Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 24
Arrependimento


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Peço desculpas pela demora - inclusive ainda não respondi as reviews essa semana, responderei todas!!! Estive um pouco ocupada, em especial, com meu aniversário que foi semana passada - dia 4! Se quiserem me dar fics de presente, agradeço! HAHAHA! Espero que gostem! O capítulo hoje tá pesado!



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— Peça perdão ao Sin por mim, Pipirika-san. Vou embora hoje mesmo.

Não houve tempo para contestação. Ja’far deu meia-volta e se dirigiu à porta.

Deixou Pipirika ali, com os lábios entreabertos tentando buscar palavras que fossem capazes de fazer com que ele voltasse atrás em sua decisão, mas elas pareciam travadas em sua garganta.

Não podia permitir que Ja’far fosse embora. Como voltaria a Kou? Abandonaria não só Sinbad, mas Sindria para sempre? Ele era a alma daquele país!

Os demais ficaram apenas a assistir seu ex-companheiro deixar aquela sala e suas expressões condenavam que não havia arrependimento algum quanto às acusações feitas anteriormente.

— Peça para que ponham guardas de prontidão nos aposentos do Sinbad. Não quero que Ja’far chegue perto dele! - Hinahoho instruiu Drakon, que prontamente assentiu.

E se Pipirika já estava furiosa, aquela ordem era a gota d’água. Revoltada com tamanha frieza, ela marchou até seu irmão.

— O que pensa que está fazendo?! Por que está tratando Ja’far como um inimigo?! Esqueceu de tudo o que vivemos juntos?! Do que Ja’far significa para nós?!

O irmão mais velho foi atacado pelas duras questões daquela que tinha os olhos cor-de-mel marejados. Mas a indignação era grande o suficiente para suprimir a tristeza que sentia.

Hinahoho balançou a cabeça como se, para ele, aquela situação fosse tão difícil quanto para ela. Mas era nítido que ele estava tomado pela mesma confusão que assolava a todos.

— Você acha que o Ja’far ia querer matar o Sinbad?! O Ja’far que viveu tudo com a gente?! - usando as próprias palavras de Pipirika contra ela própria, o robusto homem a respondeu. - Ele escreveu uma carta pedindo que Kouen viesse dar cabo do Sinb...

— Vocês não percebem que ele não está em seu juízo normal?! - Pipirika o interrompeu. - Ele foi completamente manipulado por aquele príncipe! Chegou aqui nos declarando ódio! Mas agora ele estava tentando consertar as coisas. Está na cara como colocaram coisas na cabeça dele...

— Consertar como? Fazendo com que Kou invada Sindria? Pondo a perder tudo?

— E você acha que Ja’far ia querer que Sindria fosse destruída? O NOSSO JA’FAR! - enfatizou a moça. - Drakon-san?! - ela se voltou ao general.

A única resposta, tanto de Drakon, quanto de Hinahoho, foi um suspiro pesado. De fato, estavam sendo injustos, porém, defender justamente o que Ja’far tanto estimava significava repudiar quem ele se tornara.

Pipirika, indignada com o que ela via como uma insensibilidade sem fim, bufou.

— Eu vou falar com o Ja’far e não quero que se intrometam mais nisso! Eu vou dar um jeito de resolver isso!

Havia bastante movimento nos corredores. Apesar de já passar das onze, a notícia sobre o mal-estar do rei Sinbad havia se espalhado rapidamente e o ex-conselheiro podia constatar aquilo ao se deparar com as expressões dos criados, tomados pela preocupação. Afinal, dificilmente vinham sua majestade adoecer, o que trazia inquietude. O que teria acontecido? - eles se perguntavam à espera de notícias.

Mas assim que um grupo que estava no salão de entrada reparou que Ja’far se aproximava, alguns logo se alarmaram e correram em sua direção.

— Ja’far-san! Como está a majestade?! - indagou um deles.

Piscando os olhos verdes, confuso, ele não sabia o que responder. Via-se cercado por aquele pequeno grupo de pessoas que estavam aflitas por notícias de Sinbad. Notícias as quais ele não tinha.

