Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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— Onde você estava?

Billy olha das minhas roupas rasgadas para a poeira impregnada em Said. Chander passa por ele e entra na casa resmungando. O meu irmão vivo coloca o braço a minha volta e me tira de perto do meu guardião. Ando com ele até o sofá onde ele pensa duas vezes antes de me deixar sentar. O silêncio da sala nos faz encararmos um ao outro por mais tempo.

— Eu estava na faculdade. – É a verdade.

Billy parece ter muito a dizer, mas se controla. Assim que percebe Pam entrando na sala, ele se levanta e aponta para mim.

— Por favor, amor. Me diz o que eu faço com uma garota dessa!

Pamela vem até onde estou sentada e coloca a mão em minha testa. Depois de respirar fundo, ela se senta ao meu lado. Pam parece saber demais, e ao mesmo tempo parece não fazer questão de mostrar aos outros.

— Você teve algo a ver com isso? – A pergunta é direcionada ao Shinigami.

— A salvei de um Espirito Errante. – Acho que não é bom dizer que fui eu quem quis fazer amizade com ela... — Cassandra não deve ficar sozinha nunca. Só de não prestar atenção nela por um segundo, já vira amiga de um espirito.

Pam olha de mim para Chander e depois de volta para Said.

— Pelo visto, ele te curou. – A mulher passa o dedo por cima dos pequenos cortes. – Mas apenas parcialmente. Não são todos os seres sobrenaturais que tem o dom da verdadeira cura. — Eu já sei de que filho ela está falando, quando a vejo se levantar. – Matthew está estudando, mas ele pode te curar rapidamente.

— Ela não precisa. – Said me ajuda a levantar, mas fica entre nós duas. – Cassandra vai para o quarto do Tom. Já está tarde, e ela precisa descansar.

Ótimo como as pessoas falam de mim como se eu não estivesse aqui.

— Está mais cedo do que noite passada. – Olhando para mim, Pam tenta tocar em meu ombro, porém meu guardião me empurra para trás, aumentando a distância entre os nossos corpos. – Isso aqui não é uma pousada. Se você vai morar aqui, tem que chegar na hora certa. Entendeu?

Como se fosse escolha minha vir para cá. Concordo com a cabeça e Said parece finalmente descansar.

— Mas vá ao quarto do meu filho. E se estiver bem, a janta é as nove. - Pamela puxa Billy para o quarto e eu o vejo resmungar alguma coisa.

Passo por Said e seguro a sua mão, o puxando escada a cima. Chander vem atrás quieto, parecendo estar pensando em algo. Bato na porta do Matthew e assim que abre, seus olhos param no homem atrás de mim.

— Foi ele quem fez isso com você? – Olho para baixo e lembro que minhas roupas estam cheias de rasgos. Nego com a cabeça e tento sorrir.

— Ele me salvou hoje. Mas pelo visto, Cê não consegue me curar direito. – O garoto faz um sinal para eu entrar e então vê que estou de mãos dadas a Said. – Eles podem assistir a você me curar. Apenas hoje...

Matthew me encara por um segundo e em seguida confirma com a cabeça. Procuro deixar minha mente vazia quando puxo o puff para perto da janela. Sento nele e espero que o moreno entenda que tem que ser diferente dessa vez.

— Desculpe-me por te incomodar a essa hora... Eu realmente preferiria não precisar que alguem me curasse toda hora.

Said fica em pé nos observando, ao lado do meu irmão.

— Eu vou começar pelas suas costas. Parecem estar bem arranhadas. – Assim que se ajoelha atrás de mim e coloca as mãos por cima da minha roupa, eu escuto sua voz baixa. – Você não pode ficar se machucando. Você nem deveria sair do quarto.

O ambiente parece mais tenso do que quando entrei. Eles dois se olham sem produzir nenhuma palavra por alguns instantes. Chander se levanta e toca a parede.

— Por que não consigo atravessar? – Ele empurra a parede, mas nada acontece.

