Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 23
Adeus


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoaaal! ♥ Atrasada de novo, mas em tempo, não é? Espero que estejam curtindo e o título do capítulo já dá alguns calafrios!!!! Lá vem bomba! -mais?



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— Você está livre para ir embora amanhã mesmo, Ja’far. Vou pedir para que aprontem um navio que lhe levará… até seu verdadeiro rei.

A voz embargada de Sinbad se perdia entre soluços, mas ele se manteve firme para declarar que, finalmente, estava abrindo mão de Ja’far. Tão cedo. Tão repentino. Jamais desistira de algo tão rápido. Aliás, quando havia desistido de algo? E sendo isso tão precioso?

Enquanto engolia o próprio choro ele encarou a expressão confusa de seu conselheiro, ou melhor, ex-conselheiro. Agora ele não era nem ao menos seu servo, tampouco seu melhor amigo, quanto mais seu amante. De fato, Kouen havia matado Ja’far. Não havia nem sombra de quem tinha como braço direito.

Mas apesar de perturbado com toda aquela situação, a qual não tinha noção do que sucedia, Ja’far tinha um olhar inocente e sua expressão parecia questionar aquilo tudo. O que havia feito para que Sinbad chorasse? Por que ele não parava de chorar por mais que, volta e meia, dedilhasse as lágrimas que não cessavam? Por que doía tanto vê-lo sofrer?

Parecia que ninguém ali tinha coragem o suficiente para romper aquele intenso silêncio. Apenas uma ou outra onda ousava quebrar na enseada, como se até mesmo a natureza, em toda sua imponência, não fosse capaz de interromper aquilo que só cabia aos dois.

— S-Sinbad… - Ja’far tomou a frente, um tanto quanto receoso. - Q-quero saber o que fiz de errado. - gaguejando um pouco, ele apertava a empunhadura da espada.

Os generais se entreolharam. Bem no fundo eles acreditavam que aquele Ja’far, tão diferente do que conheciam e estimavam, comemoraria a decisão de Sinbad de deixá-lo livre. Por que ele não estava feliz, tendo a oportunidade de voltar para Kou? Não era o que mais queria?

Não só eles, mas seu próprio rei questionou aquela reação.

Cerrando os punhos, Sinbad encarava a areia que começava a afundar seus sapatos.

E ao se ver ignorado, Ja’far sentiu aquele aperto em seu peito aumentar.

— Me responda, por favor!

Seu clamor mais parecia uma súplica que conseguia exprimir o quanto doía vê-lo daquele jeito. Não importava o porquê de se sentir assim, afinal. Ao menos naquele momento, tudo o que queria era vê-lo novamente a sorrir, como o vira tantas vezes desde que chegara àquele lugar. Reverter o que tivesse feito de tão errado.

Ja’far não sabia que seu desejo seria realizado, surpreendendo-se quando viu Sinbad erguer o rosto que, mesmo tomado pelas lágrimas, exibia um largo sorriso. Talvez o mais falso que todos já tinham visto.

— Eu não estou magoado, Ja’far. - ele pausou para soluçar. - Eu só… Eu só quero que seja feliz!

Sentindo seu coração se partir em mil pedaços, Ja’far viu seu rei dar meia-volta, dirigindo-se de volta ao palácio.

— Si...

Não houve como dar o primeiro passo nem completar seu chamado.

Ja’far sentiu alguém segurar firme seu braço. Virou-se para ver aquele fanalis que o impedia de seguir Sinbad e, vendo-se impotente diante daquela resistência, o alvo se desesperou.

— Me deixem falar com ele! Prometo que não vou fazer nada que atente a vida do seu rei! - Ja’far se precaveu anunciando o óbvio.

— Sabemos disso, Ja’far-san. - Yamuraiha se aproximou. - Mas agora ele precisa ficar sozinho para pensar. Ele está muito triste.

— Mas o que eu fiz de tão ruim?! - questionou um aflito Ja’far. - Será que podem me explicar?!

— Ja’far-san… - Sharrkan o segurou pelos ombros. - Você não é mais um de nós e isso… é muito doloroso para vossa majestade.

