Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Já postei um capítulo hoje mas... Espero que gostem!



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Assim que me sento na cama do quarto de Matthew, percebo que não é o mesmo quarto que eu estava na outra vez. O quarto dele tem uma parede verde e as outras três, brancas. Tem muitos livros nas estantes e algumas roupas jogadas no canto perto do armário. Ao notar o que estou olhando, ele pega tudo e joga dentro de um cesto.

— Ninguém contradiz minha mãe. – O garoto fica em pé, perto da porta. – Ela disse para ser aqui, pois nenhum dos dois pode entrar no meu quarto.  Meu quarto é meio que protegido contra muitas coisas, e também é a prova de som.

— Pam sabe como você me curou? – Minha pergunta faz com que ele desvie os olhos dos meus e negue com a cabeça.

— Não exatamente. Sabe que eu rasguei a sua blusa para poder tocar na sua pele. – Ele cruza os braços, na posse indiferente que costuma ficar, mas seus olhos paracem de um menininho.

— Como eu não sou especialista nesses assunstos sobrenaturais, preciso que seja sincero. Beijar-me foi mesmo necessário? – Ele mantém o contato visual. Isso é bom ou mal sinal?

Foi necessário para você. – Matt continua perto da porta, sem se mexer. – Como dizer isso... Por não ser completo, para conseguir curar alguém naquele estado eu preciso de mais do que tocar.

— Hum... Entendi. – Eu tiro o sapato e sento na cama com as pernas cruzadas. – Continuando a ser sincero... Eu vou morrer?

Matt dá alguns passos à frente, chegando ao meu lado, mas não senta.

— Eu não vou mentir, já que pediu para eu ser sincero. – Ele coça a cabeça e fica sério. – Eu não sei. Quem pode dizer é a minha mãe. Se ela falou para eu cuidar de você, é isso que devo fazer.

— Entendi. – Eu acho. — Sobre o Said e o Chander...

— Eu sei. Você não os via antes. – Suas palavras me chocam. Acho que nem Pam percebeu isso.

— Por que diz isso?

Ele se senta ao meu lado e coloca o travesseiro no colo.

— Acho que se você os visse, eles estariam aqui ontem e você não se machucaria. Aquele cara disse que é seu guardião, não é? Que péssimo trabalho ele anda fazendo...

Olho para o garoto, que normalmente é indiferente, mostrando algum sentimento. Chega a ser ridículo eu ainda me achar normal.

— Como você pode vê-los agora? – Sua pergunta é direta, mas por algum motivo, eu não achei que Matthew fosse perguntar.

— Bem... Eu não tenho certeza, mas acho que foi por ter quase morrido. – Quase consigo escutar o “completamente”.

— Então isso teve um lado bom... – Ele murmura e depois me olha. – Quero dizer... Acho que agora você faz parte da nossa realidade, caso queira ou não.

— Na verdade, há uma forma deu voltar a ser normal. – Os olhos de Matthew parecem assustados com as minhas palavras. – Quero dizer... Eu não tenho certeza se eu consigo fazer de novo, mas...

— Você já pode... – Ele para de falar e respira fundo. – Então é melhor eu te curar logo. Assim você pode voltar para sua vida normal mais rápido.

O garoto levanta da cama e coloca o travesseiro no lugar. Por um momento, ele fica me encarando sem dizer nada.

— É... Então?

— Você pode se deitar? – Sua voz está bem insegura, como ontem. Mas ontem eu não precisei deitar... — Eu preciso... Passar a mão nas partes danificadas.

Concordo com a cabeça e coloco a mão na bainha da minha blusa.

— O que está fazendo? – Sua voz parece meio imprecisa. – É... Não precisa tirar a roupa dessa vez. Já que está de short, eu consigo tocar nas suas pernas e eu coloco a mão por dentro da sua blusa dessa vez.

Por que isso está parecendo muito mais indecente do que deveria?

— Matt... – Assim que digo seu nome, ele para de olhar para o meu corpo, e olha para meus olhos. – Vai doer?

— Vai ser um pouco quente... Menos do que ontem.

Concordo com a cabeça e deito na cama. Continuo olhando todos os seus movimentos. Primeiro ele fala alguma coisa e depois coloca as duas mãos em um dos meus pés. Ontem ele não tocou lá... Isso significa que ele não terminou o trabalho. Ele me deixou ir embora por que viu que eu estava com medo. Começo a sentir um formigamento e a temperatura subir perto da panturilha. Suas mãos vão subindo, e seu toque ora é leve, ora pesado.

Mordo a boca quando uma das suas mãos entra na bainha do short. Acho que ele percebe, pois pula para a minha cintura no mesmo instante. Matt coloca uma das pernas entre as minhas e a outra no outro lado da cama, para se apoiar mais fácil na minha barriga. Fica ainda mais quente quando suas mãos entram pela minha camisa.

