A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 15
O imperador – aquele que domina e tem o poder.




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Despertei na cama do quarto, que ocupava na casa de Lilith, senti uma leve brisa fria que entrava pela janela, que achei que a tivesse fechado antes de me deitar, então, levantei para fechá-la, mas parei admirando a lua cheia que refletia sobre as plácidas águas do lago, surgiu em mim uma vontade incontrolável de ir até lá.

Desci as escadas como se voasse, mal tocando o chão, e cheguei à beira do lago, suas margens estavam desertas, as pequenas pedras de cascalho incomodavam os meus pés descalços, mesmo assim caminhei em direção da água, que para minha surpresa estava deliciosamente tépida, tirei minha roupa e entrei lentamente, deixando me envolver por ela. Relaxada, me larguei de costa e boiei, a água morna em suaves marolas, acariciava a minha pele nua como mil mãos delicadas. Olhei para o céu e vi a lua brilhante ser encoberta, gradativamente, por uma sombra escura, como em um eclipse, até ficar completamente negra, e tudo ficar escuro a minha volta, mas não me importante deixei-me ser seduzida e me entreguei por inteira ao prazer daquele momento estranho e sensual. E quando abri os olhos, outra vez, estava no quarto, tudo havia sido um sonho bizarro, mas nunca acordei tão relaxada e revigorada, me sentindo muito bem, rolei preguiçosamente na cama, sem quer levantar, contudo, tínhamos que fazer reconhecimento de campo, pois precisamos bolar um plano para salvar Gabriel e, provavelmente, o mundo. Para disfarçar, me vesti como uma turista, camiseta e calça jeans e a boina para esconder os cabelos, encontrei Lilith e Samuel já prontos, tomavam café da manhã na varanda, como se estivessem de férias.

— Bom dia, Diana. Dormiu bem? Espero que que tenha tido bons sonhos – ela perguntou, cantarolando e me dando um sorriso malicioso, senti meu rosto quente, como se descobrisse um segredo pervertido. – Deve ter sido um sonho, realmente, muito bom, da forma que você corou. — Depois riu, divertida. – É muito raro ver um de nós ainda corando.

— Sim, dormir bem e tive bons sonhos.

— Aqui, na casa de Lilith, os sonhos são sempre maravilhosos – Samuel confirmou, beijando a mão de nossa anfitriã, ela sorriu, agradecendo.

— Eu sei que vocês devem estar se divertindo, mas temos uma missão a cumprir — falei aborrecida, os dois me olharam sem entender minha atitude.

— Ela pensa como um mortal, está sempre com pressa – Samuel explicou a Lilith.

— Você precisa aprender, criança, que nunca fazemos nada correndo, o tempo para nós não é um problema. Assim, como não é também para o Senhor do Ocidente. Ele não fará mal a Enlil, já que precisa dele para unir os dois povos. O que ele quer é um acordo, talvez, esse seja nosso trunfo. Mas, vamos lá — Ela se levantou e pegou um chapéu de abas largas, que junto com seu esvoaçante vestido branco, a fazia parecer uma estrela de cinema italiano dos anos 60, seguimos para um pequeno atracadouro e entramos em uma lancha.

— Você sabe pilotar isso? – perguntei a ela, um tanto receosa.

— Claro, criança – respondeu, saindo com habilidade para o meio do lago, e apesar do vento, seu chapéu não voava da sua cabeça.

Navegamos, avistando belas mansões, até ela parar a lancha e apontar para uma grande casa, com um grande iate na sua frente, do atracadouro do lago se subia por escadas até um largo pátio na frente do primeiro andar, havia pelo menos mais três andares e no alto, um outro grande pátio.

— Uah! Ele deve ser realmente muito rico! – exclamei, impressionada.

— A casa é muito bem protegida – Samuel comentou preocupado, olhando algo que eu não conseguia ver.

— Mas, eu não estou vendo nenhum guarda.

