Liberta-me escrita por Teddie, Jules


Capítulo 4
Propriedades notáveis e terrenos valiosos


Notas iniciais do capítulo

Teddie: To triste. Tenho que controlar minha psicose porque quem está postando é a Jules e não posso revisar mil vezes.

Jules: Por favor, não nos matem. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690894/chapter/4

Sons loucos em seus ouvidos
Eles fazem você se levantar e dançar
Fazem você se levantar
Durante toda a noite eles reaparecem
(...)
Eles não fazem você se levantar?
— Arctic Monkeys

          

  Pelo menos os dois primeiros dias, os que antecederam a chegada de Lorde Montgomery, foram curiosos. Isabelle levantava-se junto com o sol e saía de seu quarto sem nenhuma pista do que encontraria na mansão e ao redor; sempre pensara que o casarão Lightwood fosse grande, mas parecia uma casa de bonecas perto das propriedades de seu noivo. Maia a acompanhava em sua caminhada nos jardins pela manhã, sempre apontando algo novo e explicando sobre o lugar. Pelas tardes a jovem procurava pistas do vilão de seus pesadelos pela casa.

Nunca encontrou nenhuma pista.

Outra novidade era que os empregados, sem exceção, sorriam para ela com simpatia. Em sua antiga casa os empregados eram sempre coagidos e oprimidos e eles sabiam que deveriam manter distância dos patrões. Até mesmo Isabelle, que era mais simpática, tinha uma frieza para com os criados que não conseguia por em prática na mansão Montgomery. E, quando ela os questionara sobre o patrão, surpreendentemente nenhuma reclamação foi ouvida.

Ainda assim, ela se sentia em um teatro de marionetes. Como se ele estivesse criando uma ambiente teoricamente seguro e confortável e, com isso, o baque quando ele se revelasse seria maior. O monstro virá e me prenderá em seus braços quando eu estiver de guarda baixa, eu sei.

Descobrira também que os únicos pontos da propriedade que o Lorde não tocara eram os jardins, os mesmos que a receberam dois dias antes; a mansão, os cavalos, os casebres e a pequena plantação comunitária dos empregados estavam em perfeito estado.

— Pelo visto o Lorde só não se importa com as coisas belas — murmurou a jovem enquanto passava por um canteiro de rosas mortas. Sentia falta do jardim de rosas de Maryse, sentia falta de casa. Quase não ouviu o chamado de Maia; já era a hora do jantar e depois de tanto explorar, Isabelle estava exausta, mal conseguindo esperar pela hora de se recolher.

Maia era uma boa pessoa, de verdade. Era atenciosa, cuidadosa, divertida e espirituosa. Tratava-a como uma verdadeira dama e, ao mesmo tempo, como uma pessoa igual a ela. Sempre estava com um sorriso no rosto e a ajudava em absolutamente tudo.

Isso incluía a hora de trocar seus curativos e passar os unguentos. Isabelle resistiu o máximo que pode, mas quando o incômodo foi maior que o orgulho, ela reuniu toda a coragem e disse:

— Preciso de sua ajuda, Maia.

Maia preparou o banho e a ajudou a se despir, não conseguindo disfarçar o choque ao ver as costas e os braços de Isabelle chicoteados; pelo menos teve a decência e empatia não comentando. A Lightwood não entendia porque sua dama de companhia parecia tão surpresa, aquele tipo de ferimento deveria ser mais que comum e rotineiro nas propriedades.

Maia tratou de cada um dos ferimentos de Isabelle com atenção e carinho e a ajudou a por a camisola leve que não a machucaria. Quando a morena iria agradecer pelos cuidados, uma trombeta foi ouvida e Maia abriu um sorriso resplandecente. Isabelle ouviu também barulho de cavalos trotando e imaginou que fosse uma carruagem.

— O que foi isso, Maia?

— Ah, Srta. Lightwood, sinal de boas notícias. — deu um último laço na roupa de Isabelle — O lorde está de volta.

— Não estou apropriada para conhecê-lo — disse, mesmo que no fundo estivesse feliz por não poder encará-lo no momento.

