Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 35
Resolução


Notas iniciais do capítulo

Saindo em uma semana de publicado o anterior? Yes! Nem eu acredito, gente! Hahaha! Obrigada por acompanharem! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690726/chapter/35

Ja’far se sentia encurralado. Com os cotovelos apoiados no travesseiro no qual estava recostado, ele tentava se afastar mais do príncipe, apesar de saber que não seria possível fugir de seu questionamento.

Mas no que estava pensando? Era óbvio que, com suas atitudes, Kouen rapidamente perceberia que não sofria mais com a amnésia a qual permitiu que, outrora, se envolvessem. Perceberia que… estava sentindo repulsa quando o ruivo o tocava.

O que faria? Não podia continuar o evitando e, afinal, tinha de se acostumar com sua nova vida. A vida que escolheu. Afinal, ao sair de Sindria, estava determinado a jamais retornar. Determinado a dar adeus à vida com Sinbad, já que se renderia pelo bem do país que construíram juntos. Determinado a… viver com Kouen.

E foi só então, naquele momento, que Ja’far pareceu, finalmente, compreender o que estava acontecendo. Algo que ele não tinha pensado durante todo o tempo desde que partira daquele ilha: nunca mais voltaria a ver Sinbad. Nunca mais estaria em seus braços e… nem ao menos convivendo, ao seu lado, tendo sua companhia diariamente…

— Ja’far?!

Nem mesmo o ex-conselheiro de Sindria percebeu quando as lágrimas começaram a cair. Só conseguia pensar no… grande erro que tinha cometido. E se tivesse falado com Sinbad? Não. Nada evitaria. De qualquer forma, seu esforço tinha sido completamente em vão. Kou invadiria Sindria e, certamente, matariam Sinbad.

Kouen, por sua vez, ficara perplexo diante do pranto do alvo. Sentiu seu coração apertar ao ver Ja’far chorar, de uma forma tão inesperada, e parecendo sofrer tanto. Não devia pressioná-lo tanto. - pensou.

— Oe, Ja’far… - ele abrandou o tom ao se aproximar, apoiando um joelho na cama. - Me desculpe! Eu não queria ter gritado...

Ja’far sentiu os fortes braços de Kouen o envolverem. Eram quentes e protetores, mas não tanto… quanto os de Sin. Foi no reflexo que ele empurrou o príncipe. Kouen ficou ainda mais assustado ao ver que a expressão de choro, rapidamente, se converteu em raiva. Os orbes esverdeados centelhavam vermelho.

— SE VOCÊ ATACAR SINDRIA, EU JURO PRA VOCÊ QUE VOU EMBORA! - entredentes Ja’far declarou. - Eu não quero ficar junto de um assassino!

Kouen revirou os olhos, cruzando os braços para encará-lo.

— Acha que Sindria é o primeiro país que vou invadir?

— Mas é onde está as pessoas que eu amo! - refutou o alvo.

— Sinbad, não é?!

— MAS QUE DROGA! - Ja’far exclamou, arremessando longe um dos travesseiros. - Eu amo todas as pessoas de Sindria! Eles me ajudaram enquanto eu estava lá! Eles foram tão bons comigo quanto você foi, En! POR FAVOR!

O ruivo massageou as têmporas, tentando se manter inabalável diante da exasperação de Ja’far. Tinha esperado tanto o reencontro com seu amado. Nunca imaginou que seria daquela maneira.

— Ja’far, - Kouen suspirou antes de retomar a fala. - você está muito nervoso e ainda está debilitado. Vamos conversar sobre isso em outra hora.

— Depois de invadir Sindria?! É isso?! En…

— Chega! - interrompendo-o, o príncipe se manteve firme. - Vou mandar que lhe tragam um chá para se acalmar! Mais tarde falamos sobre isso!

Kouen girou os calcanhares e deu as costas para Ja’far. Estava exausto.

