Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 36
Medo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Mil desculpas pela demora! Estava de férias e precisei pausar umas coisinhas, estava atolada, mas agora voltamos com rumo ao final da fic!



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 — Haja o que houver, não pode comentar com ninguém que ele é um homem!

— A-Alteza, já começaram rumores sobre até um possível herdeiro seu!

— Como!?

— Falam que é uma moça com quem esteve… uma plebéia que escondeu...

Aquelas vozes pareciam tão distantes. Havia aflição naquela conversa. Quem estava falando? Do que estavam falando?

Sentindo seu corpo pesar Ja’far abriu o par de olhos verdes. Foi quando viu as costas do primeiro príncipe que conversava com outra pessoa. Quem era?

Onde estava? - piscando, bastante confuso, ele olhou ao redor para obter sua resposta. Aquele quarto... não pertencia a Sinbad. Era onde havia acordado mais cedo.

O remexer dos lençóis chamou a atenção do ruivo que, rapidamente, deu as costas ao médico da corte e correu até a enorme cama que ficava no centro dos aposentos reais do palácio de Balbadd.

— Ja’far! - Kouen, exasperado, exclamou. - Como se sente, meu amor?!

— O que aconteceu?

— Devia ter me falado que ainda não estava se sentindo bem! - tomando uma das mãos do alvo ele a levou aos seus lábios para beijar aquela pele tão suave. - Você desmaiou assim que o pedi em casamento! - o ruivo sorriu.

Kouen havia o pedido em casamento? Não se lembrava de absolutamente nada do que tinha acontecido após ter chegado naquele salão e se deparado com o príncipe. A confusão estava estampada no rosto de Ja’far, fazendo com que a preocupação crescesse dentro do ruivo.

— Quer que eu chame o médico para examiná-lo? Ele disse que foi só uma indisposição, mas…

— Na-Não. Eu… Eu estou bem. Só, realmente, não me senti muito bem, En...

Era o melhor. Ja’far se perguntava se aquilo era efeito daquela pancada na cabeça que o fizera recobrar a memória. De qualquer maneira, Kouen nem podia imaginar que não estava mais sofrendo com a amnésia. Mas aquilo era tão estranho… O que tinha acontecido? Não se lembrava de ter sentido indisposição alguma. Sentia-se tão bem até o momento em que Kouen o levou pela mão, subindo aquele tablado.

— Não devia ter se esforçado indo no jantar se ainda se sentia indisposto.

Havia tanto carinho nas palavras do príncipe quando ele usou a mão livre para tocar o rosto pálido. O coração apertou. De certa forma Ja’far se sentia sujo ao enganar alguém que abriu tanto seu coração e o amava genuinamente. E, mais uma vez, aquele pensamento cruzava sua mente: seria melhor se… nunca tivesse se lembrado de como amava Sinbad.

— Fico feliz que tenha aceitado usar aquele hanfu. Pedi para as melhores artesãs o confeccionarem. Usaram as medidas das roupas que usou quando esteve aqui. Como está mais magro, ficou um pouco…

— En… - Ja’far o interrompeu e o encarou sem vacilar. - Por que está querendo que me passe por uma mulher?

Kouen engoliu a seco e desviou o olhar. Ja’far não sabia dizer de onde veio a coragem que teve para segurar firmemente o queixo do ruivo, forçando-o a encará-lo.

— É isso?! Para assumir um relacionamento comigo… tenho que me tornar outra pessoa?

— Não é isso, Ja’far. - ele mordiscou o lábio.

— É claro que é! Me vestiu de mulher e quando acordei ouvi aquele homem dizendo que acham que vou… te dar um filho?! - a descrença e indignação refletiam na expressão de Ja’far. - Isso é um absurdo!

— Ca-Calma! - o ruivo gaguejou, o que era algo que dificilmente acontecia. - Eu só quero deixar tudo mais fácil para nós dois!

— Quando me pediu, aliás, me intimou a voltar para cá, não disse nada sobre eu ter que me… travestir! Eu posso… - Ja’far estava consternado. - amá-lo, En, mas isso não muda o fato de que eu sou um homem e não quero ser… sua imperatriz!

Era a gota d’água. Aquela declaração havia enfurecido Kouen. Era um ultraje. Uma desfeita.

— Está louco?! Sabem quantas mulheres sonham em estar no seu lugar?!