— Ah... – Faço um barulho sem querer, e isso faz com que ele olhe para meu rosto. – Está muito quente...

— Eu sei... - Suas bochechas também estão vermelhas e antes eu achava ser vergonha, na verdade é porque ele também sente o calor.  – Desculpa.

Ele sobe um pouco mais as mãos, mas para de se mexer assim que percebe onde vai tocar. Sinto Matt engolir em seco e então tirar a mão de dentro da blusa e colocar no meu colo. Passa para o pescoço, e depois a nunca.

— Como eu não toquei em certos lugares, eu preciso... – Matthew olha para a minha boca e espera eu entender sozinha.

Coloco os cotovelhos apoiados na cama e olho para cima.

— Mesmo? - Ele faz com a cabeça o sinal possítivo e seu rosto parece bem sério. Volto a deitar e continuo parada. – Isso é realmente...

— Eu sei...

Matt coloca uma das mãos apoiada na cama e a outra segura o meu rosto para me beijar. Igual a outra vez, o beijo começa calmo e constante. Sua mão sai do meu rosto e vai para o meu pescoço. O beijo fica menos estável e mais forte. O calor parece aumentar por todo o meu corpo agora. Os instantes parecem infinitos, e eu não sei o que fazer.

Eu sinto sua blusa subir e abaixar, de acordo com sua respiração. Meus olhos estão fechados firme, como se isso pudesse conter o calor que Matthew faz em meu corpo. De alguma forma, uma das suas mãos chega na lateral da minha blusa e a puxa um pouco para cima. Percebo que o toque é mais intimo e menos controlado do que antes. Ele me segura pela cintura, e eu consigo sentir seu pesso descer um pouco. Sinto minhas mãos irem até sua blusa, involuntariamente. Coloco uma das mãos em seu peito e a outra em seu ombro. Eu não estou mais com dor de cabeça, nem aquele cansaço todo. 

— Matt. – Falo afastando minha boca da dele e encontando as nossas testas. Seu corpo está tremendo um pouco, e seu rosto está vermelho – Você está bem?

— Não muito. – Matthew parece continuar sendo sincero, nesse momento. – Eu não estou acostumado a curar pessoas tão prejudicadas...

— Quer dizer que você está assim, por que eu estava muito mal? – Ele concorda com a cabeça e gira o corpo, deitando do meu lado.

Era por isso que ele parece mais cansado do que eu, de novo. É como se eu estivesse sugando a vida dele. É isso o que os gêmeos fazem, não é? Sugam a energia da pessoa e elas ficam mal depois. Por que Matt está me curando, se ele parece ficar tão acabado? Viro o rosto para o lado e vejo seu peito subir e descer. Ele não pode desobedecer a Pamela... Isso significa que ela sabe que o filho fica tão destruido?

— Você está péssimo... – Digo olhando para seu rosto. Seus olhos estão fechados e um dos seus braços está tampando metade da minha visão.

— Obrigado. – Ele resmunga, ainda parecendo respirar com dificuldade.

— Pam sabe que você fica nesse estado?

— É a segunda vez que fico assim... Ela não viu ontem e não vai ver hoje. – Sua voz parece fraca.

— O que exatamente você faz, para ficar nesse estado? – Viro o corpo, para conseguir conversar melhor. – Tem algo que eu possa fazer para ajudar?

Ele parece pensar a respeito, mas sua resposta não tem nada haver com o que eu perguntei.

— Pensei que estava com medo de nós. – Seu peito sobe e desce devagar. Consigo escutar seu coração se acalmando.

— E estou. – Os olhos de Matt se abrem e ele olha de relance para mim.

— Não está, não. - Ele continua com o braço na frente do rosto, mas agora consigo ver seus olhos negros. – Ontem você estava morrendo de medo. Mas agora eu entendi que você estava com medo do que eu fiz, mas não estava com um medo exato sobre essa vida.

— Também tenho medo do que vocês são. – Digo sem filtrar nenhuma palavra

— Você está dizendo que tem medo de mim, uma fada que tem a função de ajudar a vida, mas não tem medo do Shinigami que veio com você? Você sabe que ele é um espírito da morte, não é? – Apoio o meu rosto na mão e faço que sim com a cabeça. – É. Você é mesmo estranha. Ou burra.

— Não é que eu não esteja agradescida por tentar restaurar a minha vida. – Eita frase difícil de fazer sentido para mim. — Eu apenas acho isso tudo muito estranho. Você sabe, eu sou irmã do seu pai.

Matt vira o corpo como eu fiz e me olha. Seu rosto está a um palmo de distância do meu e agora não tem mais o seu braço o tampando.

— Dizer isso em voz alta não piora a situação? – Sua voz está normal agora, e seu rosto não está mais vermelho.

— Tenho uma pergunta para fazer.

— Apenas uma? – A cara dele é de quem ouviu uma piada, seu sorriso é pequeno, mas ele com certeza está achando graça. – Diz.

