Você é uma sacerdotisa de Seth e eu estou aqui para protegê-la.

—É mais fácil eu proteger você do que o contrário. — Falo rindo, deixando Alon irritado.

—Não me subestime, Anat. — Ele fala, me olhando sério. — Pode se surpreender.

—Não duvido de seu valor, meu querido. — Sorrio para ele. — Atalia não teria deixado você me acompanhar se não fosse o melhor do todos os guardiões.

—Como é o palácio, Anat? — Alon muda de assunto.

—Faz muitos anos que deixei o palácio, Alon. Tudo deve estar mudado... — Falo, ao voltar meu olhar para o horizonte. — Mas, eu me lembro bem do luxo e conforto, da comida deliciosa preparada por Gahiji, do belíssimo jardim deixado pela rainha Tuya... Me lembro de meu tio fazendo suas orações no santuário, de minha prima com sua coroa de soberana do Egito, das lindas jóias feitas por Hur e por Uri. — Fico em silêncio por alguns segundos. — Me lembro da princesa Henutmire e suas filhas, que eram ainda meninas quando parti.

—Princesa Henutmire? — Ele indaga. — Não foi por intermédio dela que você foi para Om?

—Sim, ela é a responsável por tudo que aconteceu em minha vida, por eu ter me tornado uma adoradora de Seth. — Respondo. — E agora terei a oportunidade de agradecê-la pessoalmente por tudo o que fez por mim.

Por Tany

Alguns dias se passaram desde que a verdade sobre Anat chegou até mim. E desde então eu penso em alguma maneira de fazê-la pagar pelo que fez a minha família, de fazê-la sofrer do momento em que colocar seus pés no palácio até o dia em que partir de volta para Om. Sei que a capacidade de ser cruel está em meu sangue, a herdei de meu avô. Eu só preciso desenvolvê-la.

—Não há muitas pessoas que conseguem me surpreender, Hadany. — Falo somente ao ouvir o barulho das portas de meus aposentos se abrirem. Sequer preciso olhar para saber que é ela quem entra.

—Talvez o fato de sermos gêmeas torne a nossa ligação mais forte. — Ela fala ao se aproximar de mim, então volto meu olhar para ela. — Você está diferente desde o dia que soube a verdade sobre Anat.

—Impressão sua. — Minto.

—Você pode enganar a qualquer um, menos a mim. Fomos geradas juntas, crescemos juntas. Eu te conheço muito bem. — Minha irmã se senta ao meu lado. — O que está acontecendo?

—Talvez eu esteja errada, mas vou me vingar de Anat. — Falo e ela se espanta. — O que ela fez não tem perdão e ter ido embora do palácio não foi castigo suficiente.

—Não se envolva com isso, Tany. — Hadany aconselha. — A vingança sempre acaba fazendo mal para nós mesmos.

—Para ter feito o que fez, Anat não teme os deuses, não teme o julgamento de Osíris, não teme nada. — Falo. — Mas, vai ter medo de mim.

—Essa não é você! — Ela fala. — Está se deixando levar pelo ódio.

—Vai me dizer que ficou satisfeita ao saber que Anat tentou destruir a nossa família?

—É claro que não! Também desejo que pague caro pelo que fez. — Hadany responde. — Mas, você está querendo fazer justiça com as próprias mãos.

—E por acaso eu não tenho esse direito? — Pergunto, olhando seriamente para minha irmã.

—Anat é uma adoradora de Seth, se esqueceu disso?

—E eu sou uma princesa do Egito, neta do faraó mais temido da história. — Falo com segurança. — Ela pode ser esposa do deus do caos, mas não pode comigo.

—Eu só espero que você saiba o que está fazendo. — Minha irmã fala, desistindo de me convencer de que estou errada.

—Eu sei o que faço.

Me levanto e vou até a jarra pegar um pouco de água, mas de repente sinto uma tontura que faz com que eu me desequilibre. De imediato, minha irmã me ampara em seus braços, impedindo que meu corpo vá de encontro ao chão. Pelos deuses! O que está acontecendo comigo?

—Tany, você está bem? — Hadany pergunta.

—Foi só uma tontura, já está passando. — Falo, enquanto minha irmã me ajuda a me sentar na cama.

—Você está pálida. — Ela fala. — Quer que eu chame Paser?