— MULHERES! - Ja’far enfatizou ao rebater. - Eu não sou uma! Por mais que minha aparência possa enganar, eu não me envergonho de ser um homem que… ama outro homem! Se for assim, se eu não puder assumir quem sou e você tiver VERGONHA de mim, nada feito!

Ja’far foi categórico. E como Kouen odiava aquilo, ser desafiado daquela maneira. Seu orgulho era maior que tudo, até mesmo que os sentimentos que nutria por Ja’far.

— Ótimo! - suspirando, Kouen farfalhou os fios avermelhados, demonstrando o quão irritado e nervoso estava. - Você prefere aquele miserável que nunca foi capaz de te assumir, que te enganou por anos, do que eu!

— Pelo menos o Sin nunca me obrigou a ser outra pessoa! - Ja’far foi na mesma ferida que Kouen tentara atingir.

— Porque ele sabe que não precisa te assumir! É só ele estalar os dedos que você vem, como um vira-lata, abanando o rabo para el...

Não houve tempo para completar. Sem dó Ja’far estapeou o rosto de Kouen que, atônito, se perguntava como ele tinha coragem de fazer aquilo. Os olhos rubros arregalados faiscaram quando ele agarrou os dois pulsos do alvo.

— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!

O vociferar do príncipe veio acompanhado do forte sacolejar que puxou e empurrou Ja’far para trás e para frente. E por mais medo que o conselheiro de Sindria tivesse, ele não se abalou. Permaneceu a encarar o príncipe.

— Como ousa fazer isso?! Sabe quem sou?!

— Sei… - Ja’far sussurrou. - Um arrogante e prepotente que acha que pode ter tudo! Que acha que eu posso até mesmo abandonar quem sou para obter seus caprichos! - ele tremia, mas estava tão determinado! - Quer que eu diga mais?!

Kouen se conteve o máximo antes de empurrar o alvo de volta na cama. As costas de Ja’far bateram na cabeceira. Como estava furioso! Ser atacado por um plebeu, pior, um ex-assassino sujo daquela forma… Se fosse um nobre qualquer Kouen já teria declarado a sentença de morte. Mas… aquilo doía muito mais por vir de Ja’far. Alguém com quem ele precisava se controlar para não cometer uma besteira. Não. Não podia perdê-lo, ainda mais agora que havia saído, finalmente, vitorioso.

— Pois saiba que… - ele seguia em direção à porta sem encará-lo. - a partir de amanhã você terá que vestir os mais lindos hanfus e prepare-se para se portar como minha futura esposa!

— Se eu estiver aqui amanhã! - Ja’far não se intimidou.

O ruivo se virou de frente, novamente, para encarar o alvo para ver aquele olhar… tão desafiador… De longe, vagamente, lembrava os olhos verdes que transbordavam doçura. Aquele não era seu Ja’far.

— Se não estiver aqui… aquela ilha vai ter afundado.

Foi tudo o que Kouen disse antes de sair e, com toda sua força, bater aquela porta.

Finalmente estava sozinho. - Ja’far levou uma mão ao centro do peito, ofegante.

Mas o que estava fazendo?! Não podia desafiar Kouen daquela forma. Uma hora ele descobriria que não estava mais sofrendo com a amnésia e tinha se lembrado de tudo. Mas não podia também aceitar se portar como uma mulher para assumir aquele compromisso.

Ja’far se deitou, encolhendo-se ao abraçar um daqueles travesseiros. Estava com medo. Um medo que não sentia há muito tempo, já que estava cercado por pessoas que o amavam e o protegiam. E pensar que havia desconfiado tanto e os maltratado de uma forma tão cruel...

Você prefere aquele miserável que nunca foi capaz de te assumir! Quem te enganou por anos!

As lágrimas que ele prendeu durante toda aquela tensão, na qual se manteve inabalável, rolaram quando se lembrou das palavras duras, mas tão reais, do príncipe. Sinbad nunca o assumira. Durante 20 anos viveu uma mentira enquanto tinha de assisti-lo receber carícias das diversas concubinas que o cercavam. Ja’far, pessoalmente, cuidava de cada uma delas, de inspecioná-las, verificando se estavam apresentáveis o suficiente para seu homem.

— Você tem que entender, Ja’far! Eu também não gosto de fazer isso!

