Mais que uma bruxa escrita por Favorite Girl


Capítulo 2
Quem eu sou?


Notas iniciais do capítulo

Demorei dois séculos e vários documentos para tentar escrever o capítulo, então em uma madrugada de domingo me vem a história. Por que, Deus? Por que? Espero que gostem. ♥ -Favorite



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Olhei para o papel em minhas mãos que decidiria meu futuro. Já fazia umas cinco horas que os homens do Ministério tinham ido, me deixando nada além de migalhas de uma conversa e uma decisão a ser tomada. Tinha vinte e quatro horas para decidir se iria ou não com eles para Londres. Levantei a cabeça e encarei a linda coruja amarelada que estava em minha frente no quarto. A luz estava apagada dando a ela um brilho celestial com a pouca iluminação que vinha da lua. Ela me encarava com as cabeça inclinada. Era magnífica. Coloquei a gaiola na parte mais escura do quarto, guardei aquele pedaço de pergaminho e fui deitar, com o pulso acelerado. Os homens vieram e foram, porém só conversaram com meus pais, como se o foco da história não fosse eu. No final de algumas horas de confinamento, me tiraram do quarto e me explicaram o que é um bruxo e a decisão que eu tinha que tomar. Nem seus nomes sabia.

Deitei de barriga para cima e me peguei pensando nos olhos inchados da minha mãe quando fui até a sala. O que eles tinham conversado que eu não poderia saber? Com esse pensamento, e com o barulho baixo que a coruja fazia, peguei no sono. Esquecendo por completo de como iria lidar com tudo isso pela manhã.
Acordei duas horas depois assustada e com o corpo tenso pela adrenalina. Meu sangue rugia nas veias e meu suor estava frio. No meu sonho todos descobriram que eu era bruxa e tinham me queimado viva em uma enorme fogueira. As chamas pareciam tatuadas nas minhas pálpebras e, se fechasse os olhos, conseguia ouvir os gritos das pessoas em aprovação se misturarem aos meus de dor e desespero. Afastei as cobertas e levantei, sentindo o piso frio de baixo dos meus pés descalços. Fui até o quarto da minha irmã e vi que ela também estava acordada. Sentei do seu lado, com as costas na parede também fria, e perguntei em um sussurro desesperado:

—O que eu faço?

—Depende da sua escolha -Sussurou de volta- Se escolher ir, mande a carta. Se escolher ficar, volte para cama e tente dormir, não virão cedo para apagar nossas memórias.

—Você acha que realmente vão apaga - las? 

—Sem dúvida. Colocaria todo o seu mundo em risco nos deixar ficar com a lembrança de ontem.

—Você tem razão. Espere aí, como sabe tudo isso?

—Você não é a única leitora da casa, sabia?

—Então você...

—Sim, eu já li Harry Potter e sim, já sabia de tudo que nos falaram - Então ficamos em silêncio por alguns minutos olhando para o mapa grudado em sua parede. Até que não aguentei e deixei toda minha preocupação sair como meras palavras.

—Eu não quero deixar vocês, Mia, mas eu também não posso ignorar tudo isso. O que eu faço? - Sempre corria a ela quando não conseguia resolver meus problemas, ela era meu cérebro, minha guia, meu norte e minha salvadora.

—Bia, olha tudo o que te aconteceu. Esses homens, a magia. Você tem uma coruja no seu quarto! 

—Mia, eu amo minha família e não posso deixa - lá por causa de uma experiência.

—Isso não é uma experiência, é sua vida. Não pode simplesmente deixa - lá de lado por nós.

—Posso sim, mas não sei se quero.

—Bianca Miller, você é uma deles. A primeira da nossa família e a única a passar por cima do sistema do Ministério, então pare de se menosprezar. Você é uma bruxa, caramba, e deve ser a única que prefere viver como trouxa ao invés de ser o que realmente é.

—Eu tenho medo está bem? Tenho medo de ser só um engano. Demorou 6 anos a mais para notarem que eu era bruxa e se eu simplesmente não for? Como fica a minha vida depois disso? - Ela pegou meu rosto entre as suas mãos.

—Você é a única que não precisa ter medo nessa casa. Por favor, Bia, não jogue tudo isso fora por pessoas que não valem a pena, por pessoas que nem acreditam - Disse olhando de relance para o quarto de nossos pais - Viva a sua vida o melhor possível.

Senti as lágrimas vindo aos meus olhos e pisquei. Por que não procurei ela antes? Por que nunca vi a pessoa maravilhosa que sempre esteve ao meu lado? Ela deveria ser a bruxa, ninguém merecia mais que ela. Nem eu, porém não posso controlar o sangue das pessoas.

—E o que eu faço agora? - Ela sorriu

—Mande aquela carta e de um susto na mamãe fazendo com que dois homens apareçam em nossa sala as três da manhã. -Refleti o seu sorriso e fui até meu quarto. 

Abri minha gaveta, peguei o pequeno pedaço de pergaminho que continha minha resposta e levei a gaiola até a sala. Assim que a abri, a coruja amarelada voou até meu ombro. Fiz carinho atrás de suas orelhas e a Amora veio se deitar no meu colo em cima do sofá. As duas tinham se dado super bem. Respirei fundo e, antes que pudesse mostrar o papel, a coruja estendeu sua pata. Amarrei o pergaminho lá e ela beliscou minha orelha suavemente antes de sair voando pela sacada. Fechei os olhos e contei até vinte, assim como o homem do Ministério me instigou a fazer. "Chegaremos antes que conte a até vinte" disse ele, porém já estava no trinta quando ouvi os dois homens surgindo em minha sala. Sorri e olhei para eles.