—Não precisa, já me sinto melhor. — Falo. — Deve ser porque ainda não tomei meu desjejum.

—E por que não comeu? — Hadany vai até a mesa onde está a bandeja com meu desjejum. — Sabe que não deve ficar sem se alimentar.

—Acordei sem apetite. — Respondo.

—Tome. — Minha irmã me entrega um cacho de uvas. — Coma ao menos uma fruta.

—Obrigada. — Agradeço o cuidado de minha irmã para comigo. Coloco uma uva em minha boca, saboreando seu doce sabor. Então, noto o adorno que ela usa em sua peruca. — Você disse que usaria no dia que Moisés voltasse.

—Já ficou guardado por muito tempo, Tany. — Ela fala, ainda com seu olhar preocupado sobre mim. — Deite-se um pouco, até suas forças voltarem.

—Acha que Moisés ainda pode voltar? — Pergunto ao me deitar.

—Nossa mãe nunca deixou de acreditar, e nós devemos fazer o mesmo. — Hadany fala. — Os deuses protegerão nosso irmão e farão com que ele volte para nós.

Por Henutmire

Caminho em silêncio pelas margens do Nilo, acompanhada somente por Leila. O sonho que tive não sai de minha mente, bem como as perguntas que me faço sobre ele. Este está longe de ser um sonho como qualquer outro. Ao que parece, eu tinha de escolher entre Ramsés e Tany ou Moisés e Hadany. Mas, por que? O que levaria minhas filhas a estarem em lados opostos se sempre foram tão unidas? Pelos deuses! O que esse sonho pode querer dizer? Talvez seja um aviso... Mas, o que poderia estar para acontecer?

—A senhora está tão calada. — Leila observa.

—Me perdoe, Leila. — Falo. — Eu chamei você para me acompanhar nesse passeio porque precisava espairecer, mas acabei dando atenção aos pensamentos que me perturbavam.

—É a volta de Anat, não é?

—É tudo o que vem acontecendo, Leila. É a saudade que sinto de Moisés, a incerteza de saber se ele está bem, se está vivo, se vai mesmo voltar um dia. — Paro de caminhar e me abaixo até o chão, tocando as águas com minha mão. — São as lembranças que insistem em se fazer presentes, até nos pequenos detalhes.

*Flash back on*

—Olha o que eu encontrei, mamãe. — Moisés vem correndo até mim, com uma flor cor de rosa na mão.

—É linda, meu amor. — Sorrio para ele.

—É para a senhora. — Ele me entrega a flor. É incrível como os gestos mais simples de meu filho conseguem me emocionar.

—Muito obrigada, filho. — Falo e coloco a flor entre os adornos de ouro de minha peruca. — Ficou bom?

—A senhora está linda. — Ele sorri.

—Moisés! — Ramsés chama meu filho para brincar com ele e Nefertari.

—Vá com eles. — Falo.

A cada dia que passa mais realizada eu sou por ser a mãe de Moisés. Meu filho me enche de orgulho e de bons momentos, que sei que serão inesquecíveis. Sorrio ao ver meu menino correr até meu irmão e a filha de Yunet. Eles vêm crescendo juntos e a amizade deles têm acompanhado esse crescimento. Mas, meu sorriso logo se desfaz ao ver meu filho se desequilibrar e ir de encontro ao chão.

—Moisés! — Exclamo apavorada, enquanto corro até ele. — Você está bem, meu filho?

—Acho que sim. — Ele responde. Então, vejo seu joelho tomado por sangue.

—Você se feriu. — Falo preocupada.

—Não se preocupe, mamãe. — Moisés fala. — Eu sou um homem, posso suportar qualquer coisa.

—Você é o meu rapazinho corajoso. — Sorrio para ele. — Agora, vamos tratar desse ferimento antes que piore.

—Ele está bem, princesa? — Nefertari pergunta ao se aproximar com Ramsés.

—Está sim, Nefertari. — Respondo.

—Nem está doendo. — Moisés fala.

—Vem, vamos limpar isso. — Ajudo meu filho a se levantar e vou com ele até as margens do rio, para lavar seu ferimento com as águas do Nilo.

*Flash back off*

—Tenha fé, senhora. — Leila fala. — Se Deus colocou Moisés no caminho da princesa, com certeza há de trazê-lo de volta.

