Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 13
Traição


Notas iniciais do capítulo

Desde quando comecei a planejar essa história, eu vivia em um impasse terrível: fazer ou não fazer? Ponderava se seria adequado ou não e como isso afetaria a história por completo. Eu espero que vocês compreendam esse passo e continuem a acompanhar! ♥ Isso será bastante importante para o rumo que a fic irá tomar! Muito obrigada por lerem e deixarem reviews lindas SEMPRE! *__*



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Sinbad não podia acreditar. Mal tinha forças para manter firme o artefato mágico entre seus dedos. Tremia, exasperado pela ânsia de rever Ja’far. Por saber que ele não estava morto.

Mas, ao mesmo tempo, um forte receio lhe abalava. Ja’far havia perdido a memória? Então… não se lembrava dele?

— C-como isso aconteceu, Hakuryuu-kun?

O quarto príncipe entreolhou o magi que, com um sorriso sarcástico, se fazia totalmente inocente. Hakuryuu apenas suspirou e voltou a encarar o rei que via por aquela circunferência de cristal.

— Foi uma emboscada do Kouen que terminou em um... acidente. - ele não queria culpar Judal.

— Tsc, eu sabia que não devia ter deixado Ja’far ir sozinho a Kou! - esbravejou Sinbad.

— Não devia mesmo, Sinbad-dono. - Hakuryuu estava apiedado com a fúria do rei. - Decidiu confiar nas pessoas erradas e agora o Ja’far-dono está acreditando que é um oficial de Kou.

— O quê?! - o moreno estava perplexo.

— Eu o vi e ele está… bem certo do que o instruíram. Ele tem noção da amnésia, mas acredita que Kouen é o grande salvador dele quando, na verdade, Kouen pretendia matá-lo.

Sinbad suspirou, o punho livre cerrando tão firmemente que suas unhas cravavam em sua palma, abrindo pequenos sulcos. Como pudera entregar seu Ja’far àquele homem asqueroso? Imaginava que ele poderia ter passado momentos de terror naquele país. Ao menos, pelo que parecia, Ja’far não era tratado como um prisioneiro, então?

— Como ele está?! Está ferido ainda? Como isso aconteceu, Hakuryuu-kun? - o rei de Sindria perguntava sem pausas. - Ja’far é… é bastante habilidoso. - ele não podia crer como Ja’far não pudera se defender. A angústia estava estampada em todo seu semblante. - Posso vê-lo? Por favor, leve o ítem mágico até ele!

As palavras de Sinbad soavam como uma súplica. A voz falhava, trêmula.

Tudo era tão surreal que o rei parecia ter de, literalmente, ver para crer que seu tão fiel amigo e amante estava são e salvo.

— F-fique calmo, Sinbad-dono. - o príncipe gaguejou. Sinbad estava, realmente, transtornado. - Fisicamente o Ja’far está muito bem. Não deve se preocupar já que…

— Fui EU que ataquei seu franguinho, Sinbad!

Aquela interrupção surpreendeu tanto o príncipe quanto aquele com quem falava.

Tomando da mão de Hakuryuu o artefato, Judal apareceu diante do rei com seu melhor sorriso. Este, por sua vez, franziu o cenho. Já devia imaginar que o magi tinha participação naquela trama. Sabia como Judal agia como um cachorro dos príncipes de Kou, somando isso a inexplicável raiva que o magi sentia por Ja’far.

— Judal!! - ele rangeu os dentes.

— Hakuryuu está sem jeito de falar o que o contei, mas fui eu que ajudei a colocar seu passarinho na gaiola. - ao ouvir aquilo, Sinbad lutava para manter o controle. Precisava ser prudente, afinal, precisava saber a verdade. - De fato, Ja’far veio aqui assinar um acordo de paz com Kou, mas… um acordo falso. - ele enfatizou. - Foi tudo um teatro. - o sacerdote do Império Kou foi direto. - Quando ele estava de partida, já era tarde demais. As tropas de Kouen destruíram o navio de Sindria e ainda bem que mandou poucas pessoas acompá-los, porque todos foram mortos.

Sinbad estava em choque. Afinal, além de se preocupar com o sumiço de Ja’far, dezenas de pessoas o acompanhavam e suas famílias, parte de seu povo, também era acometida pela frustração de não ter notícias de seus entes queridos.

