Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 37
O Fim


Notas iniciais do capítulo

Apesar do título do capítulo AINDA não é o fim. Hahaha! Feliz ano novo, pessoal! ♥ Peço desculpas pela demora em postar, como sempre, né? E a responder reviews tbm! Andei bastante atolada e, infelizmente, impossibilitada de escrever, mas vamos que vamos que falta muito pouco para acabar!



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Ele se esforçou para abrir os olhos. As pálpebras, tão pesadas, refletiam o cansaço que, nem de longe, devia pertencer a alguém que havia acabado de despertar. Estava de bruços, o rosto amassado sobre o travesseiro, quando tentou se levantar.     Não conseguiu.

Seu corpo estava dolorido dos pés à cabeça, mas em especial suas costas e seus quadris.

Com dificuldade ele girou a cabeça para o lado oposto e a razão daquelas dores se personificou naquele ruivo que, até mesmo adormecido, permanecia com a expressão carrancuda.

Ja’far sentiu o coração dar um leve sobressalto, um aperto que demonstrava o que estava sentindo: medo. Apesar de Kouen não ter sido violento durante o sexo que fizeram, apenas o seu habitual, Ja’far não pôde se esquecer do príncipe lhe enforcando, tentando sufocá-lo.

Instintivamente o alvo levou uma mão ao pescoço e deslizou os dedos naquela região, para cima e para baixo. Ainda doía. Ainda podia sentir a quentura da mão de Kouen ali, como se esta tivesse sido estampada para sempre em sua pele.

Tudo entre Kouen e ele tinha sido tão tranquilo. Nem ao menos brigavam… Mas agora Kouen havia deixado claro quem era. Ja’far era, meramente, seu prisioneiro. Onde estava com a cabeça quando pensou que poderia deixar tudo para trás e viver com aquele homem? Mas ele não teve escolha. Não queria ver seu país, seu povo, seus amigos, seu amado, irem à ruína... mais uma vez. As imagens do que viveu em sua adolescência ainda eram nítidas demais em suas lembranças.

Com um pesado suspiro, Ja’far refletiu que precisava se acostumar… com sua nova vida até o momento em que Kouen finalmente perdesse a paciência e o matasse - e ele pedia aquilo, silenciosamente, enquanto o observava dormir.

Retirando o pesado braço que dava a volta em sua cintura, Ja’far se levantou, caminhando até aquelas cômodas de mogno escuro. Queria se trocar. Mas ao abrir aquelas gavetas, tudo o que encontrou foram aqueles luxuosos hanfus, adornos de cabelo e joias femininas. Não havia saída. - ele pensou ao mordiscar o lábio inferior. Aquilo era tão humilhante! Mas não podia pensar daquele jeito. Precisava ocupar sua mente, sair dali. E com aquele pensamento ele cobriu o corpo nu com aquelas belas vestes que misturavam amarelo e branco.

Ele corou ao se ver no espelho enquanto tentava alinhar aqueles tecidos. Perguntou-se o que Sin acharia se o visse daquele jeito. Será que… o agradaria também?

— Não precisa se arrumar tanto.

A voz rouca chamou a atenção de um Ja’far que se virou para trás para encontrar o ruivo sentado naquela cama. Ele tentava estalar o pescoço, bastante despojado e à vontade ao estar na sua frente.

— Você sempre está lindo! É perfeito!

Ja’far se lembrava que, se aquele elogio viesse durante o tempo em que estava desmemoriado, seu coração aceleraria. Mas tudo o que Ja’far sentiu naquele momento foi… repulsa. Ele abaixou a cabeça e evitou encará-lo. Sabia que, ao fazer aquilo, estava desagradando o príncipe, mas sufocaria se não o fizesse.

— Aonde pretende ir? Posso saber?

O alvo, inconscientemente, cerrou os punhos firmemente. Felizmente as longas mangas cobriram aquele gesto e Kouen não notou a raiva que Ja’far externava da maneira que podia.

