Escarlate escrita por LSN


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Susan piscou com a pergunta inesperada e balançou a cabeça negativamente. A novata aguardou enquanto Amber parecia decidir quais palavras usaria, até que ela quebrou o silêncio.

— A transformação de Aggy não foi a mais... tranquila de todas. Antes de se juntar a nós, ela era a filha mais jovem de um duque inglês. Teve uma boa formação e tinha uma vida cheia de mimos e regalias, até que foi prometida em casamento a um duque de um reino vizinho, um homem asqueroso, apenas para garantir o fortalecimento dos dois reinos. Agatha não queria aquele destino e implorou para seu pai que mudasse de opinião, mas já estava decidido.

“Agatha foi forçada a se casar com o tal duque e, após a celebração, foi levada para o reino de seu marido. No primeiro dia de casados, após uma ida ao teatro, o duque a puxou pela mão e direção ao quarto para... Você sabe. Mas ela tinha tamanho asco àquele homem que não pôde aceitar aquilo. Desvencilhou-se da mão dele, fugindo pelo palácio e, não vendo outra alternativa, pulando através de uma janela e caindo no lago que circundava o castelo. Conseguiu fugir dali, ainda que muito machucada.

“Ela evitou as ruas do reino e correu até um bosque que ficava nas redondezas. Correu durante muito tempo. Nenhum guarda a perseguiu e ela não viu nenhum sinal de resistência por sua fuga. Quando já estava completamente exausta e perdida, o duque apareceu em sua frente. Ele era um vampiro. A prometeu que iria fazê-la pagar pela sua insolência e assim o fez. Fez questão de a machucar muito antes de mordê-la. Muito.

“Nós estávamos caçando quando escutamos os gritos ao longe. Quando chegamos, ela já a havia espancado o suficiente para que ela não gritasse mais e não mostrasse nenhuma resistência. Quando a mordeu, ela já estava à beira da morte. Mas ele não planejava apenas transformá-la. O jeito que ele tomava seu sangue mostrava que ele não pararia enquanto restasse uma gota que fosse.

“Melinda chutou sua mandíbula o fazendo parar e enquanto durou a luta eu e o resto do bando examinamos o estado dela. Na época eu ainda estava em treinamento e não pude fazer muita coisa além de checar seus pontos vitais e me preparar para defendê-la de uma provável emboscada, mas nenhum outro vampiro apareceu, ele estava sozinho. Quando Melinda conseguiu afastá-lo e confirmou que Agatha apenas estava passando pela transformação, a levamos para o nosso acampamento naquela região.

“Passaram-se vários dias para que seu corpo se curasse totalmente, mas levou muito mais tempo para que sua mente cicatrizasse os horrores daquela noite. Por muito tempo ela odiou seu novo... Modo de vida. Ela queria ser humana de novo acima de qualquer outra coisa. Passou vários séculos observando os humanos, vendo-os nascer e morrer ano após ano.”

Susan ficou algum tempo em silêncio, tentando digerir toda aquela informação. Como alguém conseguiria encostar um dedo em Agatha? O ódio fervia o seu sangue a medida que as imagens em sua mente criavam um filme de horror em sua cabeça.

— E o que aconteceu com esse desgraçado?

— Algum tempo depois eu soube que ele contou a família dela e ao seu próprio reino que ela havia se perdido no bosque. Durante vários dias, o reino de Agatha fez buscas, mas nós obviamente já havíamos saído de lá, e ele sabia disso. Ela foi declarada morta e ele conseguiu o que queria desde o começo... poder.

O quarto ficou em silêncio. Por vários minutos, tudo o que se ouvia era o som abafado da TV ligada no andar de baixo e o tique taque do relógio. Sem dizer uma palavra, Susan levantou-se da poltrona e deu um passo para fora. Antes de sair, porém, voltou-se para a ruiva e rompeu o silêncio.

— Obrigada, Amber. – Aquela frase dizia respeito não somente ao treinamento, mas por toda aquela noite. Embora não o tivesse dito, a vampira compreendeu perfeitamente. Deu um breve sorriso e acenou com a cabeça.

— Acho que você precisa falar com alguém agora. – Completou Amber. E Susan sabia que precisava.

A garota atravessou os cômodos rapidamente, com a mente completamente vazia. Percebeu que havia chegado apenas quando já estava na porta do quarto que dividia com a vampira. Girou a maçaneta e abriu a porta. Assim que entrou, Agatha largou o livro que estava em sua mão e levantou-se, indo ao seu encontro com uma expressão cheia de culpa.

— Susan, me perdoe. Eu sei que não deveria ter interrom... – Antes que pudesse completar a frase, Susan cruzou o quarto e, acabando com a distância entre as duas, a silenciou com um beijo.

A vampira ficou paralisada por um segundo, sem entender o que estava acontecendo. Mas ela não precisava de explicações naquele momento. Sentia os lábios macios e hesitantes de Susan nos seus e aquilo era tudo que importava. Colocou as mãos na cintura da novata e a puxou para mais perto.

***

Após alguns meses de convivência com os vampiros e a adequação seu novo modo de vida, Susan estava cada vez mais adaptada a tudo ali. Além disso, conheceu mais sobre o restante do bando. Jhonny já não era só uma montanha de músculos ambulante e Daniel era seu fiel parceiro no videogame. As coisas andavam se encaixando e aquilo a fazia se sentir ótima. Seu maior tormento naquele momento era apenas um.