Se o rei poderia ficar feliz ao saber que seu conselheiro havia sido poupado, aquelas pessoas deveriam se conformar com a cruel perda de seus familiares. E tudo porque não havia sido capaz de impedir Ja’far de ir até aquele país, guiado pelo seu sonho de paz. Por ter sido inocente o suficiente para acreditar em um golpe tão sujo.

— Calma, calma! - Judal interrompeu a si mesmo ao ver o empalidecer do rei. - Os soldados que foram mandados para matar o seu franguinho, realmente, levaram uma surra bem feia dele. - o magi riu. - Claro, seu franguinho não é qualquer um e soldados comuns não fazem frente a um ex-assassino nojento, não é?

— Lave a sua boca imunda antes de falar do Ja’far!

 Sinbad não hesitou. Judal havia ultrapassado qualquer limite.

— Ora, oraaaa… - ele cantarolou, debochando da fúria presente no rosto do rei. - Não quer saber do resto?

Respirando fundo enquanto sentia Yamuraiha tocar seu ombro, no intuito de acalmá-lo, Sinbad apenas assentiu, não escondendo o desagrado que sentia.

— Então… - ele prosseguiu. - o máximo que fizeram foi envenenar ele e depois, quando eu cheguei, tudo foi bem mais fácil!

O rei balançou a cabeça, descrente por ouvir tamanha crueldade. Claro, para conseguirem derrotar alguém tão ágil e habilidoso como Ja’far, precisavam de algum meio sórdido.

— Covarde! Só conseguiu vencê-lo porque envenenaram o Ja’far, então!

— Majestade… - Yamuraiha, resignada, apenas balançou a cabeça para seu rei, tentando pedir, mais uma vez, que ele se acalmasse para ouvir o relato de Judal.

— Não me ofendo com o que diz. Mas fui bastante piedoso em não ir caçar o corpo do seu querido franguinho quando o joguei daquele penhasco.

O rei, estarrecido, estava boquiaberto. Como, enquanto estava naquela reunião, tentando se distrair na companhia de seus amigos, dos reis da aliança, Ja’far estava sofrendo tanto?

— Ele sobreviveu por um milagre… e só porque, não me pergunte o motivo, ao saber que eu cumpri suas ordens, Kouen foi correndo atrás dele e, mesmo agonizando, Ja’far ainda estava vivo. Mas acho que o sardentinho bateu a cabeça e ficou completamente burro. Uma casca vazia que o Kouen moldou à forma dele.

Sinbad não conseguia falar nada. Por mais que quisesse retrucar, no mínimo amaldiçoar Judal e Kouen, estava tão chocado que perdera a voz.

Sentia um bolo na garganta, um embrulho no estômago.

Como pudera ser tão falho? Culpava apenas a si mesmo por ter permitido uma loucura daquelas, por confiar que não fariam mal algum a Ja’far e como ele havia sofrido! Apenas em imaginá-lo ferido a ponto de sofrer uma amnésia tão grave, sentia os olhos marejarem.

— Eu recomendo que deixe tudo como está, Sinbad! - Judal continuava a falar. - Ja’far não tem nem ideia de quem você seja! Ele está apa…

— JUDAL!

Hakuryuu, cansado de ver tanta provocação, mas respeitando o direito de Sinbad saber de toda a história da maneira nua e crua, arrancou o artefato mágico das mãos de seu magi antes que ele falasse demais. Não. Já havia sido o suficiente para o rei de Sindria.

— M-Me perdoe, Sinbad-dono. Judal fala desse jeito, mas… mas está arrependido.

Sinbad nada respondeu. Continuava apático, pensando em tudo o que havia escutado.

Parecia que Ja’far não se lembrar dele era como um castigo por tê-lo entregue àquela corja. Mas não podia se entregar; precisava ir buscá-lo. Não importava o estado de Ja’far, ele o traria de volta.

— O… O que pretende fazer?

Uma longa pausa precedeu o momento em que o rei recuperou a voz e, ao mesmo tempo, o brilho parecia ter voltado àquele par de gemas douradas.

— O óbvio: buscar o que é meu!

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Kouen, após fechar a porta, seguiu em apressados passos para trás enquanto era praticamente empurrado por Ja’far.