— Há! - ele riu, irônico, ao encarar o ruivo. - Sou mesmo seu prisioneiro, então? Não posso sair?

— Não disse que não podia sair. Só gostaria de saber onde vai e creio ter esse direito já que sou noivo.

— Não se preocupe. - um novo riso, dessa vez bem debochado, escapou. - A pessoa com quem eu te trairia está muito longe daqui! - Ja’far cruzou os braços ao se encostar naquele cômoda. - Quero ir trabalhar! Ao menos isso posso fazer, não? Ajudei você com a economia de Kou e aqui, em Balbadd, isso não deve ser diferente. Sou o minis...

A gargalhada do príncipe interrompeu a fala de Ja’far, ecoando pelos aposentos reais. Bastante irritado, o ex-assassino se conteve justamente para não aflorar os instintos da profissão que havia deixado no passado.

— Ja’far, está louco?! Aqui não é Kou! Ninguém o conhece aqui! Você é a moça por quem me apaixonei e farei minha esposa. Não sei os costumes daquela pocilga de onde veio, a qual você chama de país, mas moças casadas, em especial a esposa do soberano, não arregaça as mangas para trabalhar. Tudo o que deve fazer aqui é se cuidar para mim e me satisfazer quando a noite cair.

— Anh?! - a palidez habitual de Ja’far cresceu exponencialmente. - Se vou ficar aqui, o mínimo que quero é ocupar minha mente trabalhando! - ele explicava ao ver Kouen se levantar, nu, sem nenhum pudor ao encará-lo.

— Ja’far… - o príncipe se aproximou. - eu não tenho culpa se nunca foi tratado da forma que deve ser tratado quem se deita na cama do rei. Eu não vou tratá-lo como um empregado como Sinbad fazia. Quero que viva tranquilamente e com os luxos que merece, apesar de… estar tendo um comportamento muito estranho desde que chegou. Por acaso se lembrou de como amava Sinbad? Aquele homem que te tirou de mim?!

Aquela mentira. Novamente Kouen proferia aquela mentira asquerosa com a qual o convenceu a se entregar a ele. A se deitar nos seus lençóis imundos… A trair Sinbad…

— Ou aconteceu alguma coisa enquanto você estava em Sindria, ou…

— Sabe que não me lembro de nada! - era a melhor alternativa, Ja’far pensou ao cuspir aquelas palavras. - Tudo que sei é que o Rei Sinbad me tratou muito bem e todos daquele país! Por mais que… - como era terrível repetir aquelas falácias. - que tenham me enganado, En… Eu os amo! Eu tenho carinho por eles! - “Assim como tenho por você, que me enganou.”, Ja’far completou em pensamento.

Ja’far se assustou quando sentiu o queixo ser agarrado pelo príncipe. Kouen ergueu seu rosto para que pudesse encará-lo. Seriamente ele questionou:

— Incomoda tanto assim o fato de eu falar mal de Sindria ou de Sinbad?

O alvo tentou desviar o olhar, mas Kouen o apertou mais. Os olhos esverdeados encontraram o ruivo.

— Você é uma boa pessoa, En… Por que precisa fazer tão mal para eles se eu… - nem Ja’far entendeu quando sentiu as lágrimas caírem. - eu escolhi você, En! Deixe que Sinbad viva a vida dele! Aquela ilha! Você mesmo diz que aquela ilha é minúscula, medíocre! Vamos viver nossa vida! Desde que voltei… tem sido tão agressivo e… Não se parece com o En por quem me apaixonei…

— Ja’far...

A mudança na expressão do príncipe foi nítida. Isso! Ja’far tinha conseguido atingir o coração de Kouen. E agora, sim, ele realmente lembrava aquele homem por quem, genuinamente, se apaixonou ao estar desmemoriado.