— Não, senhorita, absolutamente — negou apressadamente — O lorde se apresentará quando achar que é conveniente. — e voltou a abrir um sorriso — Agora descanse, amanhã será um dia agitado.  

Maia deixou o quarto e Isabelle se sentia desperta, não entendia como conseguiria dormir sabendo que o homem que destruiria o resto de sua vida estava sob o mesmo teto que ela. Suspirando, deitou-se na cama, cobrindo-se por inteira, criando um casulo para protegê-la do mundo lá fora, um mundo onde aquele monstro dominava.

A cama era digna de uma princesa e talvez fosse por isso que, mesmo apavorada, Isabelle foi capaz de cair rapidamente em um sono profundo sem ser acordada por suas dores.

No entanto, fora acordada pelo violoncelo.

Ou ao menos pela alucinação dele.

Era como estar de volta ao baile fatídico, o coração parecia tentar quebrar as costelas, a respiração rasa e a sensação de estar cometendo um erro terrível. Contudo ela não sentia o aperto do espartilho ou cheiro das rosas brancas. Dessa vez a música era intensa e triste.

Rolou para um lado, logo depois para o outro, se libertou das cobertas de linho. Abriu os olhos. O som reverberando pelo quarto e pela mente de Isabelle.

  Encarou o teto do quarto de hóspedes da mansão Montgomery ofegando. Ele viria, ela sabia. Ia machucá-la no meio da madrugada e ninguém a ouviria gritar. O temor de Isabelle se amarrou em um nó no peito, crescendo junto com as notas do violoncelo, se tornando pânico. Ele viria, Ele estava lá! Preciso ir embora!

 Com um pulo ela saiu da cama, vestiu seu robe, escancarou a porta e saiu. Correu pelos corredores sem foco, a visão embaçada pelo que, momentos depois a donzela entendeu ser lágrimas, que desciam quentes pelo rosto. Tropeçou no tapete grosso e caiu contra o mesmo. A música ficara mais alta, e ela mal ouvia o próprio pensamento. Ou os seus soluços…

— Preciso ir embora, eu quero ir pra casa! Parem a música! ALEC!

O desespero a envolvia por completo roubando o ar de seus pulmões, pulsando freneticamente o sangue pelas suas veias. Ela tremia e esperneava quando a música parou, mas a jovem estava perdida demais em si para reparar nessa mudança, ou na porta abrindo a sua frente.

Mãos calejadas tocaram seus cabelos, seu rosto e desceram por seu braço, sobre as mangas emboladas do robe de seda.  Isabelle ainda não conseguia ouvir através da sua pulsação e se recusou a abrir os olhos.

O estranho a ajudou a se sentar no tapete, tocava suas mãos, subia com a carícia até os cotovelos, beirando levemente as feridas por cima das roupas e voltando para as mãos delicadas. Era um processo constante, ela podia se focar naquilo mesmo com tantos sentimentos brigando em si. A donzela partiu daquele ponto de contato e se concentrou em clarear seus sentidos: já sentia parcialmente o frio do corredor, podia ouvir ao longe gotas de chuva batendo nas janelas, no entanto, ainda não tinha forças para descobrir quem estava com ela. A única pista que ela tinha é de que era um homem, pois apoiara suas mãos no peitoral dele.

 Ele não a pressionou, simplesmente levantou-se e ajudou-a a fazer o mesmo. Segurando a mão fria da moça, a guiou pelos corredores por algum tempo e o som de uma maçaneta foi ouvido, entraram em um cômodo e o estranho a ajudou a se sentar em algo macio, saindo de perto dela. Apesar de ainda chorar e tremer, Isabelle acumulou coragem o suficiente para abrir os olhos.

Estavam no quarto dela, e a superfície macia debaixo de suas pernas era sua cama. Procurou pelo desconhecido no quarto, mas só conseguiu ver sua silhueta no escuro, sentado na poltrona mais afastada da cama. Isabelle estava mais consciente, porém seu coração não diminuiu o ritmo em nenhum momento, a dor no peito era intensa e o quanto mais ela pensava nisso e no estranho nas sombras, mais difícil de respirar ficava e mais seu coração doía. Sentia que iria morrer a qualquer momento, acabou.