—Eu não compreendo essa sua fé, minha querida. — Falo ao me colocar novamente de pé. — Mas, reconheço que algo muito forte me faz acreditar que eu não irei para o mundo dos mortos antes de ver o meu filho novamente. — Ao olhar para minha dama, vejo que seu semblante é triste e logo sei o motivo. — Está triste por causa de Bezalel, não é?

—Não foi fácil me despedir do meu filho, senhora. — Ela responde. — Mesmo sabendo que ele está sendo bem cuidado por minha irmã, sinto muito a sua falta.

—Eu entendo você, Leila. — Falo, alinhando novamente os fios desordenados de minha peruca que voam diante de meu rosto por causa do vento. — Entendo melhor do que imagina.

—Princesa, a senhora perdeu seu bracelete. — Leila fala ao olhar para meu braço e eu me dou conta de que a jóia que eu usava não está mais nele.

—Deve ter caído e eu não percebi.

—Eu vou procurar, deve estar por perto. — Ela fala.

Leila se afasta, olhando atentamente para o chão. Como eu estou desatenta! Perder um bracelete tão valioso sem ao menos me dar conta... Certamente isto é resultado de toda a agitação que venho vivendo nos últimos dias. Resolvo ajudar minha dama de companhia e começo também a procurar pela minha jóia. É então que vejo um homem sentado no chão, observando o Nilo atentamente. Ele não está tão distante de mim, por suas roupas sei que é um hebreu. Algo inexplicável me faz ter a vontade de me aproximar dele, mas ao mesmo tempo tenho medo, afinal, não sei quem ele é. Todavia, movida por essa força maior, que parece me puxar ao encontro do desconhecido, me aproximo dele a passos cautelosos, mantendo uma distância segura entre ele e eu.

—Com licença. — Falo ao chamar sua atenção para mim.

No mesmo instante, o homem dirige seu olhar em minha direção e eu me dou conta de que jamais esqueceria tais olhos olhando para mim. Permaneço perplexa, sem fala, enquanto ele se levanta suavemente e fica de pé. Muitas vezes eu imaginei como seria esse momento, mas nunca pensei que seria assim. Meu coração bate cada vez mais forte e eu sinto meus olhos se inundarem de lágrimas, que atrapalham um pouco a minha visão. Mas, nem isso é capaz de impedir que cada traço, tão bem conhecido por mim, faça sentindo e me mostre que não estou enganada. É Moisés! É o meu filho!

—Mãe? — Ele indaga, olhando para mim com curiosidade.

—Meu filho! — Corro até ele e o abraço com todas as minhas forças, com toda a minha saudade. Ele corresponde ao abraço da mesma forma e então tenho a certeza de que não estou sonhando.

—Senti tanta saudade, minha mãe.

—E eu de você, meu filho. — Eu o abraço ainda mais forte. — Como eu esperei por esse abraço. — Me separo dele e seguro suas mãos. — Quando você voltou?

—Cheguei ontem ao Egito. — Ele responde. — Eu já estava indo ao palácio, mas quis vir aqui antes, onde a minha história começou.

—Esse lugar já era especial para mim, agora é ainda mais. — Falo com voz embargada. — É onde eu te encontrei pela primeira vez, e agora onde eu te reencontrei.

—Não chore, minha mãe. — Moisés enxuga minhas lágrimas com sua mão, exatamente como fazia quando era criança.

—Estas lágrimas são de alegria. — Sorrio. — Eu senti tanto a sua falta, meu filho.

—Peço perdão por não ter mandado notícias, mas achei melhor assim. Era mais seguro para mim e para todos. — Ele fala. — Eu imagino o quanto a senhora sofreu por minha ausência.

—Eu sofri muito, meu filho. Eu não sabia onde você estava, se estava bem... — Falo. — Algumas vezes cheguei a pensar que o pior havia acontecido. Mas, meu coração de mãe nunca deixou de acreditar que um dia você voltaria para mim, e esse dia chegou. — Eu o abraço novamente. — Não imagina como eu pedi aos deuses que te protegessem aonde quer que estivesse.

—Eu sempre pensei na senhora em todos esses anos e também pedi ao meu Deus que cuidasse de minha mãe egípcia. — Meu filho sorri para mim.

—Por que não voltou antes? — Pergunto.