— Tsc, você também tem agido de uma forma muito estranha! Às vezes penso que…

— Não, En, eu não recuperei minha memória se é isso que tanto teme! - Ja’far exclamou. - A única coisa que quero é que cumpra seu acordo. Passei um tempo em Sindria e fui bem tratado por eles…

— Você sabe que eles te tiraram de mim antes! Você sempre pertenceu a mim quando o levaram e…

— CHEGA DE MENTIRAS! - esbravejou Ja’far.

Kouen piscou, completamente perplexo. Ele… sabia que toda a história que havia contado, o inverso do que realmente aconteceu, era uma mentira?

— Do… Do que está falando? - Kouen se desesperou.

— Me deixa! Estou cansado!

Ja’far deu meia-volta, mas o príncipe agarrou firmemente seu braço. E como o alvo odiava aquilo. Era a materialização do sentimento presente desde que chegara ali: estava preso.

— ME SOLTA! - ele vociferou ao agitar o braço, mas ainda era fraco demais diante de Kouen.

— Não! Eu não vou deixar você ir! Vai fugir quando eu estiver distraído, não?!

— Você está louco!!! - as lágrimas voltavam a cair, mas agora elas representavam apenas sua frustração em meio a tanta ira. - Eu só quero ficar sozinho!

Não sabendo o que responder, Kouen apenas pôde ouvir os soluços de Ja’far. Sua mão havia deslizado um pouco do antebraço até o pulso do alvo. A pele clara estava marcada com seus dedos tamanha força fora investida em segurá-lo. Estava machucando Ja’far. Ele tinha razão: estava ficando louco. Mas… como não temer perdê-lo mais uma vez?

— Acalme-se, sim? - ele tentou. - Vou deixá-lo aqui no quarto então, tudo bem?

Kouen soltou Ja’far para que o conselheiro de Sindria pudesse abraçar a si mesmo. Ele chorava, nitidamente assustado, quando o ruivo passou ao seu lado em direção à porta. Ele parou para encarar aquele que permanecia lhe dando as costas.

— Eu te amo, Ja’far. Tudo que estou fazendo é para nosso bem!

— Me aprisionar?! Me travestir?! Me agredir?! - com a voz trêmula ele questionou.

Suspirando, tudo que o príncipe fez foi dar meia-volta e sair daquele quarto.

Ja’far mal conseguia se sentir aliviado quando ouviu o barulho da chave trancando aquele quarto… pelo lado de fora. Desesperando-se ele marchou até a saída, rapidamente girando a maçaneta e a forçando para constatar o óbvio: estava trancado.

— EN!!! - ele batia na porta. - EN, ABRA ISSO! EEEEEEN!!!!

O alvo esmurrava aquela superfície. Estava disposto a arrombar aquele quarto e sair dali. Não. Não podia permanecer prisioneiro das loucuras de Kouen. Quando imaginaria que, ao voltar para o lado do príncipe, ele estaria completamente dominado por um ciúme possessivo que era capaz de atentar contra sua vida?

Tomado pela raiva, Ja’far permaneceu a bater aquela porta. Estava ofegante quando encarou as próprias mãos e encontrou as unhas maiores, afiadas, e os dedos começando a enrugar.

Ele arregalou os olhos, bastante assustado. Não. Não. Precisava se acalmar. Ele sabia bem o que estava acontecendo.

Ja’far deu meia-volta e se encostou naquela porta, deixando o corpo deslizar até o chão onde ele ficou, abraçando a si mesmo para tentar conter “aquilo”. Ele sentia o coração acelerado enquanto tentava, de todas as formas, controlar a respiração rasa e rápida. Lembrava-se das várias vezes que Sinbad teve de lhe conter para evitar o pior.

