Recém Casados escrita por Bianca Maia


Capítulo 22
Capítulo 21 - ESPERANDO PELO FIM


Notas iniciais do capítulo

Leiam a nota no fim, por favor. Isso é, se ainda houver algum leitor dessa fanfic...

Boa leitura.



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Capítulo 21 – ESPERANDO PELO FIM

No capítulo anterior:

– Bella... Odete alguma vez mencionou que estava doente? - Falou com a voz fraca e isso me preocupou.

– Não, por quê? Aconteceu alguma coisa com ela? - Meu coração estava apertado, sentia que estava acontecendo alguma coisa muito grave.

Edward parecia escolher bem as palavras. Ele estava tenso e isto era notável. Engoliu seco e me olhou nos olhos.

Odete tem câncer, Bella. E ela está no hospital, em coma. - Lágrimas se acumulavam nos cantos de seus olhos.

Ele não precisou dizer mais nada. Meu mundo estava desabando naquele momento.

Continua.

Bella PDV

Quantas vezes você lutou, ou pelo menos tentou, lutar contra o tempo? Lutar contra fatos que não poderiam ser mudados jamais, tentou sobreviver quando o mais fácil era morrer.

Eu não estava me sentindo mais tão viva quanto antes, eu não sentia o chão sob meus pés e não sentia mais meu coração bater como antes batia. Tudo estava diferente e mais uma vez, eu estava perdendo. Dessa vez não estava perdendo um pé do sapato, ou uma aposta, eu estava perdendo uma das pessoas mais importantes da minha vida.

O corredor branco do hospital parecia ainda mais assustador do que o habitual. Estava trêmula, os olhos inchados por causa do choro constante, a boca seca e sem cor. Edward afagava meu braço esquerdo e Alice se aproximava com um copo de água nas mãos.

– Vamos Bella, precisa beber esse remédio. Vai te deixar mais tranquila. - Estendeu a mão com um comprimido branco. Hesitei em aceitar, mas a fraqueza me venceu. Coloquei-o na boca e bebi a água por cima, fazendo uma leve careta quando senti o comprimido descer raspando por minha garganta.

– Ela vai ficar bem, você tem que ter fé! - Rosalie sussurrou, carinhosa, apertando minha mão e sorrindo em seguida.

Todos estavam ali. Edward, Alice, Jasper, Rosalie, Emmett, Miro, Reneé, Charlie, Carlisle e Esme. Todos estavam ali, mas eu me sentia completamente sozinha. Até que um homem vestindo um jaleco branco se aproximou com uma prancheta na mão.

– Isabella Swan, Odete quer vê-la. - Quando ouvi meu nome, rapidamente me levantei da cadeira de plástico azul, agarrando a mão de Edward, tentando puxá-lo para junto de mim.

– Não meu amor, você precisa falar com ela a sós. - Ele disse, segurando meu rosto entre suas mãos. Depois, selou nossos lábios rapidamente. O semblante triste não deixou meu rosto, só me fez parecer ainda mais abatida.

Assenti, desviando o olhar para o chão, soltando lentamente Edward. Ele deu dois passos para trás, enquanto eu girava o corpo, caminhando até onde o médico me esperava. Levou-me em silêncio até o quarto onde Odete estava internada.

– Você só tem alguns minutos.

– Uhum... - Suspirei pesadamente, encolhendo os ombros. Virei o rosto para trás, encontrando os olhos negros e tristes de Odete. Ela sorriu levemente, mas eu sabia que era só para me deixar menos preocupada.

Sorri em resposta, caminhando até perto da cama. Odete estava tão magra e pálida. Os pequenos tubos enfiados em suas narinas e a agulha do soro conectada a seu braço a deixava ainda mais sem vida.

– Pensei que você não viria... - Sussurrou com o canto dos olhos molhados.

– Ah, é claro que eu viria! Eu sempre virei. – Segurei sua mão com firmeza, beijando-a várias vezes. Sem notar, lágrimas escorriam por meu rosto. Odete levou a mão livre até as maçãs de meu rosto, limpando-as carinhosamente. - Por favor, você não pode me deixar.

Era uma súplica.

– Bella, pessoas morrem todos os dias. Vai conseguir viver sem mim.

– Não! - Os soluços ficaram altos e eu me agarrei a ela. - Preciso de você.

Ela segurou meu rosto com as mãos, e suspirou. Dizia todas as palavras que uma mãe diria a filha com apenas um olhar.

