Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 15
Anunciação


Notas iniciais do capítulo

Fi-nal-men-te chegamos a esse estágio! Imaginem meu terror idealizando cenas e mais cenas quando NEM COMECEI a fic? Enfim, essas cenas, muitas delas, começam agora. Hahaha! Espero que estejam curtindo!



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Batendo a porta atrás de si, Kouen parou naquele corredor para esmurrar uma das paredes. Tamanha força investida quase arrebentou a pele de seus dedos. Como sentia raiva de ver Ja’far enfermo e, pior ainda, chamando por Sinbad. Era como se, na inconsciência, ele pudesse saber da verdade e por conseguinte, a existência do príncipe, se resumisse a nada para ele.

Era como um combustível para sua raiva na caçada de quem havia tido a coragem de envenená-lo. Quem faria algo tão sujo? Talvez a notícia de sua promoção tivesse despertado inveja? Não importava. Kouen colocaria sua cabeça a prêmio mas, se pudesse, adoraria executar pessoalmente quem fizera tão mal a Ja’far. Sentia-se sufocado, completamente obcecado por ele a ponto de pensar em cometer loucuras contra quem pudesse lhe causar mal.

— Meu irmão! Como está o Ja’far?

A inesperada aparição de Koumei, que forjava estar bastante preocupado, o surpreendeu. Ele trazia uma xícara em mãos, porém o mais velho nem se atentou àquele detalhe. De fato, era um momento em que preferia ficar sozinho.

— Meu irmão. - ele insistiu, percebendo o silêncio em meio à palpável angústia do príncipe. Tocou seu ombro na tentativa de lhe transmitir segurança.

— Ele vai ficar bem… - bufando, Kouen cerrou os olhos por um instante. - Mas não estou com cabeça agora para falar nada, Koumei! Preciso ir atrás de quem envenenou o Ja’far!

— Parece que já sabemos quem é. - o mais novo interrompeu.

Kouen piscou, desentendido, quando seu irmão lhe entregou aquela xícara. Aliás, como ele sabia que Ja’far fora envenenado?

— A moça que levou essa bebida ao Ja’far se suicidou nos fundos do palácio. Acabo de saber.

— O quê?!

Bastante chocado, o ruivo levou aquela louça até a altura de suas narinas e inspirou. Sentiu um odor bastante diferente, ácido. Chegava a sentir seus olhos arderem, rapidamente afastando a xícara de seu rosto.

— C-com certeza envenenaram Ja’far com esse chá.

— Foi aquela mulher. Não duvido que… - ele desviou o olhar. O momento ideal para atingi-lo. - seja porque está se relacionando com ele.

— Como?! - o que Koumei estava tentando insinuar? Kouen se perguntava.

— Sabe quantas mulheres desejam ser sua concubina. Eu mesmo os vi se agarrando hoje cedo. Quem não vê? - o mais jovem falava com seriedade. - É óbvio que sua atitude vai por em risco a vida do Ja’far.

Não era possível. Sempre estava atento para ver se não eram descobertos, porém, de fato a ânsia por tê-lo consigo tinha feito com que agisse com impulsividade.

— Mas… Não entendo como ele não notou esse aroma diferente, é um ex-assassin…

— Esqueceu que ele perdeu a memória? E não vivia conosco. Não conhece nossas comidas e bebidas direito. Deve crer que temos um chá com esse tipo de aroma e, provavelmente, gosto estranho.

As palavras de Koumei faziam total sentido. Agora, mais do que nunca, Kouen estava preocupado. Afinal, por culpa de seus incontroláveis sentimentos, Ja’far havia se tornado um alvo.

Muitas desejavam ter o primeiro príncipe como marido. Era óbvio que se revoltariam ao saber que ele estava tendo um caso - e com um homem.

— Se quer o bem de Ja’far, melhor que se cuide, meu irmão e rei.

O mais velho suspirou. Koumei estava completamente certo.