— Não nos esconda nada, por favor! Todos já sabem que ele desmaiou em seu escritório! Minha irmã que trabalha junto aos médicos da corte me contou. - uma jovem insistia.

— E-Eu sinto muito, mas também não sei como ele está. - foi tudo o que ele respondeu.

— Não minta para nós, Ja’far-san! Você só sairia de perto do nosso rei caso ele já estivesse melhor, certo? - a moça de olhos castanhos refutou. - Ou aconteceu algo ruim e não quer nos contar? - os dedos finos que a jovem tinha cruzados apertaram mais. - Por favor, não nos esconda nada!

Era assim que costumava agir, então? Tão preocupado com seu rei, se ele estivesse enfermo, não sairia do seu lado? - Ja’far tentava memorizar aquilo na tentativa de se lembrar de algo que pudesse remetê-lo a algum acontecimento.

— Por que estão nos escondendo o que está acontecendo? Estamos preocupados. - o rapaz tomava a palavra.

Ja’far não sabia o que responder ou como agir. A tensão era nítida no rosto pálido.

— A majestade está se recuperando. Não precisam se preocupar.

O alvo olhou para trás e sentiu um forte alívio ao se deparar com Sharrkan que, reparando o que acontecia, vinha ajudá-lo. De fato Ja’far queria ficar um pouco sozinho, mas a aparição de um dos generais ali era, praticamente, uma dádiva.

— Sharrkan-san! - o grupo que rodeava o ex-conselheiro se voltou ao príncipe de Heliohapt.

— Calma, calma! Podem parar o choro. Nosso rei só teve uma indisposição. - ele tentava tranquilizá-los com um sorriso.

Ja’far gostaria de agradecer a Sharrkan que, com seu jeito irreverente, logo tratava de acalmar aquelas pessoas. Era nítido que ele estava jogando palavras ao vento, mas era o suficiente por ora. Mas não havia tempo para tal. O ex-conselheiro se aproveitou da distração do moreno, cercado pelos servos, para prosseguir seu caminho.

Foi quando chegou à entrada do palácio. Uma brisa fria vinda dos mares do sul fazia seu corpo arrepiar.

Sob a marquise, próximo a um dos enormes jarros de dracena, os quais adornavam aquela recepção, estavam os baús que foram retirados de seus aposentos. Tudo estava pronto para ser levado ao navio que partiria na manhã seguinte para Kou. Que o levaria de volta ao seu lar.

Sentando-se em um dos compartimentos, um longo suspiro sucedeu o momento em que abriu o baú ao lado. O que encontraria ali?

Havia curiosidade no olhar daquele que não reconhecia os próprios pertences e começou a revirar aquelas peças de roupa. Não eram muitas e tudo era bastante básico e lembrava o próprio uniforme. Haviam quatro, iguais, daquele que vestia. E entre aquelas vestes acabou descobrindo um estojo forrado em veludo. Parecia um porta-joias - ele pensou antes de abri-lo.

Mas assim que o fez, descobriu um papel por cima de uma linda gargantilha de prata. Uma belíssima safira ficava pendurada naquela corrente. Mas a beleza da joia foi ofuscada pelo bilhete que dizia “Para Ja’far”.

Engolindo a seco, o alvo abriu aquele papel que tinha sido dobrado duas vezes.

Nesse nosso aniversário você estava viajando, mas não podia deixar de presenteá-lo como merece. Espero que goste e que se lembre sempre de mim quando estiver usando. Lembre-se de mim sempre, Ja’far. Feliz mais um ano em Sindria ao meu lado, meu amor.

Era como se tivesse levado uma pancada forte na cabeça.

Doeu.

E doeu forte o suficiente para fazê-lo derrubar aquele estojo, a gargantilha indo ao chão. A mão livre segurou - ou melhor - puxou com força os fios esbranquiçados, fazendo o adorno no topo deles deslizar por seus ombros.

Apertando os olhos com força, Ja’far se apoiou, com a mão livre, em uma das colunas de mármore para, ao reabri-los, ver-se nos aposentos do rei Sinbad. Lembrava-se de ter despertado naquele lugar quando chegou a Sindria.