– Edward precisa de você, tem que ser forte. E... Você devia perdoar seus pais. Eles a amam. Você precisa esquecer o passado e construir seu futuro. Jogue fora suas bases e construa novas, ou sua construção vai desabar a qualquer momento. - Senti uma bola presa em minha garganta, impedindo a passagem do ar.

Odete não era humana. Era um anjo. Não podia morrer. Abaixei a cabeça, deixando que as lágrimas caíssem, sem pudor, sem vergonha. Soluçava e meus ombros chacoalhavam-se devido a isso. A história não estava sendo escrita da maneira correta, como eu pensei que estava. As linhas estavam tão tortas que as palavras estavam se cruzando, tornando tudo uma verdadeira bagunça, um caos. As coisas que antes estavam nos lugares exatos, agora estavam sumindo. E mais uma vez, eu estava perdida e com medo, não conseguia enxergar a solução, ou apenas o caminho menos complicado. As certezas estavam morrendo e eu não sabia o que fazer.

(...)

Dormi segurando a mão de Odete. Sentada na poltrona azul, meu braço se esticava até a cama, segurando ternamente a mão fina e delicada. Abri os olhos, suspirando pesadamente notando que havia dormido sem nem ao menos mover-me. Odete também dormia e o barulho da máquina que media seus batimentos cardíacos era a única coisa que me confortava.

A porta do quarto se abriu e uma senhora vestida de preto entrou. O rosto era coberto por um véu escuro e seus passos não faziam barulho no chão. Semicerrei os olhos, fitando a velha senhora. Eu já a via visto antes. Foi então, que me lembrei.

Quando minha avó estava prestes a morrer no hospital, aquela mesma senhora entrou. Mas, as lembranças falhavam-me e eu não conseguia me lembrar de mais nada. Mas, eu sabia quem era a velha senhora de preto.

– Saia daqui! - Soltei a mão de Odete, ficando de pé. - Vá embora! Não vou deixar que leve mais ninguém! - Meus olhos encheram-se de lágrimas, embaçando minha visão.

A senhora se aproximou de Odete e tocou seu peito. Naquele mesmo instante, seus batimentos ficaram irregulares e eu gritei. A senhora de preto desapareceu misteriosamente, deixando-me sozinha no quarto. Um frio intenso havia tomado conta do local, arrepiando os pelos do meu corpo. Aproximei-me rapidamente da cama e abracei Odete, como se esse ato fosse impedir que ela morresse.

– Odete! Não! - Segurei seu rosto entre as mãos, tentando acordá-la. - por favor, não me deixe!

Vários enfermeiros entraram no quarto tentando reanimá-la, mas de nada adiantava. Foram necessários dois enfermeiros homens para me tirar dali. Eu não queria e nem podia deixá-la.

– Me soltem! - Implorei, enquanto era retirada as forças do quarto. Deixaram-me na sala de espera junto com os outros. Edward correu em minha direção, abraçando-me com força. Logo Alice veio. - Ela se foi... - Sussurrei, encostando a cabeça no peito de Edward, chorando silenciosamente.

As mãos de Edward afagavam carinhosamente meus cabelos e as de Alice, minhas costas encolhidas.

– Se acalme. Shh... Estamos aqui. - Rosalie sussurrava perto de meu ouvido, tentando secar meu rosto.

Vi quando a velha senhora de preto saiu do quarto. Ela me olhou no fundo dos olhos e seguiu pelo corredor silenciosamente. Mas era assim mesmo que a Morte era. Silenciosa, velha, triste, sorrateira. Desviei o olhar do corredor, afundando o rosto no peito de Edward.

(...)

London Grammar – Strong

Três dias haviam se passado. Eu estive no velório, no enterro e depois na leitura do testamento de Odete. Incrivelmente, ela me deixou o pet shop e uma quantia de dez mil dólares. Para suas duas irmãs, um apartamento e outra quantia em dinheiro. Odete nunca foi uma mulher rica, mas sabia valorizar seus bens. Sabia que conseguiria tocar o pet shot sozinha, mas seria difícil encarar tudo e não me lembrar.

Estava sentada na soleira da porta da casa dos meus pais olhando para a rua. Pepper estava deitado em meu colo, quieto e triste, assim como eu fiquei nos últimos dias. Edward estava no nosso apartamento com Jasper e Alice. Rosalie estava na sala conversando com Charlie e Renée.

Segurei Pepper nos braços e levantei-me, entrando em casa.

– Bella preciso ir. Vou almoçar com meus avós hoje. - Rose beijou minha bochecha e fez um ligeiro cafuné na cabeça de Pepper. - Ligo mais tarde. Fique bem. - Ela sorriu e saiu em seguida. Fitei o rosto de Charlie. A expressão fechada numa linha reta de preocupação e tristeza.