Apoiado em seu peitoral, o alvo seguia depositando beijos na curva do pescoço do príncipe. Nas pontas dos pés, por ser tão mais baixo que o príncipe, com os olhos fechados durante as carícias, mas que volta e meia os abria para ver aquelas mechas ruivas e confirmar que estava beijando Kouen e não… Sinbad. Por mais que sua mente tentasse o tempo todo lhe pregar peças, trazendo a imagem daquele homem.

Quando não houve mais caminho a seguir, Kouen sentiu a panturrilha bater contra o pé da cama.

Caiu sentado sobre ela enquanto Ja’far, com os olhos esverdeados minúsculos ao lhe encarar com desejo, subiu naquela cama apoiando os joelhos sobre o colchão. Agora ele tinha o robusto homem entre suas pernas.

Ele ofegava, suando bastante. Kouen chegou a se preocupar.

— Ja’far, você está bem?

E enfiando uma mão na nuca, levantando parte dos fios esbranquiçados, Ja’far esboçou um largo sorriso enquanto deslizava a língua pelo lábio superior.

Seu corpo clamava pela luxúria, por ser possuído… por Kouen? Sua mente poderia forçar a desejá-lo, mas volta e meia aquela lembrança o atormentava e fazia seu corpo parecer queimar.

— Por favor… - Ja’far sussurrou entre as arfadas, as mãos puxando as laterais de suas próprias vestes para exibir seu corpo. - Disse que me amava, não? Que nos amávamos… - corrigiu-se.

Atônito, Kouen piscou. Primeiramente porque não imaginava que Ja’far poderia se entregar assim, tão facilmente. E em segundo lugar, quem via aquele rapaz tão recatado e diplomático, um poço de educação, jamais imaginaria vê-lo tão sedento por sexo.

Mais e mais, Kouen começava a entender porque Sinbad, um homem regado com tantas belas mulheres, a que quisesse, preferia se relacionar com aquele rapaz.

E ao vê-lo tão voluptuoso, o príncipe não conseguiu se conter também. Puxou-o de uma vez só, fazendo-o cair por cima dele. Aquela posição durou pouco tempo porque, rapidamente, Kouen girou, invertendo as posições e ficando por cima daquele que tinha os olhos arregalados, surpreso com a atitude abrupta do princípe. Mas não havia apenas espanto, como também um sorriso em seu rosto… tão bonito.

O ruivo parou por um instante apenas para admirar a finura daquele nariz, salpicado com aquelas sardas causadas pelo impiedoso Sol. Como se aquela tez, tão clara e fina, ao desafiar aquele astro tão poderoso, tivesse de ser castigada e maculada daquele jeito. Talvez por sua beleza ter tido a audácia de desafiá-lo.

Os fios esbranquiçados caiam pelas laterais de seu rosto, tão macios. Aquele monocromatismo que era contrastado apenas pelo tom esverdeado daquelas duas jóias preciosas que tinha em seus olhos.

Como era belo e único, Kouen contemplou.

Seus dedos tão compridos e grossos, tão distintos daquela pele macia, deslizaram pelo seu rosto, da curva da orelha até a ponta de seu queixo. E ficando ali, ele aproveitou para erguê-lo e abocanhá-lo.

Sem perder tempo, Ja’far saboreou ao máximo daquele beijo enquanto se atracava, literalmente, ao corpo daquele homem. O aroma de rosas que exalava do corpo recém-banhado do príncipe lhe enebriava.

Mas o beijo logo foi interrompido.

Kouen precisava e o fez. Arrancou-lhe as vestes e, naquele breve instante em que o rapaz corou ao se ver nu sob os olhos avermelhados, o príncipe admirou aquele corpo tão magro, mas bem-feito de Ja’far. Sentiu curiosidade ao ver aquelas cicatrizes que iam de suas coxas até os tornozelos, mas não era o momento de perguntar nada.

E usando aquele estigma como alvo, o príncipe ergueu uma das pernas de Ja’far, apoiando-a em seu ombro para depositar ali inúmeros beijos até chegar às extremidades delas.

O ex-conselheiro se revirava, arrepiando-se a cada vez que os lábios de Kouen se atritavam a sua pele, chegando até então a sua virilha.

Mas foi nesse momento em que Ja’far o parou. Parecia assustado e aquilo preocupou o príncipe. Será que havia se arrependido? Não desejava ir até o fim com ele?

Porém, para a surpresa do príncipe, o homem de cabelos claros se ajoelhou na cama e foi até o ruivo para, cuidadosamente, começar a despir o leve kimono que cobria aquele corpo maravilhoso. Os dedos de Ja’far eram finos e seu toque, extremamente leve, ao despi-lo e deslizar por toda aquela região agora descoberta.

