Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 14
Troco


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada por acompanharem minha história, sempre! ♥ Sem o incentivo de vocês, eu não conseguiria manter isso aqui! Esse capítulo é meio que um castigo para nossa rainha~!



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Uma semana se passou rapidamente e, nos corredores do palácio imperial, não era difícil encontrar aquele jovem de beleza exótica. Ja’far passava o dia a trabalhar fervorosamente, sempre com um grande sorriso em seu rosto.

Naquele país onde as pessoas costumavam ser tão frias e os nobres e oficiais mal se comunicavam, a simpatia e cordialidade dele traziam um ar de tranquilidade e alegria àquele lugar.

Ocupava-se tanto que dificilmente se lembrava de sua condição. Afinal, retomara sua posição e tarefas que ouviu sempre ter feito e, de fato, os números da economia de Kou demonstravam o bom trabalho que estava fazendo.

Ja’far havia trazido mudanças não só ao ambiente administrativo, mas também com relação à postura do primeiro príncipe Ren Kouen.

Era comum ver o antes tão carrancudo general, agora a sorrir pelo palácio, em conversas triviais e até mesmo se dirigindo aos servos de uma maneira amena. Era como se Ja’far contagiasse a todos com sua forma de ser.

Aquelas mudanças pareciam agradar a todos, menos um certo príncipe que observava pela fresta da porta do escritório de seu irmão mais velho, que já estava mais que ciente do tipo de relação que seu irmão estava tendo com Ja’far.

— Pensei que me deixaria esperando.

Kouen tomou a mão daquele que se aproximara e selou seu dorso com os lábios. Ergueu o rosto para encará-lo e encontrou as bochechas claras assumindo um tom escarlate.

— Eu… estava ocupado. - Ja’far sorriu. - Sabe, o ministro não anda muito bem de saúde. Tão idoso! - havia preocupação em sua expressão. - Não pôde ir trabalhar hoje, então pedi que me passassem as tarefas dele.

— Entendo. E é exatamente sobre isso que quero conversar com você.

— Hm? - ele piscou.

— Quero que se torne o ministro da economia de Kou.

As esmeraldas cresceram. Que tipo de proposta Kouen estava lhe fazendo?

Definitivamente, aquela era uma posição muito importante em todo o governo. Não poderia assumi-la, pensou.

— C-como assim? Não posso ocupar um cargo que… que já está ocupado. - tentando achar uma desculpa convincente, Ja’far estava surpreso.

— Você mesmo sabe que nosso atual ministro já não está em condições de trabalhar mais. Não se preocupe, ele vai continuar recebendo tudo o que tem direito. Estará ajudando ele e não o prejudicando, se é isso o que o incomoda.

— Mas… Kouen, é um cargo muito importante! Não tenho preparo nem…

— Ja’far. - o ruivo o interrompeu, os olhares se encontraram. - Veja tudo o que tem feito por Kou. Seu trabalho é impressionante!

— Existem muitos outros servos que tem mais qualidades para assumir.

Ele estava bem certo no que dizia, afinal, fazia poucos meses que surgira ali. Apenas no pouco que conhecera do setor que cuidava das finanças do país, Ja’far tivera a oportunidade de conhecer pessoas bastante estudadas e capazes de assumir aquele cargo.

— Não. - encarando o alvo, Kouen se levantou. Agora as posições se invertiam e Ja’far tinha de erguer o rosto para fitar o príncipe. - Você é quem eu confio e quero como nosso ministro, Ja’far. Inclusive, sua promoção já foi autorizada pela nossa Imperatriz.

Agora Ja’far estava mais assustado ainda. Não que a imperatriz tivese, de fato, alguma voz sobre as decisões do governo. Era mais como um adorno na administração do Império. Tinha a visto pouquíssimas vezes. Era uma mulher que não aparentava a idade que deveria ter, dona de uma beleza incrível e extremamente simpática. Mal sabia que Ren Gyokuen tinha conhecimento sobre si, um mero servo. Afinal, era assim que Ja’far se via.