Sin… Em todos os momentos ele habitava seus pensamentos, seu coração. Será que não viria lhe buscar? Nunca? Era o melhor… Afinal, só estava atrapalhando a vida dele mesmo… Sabia que Sinbad gostava de mulheres. Agora sem ele, poderia se casar, ter uma rainha de verdade a qual lhe daria filhos… Ele teria a linda família que sempre mereceu ter. Uma família de verdade… Algo como as tantas coisas que Ja’far não poderia lhe dar…

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A comoção na sala de reunião tinha motivo. A maioria dos generais não podia acreditar no que estava ouvindo. Sua majestade iria invadir um país? Isso era contra todos os preceitos da Aliança que ele mesmo havia fundado, contra todos os ideais que Sinbad pregava. Esse, que era o único que se encontrava de pé ao redor daquela mesa redonda, viu quando Sharrkan levantou a mão.

— Diga, Sharrkan.

— E os outros reis da Aliança… como meu irmão, majestade? Eles aceitaram isso?

— Já estão todos avisados e, inclusive, decidiram apoiar nossa ação. - o moreno cruzou os braços. - Entendam que não estamos “invadindo” Kou. Estamos indo apenas resgatar Ja’far e eu espero que tudo ocorra da maneira mais pacífica possível. Porém, se eu chegar lá sozinho e pedir que nos devolvam ele, isso não vai acontecer.

— Não consigo entender porque o Ja’far-san fez isso… - Yamuraiha, angustiada, apertava as vestes sobre os joelhos.

— Será que ele realmente… não quis ir embora? - Pisti sussurrou...

— Não! - … mas seu rei ouviu tudo com nitidez. - Eu tenho certeza de que Ja’far não desejava se afastar de nós. Por mais que tenha um tempo em que ele foi enganado por Kouen, ele se lembrou de como o amamos! De como ele faz parte da nossa família!

Os generais se entreolharam e foi nítido como consideravam Sinbad ingênuo. Acreditava de olhos fechados nos sentimentos de Ja’far a ponto de ignorar tudo o que ele havia vivido com Kouen…

— Ninguém será obrigado a ir. Nunca os obriguei a nada. - o rei foi severo.

— Não é isso, majestade. - Yamuraiha interviu. - Não queremos é que… se decepcione. Talvez o Ja’far-san tenha descoberto… uma maneira de ser mais feliz em Kou. É isso que pensamos.

— Não. Isso não aconteceu e eu tenho certeza. Eu sinto isso!

A maga apenas se resignou a assentir. Sabia o quão profundo era o sentimento de seu rei pelo conselheiro.

— Preciso que fiquem cuidando do reino. Partirei com o Drakon e o Hina amanhã assim que o sol raiar.

— Posso ir junto, majestade? - Sharrkan se levantou.

— Eu prefiro que fique, Sharrkan. Não podemos deixar o país sem proteção também. Terei cobertura dos outros países da Aliança. Todos concordaram que o que aconteceu foi na verdade um sequestro do Ja’far e servem como testemunha contra todas as mentiras que Kouen inventou. Eu espero que tudo isso se resolva bem rápido, mas não pretendo voltar sem Ja’far. - ele limpou a garganta. - Bem, é isso! Conto com vocês!

—---------xxxxxx----------

Ja’far abriu os olhos um tanto quanto receoso ao encarar as próprias mãos. Elas tinham voltado ao normal. Ele suspirou em alívio antes de se levantar dali e tentar, mais uma vez, abrir aquela porta. Ainda estava trancada. Kouen realmente estava obstinado em fazê-lo seu prisioneiro. Mas Ja’far não deixaria.

Ele caminhou até a janela e, verificando se não havia ninguém nas janelas mais próximas, levantou aquela longa saia de várias camadas de seda e renda transparente e subiu no parapeito. Ele sabia o quão arriscado era, mas não tinha saída.

Aquela pequena marquise dava a volta em toda aquela torre do palácio de Balbadd e, por ali, passo-a-passo, Ja’far conseguiu chegar a outra janela. Mas assim que ia pular para dentro, teve uma surpresa.