O rei havia lhe seguido desde o jardim interno, onde acontecia mais uma das inúmeras festas daquele país. Ja’far marchava a sua frente, estarrecido após ver uma das novas concubinas enfiar a mão por dentro das vestes de Sinbad, apalpando-o descaradamente.

Era claro que, apesar de todas as moças saberem que haviam limites, os quais deviam respeitar, todas sonhavam em fazer o rei se apaixonar e, quem sabe, assumir uma como sua rainha. Quem não desejava se casar com aquele homem que, além de poderoso, era dotado de tanta beleza e simpatia?

Ja’far tinha sido ingênuo aceitando aquela nova moça como concubina de seu rei. Havia a escolhido com certo receio. Mas pensou que ela fosse qualificada. O pior de tudo era se lembrar da reação de Sinbad, que simplesmente riu e permitiu tal feito, divertindo-se com a situação.

— Eu não posso deixar claro que odeio ser cortejado por elas!

— Claro que você não gosta! Claro que não! - com ironia Ja’far murmurava ao subir as escadas ignorando o aflito Sinbad que tinha em suas costas.– Você tem que entender! Eu não posso assumir que tenho um compromisso com...

Foi quando Ja’far cessou o caminhar e se virou de frente para ele. As palavras se perderam quando o coração do moreno se apertou ao ver os orbes verdes completamente inchados e vermelhos. As lágrimas formavam rastros que atravessavam o rosto pálido.

— Com um homem, não é?! - Ja’far perguntou o óbvio. - Claro, afinal, como… o viriiil, o heróooi, o graaaande Sinbad vai estar… - ele tentou rir, debilmente, enquanto as lágrimas caíam. - apaixonado por… por um homem! Pior ainda, Sinbad, por seu conselheiro! Por seu em-pre-ga-do! - sibilou.

— Ja’far… - Sinbad não sabia o que dizer.

— Será que engana mesmo a elas que bebeu demais e dorme antes como diz que faz? Que usa Zeppar para enganá-las? - o alvo cruzou os braços. - Não vai até o final, Sinbad?

— Não duvide da minha fidelidade, Ja’far. Está me ofendendo! - o rei advertiu.

— VOCÊ está ofendido?! - Ja’far era pura indignação. - Eu já me conformo que seus lábios sejam de outras, Sinbad. O resto do seu corpo, também, é só um detalhe. No final sou mais uma, mais uma diversão. A diferença é que comigo é escondido. Com elas você desfila. - ele gesticulava com as mãos trêmulas. - Talvez seja fácil para você se aliviar comigo sem medo que eu apareça carregando um filho seu como pode acontecer com elas! É mais fácil não ter que arcar com as responsabilidades, não é?!

— CHEGA! - exclamou um furioso Sinbad que se aproximou para segurar suas mãos, descendo-as para se aproximar. - Por que não entende que não é fácil?!

Ja’far facilmente girou os pulsos e se desvencilhou daquele que, até então, o segurava.

— Por que VOCÊ não entende que não é fácil PARA MIM!?

— Ja’far!!!

Reabrindo os olhos ele encarou as mãos e, então, as unhas que eram compridas e afiadas desde que era um assassino da Sham Lash, com a diferença de que agora elas estavam pintadas de vermelho.

Quantas vezes, em segredo, desejou ser uma daquelas moças que podiam desfrutar de Sinbad sem a menor vergonha? Quantas vezes desejou estar ao lado daquele homem para sempre… Algo que jamais poderia fazer sendo um homem. Quantas vezes… desejou ser uma mulher para poder se tornar a rainha que Sinbad precisava?

Talvez… Kouen estivesse certo. - ele suspirou ao cerrar os olhos para deixar duas lágrimas caírem. Sentia-se tão exausto. Não demorou para que adormecesse e como Ja’far desejou nunca mais acordar.

—------xxxxx-------

Como todas as noites desde que Ja’far partira, parecia impossível pegar no sono.

Passava das duas da manhã quando Sinbad cansou de rolar de um lado para o outro da cama, levantando-se para respirar um pouco de ar fresco.

Caminhou até o quarto que ficava ao lado de seus aposentos. Ele permaneceu de pé naquela porta ficando a observar aquela cama vazia. O lençol impecável a forrava, algo que o próprio Ja’far fazia questão de arrumar assim que acordasse. E quantas vezes não dividiram aquele leito de amor juntos? - Sinbad suspirava, recostado ao batente, antes de seguir até aquela cômoda.