— Isabelle, sei que é difícil, mas precisarei que faça algo por mim, tudo bem? — o estranho falou calmamente, com segurança. A voz dele foi o que ela precisava, mesmo que fosse impossível ver seu rosto na escuridão.

— N-não c-consig-go... — Ela sentiu a garganta arder ao falar. Abraçou a si mesma tentando controlar suas mãos. Não conseguia nem controlar seu próprio coração. Como poderia fazer algo além de chorar?

— Eu sei que consegue, Isabelle. Tente, por favor — ele teve cuidado ao escolher as palavras. Não podia assustá-la mais. — Conte-me cinco coisas neste quarto que você pode ver.

A jovem olhou ao redor, se concentrando na tarefa. Era difícil enxergar qualquer coisa na escuridão, mas a dor no seu peito pareceu fraquejar.

— A j-janela...  A pintura... As flores... O espelho e as paredes. — sussurrou no mesmo tom que o estranho, não que pudesse falar mais alto graças à falta de ar. Não quis olhar na direção de onde flutuava a voz. Não queria saber o que essa alucinação estava lhe trazendo.

— Muito bem. Agora diga-me quatro coisas que você pode tocar — ele propôs.

Por que ele está fazendo isso comigo? Ela se perguntou.

Depois de poucos segundos, ela respondeu:

— Os lençóis... O tapete, o criado-mudo e minha escova de cabelos. — ela tocara levemente cada um dos itens, concentrando-se em responder corretamente e sentindo também que escorriam menos lágrimas por suas bochechas.

— Ótimo. Dessa vez conte três coisas que você pode ouvir. — a voz dele demonstrava que ele também estava concentrado na tarefa.

Provavelmente também devia estar louco, pois não fazia sentido nenhum! Mesmo confusa, prestou atenção nos sons do ambiente.

— A chuva, as cortinas balançando e a sua voz. — falar ficou mais fácil, o ar já chegava aos pulmões. A dor no peito pulsava mais lentamente e a jovem não sentia mais que poderia desfalecer naquele momento.

Eu conheço essa voz...

— É uma jovem perspicaz.  Duas coisas que podes cheirar, por favor. — o tom era mais leve, a preocupação menos intensa. Isabelle conhecia mesmo aquela voz, mas suas memórias eram algo difícil de alcançar no desespero.

Isabelle fechou os olhos e inspirou.

— Sinto o cheiro de seu perfume e da terra molhada do jardim. — ela respirou profundamente algumas vezes, sentindo seus músculos relaxarem e o cansaço a atingiu. Ela bocejou.

— Última pergunta, Isabelle. Depois poderá descansar, certo? Essa é fácil, diga-me apenas uma coisa que você pode saborear. — a tensão não estava mais em sua voz. Isabelle quase acreditava que ouvira um suspiro.

—... Consigo sentir o salgado das minhas lágrimas... — porém elas já não desciam mais, assim como a dor que desaparecera.  

Vou viver. Está tudo bem. Eu estou bem.

A jovem não conseguia mais manter os olhos abertos, estava exaurida, dolorida e completamente relaxada pela primeira vez desde a partida do irmão. Sentiu um toque sutil em seu ombro, ajudando-a a deitar e depois a cobrindo com as cobertas caras. A última coisa que Isabelle ouviu foi:

— Excelente, belle Isabelle. Bons sonhos...

(...)

Isabelle se sentia um caco.

Quando Maia a acordou o Sol estava alto no céu e incomodava seus olhos. Ela tinha vontade de pedir a Maia que a deixasse dormir e que nunca mais a acordasse na vida. Tinha tido o pesadelo mais estranho de sua vida e não sabia ao certo como estava se sentindo em relação a isso.

Maia a sacudia levemente, chamando por seu nome baixinho, mas parecia que gritava em seus ouvidos. Definitivamente não queria acordar.

— Faz um dia lindo lá fora, Srta. Lightwood, já a deixei dormir por tempo demais. Precisa levantar-se. — o tom da voz de Maia era suplicante e ela se compadeceu. Provavelmente a dama de companhia levaria uma bronca do patrão impiedoso.