— Esse ítem mágico é muito diferente, alteza. Muito diferente de qualquer coisa que tenhamos visto antes.

De quem era aquela voz? - Ja’far se perguntava. Mas ele havia falado com… alteza?

— Investigue. Certamente é uma tecnologia muito útil para melhorarmos nossa comunicação, em especial com meus irmãos em Kou e eu que permanecerei aqui.

— Sim, alteza. Colocarei todas as nossas equipes à par disso e começarão a estudar o ítem o mais rápido possível. Assim que eu terminar de almoçar, começaremos os trabalhos.

— Ótimo! Estarei no aguardo dos resultados.

As duas vozes foram se afastando até que o alvo ouviu o barulho da porta bater. Foi quando, entre o balançar das cortinas, viu o lugar completamente vazio. Pulou para dentro e se viu dentro de uma bela biblioteca, provavelmente anexa à ala de convivência do palácio por estar tão próxima aos quartos. Havia diversas estantes com pergaminhos e uma escrivaninha feita em carvalho. Sobre ela… Ele não podia acreditar! Era o comunicador que havia levado para Kou. Não podia acreditar que Kouen estava andando com aquilo!

Afoito, Ja’far correu até o ítem mágico e, com as mãos trêmulas ao segurá-lo, ele encarou a porta. Estava bastante receoso. Estava cometendo um erro. Mas… estava desesperado. Havia falhado com Sinbad. Não. Não conseguia mais ficar vivendo naquele lugar como um prisioneiro. Sin daria um jeito, não? De qualquer forma, seu sacrifício não tinha sentido algum agora que Kouen havia dito que invadiria Sindria mesmo tendo Ja’far consigo. Desesperado, Ja’far tinha de tomar uma atitude.

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Sinbad chegou exausto aos seus aposentos. Sua cabeça latejava. Não esperava que seus generais fossem especular tanto quanto a sua decisão de buscar Ja’far. E as palavras deles, bem ou mal, tinham fundamento e o deixavam bastante preocupado. Será que Ja’far realmente queria voltar para Kou? E se chegasse lá e Ja’far o dispensasse? Seu coração apertava com a mera possibilidade.

Não, não! Não devia pensar naquilo. Era claro que voltaria com Ja’far. Devia pensar positivo. Não podia deixar a angústia lhe dominar.

E foi com esse pensamento que Sinbad foi surpreendido quando aquele item mágico, esquecido na mesa de cabeceira, subitamente brilhou.

— Sin!!! Sin!!!!

Aquele sussurro, bastante assustado. Aquela voz…

O coração de Sinbad disparou enquanto ele correu até a enorme cama e pegou aquele item.

— JA’FAR?!

— Sin…!!!

A voz trêmula chamou seu nome e Sinbad pôde ouvir aquele soluçar. Havia tanta dor na voz de Ja’far. Mas… estava tão feliz em ouvi-lo. Pensou que nunca mais escutaria aquela voz que tanto amava.

— Ja’far, está em Kou?! Ou em Balbadd?!

— Me tira daqui, Sin!!! - a voz chorosa de Ja’far interrompeu. - Eu não devia ter ido embora...

Uma pena que a emoção de falar com seu rei acabou anulando os demais sentidos de Ja’far, que foi incapaz de ouvir quando a porta se abriu e alguém, ao perceber que ele falava com alguém, parou exatamente ali para escutar suas palavras.

— Por que você foi, meu amor?! Fiquei desesperado pensando que…

— Kouen me ameaçou… quando esteve aí! Me fez prometer que eu o encontrasse e esquecesse você para… não invadir Sindria. Ele disse que te mataria, Sin! Eu fiquei com medo e vim pra cá… - o alvo soluçava sem parar. - Eu não queria deixar que ele fizesse algo a Sindria, Sin! Mas… Mas ele está muito violento e está… quase descobrindo que recuperei a memória e sei das… das mentiras, Sin… que ele me contou sobre você! Eu… eu tenho medo. Ele disse que vai invadir Sindria mesmo comigo aqui! E ele vai… ele vai me matar se eu continuar assim...