—Eu não sabia que o decreto contra mim havia sido anulado.

—Assim que assumiu o trono, Ramsés anulou o decreto de nosso pai e mandou várias buscas atrás de você, mas nunca o encontraram. — Observo meu filho com atenção. Suas roupas, seus cabelos grandes, a barba... Ele está tão diferente de quando partiu. — Mas, me fale sobre você. O que fez esse tempo todo? Onde estava?

—São muitas coisas para contar, mãe. Mas, a senhora precisa saber que tem dois netos. — Moisés fala e eu fico surpresa. — Eu me casei e tenho dois filhos, dois meninos.

—Que maravilha! — Sorrio ao saber que sou avó. — Vieram com você?

—Não, seria uma viagem pesada demais para eles. — Ele responde. — Ficaram em Midiã com minha esposa.

—Midiã?

—É uma longa história, mas prometo que vou contar tudo a senhora. — Moisés beija minhas mãos. — Agora, me fale da senhora.

—Ah, meu filho! Você nem imagina tudo o que me aconteceu nesses anos.

—Senhora, eu encontrei seu... — Leila se paralisa ao se aproximar de mim e reconhecer o homem com quem estou conversando. — Não é possível!

—Essa também foi a minha reação. — Falo rindo.

—Como vai, Leila? — Moisés a cumprimenta.

—Bem, obrigada. — Ela responde, ainda um pouco espantada com o que vê.

—Leila agora é minha dama de companhia e uma grande amiga. — Falo. — Não sei o que teria sido de mim sem sua ajuda e sua amizade.

—Assim me deixa constrangida, senhora. — Leila fala um tanto envergonhada e Moisés e eu rimos.

—Nunca mais se afaste de mim, está proibido. — Falo antes de abraçar meu filho mais uma vez. Minha vontade é não soltá-lo nunca mais.

(...)

—Ramsés! — Falo eufórica ao entrar na sala do trono.

—Por que sempre entra sem ser anunciada, Henutmire? — Meu irmão me repreende.

—Me desculpe, mas não há tempo para formalidades. — Falo, tentando conter minha alegria. — Tenho uma surpresa para você.

—Você sabe que não gosto de surpresas.

—Vai gostar dessa, tenho certeza. — Falo.

Então, as portas da sala do trono são abertas e meu filho entra solenemente. Ao voltar minhas atenções para Ramsés, vejo a expressão de seu rosto demonstrar que parece não acreditar no que vê. Ele se levanta e devagar desce os degraus do trono, sem tirar os olhos de Moisés. Um sorriso ilumina seu rosto, como eu não via há muito tempo. Os dois ficam frente a frente um para o outro e se olham por alguns instantes. Em seguida, se abraçam fortemente, o que me faz sorrir.

—É você mesmo? — Ramsés pergunta ao desfazer o abraço.

—Creio que sim, apenas um pouco mais velho. — Moisés responde.

—E com essa barba, essas roupas... — Ramsés fala. — E este cajado.

—E você nesse trono, — Meu filho sorri. — usando a coroa de rei do Egito.

—Como isso aconteceu, Henutmire? — Ramsés me pergunta.

—Foi um maravilhoso acaso, meu irmão. — Respondo. — Eu estava no Nilo, a passeio, e encontrei Moisés.

—Onde você se escondeu todo esse tempo, Moisés? — Meu irmão pergunta. — Eu enviei missões por todos os cantos do reino e você não foi encontrado.

—Quase fui, eu vi alguns oficiais me procurando em Midiã. — Moisés fala. — Pensei que era para me prender e escapei por pouco. Não sabia que o decreto contra mim já não existia.

—Revoguei a sentença logo que fui coroado. — Ramsés fala.

—Ninguém me avisou. — Moisés fala, nos fazendo rir.

—Eu ainda não estou convencido de que você está aqui na minha frente, Moisés. — Ramsés sorri. — Eu achei que estava morto, é como se estivesse ressuscitando.

—Não tenha pressa, vai acabar se convencendo. — Meu filho fala e algo em seu tom de voz me deixa intrigada.

—Já soube dos feitos de sua mãe nos últimos anos? — Ramsés pergunta.

—Soube que ela se casou novamente, após a morte de meu pai. — Moisés responde. — Aliás, muito nobre de sua parte permitir o casamento de minha mãe com Hur. Ele é um bom homem, certamente a faz muito feliz.

