A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 23
Por Quem os Sinos Dobram


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos!
Em virtude do feriado, essa semana resolvi adiantar a publicação do capítulo porque amanhã dificilmente vou entrar na internet. rsrs
Após a alucinante perseguição ao trem, finalmente Enrico e Davis estão chegando a Brave City. A grande luta está prestes a ter início. O fim dessa aventura se aproxima pouco a pouco.
Espero que gostem!
Quero dedicar esse capítulo a todos que me acompanharam até aqui, principalmente os estimados Matheus Braga, Jessica, ArveeneNymeria e Lehh, sem os quais Enrico não seria o personagem que é. A eles todo o meu amor, carinho e agradecimento.
Também quero dizer obrigado a todos aqueles que chegaram aqui e nunca deixaram um review. Quem sabe hoje não é o grande dia em que se sentirão tocados e deixarão um comentário para alegrar a vida desse projeto de escritor? rsrs

Esse capítulo (deve obrigatoriamente) pode ser lido ao som de For Whom the Bells Tolls, do Metallica, música inclusive que nomeia o título do capítulo. Metallica é minha banda do coração e, para quem não sabe, eles também são grande fãs de faroeste; muitos riffs e temas deles são de filmes antigos western. Vou deixar o link aqui para quem quiser: certeza que vai propiciar melhor imersão na narrativa.

https://www.youtube.com/watch?v=bg92QpjRcJk


Boa leitura!!!!



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Peter Davis e Enrico De La Cruz viajaram sem pressa. Ainda que se por algum milagre Francisco Herrera tomasse conhecimento do que acontecera a seus comparsas no trem, não dispunha de tempo para se organizar a fim de obter reforços. Teria de se contentar com a guarda pessoal composta por trinta homens para protegê-lo.

Seguiram num trote tranquilo, sem forçar os cavalos, respeitando seu ritmo. Eles mereciam descanso depois de todo aquele galope desenfreado da perseguição ao trem.

Pararam em um posto comercial na orla de um bosque, especialmente frequentado por caçadores, que servia também como posto de troca, para que condutores de diligências substituíssem seus animais fatigados por montarias novas e descansadas.

 Ali ambos repuseram a munição gasta no confronto com os homens de Slater, além de conseguir água e provisões. Lá também conheceram um comerciante de peles com algum conhecimento médico que, por vinte pratas, topou costurar o ombro machucado de Davis. 

Os dois cavaleiros chegaram a Brave City pouco antes das onze horas da manhã do dia seguinte. Decidiram aguardar a vinda da noite para entrar em ação. Acamparam então nos arredores da cidade tomando cuidado para não ser vistos e esperaram.

Estudaram as possíveis entradas e saídas. Viram a grande movimentação de homens que, de armas em punho, rondavam pelas ruas de Brave City.

Herrera posicionara um verdadeiro exército de capangas nas ruas para esperar por seu enteado, o jovem De La Cruz.

Peter e Enrico gastaram toda a tarde observando a cidade e preparando o ataque. Descobriram que a mansão mais bem vigiada no fim da rua principal era o lar de Herrera, bem como, provavelmente, o cativeiro do Sr. Summers, pai de Catherine.

Satisfeitos com suas descobertas, assim que Enrico checou o ferimento de Davis só para constatar que estava bem melhor, trataram de providenciar uma refeição reforçada.

Acenderam um fogo baixo para não denunciar sua posição e atrair atenção indesejada, e então o loiro se encarregou do almoço. Retirando um pouco de mantimentos dos alforjes nas selas, o americano fritou ovos, linguiça, toucinho, carne seca e batata, bem como preparou um pouco de feijão com farinha de milho.

Comeram lado a lado, sentando-se no chão, alternando as colheradas com goles de água fresca dos cantis. Segurando o rústico prato, Enrico deu uma risada entre uma garfada e outra.

— Gostaria de saber o que é tão engraçado. — comentou Davis com a boca cheia de feijão e toucinho.

— Estou lembrando aqui de uma frase de um antigo rei espartano chamado Leônidas. Preparando-se para ir, com seus trezentos melhores guerreiros, travar uma guerra que não podiam vencer devido à superioridade numérica inimiga, mas disposto a morrer lutando, ele disse a seus homens o seguinte: “Almocem aqui comigo e jantem no inferno.”. Ironicamente acho que esse é bem o nosso caso.