Do que estavam falando, afinal? - Ja’far estava angustiado.

— C-Como assim um de vocês!? Eu… não entendi nada do que Sinbad disse.

— O poder que você tem, Ja’far-san, indica que você escolheu o Kouen como seu rei. - ele piscou enquanto ouvia a explicação que Sharrkan tentava dar. - Você tinha um poder, como nós temos, que vinha do contrato que vossa majestade tem com seus djinns.

— Isso não pode ser verdade! - refutou. - Eu nunca tive po...

Subitamente ele interrompeu a si mesmo e levou uma mão à cabeça, os olhos arregalados. A confiança de Ja’far foi completamente abalada quando se lembrou, nitidamente, de quando havia se envolvido naquele treino de Kouen com as tropas do primeiro príncipe.

Estava portando suas lâminas quando sentiu algo percorrer seu corpo. Aquela voz que sussurrou em seu ouvido aquelas palavras.

Ja’far sorria quando, puxando a arma de Kouen que estava amarrada, arremessou a outra lâmina.

Kouen escapou por um triz, tendo a manga de sua veste rasgada quando o metal a atravessou. Estalando a língua, ele notava a satisfação nos olhos de Ja’far. Como se, ao despertar seu instinto, sentisse como se finalmente descobrisse sua verdadeira natureza.

O ruivo não lutava a sério, porém, queria ver o quão longe o ex-conselheiro iria.

Então novamente Ja’far o surpreendeu e, ágil com aquelas linhas como era, não demorou para que, numa emboscada, conseguisse capturar o príncipe entre as cordas escarlate. Kouen se preocupou, vendo que o ex-conselheiro não parecia hesitar e agora ele se via completamente encurralado.

O sorriso em seu rosto era largo e ele se sentia extasiado. Como se todas aquelas dúvidas desaparecessem e ele só tivesse um objetivo. Ele sabia muito bem o que deveria fazer.

 

— Barara- “ [1]

— ...q Sei… - pálido, Ja’far completou, murmurando as palavras que a dor, tão forte, não permitiu completar naquele fatídico dia. - Bararaq Sei...

— Ja’far-san! Oe! - uma voz feminina o chamava.

Foi quando ele piscou, vendo-se alvo dos olhares preocupados de todos que estavam ao seu redor. Mas ao mesmo tempo havia uma certa surpresa e… alívio em suas expressões?

— Você se lembra do seu poder, Ja’far-san? - Pisti foi a primeira a comemorar.

— M-Meu poder? - ele estava tão confuso.

— Que ótimo! Está começando a se lembrar, então! - Hinahoho tomou a intimidade de farfalhar os fios brancos de Ja’far.

Parecia uma festa. Todos comemoravam o fato de ter mencionado aquela palavra.

Mas, para Ja’far, aquilo significava algo terrível. Tendo agido por instinto e se lembrado de seu poder quando estava em Kou, aquilo significava que… Kouen havia mentido. Ele realmente pertencia a Sindria e tinha sido enganado pelo príncipe, então? Estava usando os poderes que Sinbad lhe cedia?

Mas como Kouen poderia ser capaz de algo assim? Amavam-se tanto, ele havia dito.

“ - Eu estou apaixonado por você, Ja’far! “[2]

Como se esquecer das vezes em que se viu refletido naquele par de rubis? Lembrava-se da ternura com a qual Kouen lhe tratava, tanto amor e… paixão. Havia sido tudo… mentira?

— Imaginem como o Sinbad vai ficar feliz quando souber!

As palavras de Drakon expulsaram Ja’far daquele limbo de confusão no qual se encontrava completamente perdido. Se Kouen havia mentido, tinha agido de uma forma terrível com Sinbad por tantas vezes, nutrindo tanto ódio.

— S-Sinbad!

Desvencilhando-se das mãos de Sharrkan, que ainda as tinha em seu ombro, Ja’far correu em direção ao palácio. Precisava vê-lo, conversar com ele, desculpar-se. Precisava ouvi-lo - e quantas vezes Sinbad tentara convencê-lo da verdade.