– Bella, não quer comer alguma coisa? - Mamãe me perguntou, também com um olhar preocupado.

Acenei que não com a cabeça e sentei-me no sofá, deixando Pepper em meu colo.

– Pai, me leva pra casa? - Sussurrei.

– Você está em casa.

– Praminha casa.

Ele assentiu, se levantando.

(...)

Edward PDV

Mesmo se eu quisesse, não podia negar que estava preocupado com Bella. Não estava se alimentando muito bem, quase não falava e chorava durante a noite. Aquilo também me afetava. Vê-la daquela forma era torturante, e não poder fazer nada era pior ainda.

Estava sentado no sofá quando Bella entrou no apartamento. Colocou Pepper no chão e sentou-se ao meu lado.

– Fome? - Perguntei, passando o braço por detrás de seus ombros.

– Estou bem.

– Você mente mal, Isabella Swan.

Ela sorriu de leve, encostando-se em meu peito, encolhendo-se como uma criança. Virei o rosto, beijando sua testa demoradamente. Suspirei, encostando minha cabeça sobre a dela.

A campainha tocou e eu mesmo levantei para atender.

– Oi Edward. - Mia falou baixo. Tinha um papel nas mãos.

– Oi.

– Preciso falar com você.

– Diga. - Fui ríspido, o olhar distante.

– Eu estou grávida.

Apertei os dentes uns contra os outros e bati a porta. Mas Mia tocou a campainha novamente. Sentei-me no sofá ao lado de Bella e cobri o rosto com as mãos, nervoso.

– Quem era?

– Ninguém. - Virei o rosto.

A porta do apartamento se abriu e Amélia entrou. Fitou Bella rapidamente e depois veio até mim.

– Você vai ter que me ouvir! - Socou meu braço, jogando o papel sobre mim.

– Cansei de suas mentiras! - Falei nervosamente, saindo de perto de Mia.

– O filho é seu!

Meu olhar automaticamente correu na direção de Bella, que continuou sentada no sofá, calada. Fazia-me mil perguntas silenciosamente e eu sabia quais eram as perguntas.

– Hã, Bella... Eu jamais...

Amélia se aproximou de Bella e lhe entregou o exame de sangue que comprovava a gravidez.

– É impossível! - Gritei.

– É possível sim Edward. - Bella falou baixo, ela parecia estar se esforçando para controlar a voz e não berrar. - Eu me lembro de que há dois meses mais ou menos, você saía sem me dizer. Eu sabia que ia se encontrar com ela. - Levantou-se do sofá e entrou no quarto.

Amélia me olhou séria.

– Queria que isso acontecesse não é? Queria ver meu relacionamento com Bella destruído. - Sentei-me no sofá, cobrindo o rosto com as mãos.

– Engraçado... Acho que estou conseguindo isso. - Riu irônica. - Edward, acorda! Bella é uma criança. Você teria tido muito mais chances de ser feliz se tivesse escolhido a mim, ao invés dela.

Assim que terminou de falar, saiu do apartamento e bateu a porta.

Fiquei algum tempo sentado no sofá, fitando o chão, mal piscava. Aquilo não estava acontecendo de verdade. Não podia estar. O exame podia ser falso, Amélia podia estar mentindo, mas, poderia ser verdade também. Passei as mãos pelo cabelo, bagunçando-os e levantei-me indo até o quarto. A porta estava aberta e Bella colocava suas roupas em uma mala pequena.

– O que está fazendo? - Perguntei.

– Estou indo embora.

Bella se aproximou, retirou a aliança do dedo e entregou-me sem nem ao menos olhar-me nos olhos.

– O teste pode ser falso. Sabe como Amélia é... - Disse, segurando a mão de Bella.

– Você sabe que também pode não ser falso. Enquanto eu não souber se é verdade ou mentira, prefiro ficar longe de você. De vocês. - Bella puxou delicadamente sua mão, fitando-me por breves segundos. Por mais que eu a conhecesse, não conseguia decifrar seu olhar vago. Não conseguia desvendar os sentimentos que antes eram tão transparentes entre nós dois.

Bella se afastou, voltando a colocar suas roupas dentro da mala.

– Vai realmente jogar tudo fora? - Sussurrei, fitando a aliança na palma de minha mão.

– Eu dei uma chance Edward! Eu me dei mais uma chance de amar. Eu te amo. Mas, talvez não devesse ter acontecido. Foi um erro... - Bella deslizou a ponta dos dedos pelos olhos cheios de lágrimas e fechou a mala.