E mesmo que não fosse a primeira vez que passava por aquilo, vendo-se em um lugar completamente diferente depois de sentir aquelas dores em sua cabeça, ele se sentia assustado. Ja’far tinha plena consciência de que não sabia o que assistiria ou viveria naqueles momentos.

Mas sentindo a dor cessar, Ja’far deu um passo à frente.

Estava tão escuro. Todos os candelabros estavam apagados.

Sinbad estava bem? - questionava-se. Queria vê-lo, afinal.

Foi quando se aproximou daquela varanda que arregalou os olhos ao encontrar a si mesmo. Ele usava apenas um roupão branco, nitidamente bem maior que o tamanho que seria adequado a Ja’far. Ainda mais porque ele parecia um pouco mais jovem enquanto observava, com os olhos brilhando, aquele reino cuja noite era tão iluminada e alegre.

Suspirando, o alvo tinha as mãos apoiadas àquela mureta quando sentiu dois braços fortes lhe envolverem o corpo. Uma respiração quente e sedutora soprou na curva de seu pescoço, que foi abocanhado por aquele homem que, quem assistia, não viu chegar.

E por mais que o verdadeiro Ja’far soubesse que não podia ser visto, receoso, ele deu um passo para trás. Chegou a corar ao vê-los trocando carícias tão intensas - mais ainda quando percebeu que o rei de Sindria se encontrava completamente nu.

— Está feliz? - ele perguntou num sussurro ao pé do ouvido daquele outro Ja’far.

— Como não estaria? - riu o alvo, virando-se de frente e recostando-se naquela mureta. - Estou aqui, com você, no nosso lar.

— Nosso lar… - repetiu o moreno que abriu um doce sorriso.

— Nosso… - Ja’far depositou um suave beijo nos lábios de seu rei antes de voltar a encarar o objeto de admiração de ambos. - Eu sempre vou lutar para proteger o que construiu, Sin! - obstinado, ele afirmou.

— Nós construímos. - o rei corrigiu seu subordinado. - Sindria pertence tanto a mim quanto a você.

 

Ja’far riu e aquilo trouxe certo desconforto a Sinbad, que arqueou uma sobrancelha.

— O que foi?

— Sin… - ele começou, o olhar perdido sobre o mar de casas que se estendia. - Sindria vai pertencer a sua futura esposa e a seus futuros herdeiros.. A mulher que vai ter a sorte de se tornar sua rainha. - ele parecia um tanto quanto sonhador, apesar de melancólico.

O moreno contorceu o lábio. Não gostava nem um pouco daquela conversa.

— Eu já tenho minha rainha. - ele o virou de frente para si mais uma vez. - É você! - afirmou Sinbad, enquanto batia no peito de Ja’far com a ponta de seu indicador.

— Não seja bobo. - Ja’far deu um novo risinho. - Não posso te dar filhos, tampouco pode expor a todos que tem um caso comigo. Eu vou me esforçar para arranjar uma concubina digna de ser sua espo…

— Chega!

Sinbad o interrompeu, puxando-o pelo queixo. Havia violência naquela atitude, mas Ja’far, surpreso, não pôde se defender quando o moreno tocou sua fronte na dele.

— Sabe que odeio que diga isso! Que odeio que se menospreze, que se diminua! Não quero ninguém além de você! - sussurrava o rei. - Quando me diz isso me faz pensar que em um futuro próximo não vou ter você comigo e… e isso me dá medo. - a voz dele tremia.

— S-Sin…

— Vamos ficar juntos para sempre, eu prometo!

Ja’far observava seu “outro eu” ser beijado com paixão por um devoto Sinbad. Mas foi naquele momento que sua cabeça voltou a latejar. Tão forte que mal conseguia suportar.

Mais uma vez ele apertou os olhos firmemente e, quando voltou a abri-los, lá estava ele de volta à entrada do palácio de Sindria.

Ofegante, ele tentava se orientar novamente. A dor em sua cabeça logo cessou, mas em seu coração ele sentia como se um enorme buraco tivesse sido aberto.

— Ja’far?!

Seguiu aquela voz e encontrou Pipirika, que parecia exausta. Estava encharcada de suor.

— Eu o procurei por todo o palácio! - explicou ela ao se aproximar e segurou seu pulso. - Vamos! Vou te levar para ver o Sinbad! - sussurrando ela temia que seu irmão a ouvisse.