Enquanto Enrico ria antes de atacar de novo a comida, Davis estalou a língua num muxoxo de desagrado ao dizer em tom de reprimenda:

 — Garoto tolo, já disse e repito: precisa ter um pouco mais de fé.

Continuaram a conversar animadamente à medida que comiam. Assim que terminaram, Enrico foi passar um café para ambos e Davis afastou-se alguns passos. Enrolando um cigarro, o olhar perdido no horizonte, ele percebeu uma mudança repentina no ar. O vento que soprava em seu rosto parecia um pouco mais frio e úmido, e o americano sentiu que não tardaria a chover.

As horas corriam com a lentidão de um século.

Passaram a tarde se revezando; um assumia o turno de vigia e o outro se deitava a um canto, com o chapéu sobre o rosto, tentando descansar o melhor que podia para a batalha que se avizinhava.

Finalmente o sol começou a desaparecer no horizonte distante, e o céu foi sendo tingido de vermelho, um vermelho tão escuro e vivo como o sangue que ía ser derramado ali naquela noite. Enrico e Peter recarregaram suas armas silenciosamente e depois se entreolharam.

— Tem certeza de que quer fazer isso? – quis saber o jovem pistoleiro – Afinal, essa luta não é sua.

— Vivi trinta e três anos e nunca deixei um amigo na mão. Não vai ser agora que isso acontecerá. E você, tem certeza de que deseja isso?

— É o que me trouxe vivo até aqui. Se depender de mim, vai haver muito barulho em Brave City hoje. Está na hora de Francisco Herrera pagar por todos os seus crimes.

Montaram em seus cavalos e rumaram para a entrada do povoado, acobertados pelas trevas da noite recém-chegada.

Ao ouvir o som de galope de dois cavalos que se aproximavam destemidamente da cidade, os homens de Herrera ergueram suas armas e olharam com atenção ao redor. Entretanto, divisaram apenas dois belos cavalos encilhados avançando sozinhos, num trote tranqüilo, montados por ninguém.

Os pistoleiros, confusos, coçavam as cabeças enquanto contemplavam os animais subirem sem pressa a rua principal.

Francisco Herrera contratara um grupo de quase trinta homens para protegê-lo. E esses bandidos estavam na rua agora, liderados por Wally Meyers e Jeff Nilman, os dois membros restantes do grupo que atacara o rancho La Madre de Diós.

Embora fossem pistoleiros cruéis e destemidos, naquela noite Meyers e Nilman estavam particularmente amedrontados. Consideravam a chegada daquele par de cavalos um mau presságio.

Um arrepio percorria suas espinhas e não era devido o vento gelado procedente do deserto. O que os fazia tremer era o fato de saberem que o tal De La Cruz também andava à sua procura. Ele queria exterminar seu patrão Herrera; porém, antes iria querer a pele deles. Tinham participado do assalto ao rancho onde viviam os De La Cruz tempos antes, matado sua mãe e atirado nele.

Agora Enrico tinha sede de vingança. Sangue inocente clamava por justiça. O fantasma do passado surgia para perseguir Meyers e Nilman, e vinha sob a forma de uma sombra mortal.

A sombra de um pistoleiro.

 Ouviram falar bastante de Enrico De La Cruz.

Era muito mais que um nome.

Era uma lenda.

Parecia só um garoto mexicano se aventurando pelos caminhos árduos dos Estados Unidos.

Parecia.

Apesar de sua pouca idade, tratava-se de um pistoleiro sem igual. Mandara muitos ases do gatilho renomados para a outra vida.

Comentavam sobre ele aos sussurros em saloons de todo o Oeste.

Contavam sobre sua implacável sede de vingança, sua pontaria invejável, sua velocidade incomum, seus reflexos de gato, seu brilho sinistro no olhar, seus Colts cruzados nos coldre do cinturão no peito, à moda dos melhores atiradores mexicanos. Seu cordão com balas deflagradas, que trazia ao redor do pescoço, também era citado de modo temeroso pelas pessoas.

