A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 17
A torre da destruição – a perda daquilo que se conhece.




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Quando retornamos à casa de Salvatore, Caio anunciou que ele estava me aguardando no escritório.

— Querida Diana, que bom que você voltou! – Salvatore exclamou, assim que entrei no suntuoso escritório de estilo clássico. – Quero que entenda, que você não é uma prisioneira nesta casa. Você pode ir e vir, quando quiser, sem precisar se esconder em barcos de entregas. Afinal, você é minha filha.

— Desculpe-me, mas, precisava conversar com Lilith.

— Por que essa urgência toda? – ele quis saber, desconfiado, talvez, pensando que estivesse ido atrás de Gabriel.

— Eu tenho muitas dúvidas – confessei.

— Sobre o que? – Ele parecia surpreso.

— Sobre quem está certo e quem está errado em toda essa história? – revelei minha indecisão.

— Sua mãe tem razão, você pensa como um mortal, cheia de dúvidas sobre o que é certo ou errado. Minha querida, ouça quem viveu por tempos inimagináveis, o certo e o errado depende do referencial, pois algo pode ser certo para alguns ou mesmo tempo que pode ser errado para outros. Nunca há uma resposta simples.

— Mas, afinal, quem começou a guerra? – perguntei, incisiva.

         - Devo confessar que fui um tanto ganancioso, o mundo estava ficando pequeno demais e havia todo o oriente. Eles tinham muito mais terras que nós, cheias daqueles objetos maravilhosos e mágicos, eram mais antigos e, digamos, um tanto acomodados - Salvatore deu um suspiro e explicou

— E você os atacou e tentou conquistá-los.

— Sim, foi um erro, que eu lamento, pois perdemos nosso poder por séculos, andávamos escondidos, com medo, muitos foram destruídos, alguns enlouqueceram e vivem como párias. Mas, felizmente, alguns, como eu, nos adaptamos. Eu adoro este tempo, esses dois últimos séculos foram fantásticos! – ele falou, cheio de entusiasmado. – Hoje, tenho um controle muito maior que jamais tive, pois primeiro foi com uma simples assinatura e, agora, com o apertar de uma tecla, posso fazer coisas surpreendentes.

— Mas como vocês conseguiram dinheiro para investir ou mesmo viver? – Essa sempre foi uma dúvida, pois todos que eu conheci parecia ter um alto nível de vida.

— Fácil! Há algum tempo, antiguidades e obras de artes têm um bom preço, começamos vendendo alguns objetos pessoais, que havíamos guardado ao longo dos séculos, depois usamos nossas capacidades para descobrir um campo de petróleo, uma mina de diamantes, sabemos se uma ação vai cair por causa de uma guerra ou um desastre natural.

— Vocês manipulam o mercado financeiro? – indaguei surpresa.

— Digamos que sim. Mas, infelizmente, não posso continuar nossa conversa, pois Tales está me esperando para falarmos sobre negócios. Até mais tarde, Diana. – Ele me dispensou.

Eu ainda estava cheia de perguntas, mas só restou me despedir e me virei para sair e dei meia-volta.

— Só mais uma pergunta, senhor.

— Sim, pode falar.

— Por que prender Gabriel, ele não parece perigoso?

Salvatore me encarou.

— Ele pode ser muito perigoso. Gabriel não é o que você pensa. Ele é muito antigo, e por isso tem mais poderes do que todos nós. Além disso, seria uma forma de controlar a mãe dele, Kira. Eles tentam libertar Anan e isso pode ser o recomeço da guerra, pois, digamos, que eles são muito tradicionais, não aceitam os novos tempos.

— Mas não foi isso que Gabriel me disse. Ele sabia das mudanças que antecederam a guerra e tentou nos avisar e você não acreditou – afirmei com certeza, sem me lembrar, exatamente, em que momento tivemos essa conversa. Salvatore me encarou desconfiado.

— Diana, tenho assuntos importante para resolver agora – ele me dispensou, mais uma vez.