—-------xxxxxx-------

A inquietude não o deixava voltar a dormir. Kouen estava completamente abalado depois daquele sonho. Se o problema fosse apenas o sonho e não o vazio da sua cama…

E naquele momento, seu maior refúgio, eram os aposentos que Ja’far ocupava durante sua estadia no Império Kou. Onde podia sentir o cheiro de sua pele, ainda impregnado na roupa de cama que o príncipe não permitiu trocar. Abraçando aquele travesseiro onde podia encontrar um fio de cabelo ou outro, tão branco que era quase invisível a olho nu.

Fazia tempo que Kouen não entrava ali. Estava tão concentrado na viagem, no resgate de Ja’far. Porém precisava manter a calma naquele momento. A aflição não faria o conserto ser mais rápido, tampouco traria Ja’far de volta.

“Prudência, Kouen. Prudência.” - ele repetia a si mesmo entre um suspiro e outro.

Mas naquele quarto escuro ele viu um brilho incessante que vinha… daquele artefato mágico. O que Ja’far trouxera consigo. E já entendendo aquele ítem, se aquela luz azul estava acesa, era porque havia recebido alguma mensagem.

A ínfima possibilidade de Ja’far ter tentado se comunicar fez com que o ruivo, com urgência, tomasse em mãos aquele artefato. Suas mãos tremiam quando ouviu, primeiro, aquela respiração.

— EN! En… Está me ouvindo? - aquela voz inconfundível. - Sou eu, Ja’far. - ele parecia tão aflito, a voz entrecortada, ofegante. - En, me tira daqui, por favor. - que logo se perdia entre o choro. - Quero que mate o Sinbad e me leve de volta!

— JA’FAR!!!!

Foi inevitável clamar pelo nome daquele que o pedia socorro.

O príncipe se levantou, as mãos trêmulas enquanto segurava aquele comunicador. Pela forma como Ja’far falava, parecia estar sofrendo, angustiado. Será que estava sendo ameaçado? Será que depois de voltar e se voltar contra Sinbad, o rei de Sindria havia o rejeitado?

De qualquer maneira, aquilo significava que Ja’far ainda estava ao seu lado.

Ja’far ainda o amava. Ja’far precisava dele.

A determinação retornava forte ao primeiro príncipe de Kou.

— Eu vou te buscar, Ja’far! E vou matar o Sinbad!!!

—-------xxxxxx-------

Ja’far chegou ao enorme salão onde estava acontecendo o jantar, mas não havia nem sequer sinal de Sinbad. Onde ele havia ido? Como o encontraria naquele palácio enorme?

Será que havia ido para seus aposentos? Ele pensou enquanto seguia com o passo apressado em direção às escadas, as quais subiu de dois em dois degraus. Um mal-pressentimento corroía sua alma enquanto cruzava os enormes corredores.

Foi quando encontrou a porta de seus aposentos aberta.

Servos entrando e saindo de seu quarto levando alguns baús. O que estava acontecendo? - ele se questionava.

Cruzou a porta e encontrou a cômoda sem nada sobre ela, as gavetas abertas completamente vazias, assim como a escrivaninha e a mesinha de cabeceira. Estava sendo despejado? E, afinal, onde estava Sinbad?

Não tendo sinal dele, decidiu ir atrás do rei onde mais tivesse que ir.

E, caminhando em passos apressados, Ja’far foi até os aposentos reais. Nada também. O único lugar que imaginava onde Sinbad poderia estar era seu escritório.

Cruzando os corredores escuros e vazios dos setores administrativos, já que não havia expediente àquela hora, Ja’far viu uma fraca luminosidade escapar pela fresta aberta da porta daquela sala. Tinha certeza de que Sinbad estava ali e, assim que adentrou aquele lugar, deu de cara com o homem que estava sentado em sua mesa.

Alívio e aflição se confrontaram em seu coração. Alívio por finalmente tê-lo encontrado, porém aflição por estar ali sem saber como agir, o que dizer.

