Professores escrita por Vatrushka


Capítulo 6
Intercâmbio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691288/chapter/6

Fui de carona com a Gina até a escola. Encarei a fachada como se fosse uma guilhotina.

“Eu espero que você tenha um plano melhor de espionagem dessa vez, Gina.” Comentei, quando ela bateu a porta do carro. “Acho que Felícia vai ser menos receptiva a nossa investigação do que o meu tio foi.”

Ela revirou os olhos, sacudindo as mãos no ar. “Não me subestime. É óbvio que eu tenho.”

Em seguida, ela jogou a mochila no passeio e se agachou em uma pose estranha: como se fosse um galo se preparando para cantar.

Eu já estava cansado de estranhar.

“Gina… O quê…?”

Ela emitiu um som longo, agudo e irritante. Conferi se realmente não estava passando ninguém por ali.

Esperei Gina repetir o som três vezes. Ela se levantou, como se esperasse que alguma coisa acontecesse. Apenas cruzei os braços e esperei também. Quando fui me apoiar no capô do carro, acabei me esbarrando em alguém atrás de mim.

Quando me virei para pedir desculpas, me dei de cara com uma das figuras mais estranhas - e possivelmente curiosas - que já vi na minha vida.

Era um mendigo. Mas não era daqueles velhotes, ele tinha no máximo uns cinco anos a mais do que eu.

As roupas dele, ainda que esfarrapadas e sujas, tinham de origem uma boa qualidade. Dava para ver que eram de marca.

Até o mendigo tem mais estilo do que eu.

E sem querer soar boiola, mas ele também é bonito. Tipo aqueles modelos da Calvin Klein, sabe? Só que com o cabelo loiro maior e embaraçado.

Mas diga-se de passagem: sou mais alto do que ele. Há!

Os olhos irritantemente verdes dele me analisavam de forma insanamente arregalada.

Me afastei por segurança. Ele tinha um tremelique nervoso no olho direito.

Nós três ficamos sem reação por um tempo. Tomei a atitude de falar primeiro:

Quem é você?!” Soou mais agressivo do que eu esperava.

“Leo, esse é o Jonas. É um intercambista da Rússia.” Explicou Gina. Só fiquei ainda mais confuso.

“Ele? Um intercambista na nossa escola? Mas ele é muito mais velho, e é um mendi— Para de me encarar, capeta!”

Ele recuou um pouco, mas continuou me encarando. Revirei os olhos.

“Não estudo aqui. Vim num intercâmbio diferente.” Ele falou, por fim, com um forte sotaque.

Gina completou: “O intercâmbio dele consiste em conhecer a sociedade de outros lugares em sua essência, Leo. Sem família hospedeira, sem conforto, nada. Só adquirir experiências nas ruas.” 

Ergui a sobrancelha. Seria um programa interessante, se não fosse tão bizarro.

“Tá. Mas no que exatamente ele pode ajudar?”

“Jonas está rondando a escola há alguns meses. Consegue informações melhor do que ninguém. Jonas, precisamos da sua ajuda pra espionar a Felícia.”

Ele chiou como um gato zangado ao ouvir o nome dela. “Nem precisa pedir. Eu já estou de olho naquela lá. Erva-daninha da pior espécie.”

Os cachos negros de Gina sacudiram junto com sua cabeça, ao assentir repetidas vezes. “E até agora, você descobriu que…?”

“A Felícia trabalha, desde o início, pro diretor Monteiro.”

Gina arregalou os olhos e cambaleou para trás, como se aquele fosse o babado do século. E eu, pra variar, não entendendo nada.

Monteiro era só um diretor de outro grande colégio da região. Colégio Tríneo, se não me engano. E essa escola existe desde… sempre.

“Como assim ‘trabalha pro diretor Monteiro’? Ela é professora aqui!” Indaguei. Eles olharam pra mim, incrédulos.

“Camarada, você não sabe de nada.” Começou Jonas, como se fosse começar a narrar uma história de fogueira. “Desde que o Mestre Fagonça começou a fazer sucesso, diretor Monteiro vem morrido de inveja - e de medo de perder seu espaço. Já aprontou mil e umas pra cima da escola pra ver se nos prejudica, ou nos fecha.”

Mestre?” Perguntei. Ele realmente tinha chamado meu tio assim?

Gina continuou. “Os dois tem uma rixa desde então. Ela estar trabalhando para aquele porco velho? É uma desonra pra história dessa escola!”

“Ela está passando informações da vida pessoal do Mestre Fagonça praquele rato!” Exclamou Jonas. “Só assim pra conseguir superar o Mestre! Trapaceando!”

Coçei a testa. Tanta escola normal que eu poderia ir trabalhar…

E não era só isso que Jonas sabia: “Felícia e Diretor Monteiro também estão atrás da Stella. Ouvi que vão viajar até a Itália amanhã, aparentemente é onde ela vive.”

Se tivéssemos recorrido ao intercambista russo doido desde o início...

Me lembrei da cena na casa do meu tio: cantando uma música revolucionária italiana. Minhas suspeitas, desde o início, estavam certas.

“Vamos impedir.” Gina e eu falamos em unossíno. Já senti o arrepio na espinha só de pensar no valor da passagem, mas ignorei. “Vamos seguir esses infelizes e chegar até Stella antes.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Professores" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.