– Não! Não foi um erro. - Dei dois passos em sua direção e ela estendeu a mão num sinal para que eu parasse onde estava. Aquele simples gesto doeu muito mais do que se ela tivesse dito palavras ofensivas.

Bella segurou a alça da mala e a ergueu da cama.

– Por favor, não me procure. - Sussurrou, parando na minha frente.

– E se eu procurar?

– Não vai me achar. Eu não quero ter que repetir o que eu disse aqui. Preciso de um tempo só para mim... - Bella desviou seu olhar para o lado, passando por mim, saindo do quarto.

Fechei os olhos com força, encostando a testa na parede. Por que aquilo estava acontecendo? Como as coisas haviam chegado naquele ponto? Soquei a parede com força, fazendo um retrato emoldurado despencar da parede, quebrando o vidro que o protegia. Era uma foto de Bella com Pepper. Ajoelhei-me diante dos estilhaços de vidro e peguei a foto com cuidado, deslizando os dedos sobre o sorriso estampado no rosto da menina que havia se transformado em mulher.

– Me perdoa por ter feito as coisas erradas desde o começo. - Sussurrei para a foto, como se Bella fosse ouvir. - Me perdoa por não ter te amado desde o começo.

Dobrei a foto com cuidado, enfiando-a no bolso do jeans. Sentei-me no chão ao lado dos cacos do retrato e encostei as costas na parede gelada. O que eu mais queria, era que Bella voltasse e rindo, dissesse que aquilo não passara de uma brincadeira de mau gosto.

Só que eu sabia que aquilo não ia acontecer. Talvez o melhor fosse deixar Bella em paz, de uma forma ou de outra, eu sabia que ela viveria muito melhor sem mim.

Bella PDV

Damien Rice - Cannonball

Quando entrei no táxi, meu corpo parecia pesar mais do que uma tonelada. Afundei o corpo no banco de couro, fitando minhas mãos trêmulas e geladas pousadas em meus joelhos. Instintivamente, minha respiração entrava e saía pela boca de forma que fizeram meus lábios ficarem secos e sem cor. Só que eu não ligava.

Virei o rosto para o vidro do carro, observando o agito do centro de Los Angeles se tornar um tumulto dentro da minha cabeça. Imagens e vozes dominaram meus pensamentos e eu desejei morrer ao ver que o rosto de Edward era o mais frequente de todos que vinham à minha mente. Minha pele ardeu nos locais onde ele havia tocado mais cedo, mas não era nojo ou algo do tipo. Era a saudade, vindo me assombrar. Fechei os olhos lentamente, deixando que as lágrimas escorressem por minhas bochechas, pingando do meu queixo, caindo sobre o tecido de minha blusa.

– A senhorita está bem? - O senhor que dirigia o táxi perguntou de maneira cuidadosa, olhando-me pelo espelho do retrovisor.

– Sim, estou. - Minha voz soou tão baixa que cogitei a ideia de que ele pudesse não ter ouvido.

Assim que o táxi parou, entreguei uma nota de cinquenta dólares ao motorista e sai rapidamente, sem me preocupar com o troco. Em passos largos e rápidos eu atravessei o jardim bem cuidado de mamãe e subi as escadas da varanda, abrindo a porta. Após entrar, fechei-a atrás de mim e encostei as costas na mesma, deslizando o corpo até cair sentada no chão. Finalmente o choro que estava entalado em minha garganta conseguiu escapar. Cobri o rosto com as mãos, soluçando alto, encolhendo o corpo.

– Bella! O que houve? - Renée se aproximou preocupada, ajoelhando-se ao meu lado. Segurou meu rosto entre as mãos e me olhou nos olhos.

– Mãe... - Sussurrei, abraçando-a com força, fechando os olhos.

(...)

Sai do banheiro com os olhos inchados e sentei em minha cama, correndo os olhos pelo quarto. Meu antigo quarto. Um sorriso triste estampou meu rosto quando vi meu violão no canto do quarto, ao lado de meus gibis da Marvel. Suspirei, cruzando os braços sobre o roupão macio. Ouvi a porta se abrir e ser fechada em seguida. Mamãe sentou-se atrás de mim e carinhosamente, começou a escovar meus cabelos molhados.

– Uma das melhores coisas após um banho, é ter os cabelos escovados com carinho. - Renée sussurrou, beijando minha cabeça.

Fechei os olhos, respirando fundo.

– Eu não sei por onde começar filha, eu tenho tanta coisa para falar.