— F-fico feliz, mas… vou ter que rejeitar.

— Tsc...

Foi o suficiente para que Kouen se aproximasse do rosto do alvo, descendo pela curva de seu pescoço. O ex-conselheiro de Sindria se manteve estático, apenas a sentir a respiração quente contra sua pele. Irresistível.

Cerrou os olhos e sentiu a língua que deslizou por aquela região.

— E… En…

— Pensei que só me chamasse assim na cama. - ele sussurrou.

— Eu tenho que ir… - sorrindo, Ja’far o afastou com as mãos apoiadas em seu peitoral. Como era rígido, admirou sutilmente.

— Quero levá-lo para jantar comigo hoje… para comemorar sua promoção.

Eeeeeen… - o alvo revirou os olhos. Sabia que não conseguiria convencê-lo.

— Vamos ter uma noite especial! Eu… - o ruivo segurou as duas mãos de Ja’far e as levou abaixo de seu queixo. - Estou tão feliz de te ter aqui comigo, Ja’far!

Havia tanto sentimento e tanta sinceridade nos gestos, no olhar, nas palavras de Kouen. O agora ministro se sentia lisonjeado em ser amado por um homem como aquele, tão poderoso e que poderia ter quantas e quais esposas quisesse. Lindas mulheres sonhavam em dividir a cama daquele homem.

E ele não exalava apenas beleza ou poder, mas também fazia aflorar sentimentos tão puros em Ja’far. Graças a ele seu coração não estava mais em conflito. Sentia-se tão bem.

— Tudo bem… - Ja’far riu. - Conheço você, sei que não vou conseguir convencê-lo.

— Ótimo! - a alegria do mais alto era nítida. - Esteja pronto às sete!

Selou um beijo nos lábios do ex-conselheiro.

Não. Ele nem ao menos lembrava o conselheiro de Sindria.

Ja’far era uma nova pessoa. Um homem habilidoso, decidido e seu. Kouen havia moldado sua escultura perfeita! Ja’far, o ministro da economia de Kou, seu companheiro e amante.

O segundo príncipe se afastou rapidamente da porta quando viu o alvo se afastar de seu irmão. Ja’far cruzou aquela entrada rapidamente, seguindo para seus afazeres e já sendo cumprimentado por tantos. Ele realmente já era adorado por todo o palácio.

Koumei sentia asco ao pensar que seu irmão havia ido para a cama com aquele homem, um qualquer. Admirava tanto Kouen, um homem tão decidido e forte. Vê-lo entregue àquela paixão ridícula lhe dava náuseas.

— Já vi que não tem jeito de convencer meu irmão e rei a ter juízo. Vou ter que encontrar outra forma de me livrar de você…

—----xxxxxx-----

Seguia apressado pelos longos corredores, parando apenas quando encontrava alguma porta em seu caminho. Aflito, ele abria uma a uma. Checava se o que procurava estava ali e, constatando o contrário, Sinbad seguia para a próxima.

Foram mais de vinte, trinta tentativas. Ele não ia desistir. Ele não podia desistir.

“Só vamos voltar para Sindria com o Ja’far!” - lembrava-se da promessa que havia feito aos seus generais. Aqueles que eram mais que seus amigos, sua família.

Desbastaria aquele palácio, todo aquele país em busca de quem tanto amava. Como viveria sem Ja’far? Como seguiria a viver sem quem lhe era mais querido ao seu lado? Impossível, por mais egoísta que aquilo parecesse.

Havia apenas mais duas portas e o desânimo confrontava a gana de encontrá-lo. Precisava acreditar que sucederia. E por mais que na penúltima porta não encontrasse nada além do vazio, aquilo só serviu para lhe motivar ao chegar à última que havia. A última chance de encontrar Ja’far.

