Professores escrita por Vatrushka


Capítulo 8
Sonho?




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Sonhei umas coisas muito aleatórias.

Sonhei que o Jonas, o mendigo, estava tocando uma guitarra e cantando Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. Provavelmente porque ele parece muito o Kurt Cobain.

Também apareceu a Gina imitando uma galinha, que nem tinha feito daquela vez para chamar o Jonas e obter informações... Aparentemente aquele é o código secreto deles...

Um avião com estampa de vaca apareceu rasgando o céu por trás deles... O Chico estava assistindo o show, chorando de emoção...

Toda vez que Jonas cantava o trecho "Entertain us", ele apontava para mim. Como se quisesse que eu tomasse alguma atitude...?

"Sai de mim, zé!" Respondi a ele. Ele foi se aproximando de mim - agora a Gina e o Chico estavam cantando também.

"Vai pro inferno, Jonas!" Berrei, acordando.

Quando abri os olhos, Stella estava olhando pra mim. Dei um grito de susto.

"Desculpe... Eu ia te acordar, é porquê precisava te perguntar..."

Respirei fundo, me recompondo. Eu já estava na minha casa. Chico havia conseguido aterrorizar Stella o suficiente para convencê-la a vir conosco. Até chegou em falar que o Monteiro tentaria sequestrá-la e tal...

Achei meio exagero, mas enfim... Ela estava hospedada na minha casa, em segredo. Não sabemos como falar isso pro meu tio, se é que vamos falar...

"Diga." Concluí, esfregando os olhos.

"Será que você tem escova de cabelo?"

"Ah... Sim, sim." E me levantei para pegar.

Coitada. Viemos tão às pressas, para esquivar de qualquer outro encontro com Felícia e Monteiro, que ela só teve tempo de montar uma mala muito pequena e bagunçada.

Entreguei a escova. Stella começou a pentear o longo cabelo. Pude perceber que não havia extensão, e que também não era uma peruca...

Provavelmente Stella era trans mesmo. Embora tivesse também um estilão facilmente confundido com drag queen...

"Então..." Puxei assunto, servindo café. "Como você conheceu o meu tio?"

"Ah... Quando eu dei uma passada aqui no Brasil. Sabe, sempre viajei o mundo inteiro. Por isso sei tantos idiomas." Justificou. "E um belo dia acabei passando em um rolê aleatório, um encontro de motoqueiros. Seu tio tava no meio. E então... Foi o que foi, né."

Sorri. Também queria perguntar porquê não estavam mais juntos, mas acho que seria inconveniente demais.

Ela acabou completando: "Mas aí, eu conheci a Itália. E me apeguei como nunca tinha me apegado a nenhum lugar, sabe? Senti que realmente era a minha casa e resolvi ficar por lá."

Assenti. Plausível.

"Ah... Foi bom você ter me acordado. Tenho que ir trabalhar agora, mesmo." Falei.

Stella riu. "Eu não te acordei. Foi você que acordou do seu pesadelo... Quem é Jonas?"

Revirei os olhos, voltando para o meu quarto. "Um espião russo. Longa história."

Depois de um tempo, quando eu já estava pronto e quase saindo, Stella me perguntou suavemente:

"Quando vou poder ver o Marco?"

Ai Cristo. O que é que eu falo?

"Na verdade, Stella, ele ainda não sabe que você está aqui. E ainda estamos pensando em uma forma de falar pra ele..."

"Entendo. Tudo bem." Ela respondeu, estranhamente calma.

Suspirei e saí.

Estava andando no meio do corredor, em direção à sala dos professores, quando no meio do caminho me aparece a figura.

"Cê tá me zoando..." Murmurei. "Tão te deixando entrar aqui, agora?"

Jonas, o mendigo, estava com um sorriso -coisa perturbadora, devo dizer- de orelha a orelha.

"Claro que estão, camarada." Ele deu um tapinha no meu ombro. "O Mestre Fagonça me contratou para ser o professor de filosofia daqui."

Revirei os olhos. Será possível...

"Somos colegas agora!" Ele parecia feliz.

"Tá, tá." Afastei sua mão, continuando o meu caminho. Ele me seguiu, serelepe e dando bom dia para todos os alunos e funcionários.

Mereço.

Entrando na sala, todos os professores estavam ao redor de uma mesa. Em cima dela, Evaristo relatava sua incrível história de como lecionou muitas matérias de uma vez.

"Sugiro que façamos isso mais!" Bradou ele. "Uma verdadeira prova multidisciplinar!"

E os professores ao redor aplaudiram. Gina veio em minha direção, saltitante.

"Bom dia, Leo! Ficou sabendo das novas?"

"Que vamos aplicar prova multidisciplinar...?"

"Não! Felícia se demitiu! Finalmente a cobra voltou para o seu ninho, depois que descobrimos os seus planos!"

Ia abrir a boca para dizer que na verdade não descobrimos nada, só deduzimos, mas deixei a criança ser feliz.

Ela continuou: "Ah! E amanhã teremos greve!"

Ergui a sobrancelha. "Mas por quê?"

Ela deu de ombros. "Ah, o diretor Fagonça que decidiu fazer."

Minha mão foi de encontro à minha testa. "Ele ao menos sabe o que é a definição de uma greve...?"

Decidi ir em direção à sala do meu tio, para tentar explicar o conceito e convencê-lo a mudar de ideia. Percebi que Gina e Jonas estavam atrás de mim.

"Por que vocês estão me seguindo?" Perguntei, sem nem olhar para trás.

"Ah... Por que você está com aquela cara." Respondeu Gina, risonha.

"Que cara?"

"Aquela cara de estou-indignado-com-a-ignorância-de-alguém-e-vou-tentar-explicar-a-situação-mesmo-que-contra-a-minha-vontade. É engraçado ver você assim."

Bufei.

Quando abri a porta da diretoria, nós três paramos em choque.

De um lado da sala, estava meu tio.

Do outro, estava Stella.


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