—Acho que vamos precisar acordar meus pais - Disse. O homem mais novo me olhou de cima em baixo, nos dois estávamos de pijamas.

—É, vamos - falou também abrindo um meio sorriso. Me levantei e passei por eles indo em direção ao quarto dos meus pais, porém, quando cheguei ao corredor, vi que minha irmã já os estava acordando. Voltei para a sala com os três logo atrás de mim e todos sentamos.

—Muito bem - Começou o mais 
velho - Agora que já temos uma decisão, podemos lhe informar como será tudo quando formos para Londres.

—O que? -Falou minha mãe assustada e com a voz ainda sonolenta - Quando você decidiu?

—A vinte segundos - Disse o mais novo.

—Trinta – Corrigi.

—Mas nem tivemos a chance de conversar sobre isso! - Protestou meu pai.

—Conversei o suficiente - Respondi olhando para Mia, que sorriu.

—Não importa agora - Concluiu o mais velho - Por favor acalme-se, senhorita Miller. Meu nome é Noah e sou Auror a vinte anos e trabalho no Ministério a cinco, cuidando de casos um pouco sem explicações. 

—E meu nome é Gael - Continuou o mais novo ainda sorrindo - Trabalho no Ministério a três anos e fui encarregado de cuidar do seu caso até depois da estadia em Hogwarts.

—Gael e Noah, Ok. Senhor Noah, você já deve ter notado, mas devo reforçar. Eu tenho dezesseis anos, não onze, como isso tudo vai acontecer? - Meus pais estavam quietos e pareciam um pouco magoados por tomar a decisão tão cedo. Já minha irmã parecia radiante, como se tudo fosse sobre ela e me doía um pouco não ser.

—Bom, a senhorita terá que cursar cinco anos em tempo recorde se quiser acompanhar sua turma no próximo ano, então devo lhe informar que seus horários serão maiores do que os dos outros alunos. Você terá quase cinco horas a mais por dia que eles, seus feriados serão menores, se não nulos, e suas férias serão reduzidas a uma semana e meia, não quatro. Será um ano puxado, mas vai valer muito a pena.

—Você está querendo dizer que nem vamos ver nossa filha?

—Vocês vão vê - lá, porém em um curto período de tempo. - Explicou Gael. Quantos anos será que ele tinha? Parecia novo e só trabalhava a três anos no Ministério.

—Pai, eu sabia que seria puxado e concordei com isso. Vou tentar vê - los o máximo que eu conseguir, mas já está decidido. - Minha mãe começou a sussurrar nervosamente com ele e ignorei o caso. Me virei novamente para Noah – Continue.

—Assim que você chegar a Hogwarts será levada para a sua cerimônia, que será como a de todos. O chapéu decidirá a sua Casa e durante o jantar será preparado um quarto para você. Como não podemos coloca - lá com o primeiro ano, nem com o quinto, a diretora vai modificar os dormitórios das garotas da sua Casa e será construído um novo quarto particular ou você será colocada em um quarto fora da área de sua Casa. Então você começará sua vida estudantil em Hogwarts.

—Acho que é só isso mesmo - Disse Gael colocando os braços a trás da cabeça e se encostando no sofá. - Partimos amanhã a noite para dar tempo de arrumar todas as suas malas. Como Hogwarts vai ser seu novo lar, a diretora, junto com o Ministério, autorizou a levar tudo o que é seu. Não importando a quantidade de objetos.

—Muito bem. Vou levar meu quarto todo então. - Comentei sorrindo.

—Só me deixe ficar com algumas roupas suas - Brincou minha irmã piscando para mim. Balancei a cabeça em protesto e vi que meus pais estavam totalmente irritados comigo e com ela.

—Mais alguma coisa que eu deva saber? - Perguntei por fim. A coruja entrou voando de repente na sala e veio pousar em meu ombro. Gael levantou as sobrancelhas.

—Parece que ela gostou de você - Disse ele. Sorri - Ela não gosta de ninguem que não seja eu.

—Mais uma coisa em que sou diferente -Comentei mesmo vendo que ele se sentiu um pouco traído pela ave. - Então, ela é sua?

—Sim e não. É uma longa história -Levantei uma sobrancelha para ele e dei de ombros, assustando um pouco a coruja.

—Voltando a pergunta - Continuei - Senhor Noah, tem mais alguma coisa que eu deva saber?

—Bem, na verdade tem sim.

—Noah, não é melhor esperar para...

—O que seria? -Perguntei cortando ele e me endireitando. Gael suspirou e voltou a se encostar no sofá. Isso me deixou um pouco incomodada.

—Senhorita Miller, devo lhe informar que foi descoberto um cofre registrado no seu nome que não é aberto a mais de quinze anos. Já confirmamos a identidade, registro, tudo e, digamos, é um cofre um tanto cheio. Também estamos confusos quanto a tudo isso. -Disse ele bem pausadamente.

Gelei. Meus pais não eram bruxo e nenhum parente próximo a mim era. Olhei assustada para os dois buscando uma explicação. Meus pais encaravam tudo menos meus olhos e minha irmã estava tão confusa quanto eu.

—O que eu sou? - Perguntei para ninguém em especial. Nem sabia mais a resposta para essa pergunta. O que eu era? Quem eu era?


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