— Não por guardas, mas por proteção mágica, seu pai está ficando cada vez mais poderoso, recuperando rapidamente sua força perdida depois da guerra – Samuel explicou.

— Você acha que ele está querendo começar outra guerra? – indaguei, aflita, com a possibilidade de um novo conflito, que pudesse destruir toda nossa civilização.

— É difícil saber, o mundo está muito diferente, mas ao mesmo tempo mais vulnerável, qualquer maluco em alguma parte do mundo pode detonar uma bomba e, dependendo de como isso for usado, pode haver muita destruição – Samuel parecia bastante incomodado por essa ideia.

— Mas salvar Gabriel não resolverá isso.

— Todavia, haverá equilíbrio de forças, o povo do Oriente, mesmo sem seu Senhor, mas com Gabriel, poderá manter a paz, reduzir o poder do Ocidente. – Agora foi Lilith que argumentou. – Eu não gosto desse desequilíbrio, um lado não deve ser mais poderoso que o outro – explicou, porque estava nos ajudando.

— No entanto, se casa está tão protegida como nós poderemos entrar? Porque aquilo parece uma fortaleza, não dá para três pessoas entrarem lá, sem ser percebido e resgatar Gabriel, parece uma missão impossível.

Lilith me deu um sorriso travesso.

— Nós não, querida, você. Você entrará sozinha.

— Enlouqueceu! Como posso entrar sozinha ali?

 — Porque vocês têm a mesma origem, o mesmo sangue por assim dizer, as proteções não devem funcionar com você – Lilith expôs, calmamente.

— Mas, como eu vou saber se é isso mesmo?

Ela deu os ombros.

— Só há uma forma de saber, indo até lá.

Fiquei olhando para casa, confusa, mas com uma pitada de curiosidade para conhecer meu pai, o Senhor do Ocidente.

— Então devo ir até lá e me apresentar? Só isso? – conclui, como se fosse uma piada, pois não acreditava que esse plano desse certo.

— Essa parece uma boa ideia – Lilith respondeu com um ar sério, para meu espanto. – Talvez, seja a única chance que teremos.

— E se ele pensasse que a capturou? – Samuel considerou com um ar pensativo. – Talvez, o Senhor do Ocidente, também, esteja curioso quanto a você, Diana. Ele pode considerar a hipótese de trazê-la para o lado dele, afinal, você é uma guerreira poderosa.

— Você quer dizer que fui uma guerreira poderosa – repliquei, pois não me sentia uma guerreira, muito menos poderosa.

— Mas, talvez, você não precise ir até lá, eles poderão vir até você – Lilith disse, com um ar pensativo. – Minha bela, tire essa boina horrorosa e vamos voltar a cidade é tomar um gelato.

— Eu estou entendo, você quer me mostrar, me sacudir na frente deles como uma isca para ser capturada – rebati, em pânico.

— Pode dar certo. Vamos voltar – Samuel decidiu.

Se fosse em outra ocasião, eu estaria adorando passear pelas margens do lago Como, vendo o trânsito de embarcações, apreciando as montanhas e os bosques ao fundo, mas eu estava muito tensa, olhava em volta a todo momento, esperando algo inesperado acontecer. Após uma caminhada, nós três sentamos em um café, eu tentando apreciar um sorvete de chocolate, querendo ficar mais relaxada, quando um homem se aproximou, estava elegantemente vestido com um traje esportivo de uma marca italiana famosa, usava óculos escuros e um chapéu panamá.

— Bom dia, Lilith, Samuel – ele nos cumprimentou, mas me encarou antes de falar. – Que bom que esteja de volta, Diana. – Reconheci o imediatamente, era meu pai biológico, o Senhor do Ocidente. – Posso me sentar com você?

Ninguém respondeu, mesmo assim ele puxou a cadeira vazia e se sentou, cruzou as pernas, tirou o chapéu e começou a se abanar com ele, pude ver seus cabelos castanhos escuros com as têmporas grisalhas, o rosto levemente dourado pelo sol, fazia uma bela figura.