— T-tem razão, Koumei. Eu… não pensei que pudesse estar pensando em nossa felicidade quando me aconselhava. Me perdoe. Tsc, estou tão preocupado…

Koumei afagou o ombro de Kouen, parecendo bastante compreensivo com a inquietude que o semblante de seu irmão condenava.

— Não se preocupe. Os médicos já falaram que Ja’far vai se recuperar. Eu só quero seu bem, meu irmão. Quero que entenda isso.

E apenas em suas últimas palavras... Koumei não havia mentido.

—-----xxxxx------

Ainda tingido por um salmão levemente alaranjado, o céu recebia os primeiros raios de sol daquele dia. Mais um dos vários em que precisava esperar, pacientemente, até chegar a Ja’far.

O rei que costumava dormir até mais tarde, em especial devido às reclamações que seu conselheiro fazia aos seus maus hábitos, já estava de pé. Talvez devesse ficar mais na cama, afinal, sentia-se cansado. Não dormira a noite toda, tomado por uma estranha apreensão. Até mesmo podia jurar que tinha escutado a voz de Ja’far a lhe chamar. E como aquilo o perturbava!

Cansado de ser enganado por sua própria mente, afogada em suas angústias, o melhor a fazer era se levantar - por mais que fosse tedioso aguardar o fim de tão longa viagem.

Debruçado à mureta da proa, ele observava o rastro de ondas que o navio deixava.

Imaginava que em breve teria Ja’far ali, ao seu lado, onde ele sempre esteve e sempre deveria estar.

— Ja’far-san ficaria feliz de vê-lo de pé antes das sete.

Olhando por cima do ombro, o rei de Sindria encontrou Masrur.

Rindo de canto, virou-se para encarar o fanalis, que parecia realmente impressionado ao ver seu rei desperto tão cedo.

— Creio que… quando ele voltar eu vou conseguir voltar a dormir o que preciso. - ele respondeu de forma divertida.

Correspondendo com um pequeno sorriso, Masrur se juntou a Sinbad.

— Fico feliz que esteja pensando positivo!

— Não tenho como pensar diferente. - o rei foi sucinto. -     Vamos voltar apenas quando encontrarmos Ja’far!

— Drakon-san me disse que estava preocupado… sobre…

— Ele me convenceu de que eu estava errado. - interrompendo o fanalis, Sinbad cruzou os braços. - Nossa prioridade é trazer o Ja’far de volta e depois cuidaremos dele!

— Se está tão decidido assim, por que não descansa ao invés de permanecer aflito?

Masrur sabia bem como jogar. O homem que costumava ser de poucas palavras, conhecia seu amo e estava estampado em seu rosto aquela angústia.

Um sufocante silêncio pairou sobre ambos. Sinbad parecia pensativo antes de responder.

— Eu ignorei um mau-pressentimento, Masrur. Se eu não o ignorasse, Ja’far estaria em Sindria conosco. Não… não posso ignorar de novo. Não posso permitir que, mais uma vez, algo ruim aconteça com o Ja’far!

—-----xxxxx------

Lentamente abrindo os olhos ele se incomodou com a claridade.

Tentou abri-los, mas impediu a si mesmo de prosseguir. Sentia seu corpo pesar. Parecia ter levado uma surra.

Mas aquele leve espasmo em seus dedos não escapou do olhar atencioso de Kouen, que rapidamente se aproximou da cama. Deixando o pergaminho que lia sobre a poltrona da qual se levantara, o príncipe capturou aquela mão de dedos finos.

— Ja’far?! - ele chamou.

Ouviu de longe aquela voz e tentou, mais uma vez, abrir os olhos. Revirando-os, Ja’far tentava identificar algo naqueles rastros sem forma.

— Fique calmo, eu estou aqui.

Finalmente reconheceu aquela voz e, seguindo as instruções dela, conseguiu visualizar o primeiro príncipe de Kou. Observou como ele sorriu de forma alegre, parecia aliviado, apesar de abatido. Preocupou-se.