A simples menção do nome de Enrico De La Cruz gelava nas veias o sangue dos piores pistoleiros. Alguns diziam que vendera a alma ao Diabo para obter aquela velocidade incomparável e pontaria infalível com as quais, dia após dia, cidade por cidade, duelo por duelo, ele vinha conquistando sua almejada vingança.

Dos quatro homens responsáveis pela destruição da vida de Enrico e por transformarem-no que ele era agora, dois deles já tinham recebido o que mereciam. Kirk Ortiz e Paul Blake não mais existiam. Meyers e Nilman seriam os próximos, e estar cientes disso os aterrorizava.

Decidiram se separar em dois grupos.

 Quando iam começar a caçada, escutaram o trovejar inconfundível de um Winchester.

O tiro rasgou a escuridão com a velocidade do raio. Vindo de não se sabia onde, o poderoso balaço atingiu em cheio a cabeça de um dos homens que estavam bem ao lado de Wally Meyers.

Perplexos, os bandidos contemplaram o esguicho de sangue subir como uma flecha vermelha rumo ao céu escuro, seguido por uma tenebrosa chuva de miolos. Foi tudo tão rápido e assustador que o homem nem chegou a ver o que o acertou. Não teve tempo sequer de gritar: apenas deu um salto macabro e mergulhou de cabeça em um bebedouro para cavalos, o qual estava a poucos passos de si. Nenhum animal voltaria a beber daquela água tão cedo, porque ela se tornara rubra como o vinho.

Paralisado pelo terror, Wally Meyers assistiu a morte de seu companheiro de olhos esbugalhados. Estava assustado demais para esboçar qualquer reação. Apenas rezou para que não fosse o próximo. O pistoleiro que estava à sua direita se tornou o alvo seguinte. Recebeu o tiro no peito e viu-se jogado violentamente para longe, batendo as costas contra a grade de madeira da varanda mais próxima.

Nesse instante o sino da igreja soou. Os homens de Herrera, embora fossem muitos e estivessem armados, sentiram um pavor indescritível. O retinir metálico dentro da noite tornava a situação muito mais tétrica.

Não ventava naquela hora. Então, quem desamarrara o sino? E por quem, afinal de contas, ele estava soando?

Havia especialmente duas ocasiões em que o reverendo fazia o sino dobrar: quando queria convocar os fiéis para a celebração, ou para anunciar que alguém tinha morrido. Como não era horário de missa, aquele era um aviso fúnebre, não por quem tinha morrido, mas para quem estava prestes a morrer.

Aquilo era o sinal de seu fim. O anúncio do Juízo Final.

Na verdade, aqueles homens eram pistoleiros profissionais e todo assassino se mostrava supersticioso ao extremo. Sabendo disso, Enrico e Davis usaram esse fato a seu favor; o medo que os inimigos sentiam equivalia a uma poderosa arma, da qual deveriam lançar mão. Então, enquanto De La Cruz se escondia nas sombras e se posicionava, Davis subiu na torre da igreja sem ser notado a fim de desamarrar o pesado sino, que imediatamente se pôs a tocar. O terror encheu o coração dos bandoleiros. O Winchester se calara, dando lugar ao reverberar metálico na noite.

Então, ao sombrio badalar do sino, Enrico fez sua entrada dramática. Emergiu silenciosamente das trevas empunhando seu mortal par de Colts. Seus olhos brilhavam mais do que o normal, de modo assustador.

Parecia um espírito saído das entranhas da noite. Ao vê-lo, os bandidos sustiveram a respiração. Seus corações falharam uma batida. O jovem mexicano os fitou por alguns instantes, como se os quisesse hipnotizar com seu olhar gelado e metálico, tão metálico quanto o próprio repicar do sino. Em seguida, abriu fogo. Mais dois homens caíram sem vida.

Os pistoleiros de aluguel assistiam a tudo em silêncio, imobilizados, ao passo em que aquele rapaz infernal os mandava categoricamente para o além. Não conseguiam gritar nem atirar. O medo os congelava. Assemelhavam-se a ovelhas diante do abatedouro, aguardando resignadamente o momento de serem sacrificadas.