Sai do escritório atordoada com tantas informações, quase dei um esbarrão em Tales no momento em que abri a porta, me esforçando para recordar quando tive aquela conversa com Gabriel, sobre os motivos que precederá a guerra. Encontrei Jane e Cila tomando café-da-manhã na varanda, com a bela vista do lago, apesar de ser hora do almoço, parecia duas amigas conversando sobre futilidades, não dava para imaginar que tiveram o mesmo amante em comum

— Diana, venha tome café conosco – Cila me convidou, como se aquela madrugada nunca houve acontecido.

— Obrigada. – Aceitei, porque estava com muita fome, sentei ao lado de Jane, na mesa na varanda, admirei o lago e as montanhas ao longe. – Onde está Hélio? – perguntei, sentindo falta do meu irmão, por algum motivo, sabia que ele não estava na casa.

 - Voltou para proteger a estátua, ele ficou preocupado agora que Gabriel fugiu – respondeu Cila, por algum motivo achava que o seu interesse pelo meu irmão era muito além de uma mera madrasta, mas aquilo poderia ser muito perigoso para ela.

— Então, como está Lilith? – Jane me perguntou, de maneira casual.

— Bem, tivemos uma boa conversa – respondi sem dar mais explicações, me servindo de croissant e café, me senti extremamente cansada, não havia dormido a noite toda, pedi licença e fui para o meu quarto, para tentar descansar um pouco.

Subi as escadas e caminhei pelo longo corredor deserto e cheio de portas, me senti um pouco perdida, não me lembrava bem onde era meu quarto, no entanto, reconheci a porta do quarto onde Gabriel estava preso. Foi quando passei por ela, que senti alguém me agarrar por trás e tapar minha boca, tentei lutar, mas meu oponente era muito mais forte e me arrastou para dentro do quarto, ouvi a porta se fechar, pensei que a minha única chance seria derrubá-lo, por isso levantei minhas pernas, apoiei os pés na parede e, com toda a minha força, empurrei para trás e nós dois caímos, ouvi o baque forte do corpo dele batendo no chão, era a minha chance, eu mordi a mão dele, ele não gritou, mas me soltou por um instante, assim eu rolei para o chão, tentei me levantar e ele me agarrou outra vez, me puxando para sua direção e quando percebi estava deitada sobre Gabriel.

Nós dois ficamos nos olhando surpreso e ofegantes, não sei se foi por toda aquela adrenalina, mas minha única reação foi beijá-lo com ardor.

— Nossa, você está parecendo a velha Diana! – ele brincou, assim que nossas bocas se afastaram.

— O que você está fazendo aqui? Como conseguiu voltar? – perguntei, sem entender.

— Eu não voltei, porque nunca sai.

— Como, se eu vi você sair pela janela? – Estava surpresa.

— Sai do seu quarto, mas voltei para esse, pois imaginava que ninguém me procuraria aqui, novamente, e fiquei esperando a oportunidade para falar com você.

— Por que você não fugiu se tinha energia suficiente para ultrapassar as barreiras da casa?

— Porque eu prometi, que nunca mais iria embora sem você, outra vez.

Eu o encarei surpresa, não sabia o que fazer, deveria seguir aquele homem ou ficar com os meus, nada era claro para mim.

— Eu não sei se posso ir com você, Gabriel.

— Por que? – perguntou, atônito.

— Porque eu não conheço você, não conheço nem a mim mesma. Não sei se quero ser essa velha Diana, pois eu gosto muito da Diana atual, que tinha uma vida simples e calma e fazia o que gostava – ponderei.

— Diana, mas você não tem escolha, aquela sua antiga vida acabou, mas você pode ficar aqui ou ir comigo.

— Se eu for com você, me prometa que não se envolverá mais nessa luta de poder.

— Lamento, mas não posso prometer isso – respondeu, com pesar.

— Então, eu não posso ir com você, mas eu lhe ajudarei a sair daqui. Será mais fácil a noite, vou criar uma distração para você poder fugir.