— En…

Reuniu forças para chamá-lo. Sentia sua garganta queimar.

Shh… - não queria fazê-lo se esforçar.

— O que aconteceu? - a voz falhou naquele murmúrio. Kouen teve de adivinhar pelos movimentos de seus lábios.

— Você me deu um baita susto! - o ruivo suspirou. - Mas já está tudo bem!

Ja’far sentia aqueles longos dedos naufragando em seus cabelos. Estava encharcado de suor, por mais que sentisse frio debaixo daqueles pesados edredons.

— Como se sente?

— Estou… enjoado. - Ja’far respondeu, voltando a cerrar os olhos. - Me sinto tão fraco… O que aconteceu?

Kouen já conhecia muito bem seu ministro. Sabia que ele não descansaria enquanto não soubesse a verdade. Não queria preocupá-lo por hora, mas devia ser sincero, pensou. E, de qualquer forma, deveria investigar as hipóteses que surgiram com o suicídio daquela serva.

— Você… bebeu algo diferente ontem à tarde?

— S-sim… - ele respondia com os olhos fechados. - A criada me trouxe um chá... Estava bem forte e horrível, mas… mas eu disse que estava bom. - o alvo deixou escapar um risinho. - É uma moça jovem, não deve saber ainda como preparar… Bebi bem pouco.

— Ja’far...

Ele sentiu seu coração apertar. Então realmente aquela moça havia servido o chá e depois havia se suicidado, arrependida de seu delito.

— Você foi envenenado.

Kouen foi direto e Ja’far abriu os olhos que cresceram exponencialmente ao ouvir aquilo. Aquela mulher, tão simpática? Por que ela faria algo tão cruel? E, de qualquer forma, por que seria alvo de tamanha maldade?

— Não é possível…

— Por sorte tomou uma quantidade muito pequena. - Kouen cruzou os braços. - Mas o suficiente para deixá-lo à beira da morte. Passou uma noite muito dificil, Ja’far.

Bastante chocado, o ex-conselheiro de Sindria não sabia o que dizer.

— Não… Não é possível… - o alvo insistiu.

— É sim e eu confirmo isso porque o vi agonizar a noite inteira!

Ja’far não podia evitar em se sentir mal, não só porque, de alguma forma, havia dado motivo para alguém desejar sua morte. O que tinha feito de errado? - ele se questionava, tentando pensar. Será que estavam se vingando do tempo em que esteve ao lado de Sindria? Kouen disse que havia tirado vidas de cidadãos de Kou. Quem sabe, de alguma forma, havia feito vítima algum ente querido ou amigo daquela moça.

Sua expressão misturava tristeza e preocupação. Kouen logo se atentou.

— Ei! - ele chamou baixinho. - No que está pensando?

— En… - Ja’far começou. - e se essa moça queria se vingar porque… quando eu estava sendo enganado por Sinbad, eu fiz, indiretamente, algum mal a ela?

Kouen se surpreendeu. Tinha horas que nem ele mesmo se lembrava da complexidade de sua trama e como aquilo caía como uma luva.

Hm? Ja’far, já disse para não pensar sobre isso! Você é totalmente inocente. Estava sendo manipulado por aquele homem!

— Eu sei, eu sei! - ele estava angustiado. - Mas… Não posso evitar em me sentir sujo… - o alvo abraçava a si mesmo. - Eu juro, En… Eu vou fazer o Sinbad pagar por tudo o que fez a mim e a essas pessoas!!!

Era difícil esconder a satisfação que sentia ao ver o ódio refletido nos olhos esverdeados de Ja’far.

— Por favor, acalme-se. - o ruivo o afagou. - Deve descansar por enquanto. Está muito debilitado e não deve se aborrecer agora também.

— En…

Ja’far balançou a cabeça negativamente antes de encará-lo. O príncipe se surpreendeu com a determinação que viu em seu olhar, a expressão séria naquelas feições tão finas.