Com a mão trêmula, deslizou aquela porta de correr e abriu um largo sorriso ao ver, de costas, aquela silhueta que conhecia tão bem. O keffiyeh esverdeado escondia os fios alvos enquanto que, os tons pastéis de suas largas vestes não escondiam a magreza de seu corpo tão esguio.

Porém, olhando com mais cuidado, via que Ja’far não estava só.

O primeiro príncipe, Ren Kouen, estava sentado diante de seu conselheiro e parecia, também, não ter notado a presença do rei de Sindria, por mais abrupta que tivesse sido sua entrada.

Sinbad confirmou isso quando o ruivo tomou, com violência, o braço de Ja’far e o fez cair sentado sobre seu colo. O suficiente para que Ja’far parecesse completamente entregue.

Os braços finos foram envolvendo o pescoço daquele homem que tomou seus lábios e cujas mãos invadiam suas vestes, arrancavam-lhe o adorno no alto da cabeça.

Com o par dourado arregalado, Sinbad ouvia o estalar daqueles beijos, tão intensos.

Era como se estivesse congelado ali, sem conseguir reagir ao assistir a pior visão de toda sua vida. Quando as carícias cessaram, ele sentiu uma espécie de alívio momentâneo, mas que não durou muito tempo.

— Eu te amo, Kouen! - a voz suave de Ja’far murmurou.

 

—----xxxxxx-----

Era como se sua alma tivesse sido jogada de volta em seu corpo. Ofegante e bastante assustado, Sinbad despertou sem ainda ter a real noção de onde estava. Porém, mesmo com o coração palpitando forte em seu peito, ele se sentia agradecido por tudo ter sido apenas um sonho, ou melhor, um pesadelo.

— Acordou finalmente?

Ele piscou, finalmente tomando noção de que havia adormecido sentado naquela cadeira, no convés do navio, enquanto observava o entardecer. A noite já havia caído e um vento gélido soprava.

Drakon chegava ao seu lado trazendo um grosso cobertor em suas garras.

— N-não pensava em dormir aqui… - ele respondeu enquanto sentia ser envolvido por aquela manta que Drakon usou para protegê-lo.

— É melhor mesmo. A brisa do mar está fria e está bastante sereno também.

Sinbad suspirou. Era nítido seu desânimo. Aquela expressão era diferente da tão determinada que o rei tinha ao deixar a ilha que governava.

Convivendo há tantos anos com Sinbad, o ex-general de Parthevia o encarou com empatia.

— Já vamos chegar. Não tem que se angustiar mais. Parecia tão animado quando partimos…

O rei assentiu enquanto mordia o lábio inferior. Drakon estava certo. Mas parecia impossível dissolver aquela angústia dentro de si.

— Atualmente, o que me preocupa mais é o estado do Ja’far…

— Fala da amnésia? - o homem com bizarra aparência cruzou os braços. - Já pensou se Ja’far não está fingindo isso para se proteger? Sabe como ele é astuto. Não é qualquer um. - Drakon parecia bastante confiante em sua teoria.

— Acho difícil. - Sinbad comentou. - Ele teria entrado em contato conosco de alguma forma, eu tenho certeza. E pelo o que Judal e Hakuryuu-kun disseram, ele realmente parece não se lembrar de nada. E… - os olhos dourados encararam seu amigo. - E se o Ja’far realmente não nos reconhecer? Se nos rejeitar?

— Eu acho que você precisa ter calma. - Drakon foi direto. - Nossa prioridade agora é ir buscar o Ja’far e vamos fazer isso, independente do que ele estiver pensando. Vamos trazer Ja’far de volta nem que seja arrastado, foi isso o que você propôs.

— Tem razão, Drakon! Preciso… cumprir minha promessa e buscar o Ja’far!

—----xxxxxx-----

Passava das cinco e Ja’far terminava de assinar os últimos documentos. Estava feliz, afinal, terminando seu trabalho mais cedo que o de costume, teria tempo de se banhar e se arrumar para jantar com Kouen. Sentia-se animado com a ideia e ao mesmo tempo ridículo, afinal, parecia um adolescente apaixonado. O sorriso bobo estampado em seu rosto condenava seus sentimentos, tão intensos, pelo primeiro príncipe.