—Pelo visto você não sabe do principal, Moisés. — Meu irmão tenta abafar seu riso.

—Há algo mais? — Ele questiona.

—Meu filho, eu queria lhe fazer uma surpresa, mas é melhor que saiba de uma vez. — Falo, com um sorriso que parece ser maior do que realmente é. — Hur e eu temos duas filhas, você tem duas irmãs.

—Que notícia maravilhosa, minha mãe! — Moisés sorri ao segurar minhas mãos junto a si. — Eu imagino o quanto a senhora está feliz.

—Foi um verdadeiro milagre, meu filho. Eu já não tinha esperança alguma, mas os deuses me concederam o privilégio de gerar duas vidas em meu ventre.

—E ao mesmo tempo. — Ramsés acrescenta.

—São gêmeas? — Moisés se surpreende e eu confirmo que sim. — E quando irei conhecê-las?

—Pedi a Leila que fosse chamá-las, logo estarão aqui. — Respondo e então seguro em seu braço. Por nada nesse mundo quero me separar de meu filho, quero sentí-lo cada vez mais perto de mim.

—E você, Ramsés? Soube que se casou com Nefertari. — Meu filho fala. — Vocês têm filhos?

—Um menino e uma menina, você irá conhecê-los. — Ramsés responde. — Amenhotep é o mais velho e futuro rei do Egito. Mayra é a mais nova, tão linda quanto a mãe.

—Pelo visto ainda faltam muitas coisas para eu saber. — Moisés ri.

—Não se preocupe, meu filho. — Falo sorrindo. — Agora que está de volta teremos todo o tempo para conversarmos sobre tudo que você precisa saber.

(...)

—Sua filha é realmente muito linda, Ramsés. — Moisés elogia Mayra, que sorri para ele.

—É uma menina encantadora, meu filho. — Falo e minha sobrinha segura em minha mão.

—Como pode ver, a família real cresceu. — Ramsés fala sorrindo.

Somos interrompidos pelo som das portas se abrindo. Por elas, adentram minhas filhas. Hadany e Tany parecem ainda mais lindas... Ou será que a alegria que sinto pela volta de meu filho me faz ver tudo mais bonito? Elas caminham até nós e olham com curiosidade para Moisés, que devolve o olhar delas com encantamento.

—Meu filho, estas são suas irmãs, Hadany e Tany. — Eu os apresento. — Minhas filhas, este é Moisés.

Eu esperava qualquer reação de minhas filhas, menos o que testemunho. Hadany e Tany abraçam Moisés de súbito, quase fazendo-o desaparecer entre elas. Ele corresponde ao abraço que recebe das irmãs e aos sorrisos delas, sem sequer estar vendo. É então que me lembro do sonho que tive há muitos anos atrás, no qual eu vi Moisés abraçado a minhas filhas e os sorrisos deles preenchiam meu coração de felicidade. Sinto uma lágrima correr por meu rosto, mas não uma lágrima de tristeza e sim de alegria, de emoção por ver o meu sonho se concretizar.

—Que bom que voltou, meu irmão. — Hadany é a primeira a falar quando o abraço se desmancha.

—Nossa mãe sempre sentiu muito a sua falta. — Tany fala.

—Quando ela me disse que eu tinha duas irmãs, não imaginei que fossem moças tão belas. — Moisés elogia as irmãs e em seguida olha para mim. — Certamente herdaram a sua beleza, minha mãe.

—Nisso não há dúvidas, Moisés. — Ramsés concorda, conseguindo me deixar sem graça.

—Mãe... — Hadany se aproxima de mim, deixando a conversa entre seus irmãos e seu tio. — Eu estava certa em usá-lo hoje. — Ela fala, se referindo ao adorno em sua cabeça.

—Sim, estava. — Sorrio para ela. — Foi um sinal do que estava para acontecer, minha filha.

—A senhora está feliz? — Ela pergunta.

—Nem todas as palavras podem descrever o tamanho de minha felicidade, Hadany. — Respondo.

As portas da sala do trono novamente se abrem, chamando a atenção de todos nós. Então, vemos Nefertari entrar devagar, como se escolhesse os passos que dá. Seu olhar e seu modo de andar estão totalmente diferentes. É como se minha cunhada fizesse questão de demonstrar o poder e soberania que tem como rainha do Egito. E, conhecendo-a como conheço, tenho absoluta certeza de que é exatamente isso o que ela quer.