Se havia algo que odiava era que tentassem tirar sua autoridade, algo que custou tanto a obter. Tantos esforços para chegar onde estava. E por mais que amasse Ja’far, precisava se manter firme quanto as suas decisões. Aliás, estava ainda mais decidido a acabar com Sindria e Sinbad. Realmente, só conseguiria viver em paz ao lado de Ja’far se eliminasse aquele mal pela raiz. Do contrário parecia que tinha de viver em um medo constante de perdê-lo novamente.

Ele abria a porta quando ouviu o agudo barulho de estilhaços. Virou-se para trás e encontrou Ja’far no chão, cercado pelos cacos de vidro da jarra que ele devia ter derrubado em sua queda.

— Oe, Ja’far!

Bastante preocupado, ignorando completamente aqueles pensamentos, Kouen correu para ajudá-lo, agachando-se para recolhê-lo do chão. Ele rapidamente verificou se Ja’far não tinha se machucado.

— Não pode se levantar ainda! Precisa de repouso!

— Não quero que vá! - Ja’far ofegou, agarrando-se ao peitoral do ruivo. - Não faça com que eu te odeie, En! - ele soluçava. - Por favor…

Como o convenceria? Como faria com que Kouen percebesse que não havia sentido em destruir Sindria e, pior, matar Sinbad?

O calor da febre era ideal para que se sentisse entre o delírio e o real. Então, que fosse assim.

Ja’far se esgueirou e deixou seus lábios tocarem os de Kouen.

Tão suaves… Mas não eram os de Sin.

Tão doces… Mas não eram os de Sin.

O príncipe, com os olhos arregalados, consternado diante da atitude tão abrupta de Ja’far, apenas observava aquilo, sem saber como reagir. Ele ficou ainda mais surpreso quando o alvo começou a puxar as laterais de suas vestes, tentando abri-las e deslizando as palmas das mãos para sentir a pele do ruivo.

Só precisava pensar que estava fazendo amor com Sinbad, não era? - Ja’far tentava se convencer.

— Ja’Ja’-far… - Kouen gaguejou ao tentar afastá-lo. - Precisa se recuperar ainda! Não pode…

— Eu preciso, En! Eu preciso me entregar pra você!

Se fosse para sentir aquela dor, para se acostumar com aquela dor, que fosse de uma vez. E se seu corpo sucumbisse, sentiria-se feliz.

Ja’far abocanhou seus lábios, mas daquela vez Kouen não ficou para trás. Enlaçando sua cintura o levou de volta à cama, onde o arremessou com violência, da maneira que costumavam fazer amor.

Não havia rodeios. Kouen desferiu beijos e mordidas pela curva do pescoço de Ja’far. Como havia sentido falta daquele corpo maravilhoso! E ao arrancar, de uma vez só, aquele fino kimono de seda branca que ele usava, ele pôde contemplar o corpo perfeito de seu amado. E ele voltava aos seus braços da mesma forma que havia partido: imaculado, sem uma marca sequer que condenasse ter sido violado por Sinbad. Mas não custava confirmar.

— Não se entregou àquele lixo, não é?

— Na-Não… - gaguejou Ja’far.

— Ótimo!

Ja’far apenas apertou os olhos e se preparou para… o pior.

Pediu a forças superiores que o levassem. Que ele não tivesse mais de passar por aquilo.  

Pediu que, por obra do destino, perdesse a memória para não se lembrar de quem amava.

Pediu perdão por ter deixado seu amor… para sempre.

—-------xxxxxxx-------

Sinbad seguiu em silêncio até seu escritório. E por mais que sua presença trouxesse tranquilidade ao reino, todos os servos que o viam apenas se curvavam, evitando falar qualquer coisa. A expressão abatida, mais magra e descuidada do rei condenavam que não era um bom momento. Jamais tinham visto seu rei com a barba por fazer. Os longos cabelos púrpura estavam soltos e ele não usava nem o habitual turbante. As olheiras profundas demonstravam que ele não estava dormindo bem.

Passando pela sala de jantar, ele sentiu o peito apertar ao ver a mesa vazia. Talvez seu isolamento tivesse sido, justamente, para não sair por aqueles corredores e não ter a possibilidade de encontrar seu amado. Doía.