Ja’far ficara estarrecido, sem esconder o quão ficara faminto ao encarar o corpo esculpido de Kouen.

Salivou ao encarar o membro enrijecido do general. Novamente sentia seu corpo queimar, pedindo por satisfação.

Mas ao mesmo tempo, por que sentia seu peito apertar? Estava tão eufórico que se sentia sem ar? O que estava acontecendo?

Não devia pensar muito sobre, refletiu. Precisava apenas se entregar e, assim, ganharia a certeza de que realmente pertencia e amava Kouen, somente Kouen. Ninguém mais que Kouen.

E ao assumir esse pensamento obsessivo, determinado, Ja’far abocanhou aquela região.

O corpo de Kouen envergou para trás quando sentiu a língua quente de Ja’far fazer aquele ótimo trabaho. As mãos delicadas daquele homem não se comparavam ao de nenhuma mulher com quem já tinha se deitado antes.

Ja’far degustou o máximo que pôde daquele sabor. E executava aquela ação com mais ímpeto a cada vez que sua mente era invadida por aquela lembrança que era capaz de trocar Kouen por… ele.

A intensidade da fúria investida naquele ato, aquela fome, era a mesma da dor que sentia.

Era como se alguém sussurrasse em seu ouvido que estava cometendo um erro terrível.

Sentia vontade de chorar ao mesmo tempo em que o prazer de estar se deitando com aquele homem lhe trazia tanta satisfação.

— Chega...

A voz rouca e sôfrega de Kouen pediu, ou melhor, mandou quando afastou Ja’far e, sem a menor cerimônia, violentamente o arremessou de bruços naquela cama.

Os olhos esverdeados cresceram. Ele sabia muito bem o que estava por vir.

Ajoelhado na cama, o príncipe puxou o alvo pela cintura para, finalmente, consumar aquele ato.

Medo. Um medo terrível invadiu Ja’far.

De costas para o príncipe, ele esboçava bem em sua expressão o pânico que sentia quando, após um leve atrito entre suas nádegas, foi invadido de uma só vez.

— AAAAAAH!!!

Ja’far urrou, as unhas cravando nos lençóis enquanto as lágrimas escorriam.

Dor. Apenas dor. Mas por que se segundos atrás desfrutava daquela relação com Kouen?

Ele começara a se mexer e entrar e sair em um ritmo contínuo.

O prazer parecia uma reação meramente biológica durante aquele ato, misturado com uma dor terrível. Seu peito doía.

Sentia-se sufocar a cada estocada de Kouen, ao ouvir, entre gemidos, aquela voz.

Aquela voz que não era… a dele.

— Sin...

Kouen gemeu alto quando chegou ao ápice e Ja’far, mais do que ninguém, constatava aquilo.

Por que havia murmurado aquele nome? Quem era… “Sin”? Meramente “Sin”…

Sendo surpreendido pelo pesado corpo que caiu ao seu lado, o alvo piscou, surpreso, ao ver aquele largo sorriso que sempre acompanhava o rosto tão bonito. A pele bronzeada era salpicada pelas gotas de suor. As mechas púrpura grudadas, úmidas em suas feições. Era ele.

— Hoje me deu cansaço, hein?

 

E sem lhe dar tempo de responder nada, o homem puxou Ja’far para seus braços e o aninhou ali. O suor de ambos, junto a outros fluídos juntos novamente.

Sentiu um beijo carinhoso ser depositado no topo de sua cabeça. Aqueles braços fortes lhe protegiam da brisa da noite melhor do que qualquer cobertor.

— Sabe, Ja’far… Eu estou cansando disso.

— Hm?

— Eu não quero mais trazer concubinas para cá. Eu… odeio isso. Eu sei que vai dizer que se eu não me casar, não ter um harém vai fazer com que estranhem, mas… Eu não me importo.

 

Aquele homem, de beleza tão exótica, ergueu o rosto de Ja’far e o encarou. Havia tanta paixão naquele par dourado. Ele era tão intenso em cada gesto.

— Quero me casar com você!

— Ei, Ja’far! Oe!

Sentindo leves tapas em seu rosto, ele abriu os olhos para se deparar com o príncipe. Kouen estava sentado na cama, ao seu lado, e tinha uma expressão bastante preocupada ao vê-lo despertar. O que havia acontecido? - Ja’far se perguntava.