—Fiquei muito feliz quando soube de seu retorno, Moisés. — Nefertari fala, ao se colocar ao lado de Ramsés.

—Eu também estou muito contente pelo reencontro com todos por vocês, por conhecer minhas irmãs. — Moisés fala. — E sobretudo por vê-la casada com meu irmão.

—Você está muito bem, só custei um pouco a reconhecê-lo atrás dessa barba, dessas roupas. — Minha cunhada observa Moisés com atenção.

—É a barba e as roupas de um modesto pastor de ovelhas. — Meu filho fala, sem se envergonhar de seu trabalho.

—Que horror! — Nefertari ri com deboche, mas logo percebe que sua atitude não agrada. — Perdão, eu não sabia. É verdade?

—Não se preocupe, eu compreendo sua reação. — Moisés diz. — Quando eu vivia no palácio também achava a atividade de pastor de ovelhas desprezível, mas saiba que aprendi muito com elas.

—E Amenhotep? — Ramsés pergunta pelo filho.

—Ele pediu permissão para se recolher, estava muito cansado por causa do treino. — Nefertari responde.

—Então, você o conhecerá amanhã, Moisés. — Meu irmão fala, sorridente. — Vamos ao banquete?

(...)

—Desculpem a pergunta, mas qual a idade de vocês? — Moisés pergunta a minhas filhas.

—Dezessete. — Tany responde.

—Pelo visto eu passei mais tempo fora do que imaginava. — Ele ri. — Quando parti tinha apenas uma irmã mais velha, e agora tenho duas irmãs mais novas.

—Se tivesse voltado antes, talvez não ficasse tão surpreso. — Ramsés também ri.

—Imagino que deva estar muito cansado, meu filho. — Falo.

—Sim, bastante. — Ele responde. — Foi uma longa viagem e lá em Midiã costumamos dormir bem cedo.

—Nós temos uma bela cama esperando por você. — Meu irmão fala. — Poderá descansar e recuperar suas forças.

—Obrigado, Ramsés, mas eu vou dormir na vila. — Moisés revela, nos deixando chocados.

—Como assim dormir na vila? — O semblante de alegria de meu irmão logo dá lugar a um semblante fechado e insatisfeito.

—Não pretende ficar conosco no palácio, Moisés? — Hadany pergunta.

—É que depois de todos esses anos levando uma vida simples eu... — Ele se justifica. — A verdade é que eu me desacostumei de luxo, de conforto.

—Luxo e conforto são duas coisas com as quais nos acostumamos muito rápido, Moisés. — Ramsés argumenta.

—Em dois dias estará curado da pobreza. — Nefertari acrescenta.

—Eu não ia dizer nada ainda, mas é melhor falar de uma vez. — Meu irmão se pronuncia. — Vou nomeá-lo meu conselheiro, meu principal conselheiro. E daremos uma grande festa para comemorar o ressurgimento do príncipe Moisés.

—Magnífica ideia, meu irmão. — Demonstro o quanto me agrada a ideia de ter o meu filho novamente no palácio, perto de mim.

—Eu agradeço de coração, Ramsés, mas não posso aceitar. — Meu filho recusa a oferta do rei, para minha surpresa. — Além disso, estão me esperando na vila e eu não quero deixar ninguém preocupado. Mas, amanhã poderemos conversar mais.

—Assunto para conversa não vai faltar. — Ramsés tenta disfarçar sua insatisfação com a desfeita de Moisés.

—Peço permissão para me retirar. — Mayra se pronuncia, quebrando o clima tenso que se formou na sala do trono. Minha sobrinha é extremamente formal diante de Ramsés e Nefertari, o que às vezes me leva a crer que ela já não os vê como pais e sim como seus soberanos.

Por Hadany

Juntamente com Mayra, Tany e eu deixamos a sala do trono e acompanhamos nossa prima até seus aposentos. Agora, ela dorme tranquila, enquanto acaricio levemente seu delicado rostinho de criança. Eu sei o quanto Mayra sente falta do carinho dos pais, principalmente da mãe. Por isso, minha irmã e eu sempre cuidamos dela como se fosse também nossa irmã e oferecemos a ela o amor que meus tios não lhe dão.