Abrindo a primeira gaveta ele encontrou algumas poucas peças de roupas, bem dobradas, junto do keffiyeh, o qual o rei levou até a altura do rosto. Inspirando o perfume de Ja’far, impregnado naquele objeto, ele levou a peça esverdeada até o peito.

Não podia acreditar no que tinha visto. Ja’far estava tramando contra ele! E… havia fugido para se casar com Kouen. Nada mais fazia sentido. Será que mesmo se lembrando de tudo, ainda assim, ele preferia Kouen?

— Já chega, Sin!

Aquela alta pilha de papéis que Ja’far carregava foi arremessada em sua mesa.

O rei piscou, desentendido, enquanto via o rosto pálido se contorcer em fúria.

— Não é possível! Não faz nada direito!!! - ele continuava a reclamar.

Eu assinei tudo o que pediu, Ja’far. - com calma Sinbad o respondeu.

— SIM! ASSINOU TUDO! SEM LER! SEM CONFERIR NADA!

— Eu pensei que você já tinha conferido! - ele tentava manter o mesmo tom.

— CLARO! Eu sempre tenho que cuidar de tudo! Tenho que cuidar das suas roupas, da sua comida, do seu sono, do seu descanso, até mesmo dos vinhos que bebe para encher a cara e, claro, do SEU trabalho!

Ja’far estava descontrolado, à beira de um ataque de nervos, andando de um lado para o outro enquanto pensava em como iria resolver tudo aquilo. Uma cena nada inédita no palácio.

— Agora como vou mandar correspondências a todos esses países, redigir todos esses contratos e pedir novos para que você volte a revisar?! O que digo?! Que meu rei é um irresponsável!?

— Ja’far! - Sinbad se pôs de pé. - A única coisa que quero que faça é que vá tomar um banho, descansar. Está há dias focado nesses documen…

— SIM! - o alvo parou e marchou até seu rei. - Fiz tudo isso para você destruir completamente meu trabalho! Eu não aguento mais! Eu vou enlouquecer!!! Eu...

Sem cerimônias, o moreno agarrou firmemente os braços de Ja’far e o puxou, abocanhando os lábios entreabertos de seu desprevenido conselheiro. Tentando se soltar, Ja’far se debateu, mas foi em vão. Sinbad era muito mais forte e tudo o que pôde fazer, preso pelos braços fortes dele, foi receber aquele beijo.

— AI!!!!

As carícias foram interrompidas no instante em que Sinbad gemeu, sentindo um filete de sangue escorrer. Ja’far, sem dó, tinha mordido sua língua.

— Ja’far!!!!

— CHEGA! Eu estou cansado de você fazer o que quiser e me comprar com seus beijos! EU ESTOU FARTO, SIN!

Sinbad se lembrava de tantos momentos em que via Ja’far irritado, completamente estressado, drenado pelo trabalho que o consumia e que ele costumava fazer por dois. Quantas vezes seu conselheiro estava atrás dele pedindo, em um apelo sofrido, para que tivesse mais responsabilidade?

Cansou de encontrá-lo dormindo sobre pergaminhos, rodeado por xícaras de café que ele tanto bebia para permanecer acordado e trabalhando. De vez em quando as olheiras ficavam mais evidentes e ofuscavam a alvura tão bela.

Ja’far poderia, simplesmente, ter se cansado daquela vida, daquele martírio que era servir a Sinbad e, pior, alguém com quem tinha um relacionamento.

Talvez… as coisas fossem bem diferentes com Kouen. Talvez… Ja’far fosse mais feliz com ele. Não era muito difícil isso, afinal, certamente Kouen tinha quem fizesse todo o trabalho que, em Sindria, era sobrecarregado em Ja’far.

— Sinbad?!

A voz grossa chamou a atenção do moreno. Sinbad se virou para trás, sem soltar o keffiyeh, e encontrou ninguém menos que Hinahoho. O robusto homem tinha os braços cruzados e estava parado à porta.

— Por que está acordado a essa hora? - o moreno indagou.

— Porque meu rei precisa de um de seus generais para cuidar dele. - ele sorriu. - Não devia estar na cama? Parece cansado. Precisa dormir.

— Não consigo dormir… - Sinbad respondeu ao, dando um passo para trás, cair sentado naquela cama. - Hina… Você acha que eu… sou um mau rei?

— Hm?! - Hinahoho arqueou uma sobrancelha. - Que tipo de pergunta é essa?!