No fundo aqueles sentimentos pareciam tão infundados, já que não havia memória alguma do que viveram um ao lado do outro. Mas incomodava. Doía. Agoniava. A melancolia daquele homem era sua melancolia.

As chamas do único candelabro aceso refletiam nos olhos dourados. Eles estavam tão inchados, Ja’far notou.

Nas mãos trêmulas do rei estava uma correspondência aberta. O selo de Sindria havia sido rompido. O alvo engoliu a seco quando se encararam, mas Ja’far insistiu e se aproximou. E mesmo que, sutilmente, ele conseguiu perceber que o moreno havia recuado, mesmo ainda sentado naquela cadeira.

— S-Sinbad… - ele começou. - Eu quero conversar com você.

Não houve resposta. O rei permaneceu a encará-lo e aquele silêncio era mais preocupante do que qualquer coisa. Aos olhos de Sinbad, ele não reconhecia aquela casca vazia como Ja’far.

— Eu quero saber o que fiz de errado.

— Não fez nada de errado. - foi quando Sinbad desviou o olhar, voltando a encarar aquele papel marcado por uma, duas lágrimas, as quais começavam a escorrer, manchando aquela escrita. - Já estão preparando suas coisas para que parta amanhã. - ele dizia friamente.

— Eu soube! Fui aos meus aposentos e vi que reviraram tudo. - havia uma pitada de indignação em suas palavras. - Por que está me expulsando assim?

— Expulsando? - Sinbad contorceu o lábio ao encará-lo. - Você não deseja tanto ir embora, Ja’far?! - ele se levantou tão repentinamente que, ao empurrar a cadeira para trás, essa foi ao chão. - Você não disse que quer ver… o “En”? - Ja’far viu Sinbad se aproximar e a seriedade em sua expressão lhe fez sentir medo. Mas ele se manteve firme. - Não precisa mais mandar cartinhas para ele implorando que me mate!

Ja’far sentiu um arrepio cruzar sua espinha quando Sinbad, violentamente, arremessou aquele pergaminho na altura de seu peito.

Era claro. Como havia sido ingênuo de pensar que, enquanto forjasse estar apenas trabalhando, pudesse mandar uma correspondência para Kou sem ser pego? Obviamente Sinbad havia pedido para que analisassem tudo o que fazia e, mesmo decidido a descobrir a verdade por si só, ele havia cedido à tentação de pedir socorro a Kouen, mais uma vez.

Como estava envergonhado e… magoado por ver como havia atingido Sinbad. Muito mais depois de se tocar de que, realmente, havia um laço com o rei de Sindria e que Kouen havia mentido. O que diria? Como se explicaria?

— S-Sinbad…

— CHEGA, JA’FAR! - exclamou um transtornado Sinbad. - Já resolvemos tudo, certo?! - ele soluçava. - Você vai embora! Não precisa me odiar mais e, mais importante: por favor, não ponha Sindria em risco!

— Tsc, eu não devia…

— CALA A BOCA! - vociferou Sinbad. - Saia daqui! Por que está aqui?!

Os olhos verdes, arregalados, refletiam o homem que, mesmo aos prantos, esbravejava.

Havia sinceridade em suas palavras, em seus gestos, em seus sentimentos.

Seus gritos pareciam uma reação inata para que não se afogasse naquela angústia.

Como havia duvidado dele?

Mas como  Ja’far desejava se lembrar de tudo o que viveram, já que a única certeza que havia era aquele aperto forte em seu peito. Sentia que ia sufocar.

— Eu não tenho culpa de ter perdido a memória! - o alvo exclamou, cedendo um pouco às emoções. - Eu quero me lembrar de você e… e do Kouen também! Quero lembrar de tudo, mas você achou melhor agir da pior maneira!

Sinbad assentiu, encarando-o. Aquela dor se convertia em fúria.

— SUMA DAQUI! - rebateu Sinbad, assustando seu ex-conselheiro. - VÁ EMBORA! NÃO QUERO VÊ-LO NUNCA MAIS!

Doeu.

Ser rejeitado pelo rei de Sindria havia doído muito mais do que ele pensava.