Como lidar com o tédio.

Embora Amber, Agatha e ela tivessem entrado em um acordo para que os treinamentos continuassem – acordo esse que incluía a cláusula de mais aulas teóricas do que práticas e prática de arqueria meio a meio com o tempo reservado para treinamento corpo a corpo – Susan sentia-se entediada com muita frequência, o que não a surpreendia tanto. Afinal, ela estava lidando com a eternidade. Toda vez que pensava nisso, lembrava-se de como a faculdade e as tarefas de casa a prendiam e o quanto ela desejava algumas horas a mais em seu dia antigamente. Que ironia, pensava, sorrindo para si mesma.

Procurando algo para se distrair, encontrou Daniel perdido em meio a uma pilha de fios e partes metálicas de algum eletrônico que ela não conseguia discernir. Sentou-se na poltrona ao lado da pequena montanha hi-tech, subitamente interessada.

— Ei Danny, o que é isso tudo?

— Hã? Ah, olá Susan – O rapaz deu um sorriso tímido, levantando o óculos de proteção. – Minhas encomendas. Decidi estudar robótica esse verão. Precisa de alguma coisa?

— Não, eu tava só passando.

Os dois fizeram silêncio durante algum tempo, cada um em seu universo. Susan foi a primeira a quebrá-lo.

— Uh, Danny... Como vocês fazem pra aguentar a eternidade? Bom, quer dizer, eu não sei o que fazer com tanto tempo – Completou, um pouco envergonhada. O vampiro a observou com interesse e depois sorriu.

— Bem, todos nós adquirimos algum hobby ao longo do tempo. Melinda gosta de cinema, Jhonny de atletismo, Amber de artes marciais e caçar... Agatha provavelmente lerá todos os livros do planeta e Luke adora animais e jardinagem – Com uma breve pausa, olhou para todos os equipamentos em seus pés e sorriu, orgulhoso – E eu gosto de tecnologia. Tenho certeza que no decorrer de seus dias, encontrará algo que a fará feliz... Por todo esse tempo que temos pela frente – O sorriso nerd do rapaz a fez sorrir também instantaneamente.

— Mas... por falar em precisar de algo, você precisa mesmo dessa máscara? Quer dizer, – olhou para todos aqueles fios com curiosidade – não é como se isso fosse deixar um vampiro cego, eu acho. – A confusão no rosto de Susan fez o rapaz sorrir.

— Ah, isso é só um velho costume humano. Há coisas que nós realmente não conseguimos deixar no passado.

Susan sorriu, embora uma parte dela tivesse sentido uma pontada de tristeza ao ouvir a ultima frase do rapaz.

***

Após a meia noite, Susan precisou se alimentar. Já sabendo da época em que a novata sentia fome, Agatha entrou no quarto e fechou a porta. A convivência das duas havia se tornado fácil e leve. Na verdade, Susan já estava quase acostumada com aquela rotina. Quase.

Ela mordeu o pescoço de Agatha com cuidado, sentindo seu corpo reagir por um segundo ao pequeno furo e depois a viu descansar a cabeça em seu ombro, escondendo o rosto em seu pescoço. A visão a fez sentir algo em eu estômago, mas ela procurou concentrar-se no sabor doce em seus lábios.

Logo a garota começou a sentir Agatha mover-se no seu colo, arfando. As mãos da vampira logo estavam puxando sua blusa, em meio a gemidos abafados. Susan sabia de todo o procedimento, aquele tipo de coisa acontecia o tempo todo, mas daquela vez algo estava diferente. Estava muito difícil concentrar-se apenas no sangue de Agatha. Suas mãos seguravam com força a cintura da vampira e seus olhos observavam cada movimento, cada nuance. Sem que ela notasse, suas mãos deslizaram por dentro da blusa da vampira, arranhando suas costas e a fazendo gemer mais alto.

Sua mente ficou completamente em branco com aquele som tão próximo ao seu ouvido. Ela queria mais. Afastou os lábios do pescoço da vampira e, segurando seus pulsos, empurrou Agatha para o lado oposto da cama, pressionando seu corpo contra o dela. Mordendo o lábio, seus olhos se encontraram pela primeira vez. O olhar da vampira ia dos olhos à boca da novata, faiscando desejo.

Em um segundo, porém, as palavras de Danny invadiram a cabeça de Susan, a fazendo parar bruscamente. Lembrou-se de tudo que estava escondido a tanto tempo que ela jurava que já tivesse ido embora. A imagem dos cabelos loiros de Elliot a fez soltar os pulsos de Agatha, com uma expressão perdida. Levantou-se da cama inexpressivamente e só foi trazida de volta de seus pensamentos pela a mão da vampira segurando a sua.

— Susan, por favor – Seu olhar oscilava entre a tristeza por compreender o que havia feito Susan parar e a urgência, ainda latente, do desejo. Aproximou seu rosto o suficiente para que seus rostos se tocassem e completou com os olhos fechados, num sussurro – Me deixe ao menos tentar.

Com um nó na garganta e um milhão de sentimentos confusos em seu peito, Susan afastou-se e seguiu em direção a porta, sussurrando, sem conseguir olhar a vampira nos olhos.

— Desculpe.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima, gentem. o



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