Estremeceu, se sentindo desperta. A voz firme de seu pesadelo rodou de novo em sua mente, fazendo-a se lembrar da dor e do sufocamento que sentira na noite anterior. Estava arrependida de ter vindo, em casa poderia sofrer inúmeras torturas físicas, mas pelo menos tinha Max para reconfortá-la. Não tinha ninguém naquela mansão.

Ela se sentou, afastando os longos cabelos negros do rosto e coçando os olhos preguiçosamente.

— Bom dia, Maia. — não sentia que seria um bom dia, mas não seria menos educada por isso — O que é isso?

Isabelle apontou para um pote com algo duvidoso, lenços e ataduras. Em sua casa, as criadas não trocavam seus curativos diariamente, inclusive, elas não tratavam bem de seus machucados também. Considerou se isso também não seria obra de seus pais e seu coração se apertou mais um pouco.

— Ontem após ajudá-la fui conversar com Lorde Montgomery sobre seus... machucados — Isabelle sentiu a raiva subir-lhe e a vontade de dizer que ela não tinha que contar nada para ninguém, mas a engoliu. Maia tinha o direito de contar porque ela agora era uma das propriedades do cretino — Não me olhe assim, senhorita, seus machucados não iriam se curar nunca, se conseguisse vê-los... Enfim, eu e o lorde discutimos bastante sobre o que podíamos fazer para que sarasse logo, até que chegamos a esse unguento especial. Já usamos várias vezes e ele é ótimo.

Isabelle apenas assentiu e retirou a camisola para que Maia pudesse trabalhar. Não se sentia disposta a falar nada. Estava cansada e deprimida e com saudades de casa. Que Maia e Montgomery fizesse o que quisesse com ela, não estava ligando.

— Vai arder um pouco, senhorita — Maia disse depois que limpou os ferimentos das chicotadas. Isabelle sufocou o resmungo de dor quando Maia encostou o unguento em sua pele machucada — A única coisa ruim é que terá as cicatrizes para sempre.

— Não me importo com cicatrizes, Maia — suspirou.

— És diferente, Srta. Lightwood. A maioria das mulheres não se conformaria em ter imperfeições na pele, principalmente sendo tão bonita como és.

Isabelle não respondeu, mas se sentiu um pouco melhor e gostou um pouco mais de Maia depois do elogio.

Por fim Maia enrolou as costas e os braços de Isabelle com ataduras novas e limpas e disse que trocaria pela noite. Vestiu a Lightwood com uma camisa branca e colete azul, assim como a saia. Isabelle insistiu que poderia calçar as botas sozinha enquanto Maia pegava algo na caixa de jóias.

— É absolutamente lindo, senhorita — Isabelle sorriu ao ver Maia admirando o colar dos Lightwood.

— É uma relíquia de família, dizem que entrou por meio de um romeno muito esquisito e desde então todas as mulheres Lightwood o usam.

Maia colocou o colar em seu pescoço e ela o tocou sentindo suas forças se renovarem. Ela era uma Lightwood, não tinha nascido para ficar chorando pelos cantos por causa do noivo tirano e dos pais horríveis.

As duas meninas desceram pelas escadarias comentando sobre o quão destruído estavam os jardins e o quão belos eram os jardins dos Lightwood. Claro que sua mente voltou para Meliorn, porém Isabelle não achou que convinha citar sobre a beleza de seu ex-amante.

Maia parou no salão principal e Isabelle ia perguntar o que tinha acontecido quando viu a mulher parada na entrada da casa. Ela tinha altura média e era magra; extremamente pálida e com os cabelos loiros prateados soltos em cascata por cima do vestido vermelho cheio e apertado. Suas mãos cobertas por luvas igualmente vermelhas seguravam um chapéu de viagem e ela parecia bem descontente de estar ali parada. Para Isabelle, ela parecia uma cobra prestes a abocanhar sua presa.

Isabelle a detestou na hora.

— Lady Belcourt — Maia fechou o sorriso e abaixou a cabeça.