— Que susto! - o ruivo suspirou aliviado. - Já ia chamar ajuda!

— O… O que aconteceu? - ele estava bastante desorientado.

— Quando me deitei ao seu lado, vi que estava desacordado.

Um pouco assustado, Ja’far se lembrou daquele estranho “sonho”.

Sin…

Sinbad…

Voltava a sonhar com ele e, como sempre, ele parecia, em seus sonhos, tão diferente do que lhe descreviam. Porém, como havia sido enganado pelo rei de Sindria durante aqueles anos, volta e meia sua mente voltava a tentar fazê-lo crer na bondade daquele homem. - era nisso que Ja’far acreditava. - Mas não havia sido por causa dele mesmo que estava ali agora, após se entregar a Kouen?

— Sente-se bem?

Ja’far apenas assentiu. Era nítido como estava um tanto quanto acuado.

Decidiu que o melhor a fazer, provavelmente, era falar sobre o que estava passando. Kouen havia lhe ajudado até então. Com certeza o ajudaria agora também e o entenderia. Não tinha de entrar em detalhes, afinal.

— Eu… as vezes tenho a sensação de que… estou aqui e… de repente me vejo num lugar estranho… - ele começou a falar. - Um… palácio muito grande… uma ilha…

— Está se lembrando do tempo em que ficou aprisionado em Sindria. - Kouen concluiu de forma simplória.

— Por mais que eu não queira, eu estou aqui e, quando pisco os olhos, eu estou em outro lugar, vendo…

— Shhhh!!!

Foi a vez de Kouen abraçá-lo firmemente. O corpo suado do príncipe estava gelado, mas logo foi capaz de aquecer o do ex-conselheiro.

— Hoje você deu um grande passo, Ja’far. Voltamos a nos amar… - ele tinha um sorriso sarcástico em seu rosto. - Vou pedir amanhã que um dos médicos da corte dêem uma olhada em você, certo? Quero que fique bem.

— N-não quero me lembrar mais desse lugar… - o alvo gaguejou. - Nem daquele… daquele…

— Eu sei, eu sei. Eu prometo a você que vai ficar tudo bem e eu vou sempre estar aqui te protegendo! Ninguém mais, - ele segurou o queixo do alvo e o encarou. Rubis e esmeraldas se encontraram. - ouça bem, ninguém mais vai te tirar de mim!

E ao ouvir as palavras tão determinadas e seguras daquele príncipe, Ja’far se sentiu confortável o suficiente para sucumbir ao cansaço. No fundo, bem no fundo, sentia-se satisfeito por ter saciado aquela ânsia incontrolável e nos braços certos: nos de Kouen.

Mas por que seu coração ainda doía tanto? Tão mais do que antes?

Porque, por mais que sua mente não pudesse culpá-lo, seu coração sabia muito bem distinguir o certo e o errado.

E agora Ja’far, realmente, havia cometido um erro terrível. Talvez o pior da sua vida.

—-----xxxxxx-------

A agitação no palácio era evidente, apesar da noite já ter caído.

Servos corriam de um lado para o outro, preparando tudo para a partida do rei Sinbad, que acabara de deixar o salão principal. Lá havia convocado as famílias daqueles que haviam partido junto de Ja’far, para dar aquela terrível notícia. Sentia-se péssimo e falho como governante, como pessoa.

Se ele tinha a alegria de ter a oportunidade de recuperar aquele que lhe era mais querido, para muitos era o fim da linha. Imaginava como estaria se ele estivesse morto. Não conseguiria suportar, provavelmente.

E apesar de bastante frustrado por todas aquelas perdas, Sinbad já assumia, novamente, sua posição como soberano daquele país. Os cabelos bem penteados e a barba feita nem lembravam o homem que parecia entregue nos últimos dias.

Precisava ser forte para buscar Ja’far e ir a um país, até então inimigo, de políticas tão distintas das quais defendia, sem o menor aviso e para reivindicar aquilo que o pertencia.

Apressado ele seguia pelos corredores do palácio quando sentiu alguém tocar seu ombro, o que o fez parar imediatamente.

Virou-se para trás e viu o fanalis que se apresentava.

— Já estou pronto, Sin-sama.

— Ótimo, Masrur. - ele sorriu. - Obrigado por querer me acompanhar.