— Não! - decidido, Ja’far deu um passo para trás. - Chega, Pipirika-san! Eu vou embora! Estou aqui apenas esperando o momento em que meu navio irá partir!

— O quê?! Mas você enlouqueceu?! Vai deixar Sinbad do jeito que ele está?!

— É melhor assim… - ele abraçou a si mesmo, a tristeza nítida em seu semblante. - Não quero mais causar problemas.

— Por acaso já imaginou como Sinbad vai ficar quando acordar e souber que foi embora?

— Ele tem a todos vocês. Sou apenas… apenas…

— Quem ele mais ama nesse mundo. - Pipirika completou, cruzando os braços.

Aquelas palavras surpreenderam Ja’far. Por mais que aquelas lembranças o atormentassem e traziam aquilo à tona, ouvir aquilo era uma confirmação a mais. Por um instante, Ren Kouen parecia não existir mais em sua mente… muito menos em seu coração.

— Eu… Eu ainda não acredito completamente nisso.

— Venha comigo. Depois você será livre para decidir fazer o que quiser.

—------xxxxx-------

Os aposentos reais tinha as portas duplas entreabertas devido ao entra-e-sai constante de criados que auxiliavam na recuperação do rei. Ja’far se sentiu bastante tenso quando adentraram aquele quarto e seus olhos, rapidamente, procuraram Sinbad.

Foi quando encontrou a enorme cama no centro daquele amplo ambiente. Um forte cheiro de incenso fez Ja’far coçar o nariz enquanto ele se aproximava daquele leito.

O rei permanecia desacordado, recostado nos travesseiros enquanto que grossas camadas de lençóis o cobriam até a metade do peito. O rosto bronzeado estava avermelhado enquanto os lábios entreabertos ofegavam, deixando escapar alguns murmúrios. A respiração estava rasa, entrecortada, e de vez em quando ele balançava a cabeça negativamente, como se estivesse tendo um pesadelo.

Ja’far sentiu seu coração se partir em mil pedaços ao vê-lo naquele estado. A mão que ficara para fora daqueles lençóis tremia parecendo buscar algo.

Ao seu lado havia uma criada aplicando compressas em sua fronte e em seu colo.

— O… O que ele tem? - ele perguntou, um tanto quanto receoso.

— Os médicos disseram que ele está sob muito estresse. - Pipirika suspirou. - Ele também não tem se alimentado ou dormido direito. Mas já o medicaram e a febre deve ceder logo.

O alvo mordeu o lábio inferior enquanto observava o rosto tomado pelo rubor febril. Não era possível que caísse doente meramente pela discussão que tiveram. Era uma coincidência, não era? - ele tentava convencer a si mesmo.

— Trouxe mais gelo!

A porta se abriu e aquela maga adentrou os aposentos do rei acompanhada de Sharrkan, que trazia, com bastante dificuldade, um caldeirão que transbordava pedras e mais pedras de gelo.

— Y-Yamuraiha-san, não precisava de tanto! - Pipirika arregalou os olhos.

— Eu também falei isso para essa bruxa velha e louca! - Sharrkan praticamente largou aquele recipiente no chão. Vários cubos de tamanhos diferentes rolaram pela montanha de gelo e se espalharam pelo carpete.

— Melhor prevenir e termos mais do que o necessário. - a mulher de seios fartos comentou.

— Mas se isso derreter não tem utilidade nenhuma… - o moreno cruzou os braços.

Yamuraiha nada disse, apenas fez bico. Não queria dar o braço a torcer, apesar de saber que Sharrkan tinha razão.

Foi só então que ambos notaram a presença de Ja’far, que estava bastante receoso, temendo ser visto ali. Entreolharam-se, um tanto quanto confusos e sabendo das ordens que haviam recebido: não deixá-lo entrar ali. Mas como podiam dizer algo naquele momento em que viram Ja’far se aproximar daquele caldeirão com a tina d’água que a criada havia deixado sobre a cabeceira? Ele colheu algumas pedras de gelo e as depositou naquela água antes de ir à cama do rei Sinbad.

— Com licença. - ele pedia que a serva se afastasse.