— Acalme-se! Onde você está, Ja’far?! Me diz que vou te buscar agora mesmo!

— Balba...

— Então quer dizer que você recuperou a memória, Ja’far?!

Ja’far foi interrompido pela voz de Kouen - audível até mesmo para Sinbad. O ítem mágico escapou de suas mãos ao mesmo tempo em que ele arregalou os olhos verdes.

Desde quando Kouen estava ali? - ele se perguntava ao ver a expressão do príncipe que misturava ódio, revolta e asco. O ruivo caminhava em sua direção enquanto Ja’far foi se afastando dando passos para trás.

— JA’FAR! OE!!!! - Sinbad tentava.

— Do que está falando, En?! Eu… Eu não disse nada…

— Vai continuar a mentir para mim? - o ruivo sussurrou. - Não passa mesmo de uma cobra venenosa, um assassino imundo que servia de prostituta para aquele lixo do Sinbad!

— Anh?! - Ja’far tentava se fazer de desentendido. - Não, En, eu não sei o que aconteceu! Não me lembro de nada com o Sinbad, só do que…

— SEU MISERÁVEL!!!!!

Os cinco dedos de Kouen foram estampados na face alva quando ele estapeou Ja’far. O conselheiro de Sindria sentiu o rosto dormente.

— JA’FAR! KOUEN, O QUE ESTÁ FAZENDO COM O JA’FAR?! - a voz vinha daquele item mágico.

— Não perca seu tempo vindo aqui, Sinbad! Só se quiser levar o corpo do Ja’far daqui!

— KOUE...

Não houve como Sinbad completar. Kouen esmagou com o pé aquele ítem mágico e a comunicação foi encerrada. Agora, mais que nunca, Ja’far se sentia com medo ao ver o ruivo voltar a se aproximar. Ele ainda apoiava uma mão ao rosto ao senti-lo doer.

— EU O AMAVA, JA’FAR! - declarou Kouen aos berros. - Eu realmente… queria te matar quando veio para cá! Mas… aos poucos acabei me apaixonando por você. Claro, olha para você… - foi quando o ruivo agarrou os cabelos esbranquiçados de Ja’far e o sacudiu. - Parece uma putinha da melhor qualidade. É uma putinha da melhor qualidade, não é? Afinal, se deitou comigo vááárias vezes.

— En! En, é um mau entendido! Como ia querer me matar?!

— CHEGA DE MENTIR QUE NÃO SE LEMBRA! Recuperou a memória em Sindria, não é? - o ruivo continuava a sacudir Ja’far. - Eu devia ter presumido… Aquele ferimento em sua fronte… Bem parecido com quando o salvei. Sabe que deve sua vida a mim, não é?

— Claro, En… - o alvo tremia. - En, por favor, você está… falando coisas erradas de novo.

— Ah, eu?! - ironicamente Kouen perguntou. - Eu cheguei aqui e estava implorando que Sinbad o tirasse daqui. Que veio apenas para que ele não destruisse Sindria e…

— Eu te amo, E-

A fala de Ja’far foi interrompida por outro tapa. Esse tão forte que fez Kouen soltá-lo. O conselheiro de Sindria bateu na parede mais próxima e foi ao chão. O líquido rubro começou a escorrer por seus lábios.

— Realmente, Ja’far, eu errei em te contar aquelas mentiras. Mas eu fiz aquilo porque queria você. Porque não queria te perder! Já você nunca me amou!

— Eu amei sim, En! Eu… aprendi a gostar de você!

— Veio para cá apenas para que eu deixasse Sinbad vivo! Me enganou! Aliás, quantas vezes me enganou?!