— É ruim trabalhar para mim? - ele encarou seu amigo.

— É claro que não. - sendo direto, Hinahoho adentrou o lugar. - Mas por mais que você seja muito bom, nunca vai merecer alguém como o Ja’far.

Como aquelas palavras doeram! Mas Sinbad sorriu, melancólico, concordando com Hinahoho. Seu amigo, mais velho e bem mais experiente, sabia do que estava falando.

— Tem razão…

— Ja’far é tão bom em tudo o que faz… que nem a melhor pessoa do mundo o merece. - Hinahoho prosseguiu. - Ele se cobra demais. Mas se está perguntando se era digno para que ele ficasse ao seu lado, a resposta é ‘não’. - ele foi sincero.

— Mas Kouen… o merece mais do que eu?

— Não sei. - suspirou o homem que era muitas vezes mais alto que Sinbad.

— Por que Ja’far nos abandonou e preferiu ele, Hina? - murmurou o moreno.

— Já te disse: porque ele é tão bom… que você não o merece. Pense bem que, por ser tão bom, o Ja’far pode não estar fazendo o que ele quer… Aliás, Sinbad, você alguma vez perguntou ao Ja’far o que ele realmente quer? Se ele quer ficar trabalhando dia e noite? Se quer estar ao seu lado? Pense nisso...

— Hina...

O silêncio permaneceu após aquelas palavras que não pareciam nem um pouco vazias.

De fato, Sinbad acreditava que Ja’far estava conformado em viver com ele como sempre estiveram vivendo, naquela rotina tão agradável onde as alterações de humor de Ja’far eram comuns, sua estafa também, assim como… o fato de Sinbad não se dedicar a ele.

Pense bem que, por ser tão bom, o Ja’far pode não estar fazendo o que ele quer…

Será que ele, realmente, queria viver ao lado de Kouen como parecia ter escolhido?

—------xxxxx-------

Dois dias se passaram e Kouen nem ao menos adentrou os aposentos que lhe pertenciam. Em contrapartida, Ja’far permanecia naquela cama, decidido a ficar ali o tempo que fosse.

Estavam assim desde que, na tarde daquele mesmo dia em que discutira com o príncipe, duas criadas foram até ali e lhe mostraram lindos hanfus e kimonos caríssimos, feitos sob medida para a futura imperatriz. Ja’far demonstrou total desinteresse, o que as fez apenas guardá-los nas gavetas dos criados-mudos espalhados pelo quarto.

Mas, diferente dos demais dias, Ja’far estava tenso, afinal, a criada que trazia seu café-da-manhã havia dito que o príncipe exigia a presença da futura imperatriz no jantar. E não, Ja’far se negava a se vestir daquela forma que ele considerava um ultraje. Até quando aguentaria aquela situação?

Pela janela ele observava o pôs-do-sol. O mar azul cintilava na linha do horizonte. Será que Sin olhava na mesma direção? - ele se perguntava com um sorriso bobo, abraçado aos joelhos.

— Ela deve estar se arrumando, alteza!!!

— Por favor, tenha paciência!!!

Aquelas vozes chamaram sua atenção. O coração do alvo disparou quando as portas duplas foram escancaradas e um furioso Ren Kouen adentrou aquele lugar. A empregada que o acompanhava, sutilmente, desapareceu pelo corredor.

Ja’far engoliu a seco, suando frio ao encarar o homem cujo olhar gélido pairou sobre si.

— Por que ainda não está pronto?!

Os dedos do alvo se fecharam entre os lençóis de seda.

— Porque não vou vestir uma roupa feminina. Suas criadas me chamam de ela.

— Porque vai ser minha imperatriz, Ja’far! - ele insistiu. - Agora vista-se que estou cansado já de tudo isso! Já lhe dei tempo o suficiente!

— Estou indisposto! - rebateu Ja’far.

— Não minta!

— Por que eu mentiria?!

— Se está ou não, vista-se. Não me importo!

— CHEGA! - vociferou o alvo. - É para isso que me trouxe aqui?! Par ser seu prisioneiro?! Não se importa comigo?! Com o que eu sinto?! - ele se levantou, cobrindo-se com aqueles lençóis, já que se negava a usar as roupas que lhe foram dadas. - NÃO É ESSE O KOUEN POR QUEM ME APAIXONEI!