— Me ajude a matar esse homem!

Pedindo entre-dentes, Ja’far estava tomado pela revolta de uma forma que foi capaz de assustar até mesmo alguém como Kouen. Porém, aquele clamor era música aos seus ouvidos.

— Ja’far… - aproximando-se, Kouen tomou seu queixo entre os dedos e selou seus lábios suavemente. - entenda uma coisa… - ele encarava o rosto que agora tinha um tom avermelhado. - eu farei tudo o que me pedir! Tudo o que lhe trouxer felicidade, eu farei!

— Meu irmão!!!!

A porta dos aposentos de Ja’far foram escancaradas por um afoito príncipe. Ja’far corou mais ao ver Koumei ali, surpreendendo-lhes trocando carícias. Mas Kouen, por sua vez, não fez questão de se afastar dele. Porém, o recém-chegado estava tão aflito que praticamente ignorou a cena de ambos.

— Koumei, poderia avisar que vai entrar!

O mais velho não disfarçou o desagrado enquanto assistia Koumei se aproximar, bastante apressado.

— Me perdoe, meu irmão! É urgente!

E, sem dizer mais nada, Koumei entregou a seu irmão um pergaminho envolto por uma bela fita esverdeada e adornada por um brasão dourado. Ambos conheciam muito bem de que país pertencia aquele símbolo.

Kouen arregalou os olhos, encarando aquele que permanecia de pé. A tensão pairava no ar, como se tivessem sido encurralados.

— Algum problema, En? - Ja’far se preocupou encarando aquele pergaminho e aquele brasão que ele desconhecia completamente.

— Não, nada. - respondendo rapidamente, o príncipe se levantou. - Eu vou ter que resolver alguns assuntos. Pedirei que lhe tragam um bom almoço para você. E nem pense em sair dessa cama!

Ja’far assentiu, feliz com a preocupação que Kouen tinha por ele. Porém, apenas cruzar seu olhar com o de Koumei, ele se sentia fuzilado por aquele homem. Não fazendo nenhum esforço para esconder o quanto o desprezava, o segundo príncipe lhe encarava com frieza. O suficiente para que Ja’far sentisse seu corpo inteiro arrepiar.

Ambos saíram apressados. Devia ser algum assunto sério, pensou. Mas ainda se sentia tão cansado. O melhor a fazer era cerrar os olhos e tentar adormecer um pouco até lhe trazerem o que comer.

Pode levar isso para o Sin assinar?

 

Ele ouviu sua própria voz. Viu em suas mãos um pergaminho tão igual ao que Koumei havia trazido a Kouen. Sentia muito calor, o sol refletia em suas mãos tão pálidas, porém a maresia refrescava o ambiente.

Onde estava?

Assustado, abriu os olhos na tentativa de ver mais aquele lugar, porém se viu de volta àquele quarto. Ofegante, procurou em suas próprias mãos aquele pergaminho, os raios de sol que o maltratavam, mas nada encontrou.

Voltando a se recostar nos travesseiros, Ja’far suspirou.

— Quando vou conseguir parar de me lembrar desse lugar horrível? - perguntando-se a si mesmo, ele encarou o teto. - En disse que… são memórias que fiz quando estive em Sindria… Só vou conseguir me esquecer desse lugar… quando eu matar o Sinbad e me vingar por tudo o que ele me fez!

—-----xxxxx------

Kouen seguia apressado enquanto ia se desfazendo do laço que fechava aquele pergaminho. Sua expressão demonstrava o quão preocupado estava, sendo seguido por Koumei, que ia tropeçando nas próprias pernas, para que conseguisse alcançá-lo.

— Quando chegou essa carta, Koumei? - exasperado, o mais velho questionava, abrindo aquele papel enrolado.

— Agora mesmo! Como não recebemos correspondências de Sindria, trouxeram com urgência!

