A Garota da Lua escrita por calivillas
Salvatore e eu saímos do escritório em direção a varanda, onde se encontravam os outros.
— Cila, leve Diana e mostre-lhe onde é seu quarto! – Salvatore ordenou.
—Não, eu estou hospedada na casa de Lilith, todos os meus pertences estão lá – protestei, pois não queria ficar confinada àquela casa.
— Não se preocupe, seus pertences já estão aqui. Mandei buscá-los e tudo que precisar será providenciado – Salvatore declarou, sem aceitar objeção.
— Posso ver Gabriel? – pedi, humildemente.
Salvatore me olhou desconfiado, mas cedeu.
— Depois de levá-la ao quarto dela, leve Diana para visitar Gabriel, Cila. – e continuou. – Suponho que você também ficará aqui, Jane?
— Estou esperando por isso, poder ficar ao lado dos meus filhos depois de tanto tempo – Jane falou, alegre, apertando o braço de Hélio ao seu lado. Os olhos de Cila se incendiaram, ela parecia odiar minha mãe, afinal ela era a ex-amante do seu marido.
— Eu a levarei até seu quarto, mãe – Hélio se ofereceu para evitar atritos.
Cila pediu para eu segui-la, estava com uma cara emburrada.
— Não se preocupe, eles estão separados a muitos anos. – Tentei ser simpatia, para ganhar sua confiança.
— Eu não sei o que ela está fazendo aqui, depois de ter desaparecido todos esses séculos, tinha que surgir do nada. – Ela parecia estar com ciúmes.
— Então eles não se viam a séculos, está tudo acabado entre eles. – Continuei a tentar acalmá-la, mas ela parou virou-se para mim e me encarou.
— Eles não se viam mais por sua causa. Eu andava por aqui, durante a guerra e vi como Jane ficou furiosa, quando ele a puniu por ter ajudado Gabriel fugir, ela desapareceu e ele a procurou por todos os lugares. Você precisava ver como ele ficou desolado sem filha e amante, com pouco poder, o nosso mundo destruído.
— Mas você estava lá para ajudá-lo, ele deve reconhecer isso. – Amenizei a situação.
— Levou centenas de anos para ele me notar, mas o Senhor do Ocidente não reconhece a gratidão, e agora que ele está mais forte e se preparando para o grande domínio, você e sua mãe reaparecem para ficar ao lado dele – ela falou com rancor.
Cila me levou até o meu quarto, uma luxuosa suíte ricamente decorada, enquanto, fingia prestar atenção na decoração, tentava arrancar dela mais informações.
— Então haverá outra guerra? – perguntei, Cila me olhou já desconfiada, comecei a brincar sutilmente com o meu pingente de turquesa.
— Não será exatamente uma guerra – ela explicou. – Será um tipo de golpe financeiro, o mundo entrará em crise, instalará o caos. Seu pai é um homem muito rico e influente, nesses últimos dois séculos tem adquirido o controle de vários negócios pelo mundo.
— Como Gabriel entra nisso?
— Ele não quer que os povos do Oriente atrapalhem, queria trazer Gabriel para o nosso lado através de você.
— Cila! – Ouvimos alguém chamar da porta era Hélio. – Pare de aborrecer Diana.
— Ela não estava me aborrecendo, só estávamos conversando. Posso ver Gabriel agora? – insisti.
— Eu mesmo a levarei até o nosso convidado – respondeu Hélio.
— Ele não gosta de mim – sussurrou Cila, no meu ouvido.
— Cila fala demais – comentou Hélio, quando seguíamos através do corredor.
— Você não gosta dela? – perguntei.
— Gosto, como gosto de todas as outras mulheres de nosso pai – meu irmão explicou, dando os ombros.
— E ele já teve muitas? – Percebi que fidelidade e casamentos duráveis não era o forte daquela família.
— Várias. Também tivemos vários irmãos, nenhum deles tão poderosos como nós, ou como você era antes.
— E é por isso que ele nos quer por perto? – perguntei diretamente.
— Possivelmente – ele respondeu, me encarando. – Diana, eu gosto muito de você, por isso não faça outra bobagem. Você sabe o que isso lhe custou na outra vida – advertiu, abrindo a porta à nossa frente.
Gabriel estava sentado no quarto mergulhado na penumbra, olhando o lago pela janela, a lua refletia nele, ele parecia muito pálido e abatido.
— Vou deixá-los sozinhos. Por favor, Diana, lembre-se do que eu falei – Hélio reafirmou e saiu do quarto, fechando a porta.
Ajoelhei ao lado da cadeira de Gabriel e passei a mão pelo seu rosto, percebi que seus olhos estavam vazios e confusos.