E não se sentia satisfeito ao afastá-lo e, subsequentemente, vendo-o entristecer, depois de desprezá-lo? Claro, porque sabia que Sinbad o amava. Sempre soube. Ele não teria ido em Kou à toa…

— Por favor, Sinb…

— SAIA! - interrompeu Sinbad, cedendo ao descontrole.

Talvez o destino tivesse articulado para aquela sua nova vida. Afinal, Kouen o amava. Por mais que tivesse mentido, era para mantê-lo ao seu lado. Agora Sinbad estava lhe expulsando.

— Está certo! - Ja’far deu um passo à frente, o orgulho falando mais alto. - Por mais que eu saiba que eu tinha alguma ligação com você, não me importa mais! Meu lugar é ao lado do En mesmo! Ele é o MEU rei! - enfatizou. - E não se preocupe! Ninguém vai invadir essa sua ilhazinha medíocre!

Mas o que estava falando? - Ja’far se perguntava, tomado puramente pela frustração de se ver dispensado por aquele homem. Afinal, havia passado ótimos momentos ao lado daquelas pessoas e, em poucos dias, havia se sentido tão querido.

— Adeus, Ja’far. - o rei tentou segurar o choro, mas como faria?

— Adeus!

Assistindo a Ja’far dar meia-volta e marchar em direção àquela porta, Sinbad cerrou os punhos.

Como estava furioso! Como estava magoado! Como estava machucado!

A cada passo que seu ex-conselheiro, melhor, seu amante, dava ao se afastar era o suficiente para que cada trecho daquela carta ecoasse em sua mente. Podia ouvir aquelas palavras, narradas pela voz melodiosa de Ja’far, junto das batidas de seu coração, tão acelerado.

Ele é uma pessoa desprezível. Sinto nojo toda vez que ele me toca.”

Mais um passo. Tão devagar.

Por que Ja'far teve que ir para Kou? Para realizar seu sonho?

Eu queria matá-lo com minhas próprias mãos.

Outro passo. As costas de Ja’far cada vez mais distantes.

Por que tudo aquilo estava acontecendo?

Por que você não veio me buscar, En?”

A mão, tão clara, apoiada à maçaneta. Lágrimas se acumularam nos cantos de seus olhos.

Por que Ja'far não o amava mais?

Eu te amo, En!

 Ele estava indo embora para sempre.

 Por quê?!

Mate o Sinbad!”

— J-Ja’...

O rei estendeu a mão, tentando alcançá-lo, quando aquele único passo que tentou dar para frente falhou.

Suas pernas estavam fracas, incapazes de andar, até mesmo de sustentá-lo em pé, e sua visão embaçou. Os olhos dourados já não eram mais capazes de se manterem abertos.

Ja’far desapareceu completamente quando tudo ficou escuro e ele ouviu o som do próprio corpo ir ao chão. O mesmo som que fez o alvo virar para trás e se surpreender ao ver Sinbad caído sobre o chão encarpetado.

O pânico tomou conta do ex-conselheiro de Sindria que, imediatamente, deu meia-volta.

O-oe! SINBAD!!!

A última coisa que ele ouviu, tão distante, foi a voz de Ja’far desaparecendo.

O alvo correu até o rei de Sindria. O que havia acontecido? - ele se questionava, aquele aperto no peito ficando cada vez mais intenso quando se ajoelhou ao seu lado.

— SIN! SIN!!!

Ja’far nem ao menos percebeu que, inconscientemente, o nome de Sinbad foi encurtado para o típico apelido que costumava usar, porém não lembraria daquele detalhe. Ja’far, desesperado, sacudiu o ombro do moreno, que permaneceu imóvel.

— Oe, Sin! Está me ouvindo?

Foi quando tocou em seu rosto e logo tratou de afastar sua mão. A pele bronzeada estava quente o suficiente para repelir sua mão.

— Droga!! - ele resmungou, a mão livre segurando firmemente uma das dele, pousadas sobre o assoalho, enquanto que a outra afagava os fios púrpura. - Eu vou buscar ajuda, Si…

— Sinbad?!

