Professores escrita por Vatrushka


Capítulo 3
Socializando




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E assim se passou a primeira semana de aula.

Os alunos foram, para minha surpresa, realmente muito atenciosos comigo. Apesar de uma ou duas perguntas que recebi para diferenciar antropologia de história ou de sociologia, eu me senti acolhido.

Não vi ninguém dormindo nas minhas aulas.

Impressionante.

Também não vi panelinhas entre os jovens. Todos pareciam se respeitar e se tratavam bem.

Mais impressionante ainda.

Fui, aos poucos, conhecendo alguns outros professores. A maioria, à distância.

Para minha sorte, nenhum sinal de Felícia.

Embora eu confesse ter tido a sensação de alguém me seguindo enquanto eu ia ao banheiro...

E à garagem...

E ao meu armário...

E à cantina...

Mas sempre que eu olhava para trás, o vulto sumia.

Esquisito.

Enfim: foi numa sexta-feira que presenciei uma cena particularmente interessante na sala dos professores. É incrível como tudo sempre acontece lá...

Vi Evaristo sentado, conversando com uma professora de cabelo curto; baixinha e energética. E, diga-se de passagem, ela falava muito alto.

Quase relinchando. 

"Gente!" Ela veio, saltitando. Vi alguns professores fazerem careta e tamparem os ouvidos delicadamente. "Eu tenho uma teoria!"

Me sentei ao lado de Evaristo. Ele me apresentou a tal professora. "Esta é a Gina. Professora de matemática."

Franzi o cenho. "Mas não era você o professor de matemática?"

Pela milésima vez, ele me deu aquele olhar que significava "filho, desde quando alguma coisa faz sentido nessa escola?"

"Eu estava passando pela sala do diretor e achei isso!" Ela tacou uma apostila na mesa, energética. "Abra, abra!"

Quase se derretendo em tédio, Evaristo abriu a apostila. Eram diversos documentos particulares da escola.

"Professores não têm autorização para pegar..." Deixei escapar. A risadinha rouca de Evaristo me interrompeu.

"Olha isso! É o senhor Fagonça tirando umas fotos com os pedreiros, quando tava construindo a escola! A cara dele tá muito estranha!"

Revirei os olhos. Duvido que meu tio ficaria puto, de qualquer jeito, mesmo se descobrisse que alguém estava bisbilhotando documentos alheios em sua sala...

"Qual a sua teoria, Gina?" Incentivei, me controlando para não rir das fotos.

"Vocês nunca estranharam a escola ter esse nome?" Ela começou, feliz por saber que eu dava importância às suas ideias. "Stella Santoro?"

Trocamos olhares com outros professores. "Para falar a verdade, não."

"Nunca tinha parado pra pensar nisso antes."

"Mas faz sentido... Não tem nada a ver. Quem demônios é Stella Santoro?" Concluí.

"Você deveria saber." Uma voz feminina grave e ameaçadora pairou por trás de mim. "Não é o sobrinho do diretor?"

Fiquei com medo de olhar para trás.

Tive a mesma sensação de ter levado um tiro. Eu realmente tinha me empenhado pra que ninguém descobrisse.

Encarei o chão, evitando os olhares curiosos dos professores.

"Uau, filhão, disso você não tinha me avisado." Soltou Evaristo, compreensivo. Para minha surpresa, não ouvi muitos mais cochichos.

Apenas o guicho de Gina.

"Perfeito! Já ia propor a vocês de ir espionar a casa do diretor esse final de semana, invadir para descobrir mais... Agora vai ficar tudo mais fácil!" Sua mão se fechou sobre o meu pulso como uma garra. "Você vai comigo."

Meio que eu fiquei com medo de dizer não...

Ela abriu uma página da apostila, na qual tinha uma foto colada. Todos nós nos inclinamos mais para vê-la.

Nela, uma moça nova e bonita sorria. Ela estava envolta em um casaco de couro, e seu cabelo negro estava úmido - como se tivesse acabado de sair de um lago.

Em cima da fotografia, estava escrito: Stella.

"Esse casaco é do diretor."

"Ah, que romântico! Ele deu o nome da escola em homenagem a alguém!"

Vi outros professores se animando, aos poucos, para espionar meu tio também.

Ótimo.

Foi quando me dei a luxo de reparar que a pessoa que descobrira o meu segredo de parentesco com o diretor, há poucos segundos atrás, ainda estava atrás de mim.

Podia sentir seu olhar gélido cravar em minhas costas.

Em um ato raro de coragem, me levantei e me virei para vê-la.

Uma mulher magra e loira me encarava com um sorriso venenoso. Seus olhos verdes não piscavam, parecendo escanear minha alma.

"Faço questão de ir também." Ela disse em um tom alto, fazendo questão de que todos ouvissem. Mas tive a impressão que ela mais falava para mim do que para qualquer um outro. "Leopoldo, não? Sou Felícia.

Estava louca para te conhecer."


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Notas finais do capítulo

Essa é a hora de corrermos para as colinas kkkkkk



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