Sharrkan e a maga se entreolharam sem saber o que dizer. A preocupação era nítida no rosto de Ja’far, que assumia o papel de cuidar do soberano. E, se não soubessem que ele estava desmemoriado, era como se assistissem, ali, o antigo Ja’far tomado pela apreensão para cuidar daquele que tanto amava.

— Você! - ele apontou um dos criados. - pode pedir que preparem um chá de macela bem forte?

— S-Sim… - o rapaz rapidamente se curvou e deixou os aposentos para atender o pedido daquele que agia como o conselheiro de Sindria que sempre foi.

— O que vamos fazer agora? - Sharrkan cutucou a maga enquanto observava Ja’far aninhar melhor seu rei naqueles lençóis.

— Não deixamos o Hinahoho-san nem o Drakon-san entrar aqui? - perguntou Yamuraiha, tão confusa quanto ele.

— Deixem eles comigo! - Pipirika abriu um sorriso.

— Pipirika-san, é perigoso, não acha? - o moreno a segurou pelo braço. - Digo, Ja’far-san pediu que o príncipe Kouen matasse a majestade… - era como se doesse para Sharrkan falar aquilo. - Ele não é mais a mesma pessoa.

— Sharrkan… - Pipirika se voltou ao príncipe. - Quem você vê ali? O Ja’far que Sinbad trouxe de volta ou o Ja’far que sempre cuidou de todos nós?

Aquela pergunta pesou mais do que devia. Porém, de fato, Sharrkan jamais se daria ao luxo de destratar Ja’far. Afinal, desde criança foram criados por ele, por mais que tivessem idades próximas, com tanto carinho - aquele que jamais teve nem mesmo de sua própria mãe.

Yamuraiha, por sua vez, sentia-se tomada pela culpa. Não conseguia se perdoar pela demora em localizar seu amigo e revelar tudo para Sinbad. Via a amnésia de Ja’far como uma consequência de seu erro.

Quanto a Ja’far, era como se agisse por puro instinto. Ele não se preocupou em nada, exceto cuidar daquele homem. Foi quando o alvo tentou depositar aquela mão sob as cobertas que ele sentiu não conseguir se soltar. Piscando confuso, ele encarou Sinbad. Estava acordado? - Ja’far se perguntou, vendo os olhos cerrados.

Parecia que o rei depositava todas as forças que ainda tinha naquele aperto. Não podia deixar Ja’far ir. Não podia cometer aquele erro uma segunda vez.

— Sin. - ele chamou. - Como se sente?

— N-não vai, por favor… - o rei murmurou, ignorando sua pergunta. - Não me deixa.

Ja’far suspirou, aflito com aquela súplica.

Ele esfregou o polegar pela mão do moreno, tentando acalmá-lo.

— Eu estou aqui. Fique calmo. - sussurrou um paciente Ja’far que, com a mão livre, tirou aquela toalha de dentro da tina d’água e a torceu como pôde para colocá-la sobre a fronte do rei. - Não se esforce. Precisa descansar!

— Não vai pra Kou… Eu não quero…

— Eu não vou sair daqui até que melhore, tudo bem? Vou ficar ao seu lado!

A única resposta que Sinbad conseguiu dar foi um leve menear de cabeça antes de adormecer novamente. Mas podia descansar agora com a garantia de que Ja’far estaria ao seu lado.

Suspirando pesado, o alvo ponderava enquanto observava o rosto de Sinbad. Afinal, o que estava fazendo? Havia decidido que, mesmo com a mentira de Kouen, preferia ficar ao seu lado e agora estava ali, velando o sono daquele homem que fora ensinado a odiar tanto! Sua cabeça latejava, mas não havia tempo para se preocupar com aquilo. A prioridade agora era a saúde debilitada do rei de Sindria. E, independente de partir para Kou ou não, sentia-se responsável por sua enfermidade.

— Como sabe se isso não é um veneno!?

— Mas foi o próprio Ja’far-san que pediu!

Aquelas vozes vinham do lado de fora antes que as portas se abrissem e revelassem um afoito Hinahoho seguindo o criado que trazia em uma bandeja em suas mãos. Sobre ela havia uma jarra de prata de onde saía bastante fumaça.