A porta se abriu e revelou Pipirika, que imediatamente se assustou ao se deparar com aquela cena.

— O que aconteceu?! - ela correu para se aproximar.

— Eu não sei! O Sin desmaiou e está com febre!

— "S-Sin"? - estranhando aquela forma de falar, Pipirika indagou.

— Por favor, Pipirika-san, busque ajuda!

Saindo daquele transe - não havia tempo para pensar sobre aquilo agora - a robusta moça assentiu, deixando rapidamente daquela sala.

Os dedos de Ja’far afundavam nos cabelos do rei de Sindria, tentando transmitir a ele algum conforto. Era como se toda aquela raiva, aquela frustração, tivesse desaparecido. Agora só restava para Ja’far a culpa. E como ela cumpria bem seu papel de corroer seu coração!

— Sin! Sin, acorde! - o alvo pedia à espera de alguma reação.

— O que aconteceu?!

A porta se abriu num estrondo e logo Drakon, Masrur, Hinahoho e Yamuraiha estavam ali.

— Majestade! - a maga correu até seu rei, preocupada.

— Masrur, leve o Sinbad para seus aposentos. Pipirika foi pedir que os médicos da corte o atendam lá. - Drakon o instruiu e o fanalis assentiu, aproximando-se do trio.

Ja’far sentiu seus dedos, até então entrelaçados aos do moreno, se separando lentamente quando o ruivo, cuidadosamente, tomou seu rei em seus braços.

Ele rapidamente se levantou, acompanhando aquele que foi, junto de Yamuraiha, em direção à saída. Porém uma mão forte segurou seu ombro, impedindo-o de prosseguir.

Era aquele homem tão alto, de cabelos e olhos tão parecidos com os de Pipirika.

— O que aconteceu?! Quero acompanhá-lo.

— Ja’far, o que você fez com Sinbad?!

Aquela pergunta, tão carregada de acusações, fez o alvo recuar.

— Eu?! - tremendo, Ja’far apontou a si mesmo. - Não fiz nada! Eu expliquei a Pipirika! Ele desmaiou. Eu estava perto, apenas isso. - Ja’far explicou.

— Não fez nenhuma besteira?

— O que está insinuando!? - ele estava indignado. - Tudo isso é por causa do poder que ganhei do Kouen?! - retrucou Ja’far, de uma forma agressiva.

Drakon, até então em silêncio, aproximou-se trazendo aquele pergaminho que acabara ficando perdido no chão. Tocando o ombro de Hinahoho, ele o entregou aquela carta. Ja’far engoliu a seco.

— Acho que já consigo entender o que aconteceu.

— Tsc, acham que eu escrevi essa carta para matar o Sinbad?! - Ja’far praticamente arrancou a mão de Hinahoho de cima do seu ombro. - De fato foi! Foi para o Kouen vir matá-lo. Mas eu não imaginava que, se Sinbad a descobrisse…

— Você não imaginou como Sinbad ficaria lendo isso?! - Drakon cruzou os braços ao interrompê-lo. - Sabe o que poderia ter acontecido se essa carta chegasse a Kou?

Ja’far apenas mordeu o lábio inferior. As bochechas claras coraram quando ele desviou o olhar. Faltava coragem para encará-los.

— Sua atitude egoísta poderia colocar todo nosso reino em guerra. - prosseguiu aquele homem de aparência bizarra. - Eu estava sendo contra essa loucura do Sinbad o deixar ir embora, mas agora vejo que é o melhor. Você não é o Ja’far que conhecemos e está matando o Sinbad!

Aquelas palavras doeram profundamente. Ja’far suspirou pesado.

— Vocês foram me buscar! Eu não pedi para vir pra cá!

— Porque Sinbad estava enlouquecendo preocupado com você! Passava dia e noite pensando em como você estava, temendo que estivesse morto! Mas ele não imaginava que fosse trazer um inimigo pra cá, ao invés da pessoa que ele mais amava! - exclamou Drakon, completamente transtornado com a situação.