— O que deseja, Senhor? – Lilith perguntou, em um tom sério.

— Não sejamos tão formais, Lilith, me chame de Salvatore – e continuou olhando para mim. – Um pai não pode querer rever sua filha pródiga. – Tinha que reconhecer que ele era bem charmoso.

— Uma filha que ele mandou para o Esquecimento – Lilith respondeu, rispidamente.

— Isso foi há muito tempo atrás, tudo está diferente agora, o mundo é outro, a situação está mudada, vivemos muito por isso podemos mudar de ideia. – Ele era muito convincente, era um tremendo político.

— Mas o que o senhor quer comigo? – Finalmente, falei, ele me olhou mais atentamente agora.

— Você mudou muito, Diana, apesar dos seus cabelos terem a mesma cor assim como seus olhos, seu rosto e corpos estão bem diferentes, mas eu gostei dessa mudança, a deixou mais feminina.

— Obrigada, supondo que isso foi um elogio.

— Sim, é um elogio. Vejo também que tem o dedo da sua mãe nisso tudo – afirmou, pois já sabia a resposta, mas eu me calei. — Seu irmão me contou que você trabalha em um museu e se comporta como uma mortal, ele também deve dúvida quando a viu pela primeira vez – comentou, lembrei-me da forma como Hélio me olhou quando fomos apresentados.

— E o que deu certeza a ele que era eu mesma?

— Gabriel, quando seu irmão soube que ele estava se aproximando de você, ele teve certeza. Porém, também, notou que você se achava uma mortal. Então, eu quis te rever, mas você não aceitou meu convite no museu – ele esclareceu.

— Você quer dizer seu rapto, aquilo não foi um convite. – Estava irritada com a distorção da história.

— Foi apenas um mal-entendido. – Ele deu os ombros – Possivelmente, os rapazes não souberam se expressar bem.

— Possivelmente – eu repeti, de forma pausada e ironicamente.

— Mas, vamos acabar com essa má impressão. Você quer jantar hoje à noite, comigo, na minha casa? – ele me convidou gentilmente, poderia ser minha chance de entrar lá e encontrar Gabriel. Esperava que ele estendesse o convite para todos na mesa, mas ele não o fez, por isso fiquei indecisa.

 — Mas, eu estou hospedada na casa de Lilith – expliquei, dando a deixa para o convite.

— Não se preocupe conosco, Diana. Seu pai quer conversar sozinho com você, nós entendemos – Lilith conciliou a situação, mas me deixando isolada nessa.

— Combinado, hoje às sete horas. Alguém a pegará. Até breve, Diana. Bom dia, Samuel. – Então ele pegou a mão da mulher e a beijou, suavemente. – É sempre um prazer revê-la, bela Lilith – disse de maneira sedutora e saiu andando em direção ao cais, onde uma lancha o esperava.

Ficamos os três em silêncio por alguns minutos.

— Foi muito fácil – comentei, depois de algum tempo refletindo. – Ele deve ter algum plano. – Não acreditava que aquilo era somente amor paterno.

— Você vai ter que pagar para ver, não podemos ajudá-la nisso, pois não somos bem-vindo na casa do Senhor do Ocidente – afirmou Samuel, eu estava preocupada, nunca havia estado em uma situação desta antes, não conhecia aquele ser que era meu pai e ainda tinha que salvar o homem que amava.

— Você vai assim? – Lilith perguntou, espantada, quando me viu de jeans e camiseta. — Você vai à casa do Senhor do Ocidente, um homem poderoso e rico, por favor, Diana.

— Mas, eu não trouxe roupa para um jantar formal. Não estou em viagem de férias – expliquei, aborrecida.

— Olha, ainda temos tempo, minha bela. Vamos arranjar algo que sirva em você – Ela me olhou me analisando. – Estes cabelos vermelhos pedem algo verde, tenho o vestido perfeito, sandálias prateadas como a lua. – Saiu e voltou com um deslumbrante vestido de seda pura verde escuro, frente única, preso com um fino de prata que descia pelas costas e sandálias prateadas de saltos muito alto e preso com tiras finas.