— O que aconteceu, onii-chan?

Pipirika interviu, preocupada com a presença do irmão ali, mas os olhos dele já pairavam sobre Ja’far.

— Pra começar, o que Ja’far está fazendo aqui?!

Ja’far se levantou prontamente, um tanto quanto assustado ao ver aquele robusto homem indagando sua presença nos aposentos reais. Hinahoho lhe lançou um olhar bastante intimidador.

— Ele estava preocupado com o Sinbad! - Pipirika novamente interveio.

— Ele está preocupado com o que ele fez com Sinbad! - corrigiu Hinahoho. - Ou melhor, está dando cabo dele agora pedindo para que um criado traga algo para ele, sabe-se lá o quê!

— Onii-chan! - Pipirika estava envergonhada com a audácia de seu irmão acusar Ja’far assim, na frente de todos. - Ja’far-san pediu que trouxessem um chá de macela para ajudar o Sinbad a se recuperar!

— Ah, e quem não se lembra nem do próprio nome sabe que chá é bom para curar nosso rei? - inflexível, ele cruzou os braços. - Diga, Ja’far, foi com o Kouen que aprendeu tanto sobre chás, ervas?!

Estava tão tenso sob aquele inquérito que foi apenas naquele momento que o ex-conselheiro se tocou: como sabia que chá devia dar a Sinbad? De fato, com quem havia aprendido aquilo?

Então tudo apareceu bem nítido em suas lembranças. A mulher de longas tranças azuis, olhos cor-de-mel, tão belos, numa expressão angelical que contrastava tanto com a aparência bruta. Aquele sorriso doce que ela esboçava quando o via aprender, enfiado nos livros dia-e-noite.

— Ja’far, você precisa saber de tudo um pouco! Você quer ajudar o Sinbad, não é? Quer ser sempre útil para ele e para o país que vamos ter juntos, não? Então continue estudando.

— Responda, Ja’far!!!

Piscando o par de esmeraldas ele voltou à realidade. Suas pernas tremiam enquanto ele sentia um arrepio atravessar seu corpo. Aquela mulher… não era sua mãe? Mas era tão parecida com Pipirika e até mesmo Hinahoho.

Era nítido que Ja’far estava tomado pelo pânico, transtornado ao ter uma nova lembrança, novamente, incompleta. E seria aquilo real?

Percebendo aquilo, Yamuraiha logo se prontificou, aproximando-se do servo que assistia a tudo e tomando a bandeja de sua mão.

— Fui eu que disse para o Ja’far-san que esse chá seria bom para baixar a febre da nossa majestade. - ela mentiu, as mãos tremiam ao segurar as alças da bandeja de prata.

Ja’far piscou, bastante assustado. Aquela mulher estava se colocando em risco se, de fato, tivesse algum plano para fazer mal a Sinbad. - o que não era verdade, mas poderia ser. A maga jamais saberia para, de olhos fechados, assumir aquela responsabilidade.

Hinahoho permaneceu de braços cruzados enquanto era fuzilado pelo olhar de Pipirika.

— Acho que já foi o suficiente, não foi, onii-chan? - ela abriu a porta, nitidamente ordenando que ele deixasse o lugar.

— Eu só estou me precavendo, Pipi…

— Ao invés de se precaver, devia estar preocupado com o Sinbad, mas preferiu vir aqui aos berros enquanto estamos nos esforçando para que ele se recupere. E isso inclui o Ja’far! O Sinbad precisa descansar e você vem aqui gritar trazendo mais perturbação a ele!

Hinahoho corou, bastante envergonhado, ao ouvir as palavras tão verdadeiras de sua irmã enquanto assistia a Yamuraiha pedir ajuda de Ja’far para dar o chá ao seu rei. Sem ter o que dizer, ele deu meia-volta e se retirou batendo com força aquela porta.

—------xxxxx-------

Incapaz de dormir com tantas coisas em mente, o primeiro príncipe estava sentado, ainda com as roupas de dormir, na poltrona de seu escritório. Mas sua privação de sono ia além daquela insana necessidade. Era o único horário em que poderia encontrar aquela pessoa de quem haviam lhe falado.