— Eu vim… vim conversar com ele. - Ja’far tentava se explicar. - Quando estava em Kou eu me lembrei daquele nome… Bararaq Sei… mas… mas… Eu não sabia que era…

A voz falhava entre soluços. Mal havia percebido que começara a chorar. Ele se sentia tão confuso. E, de fato, Drakon estava certo. Como fora capaz de colocar Sindria em risco? Por mais que Kouen dissesse tudo aquilo, aquelas pessoas eram inocentes quanto às atitudes de seu rei. Porém… seu próprio rei não era nada do que Kouen havia dito. E Ja’far, mais do que nunca, sabia agora quem estava mentindo, por mais que suas lembranças o traíssem.

— O melhor a fazer mesmo é ir embora. - suspirou Hinahoho.

— Do que está falando?!

Pipirika adentrava novamente aquela sala e lançou um olhar repreensor para o irmão mais velho, que nada disse. A moça de cabelos azuis logo se dirigiu ao cabisbaixo Ja’far.

— Como Sinbad está?! - Drakon se antecipou, bastante preocupado.

— Estão cuidando dele ainda. - respondendo, Pirika segurou Ja’far pelos ombros. - Ja’far, o que aconteceu?

— Posso… Posso ver o Sin? - ele indagou entre soluços.

— Claro que si…

— É claro que não! - Hinahoho interrompeu.

— Quê?! Onii-chan! - Pipirika se alterou. - O que significa isso?!

— Sinbad está desse jeito por conta do que essa pessoa - ele apontou Ja’far - está fazendo com ele. Ja’far está morto, Pipirika! Deixe que esse subordinado ao Kouen volte para Kou!

A moça estava impressionada com o que escutara. Ja’far, por sua vez, se manteve em silêncio, consentindo com o que Hinahoho declarava. Não era mentira nenhuma o que ouvia.

— Mas… Que absurdo é esse?! - ela estava em choque. - Onii-chan, não fale…

— Tudo bem, Pipirika-san. - Ja’far a interrompeu com um pequeno e conformado sorriso. - Seu irmão tem toda razão. Eu vou embora agora para não causar mais problemas.

— Você não pode ir embora sem o Sinbad saber! - retrucou Pipirika. - E você já percebeu… - um tanto quanto emocionada ela encarou o fundo dos olhos esverdeados. - que seu lugar é aqui.

Ja’far apenas assentiu, a melancolia estampada em seu rosto, contrastando com aquele sorriso que não devia estar ali.

— Peça perdão ao Sin por mim. Eu vou embora hoje mesmo!


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Notas finais do capítulo

[1] - Trecho do capítulo 8: Instinto
[2] - Trecho do capítulo 10: Confissão

Uffa! Esse capítulo foi bem pesado! Pra começar que o Ja'far foi completamente encurralado. Se antes ele se mantinha altivo e bastante agressivo, ao se dar conta dos seus atos - em especial das consequências deles - só sobrou para ele ficar quietinho e ouvir. Ele até tentou se sair bem, mas na briga com o Sin ele preferiu sair por cima e falar mais uma besteira.

Eu acho que o Sin aguentou bastante. Acho que pensei isso porque, durante esse capítulo, lembrei de muitas situações de Um Peso, Duas Medidas, onde o Ja'far cedia muito facilmente. Mas realmente o Ja'far é muito mais frágil... emocionalmente falando. Creio que ele não aguentaria metade do que aconteceu com o Sin. Mas ainda penso se o lance do filho ou do metal vessel foi pior. Hahaha!

E Ja'far se arrependeu tarde demais, escrevendo cartinha para o En. Se ele tivesse associado aquelas palavras lá atrás antes...

E agora? O Sin não vai poder impedir o Ja'far de ir embora e os generais parecem ter entrado num consenso que, de fato, aquela casca vazia não é o Ja'far deles, então, vão mandar ele embora? XD

Espero que estejam gostando! Finalmente chegamos à METADE da fic. A partir daqui as coisas vão mudar MUITO! ♥

Críticas, sugestões, elogios, tomates na minha cara ou só bater papo comigo, me manda review! ♥



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