Lady Belcourt sorriu friamente e se aproximou de Isabelle, rodeando-a, avaliando-a. Segurou o queixo dela pelos dedos cobertos e Isabelle pode sentir a frieza que a luva não conseguia esquentar.

— Não sabia que Lorde Montgomery tinha uma nova criada. — Isabelle a fitou com fúria que não pareceu a atingir — Uma criada que ainda precisa ser domesticada, pelo visto.

Isabelle respirou fundo e, retirando as mãos de Lady Belcourt de seu rosto sem delicadeza nenhuma, sorriu tão friamente quanto a loira.

— Não sou uma das criadas e muito menos preciso ser domesticada, mas pelo visto a senhora precisa de umas aulas de etiqueta. Sou a noiva de Lorde Montgomery, Isabelle Lightwood.

— Sou uma lady. Lady Camille Belcourt.

— Eu não me importo.

Camille fechou o sorriso, mas ainda continuava com a expressão maldosa.

— O lorde me falou sobre você, Senhorita Lightwood. — pronunciava as palavras lentamente, enfatizando o nojo no nome de Isabelle — Assim como me falou também sobre seus feitos antes de vir para esta casa. Grande noiva que meu lorde conseguiu. — sorriu novamente e voltou-se para a Maia — Não precisa me anunciar para o lorde, Maia. Ele já me aguardava.

Saiu do salão e Isabelle pode ouvir o barulho das botas contra as escadarias da mansão. O sangue da Lightwood pulsava em seus ouvidos e tudo que ela queria fazer era apagar o sorriso frio de Lady Camille Belcourt com suas próprias mãos.

Olhou para Maia e entendeu porque Camille a confundiu com uma criada, o uniforme da morena era composto de roupas azuis no mesmo tom que as roupas de Isabelle.

A Lightwood sorriu com a ideia que foi surgindo em sua cabeça.

— Maia, quando cheguei vi que tinha um vilarejo abaixo da propriedade. Tem comércio variado?

Maia assentiu, confusa pela patroa não estar exalando raiva pela visita de Camille.

— Sim, um comércio muito forte. A maioria pertence ao lorde, na verdade.

Isabelle sorriu travessamente, parecendo muito mais animada agora do que em todos os dias que já estava na casa.

— Troque de roupa, Maia e atrapalhe o que quer que esteja acontecendo lá em cima. Avise ao lorde que sairemos, vamos a esse vilarejo.

— Ah, senhorita, não sei se é uma boa ideia atrapalhar. O lorde não vai gostar.

— Isso é uma ordem, Maia. Eu assumo a responsabilidade se o lorde ficar incomodado. Agora vá.

Maia assentiu novamente e saiu pelo salão e nesse tempo Isabelle ordenou que outra criada mandasse alguém preparar a carruagem para ela. Quando Maia voltou, usava um vestido gasto branco e os cachos estavam presos em um penteado estilo princesa.

— O lorde pediu para dizer que – e estou citando – “a senhorita Lightwood tem o direito de ir aonde quiser sem precisar avisar-me ou incomodar-me em meus afazeres”.

Isabelle ignorou o tom grosseiro e indiferente do recado que seu noivo mandara e focou na estranha liberdade que teria ali. E ainda tinha ganhado pontos extras por incomodar o lorde de alguma maneira.

— Melhor ainda, porque já mandei preparar a carruagem e ela está lá fora nos esperando.

Isabelle não esperou a resposta da dama de companhia e virou-se para a saída da mansão, seus cabelos negros batendo soltos pela suas costas. Ouviu Maia correndo para alcançá-la e para manter o passo apressado da Lightwood.

— Se permite-me perguntar, o que faremos no vilarejo, senhorita?

Isabelle parou abruptamente perto do cocheiro que a aguardava para ajudá-la a subir na carruagem.

— O que entende de jardinagem, Maia?

            (...)

Isabelle se sentia feliz como há muito não o fazia. A tarde que passara no vilarejo fora a mais agradável que tivera talvez desde que Alexander fora embora. Todos os comerciantes a trataram como se ela já fosse a esposa de seu lorde, a chamando de Lady Montgomery por todos os cantos. Ela particularmente não tinha gostado muito disso, lembrava-se de seu primeiro pesadelo, onde Lorde Montgomery a algemava, mas não deixou transparecer.