Atravessou a porta, chegando em sua sala, e se surpreendeu ao ver Pipirika a sua espera.

— Sinbad! Bom dia!

— Bom dia. - sua voz soou quase inaudível quando ele se sentou em sua mesa.

Pipirika não conseguia evitar se apiedar. A expressão de Sinbad era lastimável. Ele parecia um cristal frágil que fora rachado e que ia quebrar a qualquer momento.

— Não tem que fazer isso se ainda não estiver pronto. - ela disse.

— Seu irmão está certo… Eu preciso cuidar de Sindria. Eu só tenho Sindria agora.

— Sinbad… - ela suspirou. - Não acha melhor dar uma volta hoje? Não se focar no trabalho? Quer que eu peça um chá? Você parece muito nervoso…

— Não. Eu estou bem. - o moreno se recostou na cadeira e encarou o teto. - Onde será que ele está? - um soluço escapou.

— Kou… Provavelmente?

— Ah… Isso não importa mais! - ele balançou a cabeça negativamente, completamente sem esperanças. - Ja’far fez sua escolha e eu… eu preciso ficar feliz por ele! É isso…

— Sinbad… Você sabe que Ja’far não fez isso à toa. Alguma coisa aconteceu para ele ter ido assim! - a moça estava pensativa. - Kouen esteve aqui, não lembra?!

— Sim, mas eles nem se viram, tirando quando Kouen chegou. E Ja’far mal o viu!

— Tem certeza de que eles não se viram? Ja’far não teve nenhuma atitude estranha depois desse encontro?

— Na verdade Kouen esteve aqui antes de Ja’far recobrar a memória…

— Não duvido que Kouen teve proposto a ele alguma coisa.

— Pois é! - Sinbad a encarou. - E se ele aceitou, mesmo se lembrando de tudo, de nós, significa que Ja’far o prefere!

Já perdendo a paciência, Pipirika largou os papéis que tinha em mãos sobre a mesa e foi rígida com o rei.

— Você acha mesmo que Ja’far teria te abandonado assim? Parece que não o conhece!

Sinbad, um tanto quanto pensativo, acatou as palavras de Pipirika. Todos tinham certeza de que Ja’far não tinha escolhido Kouen. Será que estava agindo mal em pensar daquela forma?

— De qualquer forma, Pipirika, eu não tenho como encontrar o Ja’far. - ele soltou um risinho melancólico, como se estivesse conformado com sua situação. - Sabe… Se eu soubesse que tudo isso aconteceria, eu teria usado o...

O rei, subitamente, empalideceu. Levando uma mão a fronte, ele arregalou os olhos. Pipirika se assustou.

— O que aconteceu, Sinbad? Sente-se bem?

O silêncio perdurou enquanto um sorriso aparecia nos lábios de Sinbad. Como ele não tinha pensado naquilo antes? Como havia ignorado completamente aquilo?

Naquela noite, naquela floresta, ao ser atacado por Ja’far em Kou, havia…

Avistou Ja'far, fazendo com que sua pequena sombra se projetasse sobre ele. O alvo rapidamente olhou para cima e o encontrou flutuando. A expressão dele mesclava estranhamento e revolta. Por mais que sua aparência fosse diferente, tinha certeza de que era Sinbad. Ja'far sentia aquilo.

— Me desculpe, Ja'far!

Foi quando ele gritou, o mais alto que pôde. O poder de Zeppar rapidamente fez efeito quando Ja'far, completamente zonzo e aturdido, caiu de joelhos antes de perder a consciência completamente.

— Sinbad? - Pipirika tentou novamente. - Vou cham...

Sinbad jogou para trás a cadeira onde, até então, estava sentado e se levantou. O largo sorriso em seu rosto contrastava com a melancolia que o dominava já havia uma semana.

— EU SEI COMO POSSO TRAZER O JA’FAR DE VOLTA!

—-------xxxxxxx-------

A noite já tinha caído e Ja’far se encarava no espelho daquela penteadeira.

Abaixando a lateral do kimono e descobrindo o ombro, ele viu as várias marcas avermelhadas e profundas que os dentes de Kouen havia deixado.