— Não quero que se envolva nisso, porque de outra vez você foi punida por seu pai.

— Mas será o único jeito – admiti, passando a mão nos seus cabelos, encarando os seus olhos escuros como a noite.

— Eu já ouvi você falar as mesmas palavras, há muito tempo atrás, e eu a perdi por muitos séculos.

— Preciso ir agora, senão podem dar pela minha falta e desconfiarem de algo. – Dei lhe mais um beijo ardente, não queria sair de perto dele, mas era preciso, então me levantei, pois durante toda nossa conversa continuávamos deitados no chão, eu em cima dele. Combinamos a melhor hora para o plano de fuga e voltei para meu quarto, tomando muito cuidado para não fazer barulho, nem ser vista saindo para o corredor.

Como era de se esperar não consegui descansar, fiquei andando pelo quarto, imaginando o que poderia fazer para distrair a atenção dos seguranças de Caio e, principalmente, de Nix, com sua capacidade de viajar à noite pela escuridão, eles não poderiam notar que Gabriel estava lá e, muito menos, que estivesse fugindo. Olhei para a janela, tentando ter alguma ideia, observei uma família de patos nadado sobre o espelho d’água, aquela imagem bucólica me distraiu por alguns segundos. Porém o tempo passava, começou a anoitecer e a única distração, que me veio à cabeça foi a velha ideia de começar um pequeno incêndio na cozinha, por isso fui conhecer o território, desci as escadas e perambulei pela casa, até chegar ao meu objetivo. A cozinha era grande, bem equipada, havia algumas pessoas atarefadas com o trabalho.

— Deseja alguma coisa, signorina? – Um homem de cabelos e bigodes brancos, com avental e chapéu de chef me perguntou, quando me viu parada no meio da cozinha, sem saber o que fazer, notei que todos os olhos se voltaram para mim.

— Hã? Só um copo d’água – pedi, sem conseguir pensar em outra resposta.

— A signorina pode voltar para a sala, um dos empregados lhe servirá lá. Só isso? – o homem determinou, parecia não querer nenhum estranho na sua cozinha.

— Só, obrigada. – Agora tinha certeza que esta ideia não daria certo, sai dali e continuei minha busca pela casa, não via mais nenhuma solução e horário combinado já se aproximava, quando voltei para sala, estavam todos lá, pareciam que gostavam de ficar juntos. Estava quase a hora do jantar, um empregado chegou com meu copo d’água, que tomei em um só gole

— Você está se sentindo bem, Diana? – Jane me perguntou surpresa, devia estar parecendo muito estranha pela minha ansiedade, talvez, eles não estivessem acostumados com isso. Mas, então eu pensei em simular um desmaio, apesar que não achava que isso colasse para aquelas criaturas, mais não tinha outro jeito, estava preste a cair no chão, quando um som estridente chamou a atenção de todos na sala, tivemos que nos abaixar quando uma grande ave entrou em um voo rasante sobre nossas cabeças, ela parecia perdida, batia nos lustres, nas cortinas, voltando sobre nós mais uma vez.

— É um pato! – Gritou Nix, espantada.

— O que que um pato está fazendo aqui dentro? – exclamou Cila, protegendo a cabeça.

— Deixe comigo! – Falou Caio e em suas mãos surgiu uma imensa espada, ele estava pronto para acertar a ave no seu próximo voo, quando percebi corri em sua direção, no momento, que ele abaixava a arma para atingir a ave, segurei seu braço com uma força que nunca imaginei que tivesse. Ele me olhou, surpreso, enquanto a ave voou sobre nós e saiu pela porta da varanda.

Ficamos aturdidos por algum tempo, Salvatore tinha um olhar enigmático.

— Há algo errado! Isso não aconteceu sem razão. Caio, pegue seus homens e dê uma busca na casa! – ordenou. – O resto de vocês não saiam daqui! – Quando deu essa ordem, ele olhou diretamente para mim.