— NUNCA! - exclamou Ja’far. - É um mau entendido! Eu já falei! Eu só queria falar com o Sin…!!!

— Que a vida com ele era muito melhor, não é? Ser uma cadela de um lixo, um pobre que saiu da lama, que nem te assume é melhor, não é? Não nega de onde você, um assassino PODRE vem, Ja’far! Eu tenho NOJO de ter ido para a cama com…

— CHEGA! - exclamou Ja’far. - Você não vai mais me ofender nem ofender o Sin! Eu tentei vir pra cá e ficar com você mesmo com a ameaça a Sindria e ao Sin porque… eu não me esqueci como fui feliz ao seu lado. Me tratou com carinho, por mais que… tivesse se apaixonado depois de tentar me matar! Eu tive um pouco de consideração com você, mas estou CANSADO de ser tratado feito um lixo, inclusive, só presto para você se eu me vestir de mulher! VOCÊ TENTOU ME MATAR! Queria dar um golpe em Sindria! Eu descobri tudo, En! E mesmo assim eu vim aqui e…

— E VOCÊ SE ACHA CERTO?! Você acha que pode me enganar assim?!

— VOCÊ ME FEZ ODIAR AS PESSOAS MAIS IMPORTANTES DA MINHA VIDA! O SIN SALVOU A MINHA VIDA, VOCÊ SABIA DISSO?!

— E EU SALVEI A SUA! Porque era para você ter apodrecido naquele penhasco onde Judal te jogou!

— Você está louco! Não entende que o que fez foi um absurdo! Eu vim disposto a viver ao seu lado depois de saber de tudo o que fez!

— Veio para defender o seu machinho asqueroso e não por mim, Ja’far…

As palavras de Kouen, por mais duras e agressivas que fossem, estavam repletas de ressentimento. Ele realmente amava Ja’far e não queria perdê-lo, por mais que estivesse tão errado e ele sabia disso. Mais errado agora era… Ja’far tê-lo enganado.

— Eu… te odeio por me fazer odiar o Sin… - Ja’far cerrou os punhos. - Mas também te amei por todo o carinho que me deu.

— Isso não importa mais. Você é meu e nada muda isso.

— O quê?! Não pretende me deixar ir?!

— É óbvio que não. - Kouen disse ao desfazer um dos laços do kimono superior. - Você só vai sair daqui morto, Ja’far! Mas antes… eu vou te ensinar a se comportar como a verdadeira imperatriz de Kou deve se comportar…

— Anh?! - Ja’far piscou, receoso ao ver Kouen se despir mais. - O que…

Eu te amo, Ja’far! Quero saber o que sente por mim também!”

Kouen se sentia estúpido ao se lembrar de como se encantara por aqueles olhos verdes, aquela beleza angelical. Ja’far tentou correr até a porta, mas Kouen o segurou firmemente pelos dois braços.

— ME SOLTA, EN! CHEGA!

Ele se debatia enquanto Kouen o segurava sem o menor esforço. Aquela fera indomável nem de perto se lembrava quem costumava ser.

Eu quero ser seu essa noite, Kouen”

A voz de Ja’far, tão melodiosa, ecoava em seu coração. Aquela noite onde finalmente se entregaram um ao outro e Kouen descobriu, pela primeira vez, que era possível amar um homem - ainda mais - do que uma mulher. Ja’far era incrível, único, apaixonado.

“Vamos ter uma noite especial! Eu… Estou tão feliz de te ter aqui comigo, Ja’far”

Ele se lembrava de segurar as duas mãos de Ja’far, encarar aquelas esmeraldas e se ver refletido nelas. Pela primeira vez na vida estava apaixonado. Estava amando e sendo amado. A realidade de se casar com qualquer concubina para garantir sua linhagem não fazia mais parte dos planos de Kouen.