— SUMA DAQUI! VÁ EMBORA! EU NÃO QUERO VÊ-LO NUNCA MAIS!

 

Lembrava-se das palavras de Sinbad, após ter lido aquela carta que nunca chegou ao príncipe, mas revelava o quanto sentia repulsa daquele… que sempre amou. Como havia o machucado.

— Você é podre, Ja’far… - ele tocou as pontas dos dedos em seu próprio reflexo.

O sexo com Kouen não tinha sido o fim, tampouco algo ruim. Seria porque cerrou os olhos todo o tempo, tentando imaginar o rei de Sindria? Não. Ele tinha plena consciência de que estava se entregando a Kouen e, entre o delírio e a razão, sobrou apenas o prazer. Um prazer sem romantismo, sem razão, imoral.

Se queria convencer o príncipe de recuar quanto a decisão de invadir Sindria, precisava fazê-lo acreditar que o amava incondicionalmente. Não que o odiasse… mas também não o amava. Não como Sin.

Ja’far já se sentia bem melhor. Sem febre e sem dor naquele ferimento, a única coisa que o lembrava dele era o curativo sobre o supercílio. Se não fosse aquele ferimento, nunca teria recuperado a memória. - ele pensava.

Duas batidas antencederam a abertura da porta. Ja’far se surpreendeu quando viu a moça de longos e sedosos negros e que usava um belo hanfu cor-de-rosa.

— Ja’far-san?

Agora ele a tinha reconhecido! Era Ho-Bin, a concubina que acompanhava Koumei. Ela tinha um sorriso simpático no rosto.

— O Kouen-sama pediu para convidar você para a reunião que ele fará mais tarde. Se estiver se sentindo melhor, é claro. Aliás, - ela se curvou sutilmente. - sente-se bem?

— Si-Sim… Obrigado. Eu já estou bem. Diga ao En, digo, - ele foi rápido ao se corrigir. - diga ao Kouen-sama que eu irei me aprontar.

— Isso é outro detalhe!

Ja’far piscou, confuso, ao ver a jovem voltar para o corredor e entrar novamente com uma grande caixa em mãos. Ela andou até a enorme cama que ficava no centro dos aposentos reais do Palácio de Balbadd e ali a depositou.

— O Kouen-sama quer que você vista essa roupa na reunião!

— Hm? - Ja’far piscou ao vê-la destampar a caixa.

Mas o que significava aquilo? - Ja’far retirou dali um belíssimo hanfu vermelho, adornado com muitos babados, transparências e detalhes dourados. A roupa ideal para… uma imperatriz.

— Ho-Ho-Bin… - ele gaguejou. - Essa roupa… não vai ficar bem em mim. É uma roupa feminina.

Ela deu um sorriso amarelo antes de morder os lábios.

— Ja’far-san… O Kouen-sama te quer como imperatriz dele. É uma grande honra!

Ja’far estava boquiaberto, achando aquilo tudo uma tremenda insanidade, mas… Subitamente seus pensamentos foram quebrados quando Ho-Bin tomou suas mãos.

— Ja’far-san, eu não o odeio! Eu o estimo muito! E… Eu fico muito feliz que tenha voltado para que o Koumei-sama não volte a nutrir desejo pelo Kouen-sama!

— Ho-Bin…

— Por favor, aceite a proposta do Kouen-sama! Só assim eu vou ter o caminho livre para que o Koumei-sama, algum dia, possa me assumir como sua esposa!

As palavras de Ho-Bin eram carregadas de uma genuína emoção. Ela realmente amava Koumei e estava praticamente suplicando que Ja’far não deixasse Kouen disponível para seu irmão. Não era novidade alguma que Koumei amava Kouen de uma forma nem um pouco fraternal.

— E-Eu não pretendo ir embora mais, Ho-Bin. Pode ficar tranquila!

— Sério?! - ela sorriu sinceramente antes de, sem pensar duas vezes, abraçar Ja’far. - Muito obrigada, Ja’far-san! Eu… Eu desejo que sejam muito felizes! Você é uma boa pessoa! É alguém que… pode fazer o Kouen-sama mudar muitas coisas que estão erradas em nosso Império!