– Que tal começar me pedindo desculpas. - Também usei um tom baixo, engolindo com dificuldade a saliva que se formou em minha boca.

O suspiro pesado de Renée preencheu o quarto.

– Desculpas não seria o suficiente Bella. Eu sou uma péssima mãe. Tenho que lhe pedir perdão por ter retirado toda a sua infância, por ter destruído nossa família, por ter me afastado e não ter estado presente quando você precisou de mim. - Abaixei um pouco a cabeça, sentindo a dor em cada palavra que minha mãe pronunciava. Eu podia ouvir bem baixinho, o som do choro dela.

Mordi o lábio inferior com força, reprimindo o meu choro que estava por vir. Mamãe continuou escovando meus cabelos lenta e carinhosamente, tentando disfarçar sua tristeza com uma canção de ninar que ela costumava cantar para mim quando eu tinha cinco anos.

– Eu não aceitei o seu noivado com Edward desde o começo porque tinha... Ou melhor, eu ainda tenho... Tenho medo de perder minha filha. Minha única filha. - Renée parou as mãos em meus ombros, afagando-os. - Eu sinto tanto Bella... - Ela não terminou a frase, seu choro se tornou alto e por mais que eu tentasse esconder minhas lágrimas e os soluços, eles vinham mais fortes. Encolhi os ombros ao sentir mamãe me abraçar protetoramente e só então voltei a chorar como havia chorado na porta.

– Mãe, você jamais vai me perder. Eu te perdoo. Por tudo. - Sussurrei, beijando as mãos dela, levando-as até minhas bochechas em seguida. - Eu te amo. - Me virei de frente para ela, ficando de joelhos sobre o colchão. Sequei suas lágrimas com as pontas dos dedos e a abracei forte, encostando o queixo em seu ombro.

– Eu também te amo. - Renée sussurrou. - E não se preocupe, as coisas vão se acertar e vocês vão ficar juntos.

– Já não tenho mais tanta certeza disso. - Respirei fundo, soltando o ar pela boca.

Parte de mim se sentia bem mais leve, menos preocupada. Eu havia perdoado minha mãe pelos seus erros do passado e agora ela me consolava. Meu coração estava machucado tanto quanto um pássaro com as asas quebradas. Eu não sabia por quanto tempo poderia aguentar sem Edward, eu já havia me tornado dependente dele. Eu odiava ser dependente de algo. Mas, agora eu tinha Renée comigo. Eu tinha minha mãe de volta, e ela iria me ajudar no que fosse preciso, eu tinha certeza.

Afastei do abraço e olhei nos olhos verdes de mamãe, sorrindo tristemente em seguida.

– Você realmente o ama. - Ela não estava perguntando. Era uma afirmação.

– Infelizmente.

– Me arrependo amargamente do dia em que eu e seu pai resolvemos “casar” vocês dois... Foi um ato inconsequente. Não fazíamos ideia de que ia terminar assim. - Mamãe colocou meus cabelos atrás das orelhas e ajeitou a gola do roupão.

– Não! - Segurei suas mãos. - Vocês me ajudaram, vocês me fizeram amadurecer. Eu aprendi tantas coisas... Eu conheci a Rosalie, o Jasper, o idiota do Emmett, a Odete. Nem tudo vai ser jogado fora. Alice e Jasper estão namorando, eles se amam, e se conheceram graças ao meu casamento com Edward.

– Bella, você está enganada. Nós não fizemos nada. Apenas amarramos você a um viciado. Você mudou. Você amadureceu. Vocês dois se ajudaram nesses meses. Vocês dois cresceram juntos. E quer saber de uma coisa? Você não devia desistir dele assim. - Mamãe sorriu ternamente e beijou minha testa, se levantando da cama em seguida. - Vou fazer umas torradas, você não anda se alimentando muito bem.

Ri baixinho, observando-a sair do quarto. Quando a porta se fechou, desmanchei meu sorriso e respirei fundo para não voltar a chorar. O barulho do celular vibrando sobre o criando mudo me fez levantar rapidamente. Apanhei o aparelho e me surpreendi ao ler “Jacob Black” no visor.

– Oi Jacob.

– Hã, oi Bells. - Ele parecia sem jeito. - Como você ta? Eu fiquei sabendo sobre o Cullen.

– Ah, sim. É, acho que estou bem. - Sentei-me na cama novamente.

– Já disseram que você mente muito mal? - Ele riu, mas parou rapidamente. - Eu posso ir ai pra gente conversar? - Jacob parecia preocupado com alguma coisa.

Hesitei antes de responder.