Ele amava Ja’far com todas as forças. Um amor tão puro e único que o fazia sorrir de forma genuína. Fazia com que ele, alguém tão determinado em passar por cima de qualquer um para alcançar seus objetivos, esquecesse qualquer coisa para priorizar apenas aquele quem amava.

“Não está pensando em me trair, não é? Você é meu! Não mandei que fizesse com que eu me apaixonasse por você!”

Aquela paixão, que havia se tornado tão patética agora aos olhos de Kouen, havia o tornado… fraco. Ja’far tinha lhe transformado na pessoa que ele menos queria ser; alguém fraco e dependente. Dependente de um amor falso… e patético.

— Eu nunca vou te perdoar, Ja’far! NUNCA!

Ele rasgou, violentamente, as vestes do conselheiro de Sindria. As unhas arranharam a pele branca e, até então, imaculada.

Ja’far tentou girar a maçaneta daquela porta, mas ela estava trancada. Estava encurralado quando Kouen se aproximou e o puxou com força pelos braços, desferindo beijos que se converteram em mordidas que deixavam marcas profundas no pescoço do alvo.

— Ahhh, não!

Um tapa calou Ja’far e esse precedeu um beijo cheio de paixão… e ódio. Kouen não fazia esforço algum para ser gentil. Pelo contrário, estava sendo o mais agressivo que podia. Ele sentia que precisava externar aquela dor, aquela frustração.

Queria machucar Ja’far… Não. Queria matá-lo e enviar sua cabeça para Sindria.

Não… Queria que tudo aquilo fosse mentira e que Ja’far nunca voltasse a recuperar a memória. Queria que Ja’far o amasse e ficasse ao seu lado para sempre.

—---------xxxxxx----------

— JA’FAR! JA’FAR, ME RESPONDA!!!

— Sinbad?!

A porta dos aposentos reais foi aberta por Drakon. Os generais se alarmaram ao ouvir seu rei aos berros e, pior, chamando por “Ja’far”. Eles se perguntavam se seu rei havia enlouquecido. Mas ao adentrarem o amplo quarto encontraram Sinbad com aquele ítem mágico em mãos. Ele estava pálido.

— O que aconteceu, majestade? - Yamuraiha se aproximou.

— Ja’far se comunicou comigo, mas Kouen descobriu e… Não! - ele balançou a cabeça negativamente.

— Acalme-se. - Hinahoho foi firme. - Ja’far pelo menos disse onde está?!

— Sim… Ele está em Balbadd! Temos que ir para lá imediatamente! - Sinbad estava apavorado.

— Ainda estão preparando os navios. - Drakon explicou. - Não temos como partir.

— Vocês não estão entendendo… Kouen vai matar o Ja’far.


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Notas finais do capítulo

Sim, foi "o fim". Acabou tudo para o Kouen. A doce ilusão de que ele poderia amar, ser amado, estar feliz. E foi bastante doloroso isso, apesar de eu ficar muito tempo, acho que desde o início da fic, tentando imaginar como seria. Mais pelo fato de que acabou que nós nos afeiçoamos mais ao Kouen ao explorarmos esse lado mais humano dele, mais gentil, apaixonado, sendo doce. E quando ele cai em si de que o Ja'far já tinha recuperado a memória, que na verdade sim, ele prefere o Sin, é como se esse balde de água fria trouxesse à tona aquele Kouen insuportável, arrogante e ele decide descontar isso no Ja'far - talvez em uma autoafirmação. Quando ele só está profundamente frustrado. Foi bem triste isso. Tudo bem que né, o En que roubou o Ja'far, mentiu tudo... Ele merecia. =X HUAHAHAUHA! Estamos bem próximos do final da fic! Espero que estejam gostando e agradeço por acompanharem até aqui, comentando, lendo! ♥ É muito importante para mim! Essa é uma das fics mais compridas/importantes que trabalhei e fico feliz que, por mais de um ano, vocês estejam me aturando! Até o próximo capítulo, pessoal! ♥



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