Ja’far estava confuso, ao mesmo tempo que admirado. Aquela moça, tão apaixonada, tinha boas intenções. Foi inevitável simpatizar com ela; em especial com sua devoção. - lembrava como ele costumava ser… com Sinbad. Droga! Por que não parava de pensar nele?

Bem, se queria jogar o jogo de Kouen, precisava ceder as suas vontades, por mais que aquilo o desagradasse, de alguma forma.

— Você pode me ajudar a me vestir?!

— É claro! - ela assentiu com um grande sorriso.

—-------xxxxxxx-------

Havia um clima de apreensão na sala de reunião, o que era bastante atípico dentre os generais que sempre, em um clima amistoso, estavam conversando e rindo. Eles aguardavam, ansiosos, a chegada de seu rei.

Todos haviam sido convocados com urgência para uma reunião no início da noite.

Sharrkan era o que parecia mais desagradado, pois finalmente havia sucedido em convencer Masrur a acompanhá-lo para sair para beber, e agora seus planos estavam cancelados.

— O que vocês acham que a majestade vai falar? - Yamuraiha quebrou o silêncio.

— Será que ele vai anunciar que vai se casar?! - Pisti deu a ideia.

— Ai, não fala besteira! - a maga ficou ainda mais nervosa, batendo as pontas dos dedos na superfície da mesa.

— Dá pra parar de fazer isso que tá me irritando, ô bruxa velha?! - o moreno bufou.

— Eu faço o que eu quiser, sabia?! - ela não deixou barato. - E se você...

A porta se abriu e a discussão, imediatamente, cessou.

E eles podiam jurar que quem entrava naquela sala não era seu deprimido rei que parecia ter desistido de tudo após perder aquele que era mais que um general, era seu melhor amigo e amante. Sinbad tinha um sorriso de orelha a orelha e estava eufórico.

— Vejo que já estão todos aqui! Fui eu que me atrasei, então!

— Parece bem contente, Sinbad! - Hinahoho, recostado em uma parede, longe da mesa redonda, comentou.

— Sim, Hina! Eu estou com muita esperança e quero dividir isso com vocês! Eu encontrei uma forma de ao menos sabermos onde o Ja’far está!

— Sério?! - Drakon se manifestou.

— Como, majestade?! - Yamuraiha se levantou.

Todos ficaram bastante animados. Sinbad ergueu as mãos para contê-los, por mais que também estivesse muito feliz.

— Quando buscamos Ja’far em Kou, eu usei o poder do Zeppar para que ele perdesse a consciência e o trouxéssemos, mesmo quando ele ainda estava completamente desmemoriado e sendo usado pelo Kouen. Certo? - Sinbad explicava enquanto todos assentiam. Lembravam-se bem de todo aquele plano insano para trazerem seu querido amigo de volta. - Então, desde aquele dia eu nunca me preocupei em tirar o controle do Zeppar do Ja’far. Mas calma, eu nunca usei isso! Só acho que… se eu puder controlar o Ja’far agora, vamos saber onde ele está e… - ele engoliu a seco. - com quem ele está.

— É uma ótima ideia, majestade! - Sharrkan comemorou. - Vamos trazer o Ja’far-san de volta.

— Isso não é garantia de termos o Ja’far de volta. - Hina foi realista.

Aquelas palavras duras foram o suficiente para esmaecer os sorrisos dos demais generais.

— Podemos encontrá-lo, mas ele pode não querer voltar. - ele foi claro.

— Hina tem razão. - Sinbad se manteve firme. - Mas não podemos desistir, certo? Forma vocês que me convenceram de que eu devia sair da fossa e eu me lembrei que ainda há esperança! Hoje mesmo… eu vou saber onde Ja’far está!

 

—-------xxxxxxx-------

Aquele enorme salão estava bem cheio. Haviam convidados não só da aristocracia de Kou, como também alguns representantes de fachada de Balbadd. Aqueles que, para se manterem no poder, fingiram se submeter ao comando do general do leste, Ren Kouen.