– Claro... Claro que pode.

– Hum, eu vou amanhã de manhã. O coroa acabou de chegar e quer que eu o ajude a separar umas peças. Mas, fique bem Bells. - Pude ouvir a voz de Billy ao fundo, rindo e mexendo com algo metálico.

– Você também.

– Até.

Encerrei a chamada e joguei o celular sobre a cama. Passei as mãos nos cabelos úmidos e bufei, encostando as costas no travesseiro. Pensei que teria um momento sozinha, mas a porta se abriu um pouquinho e pude ver os olhos de Alice me observarem.

– Pode entrar Alice. - Ri baixo e ela entrou, logo atrás Rosalie, Jasper e Emmett. Assustei-me ao ver todos eles no meu quarto. - Nossa. O que é isso? Uma assembleia?

– Estávamos preocupados com você. - Alice sentou-se na beirada da cama, observando-me com as sobrancelhas vincadas de apreensão.

Suspirei e examinei o rosto de cada um. Todos eles estavam preocupados.

– Perderam tempo, eu estou bem.

– Se a gente trouxer a cabeça da vaca da Amélia, você fica feliz? - Emmett cruzou os braços, mas não riu do que disse. Aliás, ninguém riu. Talvez ele estivesse falando sério, o que me assustou um pouco.

Arqueei ambas as sobrancelhas, surpresa, mas ri acidamente em seguida.

– Isso não muda o que Edward fez. - Mordi o lábio, desviando o olhar para o colchão.

– Bella, Edward transou com a Amélia muito antes de se apaixonar por você. Ele ainda não tinha se dado conta de quão maravilhosa você é. - Jasper disse calmamente, sentando-se ao lado de Alice.

– Ah, obrigada Jasper, isso me ajudou muito.

– Ironia não resolve Bella. - Rosalie suspirou pesadamente, me olhando séria.

– Mas pelo menos eu não choro na frente de vocês. - Dei de ombros, levantando-me da cama. Caminhei até cômoda e peguei as roupas que eu vestiria mais tarde.

– Ah não! Você não vai vestir isso! - Alice se levantou rapidamente e tomou as peças das minhas mãos. - Você pode estar triste, mas não vai andar parecendo uma maloqueira não! - A nanica enfiou as roupas dentro de uma da gaveta e a fechou com força. - Vou escolher alguma coisa para você vestir e nós vamos sair para comer alguma coisa, ok?

Cruzei os braços, batendo o pé no chão, sem acreditar na audácia de Alice.

– Quié? - Ela me olhou dos pés a cabeça e deu de ombros.

(...)

Nós cinco acabamos indo num café perto de minha casa, mas eu não comi nada, o que deixou Alice uma fera. Ela ficou horas falando que eu ia ficar magra demais, fraca demais, feia demais, tudo demais. Só que minha atenção estava dividida em apenas duas pessoas: Edward e Odete.

Continuei na casa dos meus pais e por incrível que pareça, estávamos nos dando bem. Jacob apareceu como havia combinado e consertamos minha velha picape juntos. Charlie insistiu para que Jacob ficasse para o jantar, mas como sempre muito esperto Jake escapou da comida esquisita de meu pai.

Em uma tarde de terça-feira, quando cheguei em casa após uma longa tarde no supermercado com minha mãe, encontrei ninguém menos do que... Paul, sentado na sala como se já estivesse prestes a ir embora.

– Ah! Oi Paul... – Uni as sobrancelhas, sem saber se sua visita era boa ou ruim.

– Oi Bella, olá Renée.

Mamãe acenou e sorriu, indo diretamente para a cozinha com as sacolas de compras. Me aproximei de Paul, sentando-me ao seu lado no sofá, mantendo uma distância segura.

– Jacob me contou o que aconteceu entre você e o Edward, eu vim saber se você está bem.

– Jacob te contou isso? – Por mais que eu fosse amiga de Paul e Jacob já tivesse me magoado muito no passado, não conseguia acreditar que ele teria a capacidade de espalhar uma coisa minha como aquela. – Mas, sim, eu estou bem. Quer dizer, estou melhorando aos poucos.

Não contei a verdade. Eu estava muito mal e a cada dia sentia ainda mais saudade de viver com Edward. Só que Paul não precisava saber disso, precisava?

Ele assentiu devagar, me analisando com cuidado, então suspirou e levantou-se, caminhou até o pequeno bar no canto da sala, apanhou dois copos e serviu alguma das bebidas de meu pai em ambos.

– O que está fazendo? – Ri sem humor, fitando suas costas.