— Gabriel, sou eu Diana – Porém, ele olhou para mim como se não me conhecesse. – O que fizeram com você, Gabriel? – perguntei, preocupada.
— Um feitiço. – Ouvi alguém falar, levantei assustada para ver Jane parada dentro do quarto.
— Como você entrou aqui? A porta está fechada – indaguei assustada.
— Tenho minhas maneiras. –Ela foi evasiva.
— Você falou que ele foi enfeitiçado? Como? Ele pode ter sido drogado? – perguntei a ela, descrente que algo parecido pudesse existir.
— Você ainda pensa como uma mortal, Diana. Estou achando que foi um erro deixar vocês com aquele casal – Jane falou irritada e eu não falei para ela, mas não poderia ter tido pais melhores, pois não queria piorar ainda mais a situação.
— Você pode ajudá-lo? – Estava aflita, olhando aqueles olhos vazios.
— Deixe-me vê-lo. – Jane aproximou-se de Gabriel, pegou sua cabeça com as duas mãos e olhando nos olhos dele, murmurou algumas palavras, que pareciam não fazer efeito, depois se virou para mim. – Só pode ter sido seu pai, que é o mais poderoso, o único que poderia fazer isso com um espírito tão antigo como Gabriel, ele o mandou para longe.
— Podemos trazê-lo de volta? – Toda aquela situação parecia loucura para mim.
— Talvez, podemos tentar, mas tem certeza que é isso que você quer fazer? Esse homem a abandonou, a deixou sozinha para enfrentar a ira do seu pai. – Jane parecia zangada.
— Porque eu pedi. – Falei lembrando do sonho, que tivera da luta na muralha, eu mandando ele ir e eu sendo capturada.
— Mas, ele foi embora, deixou você sozinha para ser punida – Jane replicou. – E agora aparece, quando seu pai está novamente conquistado o poder que havia perdido e procura por você. Será só coincidência, Diana?
— Não sei, Jane. – Não sabia realmente, estava muito confusa, mas eu tinha tomada uma decisão. – Mesmo assim, não posso deixá-lo dessa maneira. Por favor, Jane, ajude-me.
Jane me encarou por um tempo, pensando, depois proferiu:
— Pode haver uma maneira, se ele realmente gostar de você. Segure o rosto dele e encare seus olhos, chame-me o pelo nome, esperemos que ele voltará com o som de sua voz.
E eu fiz isso, olhei dentro dos olhos deles, sem brilho, e chamei pelo seu nome, Gabriel, um, duas três vezes, procurando uma luz ou algum sinal que o espírito dele voltara, mas nada acontecia.
— Chega, Diana! Eu estava certa, ele não voltou com sua voz, só seu pai poderá desfazer esse feitiço. Vamos dormir.
Ela abriu a porta para sairmos de modo convencional, mas eu pedi:
— Só mais um minuto, Jane.
Então me aproximei da orelha de Gabriel e sussurrei baixinho, para Jane não me ouvir.
— O seu nome é Enlil, volte para mim. - E olhei novamente nos olhos dele por um segundo, tive a impressão de ver uma diminuta fagulha lá dentro, no entanto, me levantei e segui Jane.
O dia havia sido muito agitado, por esse motivo demorei muito a dormir, deixei a janela aberta, o luar iluminava o meu quarto e a visão da lua me acalmava, quando finalmente consegui dormir, tive um sono agitado, cheio de sonhos confusos. Porém, comecei a me acalmar ao sentir uma brisa suave e morna que me envolvia me acariciando, essa sensação me relaxou, mas seria somente um sonho, pois agora eu sentia uma mão suave e quente sobre o meu rosto e meus cabelos, abri os olhos assustada pronta para gritar, quando minha boca foi tapada e debruçado sobre mim estava Gabriel, com seus olhos escuros e profundos, cheio de vida e calor, respirei aliviada e ele trocou sua mão pela sua boca, em um beijo cheio de paixão que eu retribui com intensidade. Suas mãos agora passeavam pelo meu corpo e o abracei com força, podendo sentir suas costas fortes e sua pele macia, ele empurrou minhas cobertas e puxou minha roupa. Enquanto, estávamos na cama, nos beijando, nos acariciando e nos amamos com paixão de milênios de abstinência, desejando aquele homem desesperadamente, me sentindo plena com ele dentro de mim. Lá fora, uma súbita e brusca ventania invadiu a região, as portas e janelas batiam, os barcos balançavam, as roupas voam dos varais, o lago encrespava, ninguém entendeu essa mudança de tempo tão repentina, mas nós não ouvíamos nada o que acontecia, só eu poderia saber o porquê pois estava com o Senhor dos Ventos. No céu, a lua parecia, inacreditavelmente, mais brilhante e clara, como uma pérola no céu escuro.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!