— É lindo, Lilith, mas não posso usar isso. Como posso correr com isso. — E peguei o sapato.

— Claro, que pode, minha bela, mas não pense em fugir agora, pense como ficará bonita e seu pai ficará feliz. Venha, vou ajudá-la a se vestir.

E muito sem graça, tirei minha roupa e o sutiã.

— Olhe, como você é bonita. – Ela me indicou minha imagem no espelho. – Seu corpo é belo e sua pele perfeita – elogiava, enquanto me olhava, reparei nos meus seios firmes, minha cintura fina e meus quadris arredondados, minha pele brilhante e macia, meus cabelos me dava um colorido diferente, eu era bonita.

— Vamos, coloque o vestido – Lilith pediu suavemente, sem pensar eu obedeci. – Agora os sapatos e deixe seus cabelos soltos, assim. Deixe me arrumá-los – Suas mãos habilidosas ajeitaram meus cabelos e como encantos eles caíram em cascatas nas minhas costas.

Eu estava apaixonada pela mulher no espelho, que se parecia muito comigo, mas era tão elegante, bem-vestida e, realmente, muito bonita, e quando desci as escadas, Samuel parou boquiaberto para me admirar.

— Você está linda, Diana! – ele exclamou, extasiado.

— Obrigada – agradeci, sabendo que era verdade.

— Minha bela, para o frio da noite – Lilith falou me entregando um xale prateado, no momento que meu transporte chegava.

Quando sai, não pode ouvir Samuel perguntar a Lilith:

— Você fez alguma coisa?

— Só um pequeno encantamento – ela respondeu com um sorriso dissimulado.

Um homem forte, mas educado, me conduziu para uma lancha branca e elegante, que me levou rapidamente através do lago até um pequeno atracadouro, em frente a imponente casa de tom terroso. Por uma comprida escada, subi em direção a um grande pátio, coberto por uma videira, onde uma porta francesa dupla abria-se, e foi por ela que entrei em uma imensa sala, com o chão de mármore creme, sofás e poltronas forrados em seda bege, confortáveis e elegantes, estátuas e bustos gregos e romanos enfeitavam os cantos, nas paredes pinturas imitavam afrescos antigos e um grande lustre de cristal pendia do teto, tudo muito bonito e caro. Salvatore apareceu de braços abertos, em um gesto de saudação, me abraçou e beijou meu rosto, de forma bem calorosa. Atrás dele, meu irmão Hélio, bonito e elegante como sempre, não foi tão efusivo, me cumprimentou com cautela e junto a ele, uma bela e jovem mulher, de cabelos louros e claros e olhos azuis, vestindo um belo vestido preto com alças finas, realçando o belo colar de brilhantes que trazia no pescoço.

— Diana, quero que conheça minha esposa Cila – Salvatore me apresentou a bela mulher, devo ter feito uma cara estranha, pois ele explicou. – Eu e sua mãe estamos separados há alguns milênios.

— Entendo – respondi, sem jeito, porque, realmente, não me importava com aquilo.

— Estou tão feliz em ver meus filhos favoritos juntos! – Salvatore exclamou, parecendo emocionado, fiquei espantada com aquela revelação, mas, antes que eu perguntasse, ele continuou. – Vamos jantar! – E deu o braço para Cila, enquanto Hélio fez o mesmo comigo, e enquanto nos dirigíamos para a sala de jantar, sussurrei no ouvido do meu recém revelado irmão:

— Quantos irmãos nós temos, afinal?

Ele sorriu para mim e sussurrou no meu ouvido:

— Alguns – Não podia acreditar que, agora, eu fazia parte de uma grande família.

— Posso fazer outra pergunta?

— Claro.

— Está rolando algo entre você e Suzana? – perguntei, pois, me preocupava ver minha amiga e supervisora envolvida naquilo.