– Um drink. Acho que você precisa beber um pouco para relaxar.

Paul voltou-se para mim e entregou um dos copos. Pelo cheiro distingui como whisky, mas ele não havia colocado gelo, o que tornava a bebida ainda mais forte. Não tinha certeza se devia beber, por isso hesitei, deslizando o indicador pela borda do copo.

– Sabe, eu acho que você fez bem. Edward não era um bom partido. – Ele deu um grande gole em sua bebida, fazendo careta e sorrindo para mim.

Estreitei os olhos. A conversa havia tomado um rumo muito estranho. Nunca havíamos conversado sobre Edward e então, eu estava longe dele e Paul simplesmente sentiu vontade de ‘fofocar’? Aquilo não me pareceu digno.

– Hum... E está dizendo isso só agora por que exatamente? – Ainda desconfiada, entornei o whisky todo na boca e fechei os olhos com força, sentindo a nuca se arrepiar um pouco.

– Eu tentei dizer antes, Bella, mas você estava cega de amor.

De repente, Paul pareceu meio borrado, meio turvo e minha cabeça girou. Levantei-me, assustada com o que estava sentindo e o copo caiu de minhas mãos, partindo-se ao atingir o assoalho.

– O que... o que está acontecendo? – Murmurei, tonta e nauseada.

Paul me ofereceu apoio quando notou que eu estava prestes a cair, mas talvez isso não tenha sido muito bom. Tentei firmar as pernas, mas estas pareciam sem nenhuma força para suportar meu peso.

– Vou leva-la para o quarto, está bem? – Ele passou uma mão por minhas costas e com o outro braço ergueu minhas pernas, içando-me do chão com extrema facilidade. – Eu prometo que tudo ficará perfeitamente bem.

Aquelas foram as últimas palavras que consigo me lembrar de ter ouvido.

Edward PDV

Simply Red - If You Don't Know Me By Now

Os últimos dias foram os piores de toda a minha vida. Não conseguia comer, não conseguia dormir, não conseguia pensar. O apartamento sem Bella era grande demais, quieto demais e solitário demais. Eu me pegava encolhido pelos cantos, sentindo o cheiro dela e quase podia ouvir sua voz, gritando e falando diversos palavrões.

Havia encontrado uma camiseta de Bella dentro da máquina de lavar e desde então passei a dormir com a peça debaixo do travesseiro. Mesmo que meu sono não fosse tranquilo, saber que um objeto de Bella estava próximo de mim, de certa forma, fazia eu me sentir próximo dela.

Fiz como ela me pedira, não liguei, não procurei, mas era inevitável não perguntar aos outros como ela estava. Emmett não estava falando comigo, Rosalie estava chateada e tornou-se uma mulher de pouquíssimas palavras, Jasper, às vezes, dizia que Bella estava bem, às vezes, dizia que ela ia de mal a pior, não sabia no que acreditar. Já Alice era o caso mais complicado. Ela simplesmente me ignorava como se eu fosse um nada.

Sabia que merecia. Eu havia sido um completo idiota no começo do casamento, ou melhor, no começo do castigo. Confesso que dormi diversas vezes com Amélia no primeiro mês, mas paramos de nos encontrar quando eu já não sentia mais vontade de estar longe de Isabella. Sair com Mia, mesmo que fosse só para beber e conversar tornou-se maçante. As coisas só tinham sentido com Bella.

Se eu pudesse voltar no passado e mudar o rumo das coisas, jamais teria ido procurar emprego no restaurante do pai de Amélia, assim eu não teria reencontrado-a, não teria sentindo aquela atração antiga e jamais, nunca, teria traído Bella e a confiança de nossos pais. De todos os meu erros, aquele era o que mais me fazia sofrer com as consequências.

Após muito esperar respeito o tempo que Bella pedira, resolvi que hora de fazer alguma coisa. Mia não havia me procurado de novo, mas às vezes ligava e perguntava como eu estava. Agia friamente com ela, não merecia nenhum pingo de minha educação. Acreditava piamente que o exame de sangue que comprovava a gravidez de Amélia era totalmente falso, mas ainda não havia como provar.

Sai do nosso apartamento pouco antes do escurecer e tomei um táxi, dando o endereço da casa de Charlie e Renée. Jasper havia deixado escapar que Bella voltara para lá. Só esperava encontra-la para podermos conversar com calma, sem brigas, colocar as coisas no lugar. Não queria mais ficar um dia longe dela.