— E NEM VOCÊ É O JA’FAR POR QUEM ME APAIXONEI!

— EU TE ODEIO! - Ja’far praticamente cuspiu.

Os dois ficaram a se encarar. Ja’far não hesitava um instante, desafiador. Aquilo fazia o sangue de Kouen ferver. Ele odiava ser desafiado. Não. Não permitiria mais que…

— AGH!!!

Ja’far sentiu a mão de Kouen agarrar seu pescoço. Usando um único movimento Kouen o empurrou a ponto de fazê-lo cair de costas na cama. O ruivo travou seus dedos em sua garganta, fechando-os cada vez mais, assistindo os olhos verdes crescerem gradativamente enquanto o alvo se engasgava, lutando para respirar, tentando se soltar ao segurar o pulso do príncipe.

— Nunca mais! Nunca mais ouse dizer isso! Eu estou cansado de ser desafiado por você! Sabe com quem está falando?!

Seria seu fim? - Ja’far se questionava enquanto que o rosto sério de Kouen começava a desaparecer. Os cantos de sua visão foram escurecendo enquanto ele buscava ar.

— ARGH! E… En… - escapava entre os engasgos.

— Você está proibido de deixar de me amar, Ja’far! Se você deixar de me amar, se me odiar, Ja’far, eu vou te matar!

A tranquilidade com a qual o príncipe falava contrastava com o desespero do ex-conselheiro de Sindria que, já enfraquecido, começava a perder a consciência, estando em suas últimas tentativas quando o ruivo o soltou, colando seus lábios nos dele.

Mal conseguindo respirar, Ja’far tossia estando bastante desnorteado, completamente vulnerável às carícias que Kouen desferia em seu corpo exposto. As lágrimas caíam enquanto ele se via, literalmente, nas mãos do príncipe.

Não podia morder a língua dele, como costumava fazer com Sinbad. Kouen o mataria.

Até mesmo se não o amasse, verdadeiramente, poderia morrer. - ele pensava ao sentir os beijos do ruivo descerem seu pescoço e então, subitamente, cessarem quando o encarou.

— Eu te amo, Ja’far! Me entenda! Eu só quero poder andar ao seu lado, ter orgulho de exibir você como minha imperatriz!

Ele tremia sabendo que não poderia responder nem ao menos rebater qualquer insanidade que Kouen dizia. Sim, Kouen estava completamente fora de si. O tempo em que ficara longe, com Sinbad, o afetara tanto assim?!

— Eu tive tanto medo de perdê-lo para sempre! - a resposta veio bem rápido daquele que permanecia debruçado sobre o corpo de sua futura “imperatriz”. - Agora não posso deixar que corra o risco de… de me deixar! - ele se emocionava. Eu quero me casar com você na semana que vem! Nem um dia a mais, meu amor...

Ja’far estava atordoado, com os olhos arregalados ao ver aquele homem agora lhe apalpar, acariciar, beijar… O mesmo homem que há pouco havia dito que ia matá-lo. Ele ainda sentia o ar faltando e aquele arder em seu pescoço que latejava forte.

Só havia uma certeza: se continuasse ali, ao lado de Kouen, o príncipe o mataria… Então Ja’far precisava matar Kouen primeiro.


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Notas finais do capítulo

É tarde demais, mas finalmente o Ja'far percebeu que foi uma péssima ideia voltar para o Kouen. Mas coitado, só queria defender Sindria, sendo que nem isso pôde fazer já que o "En" pretende invadir e matar o Sin só para ter certeza de que sua "futura imperatriz" nunca mais terá chance de ficar nos braços do nosso rei de cabelo de berinjela! O problema é que o En entrou num estado doentio porque era muito fácil lidar com o Ja'far fragilizado, desmemoriado. Agora que o Ja'far afiou as unhas, está o enfrentando, ele vira o tipo de pessoa que DESACATA ele como autoridade, tira o orgulho dele e isso é algo que o Kouen detesta, né? Então ao mesmo tempo em que ele ama, ele não admite que o Ja'far possa contrariá-lo! Mas essa história está PERTO de acabar! O que será que vai acontecer? Tchan tchan tchan tchaaaan!
Lembrando que sempre leio e respondo as reviews, por mais que eu demore! ♥ Hahaha! Então lembrem-se, mandem reviews, comentem, elogiem, critiquem! A opinião de vocês é muito importante para mim! ♥



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