— Hum... Com o elemento terra, posso controlar as barreiras do meu quarto. E de qualquer lugar. Então, apenas quem eu quero, pode entrar aqui. – Matthew dá de ombros e passa as mãos pela minha cintura, devagar e sem muito contato. – Com o elemento da água, controlo o sangue no corpo de Cass e a velocidade de sua regeneração.

Viro o rosto e nossos olhos se encontram. Matt parece estar controlando os próprios pensamentos. Não sei dizer se Said consegue ler a mente dele, como faz comigo, e isso me aflinge um pouco. Posso ser nova nessa família, mas esse garoto não me mostrou ser incapaz de receber minha confiança.

— Isso por você ser uma fada?

— Não qualquer fada. Sou um Leanan sídhe. Possuo poder dos quatro elementos. Sabe... Tenho ligações com a natureza... Apesar de ser novo nisso, como seu amigo disse.

Chander parece um pouco aborrecido, então solta a parede, atravessa o quarto e sai pela porta. O ceifeiro parece querer estrangular Matthew por suas mãos tocarem em mim, no entanto, não faz nada.

— Eu sei que você é novo nisso, fadinha. – Said se apoia na janela e olha para nós dois. – Mas vendo o estado do corpo dela... Você sabe que ela não está fria apenas pelos cacos de vidro.

— O que você quer saber exatamente, Shinigami?

— Quanto tempo a minha Cass pode ficar longe dos seus cuidados? – Aqueles olhos azuis brilhantes param em mim e vejo que Said está se sentindo preso aqui.

O garoto passa a mão do meu pescoço para os braços, fazendo queimar apenas os pequenos cortes. Quando ele termina, me ajuda a levantar e eu percebo que ainda continua doendo vários locais. Com os olhos, Matthew me pede para ficar quieta.

— Dado em consideração que ela morreu a dois dias, diria que por enquanto é bom que Cassandra venha ao meu quarto toda a noite e sempre que sentir alguma dor.

 Said segura a minha mão, igual a antes, e passa pela porta. Olho para o garoto-fada e ele parece incomodado com alguma outra coisa. Como se o fato de não terminar de me curar, doesse nele.

— Obrigada, Matt. – Vejo a porta se fechar quando acrescento. – Bom estudo.

 O ceifador anda pelo corredor até o quarto de Tom, sem tirar a mão da minha. Dentro do quarto, Tom e Chander parecem estar conversando sobre alguma coisa, enquanto leem historia em quadrinhos. Assim que me vê, o menininho se levanta e vem me abraçar, fazendo com que eu me solte de Said.

— Eu não sei explicar. – Ele diz contra o meu peito. – Mas toda vez que te vejo, eu fico mais feliz. – Tom olha para cima e sorri para mim. – É estranho, não é?

 A espressão sinsera e inguenua, no rosto do garoto, faz com que eu perceba que esse mesmo sentimento passa em mim. Parece certo. É a única coisa que pareceu certa nessa casa. Tom é pequeno e magro. Seus olhos e cabelos negros são iguais aos meus, e seu tom de pele claro também. Por ser o mais novo, parece sempre estar por fora de muitos assuntos. É como se Tom não fosse daqui. Como eu.

— Também gosto de você.  – Me ajoelho na sua frente, fazendo com que ele fique mais alto do que eu. – Você, pequeno, é o único da sua família que eu não tenho medo.

— Chan disse que você tentou fazer amizade com outro fantasma. – Ele olha para meu irmão. – Chan me conta tudo. Agora eu sei tudo sobre você. – Tom sorri de novo.

— Ah, é? Eu não diria que tem muito a saber. – Dou de ombros. – Eu acho você bem mais interessante. Me conte. Como é a sua vida, Tommy?

Tom dá alguns passos para trás, parando de sorrir.

— Nada demais. Não gosto da minha vida.

— Por que não? Você tem tantos irmãos! Deve se divertir muito! – Tento ser amigavel, e vejo que Chander não está mais aqui e Said parece bem desconfortavel.