— C-Com licença, Ja’far-san.

Duas batidas na porta de sua sala antecediam a entrada de uma das serviçais. A moça trazia uma bandeja com um chá bem quente. E apesar de já conhecer a jovem que cuidava da organização do setor onde trabalhava no palácio, Ja’far estranhou como ela parecia cabisbaixa e… aflita.

— Pode entrar.

Ele sorriu, distraindo a mulher, fazendo com que ela tropeçasse e quase derrubasse tudo o que havia em mãos.

Os olhos verdes cresceram e ele rapidamente se levantou crendo ter de auxiliá-la, mas logo a criada se recompôs. Ela tinha um sorriso sem graça nos lábios, envergonhada com sua desatenção.

— Vim trazer seu chá. Já estava… atrasada.

— Ah, não se preocupe. Muito obrigada por trazer, aliás.

Ja’far era extremamente gentil e isso até mesmo com meros escravos, como aquela moça que cumpria seus anos naquele serviço, relativamente, leve. Era impossível não se cativar por alguém da nobreza que tratasse assim a todos. Porém, naquele momento, aquela cordialidade e simpatia só serviam para que a culpa que ela sentia fosse bem maior.

— Deseja mais alguma coisa?

Ela perguntou ao depositar aquela bandeja sobre a mesa.

Como desejava derrubar aquela louça, fazer algo, mas… apenas desviar o olhar para a fresta da porta era o suficiente para não se atrever. Se o fizesse, seria bastante evidente e seria descoberta.

— Não. Muito obrigada. Aliás… - Ja’far esticou os braços pela mesa e segurou a bela xícara de porcelana. - o aroma está delicioso.

Levou a louça até os lábios e bebericou um pouco do chá de erva-cidreira.

— Que pena que está quente ainda! Queria beber tudo agora. - ele sorria.

Não havia como disfarçar o pavor em seu semblante quando ela deixou o lugar, após menear a cabeça para cumprimentá-lo. Sentia-se extremamente culpada.

E saindo correndo da sala, ela sentiu o braço ser agarrado com firmeza.

— Onde está indo?

Era quem a espionava o tempo todo em sua missão; o primeiro príncipe, Ren Koumei. Ele a encarava de forma séria.

— Eu já fiz o que a alteza pediu! - ela estava desesperada.

— Sim, mas ainda não fez TUDO o que pedi. - o príncipe especificou. - Agora vá até o jardim nos fundos do palácio. - ele sussurrou. - O que prometi a você estará lá.

— S-Sim, senhor!

Sentia-se podre. Vendera-se por tão pouco.

Mas o que faria, afinal, sendo uma escrava que não poderia custear os remédios de seus filhos doentes? Um trabalho sujo para um príncipe. Quem sabe, mais a frente, poderia cobrar aquilo a ele e lhe pedir mais dinheiro, se precisasse. Aquela esperança lhe motivava a cometer um crime tão asqueroso.

— E até chegar lá, como falei: bico calado.

Ele não parecia tão ameaçador, mas a mulher tremia dos pés a cabeça.

Havia envenenado o chá daquele homem que fora tão bom a ela, o melhor em tanto tempo que vivia naquele palácio, humilhada por todos de classe mais alta.

— S-sim, alteza.

Ela logo se retirou e o segundo príncipe fez questão de acompanhar seus passos até confirmar que ela realmente seguia para onde havia lhe indicado. Claro, ele não era ingênuo de deixar uma escrava a saber de sua trama. Ninguém saberia que havia ordenado o assassinato do novo… ministro da economia do Império Kou.

— Não se preocupe. - ele cruzou os braços, falando consigo mesmo. - Logo vai estar morta, não vai sentir culpa. Poderá se desculpar pessoalmente com ele no inferno.