Eu desejava que Gabriel tivesse aproveitado toda aquela confusão para sair da casa, estava aflita, enquanto os homens andavam por todo o interior da casa.

— Preciso de ar! – disse, saindo para a varanda.

— Mas, Salvatore ordenou que ficássemos aqui! – Cila me lembrou.

— Só vou um pouco aqui fora – falei e sai, sem esperar a outra replica dela. Quando estava do lado de fora olhei para cima, na direção da janela do quarto onde Gabriel se escondera, ela estava aberta, fiquei mais tranquila, pois achava que ele deveria ter partido. Então senti algo na escuridão e em canto das sombras surgiu Gabriel, me assustei, mas com o dedo na frente dos lábios ele me pediu silêncio.

— O que você está fazendo aqui? – indaguei baixinho, mas zangada.

— Não podia ir embora sem você, outra vez – ele sussurrou.

— Já discutimos isso, nós tínhamos combinado.

— Mas, eu mudei de ideia. Vamos partir agora! - Ele estendeu sua mão para mim. Eu estava confusa, sem saber o que fazer.

— O que temos aqui? – Nix surgiu da escuridão, com um sorriso sarcástico. – Depois de tantos séculos, a história se repete. A pequena traidora e seu amante, sabia que seu pai não poderia confiar em você, Diana.

— Por favor, Nix, deixei-o ir - implorei.

— Não dessa vez, Diana – ela negou e, na mão esquerda dela, apareceu uma estranha espada negra, quase ao mesmo tempo nas mãos de Gabriel apareceu uma espada incandescente, com um grande barulho as espadas se chocaram em uma luta feroz. Ela era rápida e bastante ágil, mas Gabriel era muito forte e, também, muito veloz. Fiquei ali como uma boba, vendo os dois duelarem, imaginando que em pouco tempo estariam todos ali e foi o que aconteceu, primeiro Cila e Jane surgiram no pátio, depois os homens, na mão de Caio ressurgiu a grande espada e ele avançou sobre Gabriel, que não conseguiria resistir por muito tempo, pensei no meu sonho, quando fui capturada há dois mil anos atrás, lembrando que naquele momento eu, pelo menos, tinha uma arma. Pensei com gostaria de ter uma espada agora, e foi o que surgiu na minha mão, não podia acreditar. Por um segundo todos, param para olhar, mas logo voltaram a lutar.

— O que que eu faço agora? – Perguntei para Gabriel.

— Lute! – respondeu.

— Mas eu não sei!

— Tente! – retrucou e foi isso que fiz, sacudi a espada no ar e aparei os golpes das espadas dos outros seguranças, e para meu próprio espanto comecei a lutar. “Por que estes caras não usam revólveres ou coisa parecida, seria menos trabalhoso”, pensei, mas talvez não fosse uma boa ideia.

Eles eram em maior número, estávamos encurralados junto a amurada que dava para o lago lá embaixo, como no sonho lutávamos lado a lado.

— Fuja, Gabriel! Eu os detenho! – gritei para ele.

— Nada disso! Não dessa vez! – afirmou, segurou minha mão e se atirou de costa pela amurada do pátio, me levando junto, caímos por segundo em queda livre, ainda pude ver os rostos atônitos dos nossos oponentes, mas com uma rapidez surpreendente, ele me abraçou e entramos em um redemoinho. Só alguém que foi apanhando por uma onda na praia, pode entender como eu me senti naquele momento, sem saber para onde estava indo nem como ou quanto tempo isso levou, quando dei por mim estava caída no chão de terra recoberto por folhas e cercada de árvores, algo parecido com uma floresta ou um bosque. Estava exausta não conseguia me mexer, com muito custo, ergui a cabeça e vi que Gabriel encontrava se a pouco metros de mim e parecia desacordado, me arrastei até ele, cada movimento era bastante dolorido, mas consegui chegar perto dele, me sentei e segurei sua cabeça no meu colo.

— Gabriel! Gabriel! – Chamei, preocupada, porém, ele não se mexeu.


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