Ainda que fosse considerada uma lady, não tinha sido temida, e sim amada. Imaginava que por ser a noiva de alguém tão impiedoso e cruel com os comerciantes das propriedades seria tratada com frieza e desprezo pelas pessoas, porém o que teve foi a reação completamente oposta.

 Eles temem que eu reclame com o lorde e que ele libere sua ira sobre o vilarejo, chegou à conclusão.

Constantemente a jovem procurava algum traço de medo ou de cautela no olhar das pessoas no mercado da vila, porém não obteve sucesso em sua busca, eles pareciam sinceros em seu afeto. Isabelle ocasionalmente se deixou relaxar e esqueceu-se de se sentir perseguida pela sombra do Lorde cruel de seus pesadelos.

E depois de passear com Maia, conhecer tantas pessoas e comprar o que precisaria para as melhorias do jardim, Isabelle sentiu-se estranha e por pouco não percebeu que o sentimento novo era liberdade, mesmo que escassa.

Alcançaram os portões da propriedade junto com o pôr-do-sol, as mercadorias pesando a carruagem e o cansaço pesando as pálpebras de Isabelle. Um relance de vermelho chamou a atenção da jovem, ao longe Lady Camille subia em sua carruagem opulenta.  

Isabelle tentou transmitir todo seu desgosto pela mulher por seu olhar e torceu para que uma das rodas se quebrasse no meio da viagem e que a lady tivesse que esperar pelo resgate durante horas em seu vestido vulgar no sereno da noite.

As carruagens dividiram a estrada de terra por um momento e pela janela da outra carruagem Lady Camille acenou com deboche para Isabelle.

Nesse segundo, Isabelle olhou para o céu e desejou uma tempestade para aquela noite. Infelizmente, o céu estava limpo e com certeza seria uma noite estrelada.

Finalmente a carruagem parou e Isabelle desceu antes mesmo que o cocheiro saltasse para abrir a porta. Maia apenas riu e a acompanhou.

— Maia, reúna os funcionários enquanto eu ajudo Eric a descarregar a carruagem com os materiais para o jardim. Preciso falar-lhes.

A menina assentiu, atravessando as portas e sumindo dentro da mansão.

Depois que Isabelle instruiu Eric, o cocheiro, a organizar as coisas onde tinham que ser organizadas, entrou na mansão, dando de cara com todos os funcionários da casa parados no salão e Maia do seu lado, olhando-a interrogativamente. A confiança de Isabelle caiu um pouco a ver tanta gente a encarando; no geral, não gostava de discursos, não gostava de ser a pessoa a dar ordens, mas era uma coisa que precisava ser feita.

— Hoje fui surpreendida com a visita de Lady Belcourt e tenho que dizer que não gostei nada disso — seu tom de voz era firme e ela esperava que estivesse sendo bem sucedida — Portanto eu criei algumas regras. Primeira: quero ser informada de todos que entram e saem dessa casa, mesmo que seja visita particular do lorde. — os empregados assentiram, alguns trocando um sorriso que só eles entenderiam — Segundo: Não quero mais visitas de Camille Belcourt aqui. Ela está proibida nessa casa, me ofendeu gravemente.

— Srta. Lightwood, Lorde Montgomery tem negócios importantes com Lady Camille — disse um dos criados — Ela não pode ser proibida.

— Que os dois se reúnam no escritório do andar de baixo.— não deixou que a interferência a atrapalhasse — Não é apropriado que uma dama suba para os aposentos de um homem comprometido. E eu quero saber quais são os negócios que os dois tanto tratam.

— Não acha que está sendo demasiada impetuosa, senhorita? — Maia perguntou em voz baixa.

Ela virou-se para a dama de companhia, exibindo um sorriso esperto e malicioso.

— Lorde Montgomery não quis se casar com Isabelle Lightwood? Pois bem, eu tenho algumas exigências para me casar com ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem :3 Sua opinião é muito importante pra gente :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Liberta-me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.