— Koumei?!

Seu coração quase saiu pela boca quando ouviu aquela voz.

Virou-se para trás e encontrou seu irmão mais velho. Há quanto tempo ele estava ali? O que havia escutado? Se bem que, pela sua expressão tranquila, Kouen parecia não suspeitar de nada.

— Q-que susto, meu irmão! - Koumei abanou a si mesmo com seu leque, uma gota de suor escorrendo pela lateral de seu rosto.

— Estava aí falando sozinho. Está indo ver Ja’far? - presumiu.

— E-eu? Não tenho nada para falar com ele!

— Então o que faz na porta de sua sala? - o primeiro príncipe cruzou os braços.

— Na verdade… - era melhor ser prudente, estava levantando suspeitas demais. - eu vim avisá-lo de alguns documentos que o antigo ministro havia deixado comigo.

— Ótimo! Por que não vem comigo para falar isso com ele, então?

Não houve tempo de negar a sugestão de seu primogênito.

Kouen abriu a porta e Koumei se sentiu na obrigação de segui-lo. Talvez fosse melhor forjar uma boa relação com Ja’far antes que as coisas ficassem em evidência.

— Ja’far!

— En!

O segundo príncipe sentiu náuseas ao ver o alvo abrir um largo sorriso e se referir ao seu irmão com tanta intimidade. Era prudente para um príncipe e general de seu nível ter apelidos dados por um serviçal? - Koumei ponderava consigo mesmo.

— Decidi vir mais cedo lhe buscar. - a alegria estava estampada no rosto de Kouen. - Koumei também quer falar algo com você.

Vendo ali o homem que, mesmo Ja’far sabendo não gostar de sua presença, ele respeitava como o imponente príncipe que era, o alvo rapidamente se levantou para cumprimentá-lo. Mas aquela mera atitude fez seu mundo girar. Era como se seus pés escorregassem e tudo tivesse sido tomado por uma nuvem cinza.

Sua mão tentou buscar algum equilíbrio, mas não conseguira alcançar a cadeira ao seu lado. Estava tão próxima, mas parecia tão distante.

Porém aquela larga mão segurou seu pulso e o puxou para perto, evitando sua queda.

— JA’FAR!!! O que aconteceu?! Você está gelado!

Kouen amparou o alvo, que escutava a voz do ruivo como se ele estivesse submerso. Tão longe.

A pele que já era naturalmente alva conseguiu ficar ainda mais pálida. Apoiado nos braços de Kouen, Ja’far não conseguia responder ao sentir um forte enjôo que trouxe um intragável gosto metálico à sua boca.

Ele tossiu, tingindo as vestes do príncipe com o rubro.

— JA’FAR! - Kouen estava desesperado. - Me diga o que está havendo!

— E-En… - Ja’far tentou balbuciar, sentindo o sangue quente escorrer por seus lábios. - me…

— Tsc! - ele se virou para o mais novo. - Koumei, vá buscar um médico, rápido! - o príncipe ordenou, mas ao notar a palidez de Ja’far, ele decidiu se levantar com o alvo em seus braços. - Não, melhor eu levar o Ja’far! Ele precisa ser atendido com urgência!

Felizmente Kouen saiu dali às pressas para que não visse a tensão que estava nítida em seu semblante. Koumei pôde, então, sorrir satisfeito. Seu plano parecia estar funcionando muito bem. Em breve não teria mais de passar pela vergonha de ver seu irmão envolvido com um plebeu e ex-assassino nojento, pensou.

Enquanto fez seu caminho até os aposentos de Ja’far, os servos ficavam chocados ao ver o corpo enfraquecido do novo ministro ser carregado pelo primeiro príncipe. Perguntavam-se o que havia acontecido e muitos se desesperavam, afinal, Ja’far era uma figura que, em pouquíssimo tempo, se tornara querida naquele palácio.