Quando o táxi parou em frente a casa dos Swan, paguei a corrida e desci. Caminhei devagar até a varanda e toquei a campainha, mas ninguém atendeu. A julgar pelo silêncio, não havia ninguém em casa. Girei a maçaneta da porta e por incrível que pareça, estava destrancada.

– Olá? Alguém em casa? – Falei ao colocar a cabeça para dentro. Não havia ninguém, mas havia uma luz vinda do corredor do andar de cima, a julgar pela localização do cômodo, era o quarto onde Bella dormia.

Entrei em silêncio e fechei a porta. Subi as escadas devagar, temendo que Bella estivesse dormindo. Não queria acordá-la e deixa-la de mal humor. Ao chegar a porta de onde uma luz fraca escapava pelas frestas, empurrei-a lentamente com a mão.

– Bella? – Entrei e vaguei o olhar pelo quarto, que parou na cama, arrancando-me o ar dos pulmões.

O que eu vi não havia descrição.

Bella estava nua, enrolada nos lençóis, deitada de bruços enquanto Paul, o dito melhor amigo, acariciava e beijava suas costas. A cena embrulhou meu estômago e meu coração parecia perfurado. Senti muito nojo de Bella. E então, ela semi abriu os olhos, sorrindo maliciosamente, me encarando.

– Edward... – Sua voz saiu arrastada, sonolenta. – Que bom que você veio. Deita aqui com a gente... está tão gostoso.

Ela esticou a mão na minha direção, tentando me alcançar, mas não ia conseguir.

Não pude dizer nada, minha voz havia sumido. Assim como todas as esperanças de reatar meu relacionamento com Isabella. Nossos dias bons no Texas, nossas noites de amor, tudo agora não passava de uma realidade paralela que nunca existiu realmente.

Dei as costas, pronto para sair do quarto, da casa e da vida de Bella para sempre, quando ouvi Paul dizer:

– Ei, Edward. Ela sempre foi minha.

Bati a porta do quarto e desci a escada rapidamente, ao chegar no jardim, minha respiração tornou-se algo barulhento. Exatamente como um cão arfando. Fechei os olhos por alguns segundos e as lágrimas escorreram por meu rosto. Bella caiu nos braços do primeiro que encontrou, mostrando o quanto valia. Nada.

Naquele instante tomei todas as decisões que ainda restava tomar. Eu já sabia o que fazer. Seguir sem ela era a escolha.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, eu preciso pedir perdão a todos vocês. Do fundo do meu coração. Não fazem ideia de quanta coisa mudou na minha vida desde que parei de escrever Recém Casados. Muita coisa ruim aconteceu (não pretendo falar disso aqui, é um assunto muito pessoal), mas posso afirmar que não só coisas boas. Eu havia desistido de continuar com Recém Casados porque senti que não estava mais sendo um hobbie, tornou-se uma obrigação e eu nunca quis escrever por obrigação. Eu devo ter escrito uns dois capítulos antes de parar totalmente e excluí-los, estavam horríveis, com humor forçado e nada legais. Eu preferi dar um tempo. Não queria decepcionar ainda mais os leitores postando algo que não estava agradando nem a mim mesma...

Novamente, peço perdão a todos vocês que acompanhavam a fanfic e que sentiram falta das minhas postagens, mas como o Guns N' Roses diz na música November Rain, "todos precisam de um tempo", e eu precisava do meu. Precisava de tempo para ter novas ideias, para SENTIR as palavras e conseguir colocá-las em ordem e transformá-las em um capítulo. Minha vida está se ajeitando agora, mas em breve tudo mudará novamente. Para quem ainda não sabe, eu completei 18 anos no começo desse mês, passei em uma universidade federal e irei cursar letras. Mudarei de cidade e vou morar em república. Um passo e tanto, não? Mas, eu não vou abandonar vocês, NUNCA MAIS VOU ABANDONAR MEUS LEITORES, meus amados leitores. Quando eu estava triste, acreditem ou não, eu lia os reviews da fanfic e me sentia muito melhor. Agora, mesmo que vocês não voltem a ler e a comentar, eu vou continuar postando e irei finalizar essa fanfic, eu fiz uma promessa para mim mesma que irei terminar esse trabalho nem que seja a última coisa que eu faça.

E se quiserem agradecer a alguém pela fanfic ter voltado, agradeçam ao meu namorado, Vitor, que tem sido minha força e minha base nos últimos meses.

Se ainda tiver alguém ai, obrigada por não ter simplesmente fechado a aba com a fanfic. Obrigada, mesmo que você não deixe nenhum comentário. Simplesmente obrigada, vocês também são minha força. Meio que invisível, mas são.

Um grande beijo, Bianca Maia.