— É o mínimo que posso fazer pelo Ja’far-san.

— Ele… vai ficar muito feliz de ver que você quis ir buscá-lo.

— Eu também.

A voz grossa chamou a atenção dos dois, que ergueram o rosto para ver o homem que era bem mais alto. Hinahoho parecia também estar pronto.

— H-Hina! Por que está…

— Eu também vou atrás do Ja’far! - ele foi categórico. - E nem pense em tentar me impedir.

— Mas… - Sinbad se via encurralado. - é perigoso ir tanta gente…

— Se é perigoso, nosso rei não devia ir.

Sinbad não soube o que responder a Hinahoho. Contoceu os lábios, vendo-se incapaz de não autorizar que o acompanhassem.

— Sabe que se não fosse a limitação da magia da bruxa velha eu também iria, não é?

Sharrkan, acompanhado de Pisti e Spartos se aproximaram. Eles pareciam um tanto quanto irritados pelo fato de não poderem ir, mas resignados em suas posições.

— Se você não fosse egoísta, sabia que temos que ficar aqui protegendo Sindria também.

Antes que o moreno pudesse responder algo, sentiu o pesado cajado da maga, que vinha junto de Drakon, se chocar com a sua cabeça. Ele gemeu alto, irritado.

— Ora, sua…

— Majestade. - ela se aproximou de Sinbad. - Assim que estiver pronto, ao seu sinal, os trarei de volta. Não se esqueça disso.

Ela o entregou o artefato mágico que, até então, haviam usado para se comunicar com Hakuryuu. Agora Sinbad precisava dele para manter contato com Sindria e para tornar efetivo o que haviam planejado.

— Sim. - o rei cruzou os braços. - Não sabemos o estado de Ja’far e, provavelmente, sairemos em pleno conflito com Kou.

— E antes que eu me esqueça...

Yamuraiha ficou na ponta dos pés para puxar uma mecha dos fios púrpura de seu rei.

— AI!!!

Reclamando, Sinbad massageou a região de onde havia tido seu cabelo roubado.

— Vou precisar disso para providenciar seu transporte de volta. Fiquem próximos à majestade, quando ele me chamar, ok? - ela se dirigiu ao fanalis, a Hinahoho e Drakon. - Eu realmente gostaria que fosse possível não só trazê-los de volta, como também levá-los até lá, mas passou muito tempo e não temos nenhum material do Ja’far-san para usar… - a maga lamentou.

— Não se preocupe. - Sinbad parecia confiante. - É o suficiente! Assim que desembarcarmos, mandarei partirem e ficaremos apenas nós quatro para trazer Ja’far de volta. E quanto a vocês… - ele se dirigiu aos outros. - por favor, cuidem de Sindria! Não sei o que pode acontecer depois que formos até lá. Tentarei agir da forma mais diplomática possível, por mais que… - o rei cerrou os punhos e rangeu os dentes. - eu queira acabar com a raça daquele infeliz do Kouen!

Sinbad sentiu a enorme e escamosa mão tocar seu ombro, então encarou o ex-general de Parthevia.

— Não é só o Ja’far que depende de você, Sinbad. Todos nós e o povo também.

— S-Sim…

Drakon estava certo. Precisava agir com prudência e sabedoria, muita sabedoria.

Se tivesse sorte, esperava não entrar em conflito com Kouen. Teria de conter a vontade de lhe ensinar uma lição. Mas precisava pensar no bem de Sindria. Afinal, era o tesouro mais precioso dele e de Ja’far.

— Vamos partindo, então. - ele anunciou.

— T-tem certeza que não vão esperar amanhecer para partir? - a princesa de Artemyra parecia preocupada.

— Quanto mais demorarmos, mais o Ja’far pode estar passando maus momentos. - Sinbad explicou. - Demoraremos mais ou menos duas semanas para chegarmos no Império Kou e apenas um segundo para voltarmos, graças à magia da Yamuraiha. E nós só voltaremos para cá… com o Ja’far!


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Notas finais do capítulo

Eu termino esse capítulo um pouco trêmula, um pouco nervosa. Hahaha! Confesso que doeu ver o Ja'far fazer isso! Mas pobrezinho, não teve culpa! Eu espero que estejam gostando e, finalmente, chegamos à metade da história! Lembrando que críticas, elogios, comentários são sempre bem-vindos e respondidos com carinho! ♥



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