Não demorou muito para que Ja’far o encontrasse. E como ele estava se sentindo desconfortável naquelas roupas e aquele sapato de ponta fina.

De longe ele viu Kouen conversar informalmente com um homem que vestia roupas pomposas. O ruivo chegava a sorrir com naturalidade. E, por algum motivo, Ja’far se sentiu feliz ao vê-lo sorrir.

— En!

Kouen ouviu a inconfundível voz de seu amado e, ao virar-se de frente para ele, pôde apenas se surpreender com aquela estontiante beleza.

Ja’far usava um belíssimo hanfu. E se já tinha feições suaves e femininas, a maquiagem bem feita e que delineava seus olhos, escondendo as sardas cobertas pelo pó e pelo blush rosado, deixavam ele ainda mais… perfeito. O corpo esguio se encaixava com perfeição nos detalhes mais ousados das vestes largas, as mangas boca de sino trabalhadas com babado em godê dourado e que combinavam perfeitamente com o adorno de ouro que ele usava no topo da cabeça, prendendo alguns fios, e que tinha o formato de uma fênix. O outro lado dos fios brancos ajudavam a cobrir aquele curativo, o qual ainda não podia tirar.

Kouen estava praticamente babando, chocado ao ver que Ja’far ficara, realmente, uma rainha. Ele era mais belo que qualquer mulher que já tivesse visto.

— Ja’far...

Deixando o homem falando sozinho, ele se aproximou do ex-conselheiro. Sorria seu mais belo sorriso ao encontra-lo daquele jeito. Tinha certeza de que ele se recusaria a se vestir de uma forma feminina, mas Ja’far era surpreendente. Ja’far fazia suas vontades. Ja’far era único.

— Está… maravilhoso! - os olhos avermelhados do príncipe brilhavam.

— Hm? - ele piscou, desentendido.

— Quem o maqueou? - perguntou Kouen.

— Anh… A… A Ho-Bin. Aquela concubina do seu irmão.

— Avise a ela que, da próxima vez, não deve esconder suas sardas com maquiagem! Adoro elas e quero vê-las sempre! - ele pausou e sorriu novamente. - Mas isso não importa! Não podia estar melhor nesta noite tão especial, meu amor!

Kouen lhe puxou pela mão e o conduziu até um tablado, onde ficariam mais altos que os demais. O constrangimento de Ja’far só aumentou. Agora todos o vinham, um homem vestido como mulher. Mas, para sua surpresa, todos os convidados pareciam boquiabertos e cochichavam sobre quem seria aquela moça tão linda, de beleza exótica, que acompanhava o príncipe. Seria sua prometida? Todos… exceto o segundo príncipe.

De braços cruzados, Koumei assistia a tudo, simplesmente enojado daquilo que ele considerava um circo.

— Ja’far-san está lindo, não? - Ho-Bin indagou ao se aproximar.

— Está ridículo!

Ho-Bin apenas suspirou com um sorriso ao ver a expressão de desagrado daquele que tanto amava.

— Atenção todos! - a voz de Kouen sobressaia, fazendo aquele burburinho cessar. - Hoje é uma noite muito especial! Eu chamei todos aqui para fazer dois anúncios muito importantes! O primeiro é que… Sim, como todos presumem, esta é Ja’far!

EstA? Aquilo incomodou Ja’far. Do que ele estava falando? No Império Kou todos já o conheciam e sabiam que ele era um homem. Aquilo estava…. no mínimo estranho. Mas Ja’far disfarçou ao máximo o quanto estava achando tudo bastante bizarro.

— Esta bela moça vai ser a minha imperatriz! Como sabem, eu decidi não voltar mais a Kou e ficar, definitivamente, governando tudo daqui, de Balbadd.

Agora tudo fazia sentido. Em Balbadd, não conheciam Ja’far como homem como era. Aquilo o assustava ainda mais.

— Ja’far… - ele segurou as mãos do alvo e o encarou de frente. - dentre tantas concubinas, você teve a maior sorte, de ser eleita, para ficar ao meu lado para sempre! Para ser minha imperatriz!