— Vamos dizer que eu a aliviei da tensão de preparar aquela exposição e, em troca, ela não atrapalhou meus planos. No final, ambos saímos ganhando – ele sorriu encantadoramente, devia ser difícil escapar daquele homem sedutor, mesmo para uma mulher experiente como Suzana. – Devo dizer que não foi nenhum sacrifício. Em outros tempos, eu daria a ela um filho meu – comentou de modo casual.

— Não se atreva! – retruquei entre os dentes, ele me devolveu um sorriso travesso.

A sala de jantar era tão esplendorosa como o resto da casa, uma enorme e requintada mesa dominava o ambiente, Salvatore puxou a cadeira para Cila se sentar e Hélio fez o mesmo comigo, era bem-educados, acostumados a viver em um mundo de poder e sofisticação e, com um sútil gesto, o dono da casa se deu início ao jantar. Os pratos eram servidos em louças finas inglesas, em estilo italiano, primeiro o antepasto, com um vinho específico para acompanhar, a conversa fluía superficialmente, falamos de Como, do vinho e da comida, quando um dos empregados se aproximou e cochichou algo no ouvido de Salvatore, que não devia ter sido nada agradável, pois sua feição demonstrou isso, ele sacudiu a cabeça afirmativamente para o criado, que se retirou, e ele comunicou:

— Teremos mais uma pessoa para o jantar, que chegou, inesperadamente.

E na porta da sala apareceu nossa mãe, a antiga amante de Salvatore, Jane, vestida em belo vestido branco de cetim de mangas compridas e cabelos louros presos e brincos pingentes de esmeralda, realçando seus olhos, agora, verdes. Uma tensão encheu o ar, os olhos de Cila brilhavam de ódio, Salvatore levantou-se para recebê-la:

— Minha cara Leto, que prazer em revê-la, assim tão inesperadamente – ele disse irônico, antes de beija-lhe o rosto.

— Por favor, meu nome atual é Jane, mais apropriado para esse tempo. Como poderia faltar a esta reunião de família, depois de tantos anos. Ver, finalmente, meus filhos juntos – Jane disse e se dirigiu a Hélio, que estava, completamente, sem jeito, mas levantou para cumprimentá-la, e ela o abraçou.

— Meu filho, senti sua falta! – ela falou, parecendo emocionada para o espanto de Hélio.

— Também, senti a sua, mãe – ele respondeu, mas sem muito entusiasmo.

— Minha filha, você está linda! –Jane me abraçou, eu não entendia aquela situação. – Como vai, Cila? – Finalmente, cumprimentou a atual esposa de Salvatore, sem muito interesse.

Mais um prato foi colocado, e Jane juntou-se a nós na mesa.

— O que a traz aqui, Jane, depois de tanto tempo desaparecida? – Salvatore insistia, parecendo desconfortável, Cila parecia que iria entrar em combustão a qualquer momento. Ciúmes.

— Como falei, não podia perder a reunião dos meus filhos, depois de tanto tempo – Jane confirmou, em um tom alegre. – E saber o que você anda tramando, Salvatore.

— Não estou tramando nada, Jane. Eu só quero reencontrar minha filha, como você disse, depois de tantos anos – ele respondeu, com falsa inocência.

— Filha que você mandou para o Esquecimento e, que eu levei quase dois mil anos para achá-la – Jane falou com um sútil tom de rancor.

— Reconheço meu erro, mas eu mudei, quero me redimir com Diana, apagar o passado. Você me perdoa, minha filha? – ele perguntou com um ar de arrependimento.

Eu que assistia tudo como se falassem de outra pessoa, respondi:

— Eu não sei o que dizer, pois não me lembro de nada de vocês ou dessa outra Diana, que vocês falam.

Salvatore me olhou surpreso, sem entender.

— Como você não se lembra de nada? – ele perguntou-me, com interesse.

— Até pouco tempo atrás, eu era uma mulher comum que trabalhava em um museu e, de repente, tem toda esta história de seres imortais, guerras e coisas parecidas, que eu não entendo – expliquei-lhe, enquanto ele me olhava atônito.