—Acha que Moisés voltou para ficar? — Tany pergunta.

—Eu não sei dizer... — Respondo. — Mas, acho que não.

—Ele recusou ser o principal conselheiro do rei. — Minha irmã fala. — Nenhum homem em seu lugar recusaria uma oferta como esta.

—Nosso irmão já foi um príncipe, mas não demonstra ter ambição alguma por títulos de nobreza ou qualquer coisa do tipo. — Falo. — Prova disso é que hoje ele é um simples pastor de ovelhas.

—Tio Ramsés não ficou nem um pouco satisfeito com a recusa de Moisés.

—Nosso tio não precisa de grandes motivos para ficar insatisfeito, Tany. — Ressalto. — O que me preocupa agora é essa sensação de que o retorno de nosso irmão envolve muito mais do que estamos pensando.

—O que quer dizer? — Ela questiona, um pouco assustada.

—Eu não sei, mas tenho a impressão de que tudo vai mudar daqui em diante. — Respondo. — Pelo que nossa mãe nos contou, Moisés foi embora do Egito por convicções muito fortes.

—Então, somente algo muito forte o traria de volta. — Tany conclui.

—Exatamente.

—O que acha que pode acontecer?

—Eu não faço ideia, minha irmã. Mas, devemos estar preparadas para tudo. — Falo. — Moisés não concorda com a escravidão dos hebreus e assim que se descobrir o quanto nosso tio é cruel com o seu povo, poderá se indispor seriamente com o rei.

(...)

—Que bom que ainda está aqui, Moisés. — Falo ao entrar nos aposentos de minha mãe, acompanhada por Tany. — Pensamos que talvez já tivesse indo embora.

—Eu não poderia ir antes de me despedir de minhas irmãs. — Ele fala sorrindo. — Não imaginam como me alegro por saber que nossa mãe teve a alegria de ter duas filhas em seus braços, depois que fui embora.

—Nós nunca preenchemos o vazio deixado por você no coração de nossa mãe. — Tany fala. — Mas, garanto que ajudamos a tornar sua dor um pouco mais suportável.

—Nisso eu tenho que concordar. — Minha mãe se aproxima de nós, ficando entre Moisés e minha irmã e eu. — Vocês duas são verdadeiros e maravilhosos presentes que os deuses me concederam.

—É tão bom vê-la feliz, minha mãe. Ver que foi forte o bastante para superar cada obstáculo e que construiu uma família ao lado de um homem bom, que a ama de verdade. — Moisés consegue emocionar nossa mãe. — Ninguém é mais merecedor desta felicidade do que a senhora.

—Saiba que não há felicidade maior para mim do que presenciar esse momento. — Ela fala e nos envolve em seus braços. — Meus três filhos juntos e perto de mim... Se eu morresse agora, iria para o mundo dos mortos exultando de alegria.

—Não repita uma coisa dessas, mãe. — Eu a repreendo. — A senhora ainda vai viver muitos e muitos anos.

—Vai conhecer seus netos, vai vê-los crescer... — Moisés acrescenta. — E não falo somente dos meus filhos.

—Acho que nossa mãe terá Gérson e Eliézer como únicos netos por um bom tempo. — Tany fala, nos fazendo rir.

—Eu gostaria de ficar mais um pouco com vocês, mas preciso ir. — Meu irmão desfaz o abraço que nos unia. — Já é bem tarde, devem estar preocupados comigo.

—Não vai mesmo ficar no palácio? — Pergunto.

—Filho, eu entendo que queira ficar perto de sua família hebreia... Mas, por que não fica aqui conosco? Poderá vê-los quando quiser. — Minha mãe sugere. — Aqui você ficará mais confortável, mais seguro. Seu quarto está do jeitinho que deixou.

—Mãe, há algo que preciso que entenda. Nada voltará a ser como antes. — Moisés fala, desapontando nossa mãe. Porém, algo em seu tom de voz me deixa receosa. — Eu te amo, e isso nunca vai mudar. Mas, eu mudei. Olhe para mim... — Ele pede e ela assim o faz. — Eu não sou mais príncipe, não sou mais o filho da filha do faraó.

—Mas, continuará sendo o meu menino? — Minha mãe pergunta, tomada pela emoção.