Ja’far não sabia o que fazer. Se por um lado ele achava admirável o fato de Kouen estar lhe assumindo assim, publicamente, algo que Sinbad jamais fez, era terrível ver que ele estava tentando enganar a todos, e a si mesmo, de que se unia a uma mulher. Ele não era homem o suficiente para admitir que estava apaixonado por um homem como ele.

Aquele pedido, diante de todos, na verdade mais uma imposição, era a certeza cruel de que estava sendo enjaulado, condenado a permanecer ao lado de Kouen.

Mas, subitamente, Ja’far viu aquele salão girar. Ele tentou levar uma mão até a fronte, mas não conseguiu. Sua mão simplesmente não o obedeceu e tudo, tudo foi tomado pela escuridão.

Ja’far reabriu seus olhos, mas eles não mais o pertenciam. Agora eles eram os olhos de Sinbad, que estava frente a frente com Ren Kouen.

Olhando ao redor, bastante tenso, ele se viu cercado por aquelas pessoas que os encaravam com admiração e à espera de algo. Algo que Sinbad, até então, não sabia o que era. Ele olhou para baixo e notou as vestes que usava. Um hanfu tão pomposo e que só poderia ser usado por uma moça. O que estava acontecendo?

— Como se sente sendo a escolhida para ser minha imperatriz, Ja’far?

— Anh? - escapou dos lábios que agora eram de Sinbad.

— Povo de Balbadd, peguem suas taças! - Kouen exclamou. - Proponho um brinde à nova imperatriz!

Então estava em Balbadd. - Sin ligava os pontos. A expressão de Ja’far condenava o quão confuso Sinbad estava. Então ele sentiu aquela mão grossa tocar no rosto que pertencia ao alvo. Kouen lhe oferecia seu melhor sorriso antes de abocanhar seus lábios.

Aplausos e alegria se espalharam por todo o salão. Muitos ali comemoravam o fato de que, talvez casado, o príncipe Kouen não se preocuparia tanto em manter aquele pulso firme sobre os escravos e demais funcionários do governo.

Pelo coração de Ja’far, Sinbad sentiu o seu ser quebrado em mil pedaços ao ser beijado com tanta paixão pelo ruivo que, ao se afastar, lembrou-se de sussurrar:

— Nós vamos destruir Sindria juntos, meu amor!

Era demais para Sinbad. Não! Era mentira! Tudo aquilo era uma ilusão! Zeppar estava brincando com ele, não estava?

Sem se preocupar com as demais consequências, Sinbad deixou o corpo de Ja’far.

Reabrindo seus olhos, vendo-se em Sindria, ele estava pálido, perplexo com o que assistira.

— Então, majestade? - Pisti logo perguntou. - Sabe onde está o Ja’far-san?

Sinbad suspirou e encarou os olhares curiosos que estavam sedentos por notícias.

Ele respirou fundo antes de falar qualquer coisa. Tinha de ser forte. Por mais que seu coração doesse mais que tudo!

— Ja’far está em Balbadd… Casando-se com Kouen e… Preparando-se para invadir Sindria!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uffa! Esse capítulo foi bem tenso!
Então, quando eu fiz o Sin usar o Ja'far lááááá atrás, ainda quando o resgataram em Kou, essa era a minha ideia desde o início. Dar um GPS para o Sin conseguir achar a rainha dele. Mas foi no pior momento e agora ele acha que o Ja'far está confabulando contra Sindria e contra ele!
O En assumiu o Ja'far, diferente do Sin, mas em contrapartida usou do fato de que em Balbadd não o conhecem como em Kou, sendo o ministro da economia, para apresentá-lo como mulher e ele não se constranger diante de um possível preconceito? Bola fora total para o En!
Peninha do Ja'far! Tá que nem bolinha de ping-pong. Hahah!
Lembrem-se que leio e respondo todas as reviews, mesmo que eu demore! Obrigada por lerem e até o próximo capítulo e está faltando pouquinho para o final! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Remember Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.