— Viu, foi isso que você fez a ela! – Jane declarou, enraivecida.

Salvatore parecia pensar em algo para dizer, então mudou o tom.

— O importante que você está de volta, tenho certeza que seu passado voltará no tempo exato. – Levantou-se e erguendo seu copo. – Vamos brindar à volta de Diana e à família novamente reunida.

Durante todo aquele drama familiar, pensava onde estaria Gabriel, talvez, preso em algum porão, acorrentado, fraco e ferido, queria um tempo para explorar a casa, saber onde ele poderia estar. Depois do jantar, quando fomos convidados a tomar café na varanda, enquanto Jane e Hélio conversam em um canto, parecendo discutir e Salvatore desaparecido por alguns minutos, vi a oportunidade para jogar a isca para Cila.

— Bela casa a sua, Cila – elogiei, e ela sorriu orgulhosa, enquanto falávamos brincava displicentemente com meu pingente de turquesa.

— Ela é mesmo!  Salvatore gosta da Itália, acho que é um tanto saudosista, por isso passamos muito tempo aqui. Mas, eu prefiro Paris — Cila explicou, empolgada por minha atenção.

— Ela parece bastante grande e bem decorada – continuei a elogiar, tentando ganhar a sua confiança.

— Você gostaria de conhecê-la? – Cila, finalmente, me convidou.

— Adoraria. – Sorri, com simpatia.

— Aonde vocês estão indo? – Salvatore apareceu na nossa frente, interrompendo a passagem

— Estou levando Diana para conhecer a casa – Cila disse maneira despreocupada.

— Vocês poderão fazer isso em outra hora. Agora preciso conversar com Diana. Por aqui, querida. – Ele me apontou o caminho até um escritório, elegante e clássico com grandes mapas do mundo de diferentes épocas enchendo suas paredes e alguns quadros cujos os estilos de alguns pintores reconheço, Picasso, Monet, Van Gogh, que já conhecia pelos olhos de Hélio.

— Sente-se, Diana. – Indicou um sofá de couro marrom, onde ele também sentou e começou a falar

—Sei que você deve estar muito aborrecida comigo, digamos, não pelo passado, mas pelos fatos recentes. – Ele tinha um tom apaziguador.

— Como tentar me sequestrar e sequestrar Gabriel. – Eu o confrontei e ele me interrogou com os olhos.

— Como você sabe de Gabriel? – Nesse momento, percebi que falei demais, pois ele não sabia.

— Porque ele desapareceu, então, eu presumi que pudesse ser você – eu menti, tentando corrigi o meu erro.

— Foi por isso que você veio para aqui? – ele me interrogou, seria difícil enganar alguém tão antigo e experiente.

— Sim, foi por isso.

— E como você sabia que eu morava aqui?

— Tive uma visão.

— Você ainda está muito ligada a Gabriel – ele concluiu com um certo tom de satisfação e continuou: – Você foi muito ligada a ele nos tempos antigos, quando se conheceram, mas eu era um pouco intransigente naquela época, cometi muitos erros.

— Era isso que você queria falar comigo?

— Sim, você tinha razão, Gabriel está aqui, como um convidado. Eu quis trazê-la para conversarmos, quero redimir meu erro com vocês – Ele parecia arrependido. – Quero dar minha benção a vocês.

— Espere um minuto! Como assim dar as benções, eu não penso em nenhum compromisso com Gabriel, no momento.

— Mas, eu pensei que depois de toda aquela confusão do passado, enfim, vocês quisessem ficar juntos. – Ele me olhava pensativo.

— Eu já falei que não me lembro desse passado e só vi Gabriel meia dúzia de vezes, nessa vida – respondi, mas escondendo um pouco a verdade, pois não queria que ele percebesse que eu estava muito interessada em Gabriel.

— Terei que repensar este assunto – considerou, como se não esperasse o rumo que a conversa tomou. – Vamos nos juntar aos outros, Diana. 


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