Assim que adentrou o quarto do alvo, um dos médicos da corte o seguiu e correu para examina-lo assim que Kouen o depositou em seu leito.

Apesar de inconsciente, ele permanecia inquieto. Os punhos encerrados enquanto ofegava, os lábios permaneciam entreabertos tentando dizer algo e deixando mais sangue escapar dali.

O príncipe chegou a entrelaçar seus dedos numa prece silenciosa antes de afagar os fios esbranquiçados, tentando trazer conforto a ele.

Mais ajuda chegou e Kouen se resignou a permanecer calado enquanto atendiam Ja’far. Porém, seu silêncio não perdurou muito. Sua aflição era maior.

— O que ele tem?

— Alteza, nitidamente o Ja’far-sama foi envenenado. - o médico respondeu com convicção.

— Envenenado?! - Kouen piscou. - Impossível! - ele exclamou. - Quem faria isso?! Tsc… - o ruivo balançou a cabeça, não era hora de pensar naquilo. - Ele vai ficar bem?!

— Sim, não se preocupe. Apesar da forte reação que teve, pelos sintomas parece que ele ingeriu uma quantidade pequena de algum tipo de anticoagulante, mas o suficiente para ficar nesse estado. Sendo medicado e em repouso, vai melhorar logo.

Kouen suspirou em alívio, afagando os cabelos de Ja’far. Ele suava frio, balbuciando coisas ininteligíveis.

— Tsc… Quem teria feito algo assim com você? - o ruivo mordeu o lábio inferior. - Fique calmo, eu estou aqui.

E com a mão livre, o príncipe segurou a de seu ministro, acariciando os dedos amolecidos. Se pudesse ao menos acalmá-lo durante aquele delírio...

— S… Sin…

Ele engoliu a seco ao ouvir com nitidez o nome que Ja’far chamava.

— Onde… onde está, S… Sin...?

Ao notar o choque de sua alteza ao escutar as palavras do ex-conselheiro de Sindria, o médico sorriu, tentando lhe transmitir segurança.

— Não se preocupe, ele pode acabar falando de coisas, pessoas que nem existem. - o rapaz riu. - Assim que estiver estável, vai parar de delirar.

Kouen apenas assentiu. Como diria que Ja’far não estava falando de pessoas que… não existiam? Parecia que seu subconsciente sabia muito bem a verdade e como aquilo lhe incomodava. Era como se, a qualquer momento, ele pudesse se lembrar de seu passado e nada nem ninguém poderia fazer com que Ja’far ficasse ao seu lado se aquilo acontecesse. Como se seu pior inimigo estivesse na mente debilitada dele, que poderia despertar a qualquer instante.

— Por favor, cuidem dele!

O ruivo depositou a mão do alvo de volta aos lençóis, mas assim que o fez, sentiu os dedos de Ja’far segurarem sua mão com mais força.

— Por que… não veio me buscar… Sin?

A respiração de Kouen parou por um segundo enquanto ele reunia todas as suas forças para não cometer uma besteira. Encarou Ja’far com tanto ódio que os servos que estavam ali atendendo o ex-conselheiro pareciam chocados. Havia revolta e decepção em sua expressão quando praticamente arrancou sua mão da de Ja’far.

— Cuidem dele!

— Qualquer alteração no estado do Ja’far-sama o comunicaremos, alteza!

— Eu voltarei assim que tiver a cabeça do culpado de tudo isso!

 


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Notas finais do capítulo

Eu entendo que todos estavam muito ansiosos pela chegada do Sin a Kou, mas haviam cenas que eu precisava fazer nesses capítulos para preparar o encontro dos nossos amores, né? Se bem que eu APOSTO que vocês adoraram o castigo do Ja'far, depois da traição com o Sin, não é? Hahaha!
Muito obrigada pelas reviews - estou demorando a respondê-las, me perdoem! ♥ - e por lerem! Lembrando que críticas, comentários, elogios sempre são bem-vindos! Até semana que vem porque... vai pegar fogo!



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