Definitivamente, precisava ir atrás de Ja’far. Não conseguia parar de pensar nele. Em como estava e como devia estar sofrendo, já que Sinbad, provavelmente, tinha lhe obrigado a fazer algo, afinal, eram amantes. Aquela mensagem que ele havia enviado, aquela súplica reacendeu a esperança de Kouen de que Ja’far estava à sua espera.

Leves batidas antecederam a abertura daquela porta. O príncipe encarou quem era. Um jovem de roupas bastante leves, mas que nitidamente não pertenciam a Kou. Devia vir de um país tropical.

— B-Boa noite, alteza.

Ele estava bastante receoso ao adentrar aquele lugar. Havia sido convocado para uma reunião com o primeiro príncipe e general Ren Kouen àquela hora da noite. E ele sabia que não era bem-vindo naquele país.

— Então é você que comercializa, ilegalmente, produtos de Sindria no meu território?

O rapaz se retraiu, os olhos castanhos refletindo o ruivo que sorria abertamente de uma forma desafiadora.

— S-Seu povo admira muito algumas especiarias. V-Venho só de vez em quando…

— Não se preocupe. - Kouen se inclinou para frente. - Não o chamei para repreendê-lo e sim para lhe fazer uma proposta!

O homem tremia, bastante tenso enquanto que o príncipe lhe oferecia a cadeira à frente para se sentar.

— Eu sou… apenas um comerciante, alteza. - ele tentava se explicar.

— É uma ótima profissão, parabéns. - o príncipe comentou como quem quisesse cortar o assunto. - Soube que vem com um navio que aporta todo mês em Sindria. Mora lá, não é?

— S-Sim! O Rei Sinbad permite que comerciantes menores como eu possamos exportar algumas especiarias. Isso atrai mais turistas que se encantam com… com os produtos que trago de lá. - ele explicava com um sorriso sem graça.

— Entendo. Realmente… Sindria tem coisas maravilhosas… - Kouen suspirou ao pensar em Ja’far. - Então, me diga, seria ótimo transportar também produtos de Kou para lá, não?

Ele piscou ao ouvir a estranha ideia do general. Sabia muito bem que Kou não negociava com nenhum outro país.

— O Rei Sinbad ficaria muito feliz, não? - era o álibi mais que perfeito.

— Seria um sonho, alteza! - os olhos do rapaz brilhavam.

— Quando você poderia começar?

— I-Imediatamente!

O comerciante estava tão eufórico que nem notou o largo sorriso que se abriu nos lábios de Ren Kouen. Finalmente encontraria Ja’far.

— Ótimo! Então você vai me levar para Sindria agora mesmo para que eu negocie com o Rei Sinbad, certo?! Tem uma especiaria de Sindria que me interessa muito e que eu preciso ter aqui em Kou!


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Notas finais do capítulo

Quando eu estava escrevendo a última fala do Kouen, antes de colocar "especiaria" eu escrevi "mercadoria". Depois eu vi que era péssimo! Parece que o Kouen está tratando o Ja'far como um objeto - que ele vai reivindicar posse - e não está tratando? Hahaha! XD

Esse capítulo foi bem pesado. Ja'far está lembrando das coisas quando fica sob pressão, mas eu realmente acho que ser intimidado pelo Hina deve ser algo terrível - quem não teria medo? E novamente os generais lindos vão ao resgate sinja.
De início eu planejei o Sharrkan contra o Ja'far também, mas eu penso muito na consideração e relação materna que os generais têm com o Ja'far - exceto os mais velhos - e isso fez com que eu apagasse um bom trecho em que o Sharrkan dizia uns desaforos para o Ja'far. Pobre Ja'far...

E o En decidiu contornar a riqueza e agora decidiu usar de um pobre comerciante sindriano para chegar em Sindria. Será que ele vai conseguir? O En tá tão desesperado que acho que se não for agora, ele vai ter que pegar um Uber! Imaginem quanto daria ir de Kou para Sindria, uma fortuna!

Espero que estejam gostando e críticas, sugestões, elogios ou só falar comigo, me mandem review! Amo e leio todas - além de pular quando recebo notificação que vocês enviaram! Haha! ♥ Até semana que vem!



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