Os dedos velozes de Enrico faziam os Colts funcionar veloz e impiedosamente. Ele parecia um espectro, um demônio, o próprio anjo da morte. E a cada vez que apertava os gatilhos, era como se realmente o anjo da morte estivesse ali entre eles, manejando sua foice diabólica, destruindo seus corpos, ceifando suas vidas e se apoderando de suas almas. Os bandidos tinham a impressão de que seria inútil atirar contra Enrico. O som constante dos disparos se misturava ao sussurro do vento e o retinir medonho do sino da igreja.

Foi então que, reunindo a pouca presença de espírito que lhe restava, Jeff Nilman conseguiu sacar e lançar uma faca. Havia algum sangue índio em suas veias e, por isso, poucos homens manejavam lâminas como ele. Executou um arremesso perfeito e a faca partiu girando na noite, zunindo, rumo ao inimigo que os aniquilava. O gesto foi surpreendente até para o próprio Enrico. Viu a faca cruzando o ar em sua direção e esquivou-se a tempo, mas, mesmo assim a lâmina o feriu de raspão no rosto. Todos puderam ver o filete de sangue escorrendo em sua face morena.

— Não é um demônio. Apenas um homem comum, como nós! – gritou Nilman a plenos pulmões, furioso, como se lançasse ao mundo seu grito de guerra.

— Fuzilem esse miserável! – rugiu Meyers subitamente, encorajado pela atitude do amigo.

Ouvindo a ordem, os pistoleiros saíram de seu estado de transe e ergueram as armas. Enrico se jogou para trás, desaparecendo na escuridão segundos antes de uma verdadeira chuva de balas ser enviada contra ele. Mas quando isso se deu, o jovem De La Cruz já causara um grande estrago entre eles. Dos trinta homens iniciais, apenas vinte ainda estavam de pé.

 Assim que todos dispararam contra Enrico, alguém também abriu fogo às costas deles. Atordoados, perceberam que havia um segundo atirador atrás deles, na igreja, alojado na torre do sino e disparando em sua direção. Viram-se obrigados a cessar a fuzilaria e procurar abrigo imediatamente enquanto muitos de seus amigos tombavam atravessados pelas balas. Ocultos, alguns pistoleiros ainda atiraram contra a torre  apenas para conseguir acertar o enorme e prateado sino eclesial. Os projéteis atingiam a dura superfície metálica e ricocheteavam, zunindo em diversas direções. E o sino soava sem parar, fúnebre, insistente.

Nesse meio tempo, Enrico já se recuperara do susto e estava novamente posicionado em algum canto escuro, de onde tivesse visão mais ampla. Recarregou rapidamente suas armas e voltou a atirar.

Do alto da torre da igreja, Peter Davis o imitou. Estava seguro, protegido pelo sino, e tinha uma boa visão da rua, dos pistoleiros. É verdade que o barulho ali era intenso, terrível, mas nada que seus ouvidos não pudessem tolerar.

Na rua, os facínoras sofriam. Os tiros brotavam agora simultaneamente pela frente e por trás deles. Notando que aquele fogo cruzado iria exterminá-los em breve, os bandidos se dispersaram em debandada. Fugiram como coelhos assustados. Dos vinte homens, mais dez sucumbiram quando o fogo cruzado teve seu início.

Os dez sobreviventes se puseram a correr em direções opostas, a maioria deles muito mais preocupados em salvar a própria pele do que eliminar os terríveis inimigos de seu patrão. Mesmo assim, aos poucos iam sendo abatidos por tiros certeiros de Peter Davis e Enrico De La Cruz.

 Enrico ainda não estava satisfeito, pois tinha contas a ajustar com Jeff Nilman e Wally Meyers, os dois patifes remanescentes do maldito quarteto o qual um dia invadiu sua casa, matou sua mãe e o deixou gravemente ferido. Esses homens não deveriam ter vivido até ali. Contudo, naquela noite, pagariam por sua monstruosidade. E pagariam com suas vidas.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo!

E aí, gente? Que acharam desse capítulo?

Ansioso para saber a opinião de vocês.

Aguardo aquele review lindão para eu saber o que gostaram e o que não gostaram.

A gente se vê por aqui semana que vem!
Forte abraço!!!



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