— Quando você beija uma garota, ela vai sentir esse formigamento e o calor? – Ouvindo minhas palavras eu não estou ajudando a situação ficar menos estranha. — Quero dizer... Quando você as beija, também acaba as curando de alguma coisa?

— Não. Eu posso escolher usar meu poder ou não. Não sou tão instável assim. – Ele parece melhor agora. Matt boceja e coloca a mão na boca. – E depois de tanta energia, eu acabo tendo que dormir.

— Desculpa-me, por tudo isso. Não foi sua culpa eu ser descuidada e atropelada.

— Na verdade, a culpa é do motorista... E bem... Minha função na família é de médico.

— É para isso que está estudando? Por isso lê tanto? – Ele franze a testa e depois ri.

— Eu leio por que gosto. Também faço outras coisas, como os esportes. Realmente sou bom neles, e sobre estudar. Sou péssimo em biologia. Apesar de ser bom em usar ervas e curar pessoas, não sei nada de genética. Na minha cabeça, as coisas só acontecem. Eu não procuro ver sentido nisso. – Isso é bem diferente do que estava na minha mente. — Apesar disso, sou o mais inteligente na família. Apenas não sou bom em Biologia. O resto eu sou ótimo.

— Pelo o que os gêmeos disseram você está no primeiro ano, não é? – Ele concorda. – Ainda tem tempo para gostar de Biologia.

— Meu pai sempre diz o quanto você é inteligente e que na minha idade entrou para a faculdade. É horrível ser comparado a você, sabia? – Nego com a cabeça. – Eu sei sobre você desde que nasci. Você é um ano mais velha e meu pai ficava na sua casa. Só passei a vê-lo direito quando vocês se separaram. Então, o que foi traumatizante para você, foi algo bom para mim.

— Bom mais ou menos, não é? – Eu me sento e ele também se ajeita. – Afinal, ser cobrado é péssimo.

— Bem, para alguém que constantemente era esquecido, essa atenção era boa antes. Agora que te conheço é que isso fica péssimo. – Ele sai da cama e puxa a minha mão para me ajudar a me lentar.

— Por quê?

— Por que eu te imaginava diferente... Mais bonita, mais inteligente, mais devotada. No entanto, você é tão comum. Nem parece estudar tanto quanto ele dizia. – Matt cruza os braços e me olha de cima a baixo. – Não digo isso de uma forma ruim. Eu queria ter continuado normal. No entanto, aqui estou eu.  – Ele dá de ombros e segura a maçaneta da porta. – Eles dois devem estar loucos por causa da demora.

Como previsto, assim que Matthew abre a porta, Chander entra e me abraça forte, depois olha para o dono do quarto. Said fica de braços cruzados olhando para o garoto, que tem que inclinar um pouco a cabeça para olhar o Ceifeiro. Apesar de Matt ser mais alto do que eu, ele é bem mais baixo do que Said.

— Vamos, Cassandra. – A voz dele é bem séria e fria, e usar o meu nome inteiro me incomoda um pouco. Seu olhar está ameaçador e ainda mais brilhante. Sua pupila parece alongada verticalmente e isso dá ao Said uma aura mais selvagem.

Eu só tenho tempo de olhar para trás e ver o garoto-fada fechando a porta do quarto. Meu irmão fantasma está me puxando pela mão até o quarto de Tom, que respeitando o horário já está dormindo. Tem um colchão no chão e alguns travesseiros.

— Pode dormir no colchão. – Said continua do mesmo jeito que antes. – Nós não vamos dormir.

Olho da cama para o colchão e depois para meu irmão.

— Se não quer dormir, está bem. Mas deixe Chan descançar – Apago a luz do quarto e me arasto para a cama de Tom.

Como ele pode ser tão... Ah! Por que ele está assim? Eu estava no quarto de Matthew e apesar da forma que aconteceu, ele estava apenas me curando. Tudo bem. Eu estava com medo, como tenho medo de quase todos nessa casa, mas isso não é motivo dele ficar tão zangado. Tento enchergar no escuro do quarto, para saber se Chander já dormiu, mas tudo o que vejo são aqueles olhos azuis brilhantes. É como se tivesse deixado a luz ligada. Será que eu realmente gostava dele?

Chander é um fantasma que se parece se irritar muito fácil, e parecia que ia perder o controle na mesa. E pelo o que entendi, Said é um Shinigami que errou no seu trabalho, então eu virei uma missão inacabada. Isso não explica por que eles continuaram por perto mesmo eu não os vendo mais. Se Said é realmente um ceifador, ele não deveria ter uma foice?

Abraço Tom e continuo encarando o olhar fulminante do meu guardião, até eu pegar no sono. Se eu não te conhecesse direito, pensaria que você está querendo matar alguém nesse exato momento. Meus olhos piscam de cansado e eu bocejo.

— E você conhece?


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Notas finais do capítulo

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