— Você sabe o que eu sou? – Faço que sim com a cabeça, apesar de não saber exatamente o que significa ser um Banshee. – Eu sou mestiço e hibrido ao mesmo tempo. Não é algo que faça muito sentido. Minha mãe me fez ter dons que eu não desejava. Nenhum filho da minha mãe pode nascer com os poderes dela, sendo assim, ela sempre procurou casar com outros seres sobrenaturais. Mas papai é humano. Então seriamos fracos e poderiamos morrer nessa vida. Principalmente perto dos meus irmãos. Por isso ela me fez conhecer o meu outro eu. Ele não tinha nome, e era apenas um bebê como eu. Não sei da família dele. Minha. Nossa. É confuso. Quando nos juntamos nos tornamos um. Não é que ele suma e eu fique. Não é assim. Ele sou eu e eu sou ele. – Tom senta na cama e eu me levanto do chão para ficar na sua frente. Sendo um menino de cinco anos, mal deveria pensar tão claramente. Imagina falar dessa forma. Não gostar da própria vida. Dessa forma, eu amo e odeio minha mãe.

— Não sei se estou entendendo, Tommy...

— Por ser um Banshee hibrido, meus dons se fundiram com a minha parte humana. Agora a minha audição não é muito boa e vai demorar mais para ser aprimorada. Assim como os poderes de Matt. Mas, ao final, nossos poderes vão poder se descontrolar... E eu não sei o que pode acontecer. Não deveria ser para mamãe e papai ficarem juntos. Mas se estão assim, esses anos todos... Então, era para ficarem.

— Não acha que é muito cedo para ficar pensando nisso? – Acaricio a cabeça dele, e vejo seus olhos se fechando. – Por ser novinho, você não tem tanto poder ainda. Isso é ruim? Apesar de crianças da sua idade sempre brincarem de possuirem poderes, pelo o que Billy me controu do seu, não é algo muito... Desejoso.

O quarto está escuro, iluminado apenas pela luz da Lua. Tudo parece azulado, principalmente o quarto.

— É ótimo ter bem pouco desse poder. Mas quando a morte vem... É pertubador. – Vejo uma pequena lágrima caindo dos olhos do menininho, o qual tenta conte-la a todo custo. – Eu odeio. Odeio ser assim. Banshees prevêm a morte. Nós escutamos, vemos, sentimos.

— E podem impedir? – Pergunto, tirando a franja do seu rosto. – Você pode? Se já sabe que algo vai acontecer a alguém específico, poderia ajudar não é?

— Eu não sei. Minha mãe vive distante do Outro lado. O que eu posso descobrir é pouco comparado com a realidade. Matt vive lendo livros de feitiços, curas, elementos. Mas a primeira vez que eu o vi fazendo algo como aquilo, foi com você. – Tom boseja e apoia a cabeça na minha barriga. – De vez em quando, ele fica no jardim com Amon e algumas plantas passam a florescer mais rápido e até ficam mais bonitas. Mas não acho que meu irmão já tenha feito isso antes... Chan falou que você estava bem machucada, de novo. – Ele muda de assunto. - Eu to sentindo algumas linhas na sua pele. Eu queria poder te curar, como os outros... Mas não sei se banshees têm algum método. Eu mesmo nunca me machuco... Só meus ouvidos, que as vezes sangram por causa do que escuto.

Não percebo que estou o abraçando até sentir suas lágrimas molharem minha pele. Meus braços passam pelas suas costas e eu o aperto, o levanto e faço com que fique em pé na cama.

— Eu sei que sou apenas uma humana. Mas humanas também tem seus dons. – Sorrio de lado e dou um beijo em sua testa. – Vou sempre está com você, ok?

Ele concorda com a cabeça e me abraça.

— Eu sei muita coisa para a minha idade. Isso deve ser por que pego livros de adultos para lê. – Tom diz no meu ouvido, e isso me faz rir. – Matt já está na escola e mamãe fala que ele é o mais inteligente dos Petersons. Quero chegar perto.

— Quem sabe você fique mais inteligente do que ele?


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Notas finais do capítulo

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