—Mãe... — Moisés abraça nossa mãe e eu tento conter uma lágrima inoportuna que insiste em tomar meus olhos. Em toda minha vida vi minha mãe chorar a ausência de Moisés, mas agora eu me dou conta do quanto o seu amor por meu irmão é imenso. — Eu serei sempre o filho do coração de Henutmire. Uma mulher que foi capaz de enfrentar o rei por compaixão, para defender um bebê hebreu que encontrou no rio. — Os dois se separam e eu vejo os olhos azuis de minha mãe terem o brilho que as lágrimas lhe provocam. — Uma mulher que me amou e que me ajudou a ser o que sou hoje.

—Estou tão feliz de poder te abraçar novamente, meu filho. — Minha mãe sorri.

—Cheguei a pensar que nunca mais retornaria ao Egito. — Ele fala.

—E por que decidiu vir agora? — Tany pergunta, chamando a atenção de nosso irmão para nós.

—Porque há algo muito importante que preciso resolver. — Moisés responde, aumentando ainda mais a sensação que tenho de que sua volta representa algo grandioso demais. — Mas, aconteça o que acontecer, quero que saibam que jamais deixarei de amá-las e que farei o que estiver ao meu alcance para protegê-las.

—Do que está falando, Moisés? — Minha mãe pergunta. — Assim você me assusta.

—Eu não quero que se preocupe, minha mãe. Vai ficar tudo bem. — Meu irmão tenta transmitir confiança a nossa mãe. — Agora tenho que ir, mas eu voltarei. Ramsés e eu temos muito o que conversar.

—Meu tio certamente não aceitará fácil que fique entre os hebreus. — Falo. — Vai fazer de tudo para convencê-lo a ficar no palácio.

—Ramsés pode ser o rei do Egito, mas não está no comando de tudo. — Moisés fala, me deixando ainda mais apreensiva. Ele segura as mãos de nossa mãe e em seguida dá um beijo em sua testa. — Fique bem, nos veremos em breve.

Moisés então se aproxima de mim e me abraça. Eu correspondo ao seu abraço, mesmo que suas palavras tenham me causado medo. É incrível que eu me sinto como se tivesse convivido com meu irmão desde que nasci. Sei que acabei de conhecê-lo, mas não me sinto como se ele fosse um desconhecido. Nos separamos e ele sorri para mim, em seguida também deposita um beijo em minha testa. Meu irmão repete com Tany o mesmo que fez comigo e logo segura nossas mãos.

—Cuidem bem de nossa mãe. — Ele pede.

—Foi o que fizemos nos últimos anos, meu irmão. — Tany sorri.

—Até breve. — Moisés sorri para nós. Então, o observamos deixar os aposentos de minha mãe, até que as portas se fecham novamente e não o vemos mais.

(...)

Me partiu o coração deixar minha mãe sozinha em seus aposentos, mas ela assim pediu. Sei o quanto ela está feliz pelo retorno de Moisés, mas é inegável que não esperava que seu filho preferisse ficar na vila com sua família hebreia a ficar no palácio com sua família egípcia. Caminho sozinha pelos corredores em direção aos meus aposentos. Confesso que foi um dia longo e estou cansada. Uma boa noite de sono é tudo o que preciso para repor minhas energias e afastar meus temores.

—Pelo visto este assunto ainda te assombra. — Ouço a voz de Uri ao passar pela porta da oficina. É estranho que ele e meu pai ainda estejam trabalhando, já é tão tarde.

—Não poderia ser diferente, Uri. Eu não consigo ter paz comigo mesmo se não esqueço o que fiz. — Meu pai fala. — Às vezes eu penso em procurá-la e pedir perdão.

—E por que não faz isso? — Uri pergunta. — Com certeza iria se sentir melhor e se livraria de uma vez por todas desse peso na consciência.

—Não tenho coragem, meu filho. — Meu pai responde. — O que fiz foi muito sério, talvez eu não mereça o perdão de Miriã.

—O que o senhor fez a Miriã para ter que lhe pedir perdão? — Faço notar a minha presença. Os dois se assustam ao perceber que escutei o que foi dito e me olham perplexos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quero ver o Hur se explicar agora... Moisés está de volta e que venham as pragas (isso inclui a Anat).



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Maior Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.