Adentraram a biblioteca e Koumei logo trancou a porta. Não era prudente que alguém soubesse o que estava escrito ali, definitivamente.

Kouen mordia o lábio inferior enquanto os olhos deslizavam por cada linha.

— O que está escrito, meu irmão? - Koumei estava impaciente.

— “Caro general e príncipe Ren Kouen...I” - ele iniciou. “Venho por meio desta carta expressar minha preocupação quanto à demora do regresso de meu — ele teve de pausar ao ler aquele pronome tão possessivo ao se referir a Ja’far. - conselheiro. Ele devia ter retornado à Sindria há semanas e não recebemos notícias. Peço, por favor, que se ainda há assuntos para resolver com Ja’far, que me avise, pois estou extremamente preocupado. Solicito sua atenção, tendo em vista que não apenas eu, mas como diversas famílias se encontram preocupadas com seus entes que acompanharam meu — mais uma vez. - conselheiro na viagem ao seu reino. Como creio que tudo correu bem na assinatura de nosso tratado de paz, caso o navio que enviamos não regresse o mais rápido possível, estarei tomando a liberdade de visitá-lo. Creio não ser um incômodo e confesso que adoraria discutir novas ações que tomaremos agora que somos aliados. Saudações. Rei Sinbad.

As últimas palavras foram lidas ao mesmo tempo em que Kouen terminou de amassar completamente aquele papel para que, então, passasse a rasgá-lo com toda a sua fúria.

— Eu avisei que teríamos problemas!

— Que ele venha! Ja’far não vai sair daqui!

Kouen esbravejou. Seu caçula deu um passo para trás, instintivamente se escondendo atrás de seu leque.

— E onde vai esconder ele quando Sinbad vier?

— Não sei… Mas esse infeliz já deve estar a caminho!

— Será que...

O estridente barulho dos vários cacos de vidro do jarro que Kouen havia chutado interrompeu Koumei. Seu irmão estava completamente descontrolado e, quem diria, por conta de uma paixão por um ex-assassino nojento - ponderava o mais jovem.

— Meu irmão, deve se acalmar! - ele insistiu. - Pode dizer a Sinbad que Ja’far sofreu um acidente; isso explicaria a amnésia dele. Assim ele pode ir…

— Você não entende?! - exclamava Kouen enquanto farfalhava os fios avermelhados no topo de sua cabeça. - Eu não quero evitar um confronto com Sindria, eu quero que Sindria SE FODA! O que eu quero é Ja’far aqui, comigo!

Koumei estava chocado em ver quão transtornado seu tão amado irmão estava. Parecia estar enlouquecendo - decerto estava. Jamais havia o visto falar de uma forma tão ríspida e vulgar. Além disso, Kouen parecia disposto até mesmo a abandonar suas ambições por causa daquela paixão que considerava ridícula.

— Você não está sendo prudente…

— Como posso ser prudente se Sinbad está para pisar os pés imundos dele aqui?!

— Não está preocupado com o fato de ele vir a Sindria, mas com ele tirar aquele assassino daqui!

— CALE A SUA BOCA ANTES DE FALAR QUALQUER COISA DO JA’FAR!

A agressividade de Kouen foi o suficiente para que o mais novo o obedecesse.

Koumei apenas balançou a cabeça, vendo-se incapaz de fazer algo para que o irmão voltasse a agir racionalmente.

— Onde está Judal? Precisamos nos preparar…

— Judal sumiu. - ele mexia em seu longo rabo-de-cavalo. - Os criados dizem que o viram ir embora com Hakuryuu durante a noite.

— O quê?! Com que autorização?! - Kouen estava indignado.

Kouen sentia uma veia latejar em sua testa. Como, repentinamente, tudo estava contra seus planos? Não tinha Judal para ajudá-lo a afastar Sinbad de Kou e, de qualquer forma, precisaria agir de uma forma diplomática. O melhor a fazer não seria investir em um conflito. Afinal, Sinbad deveria ter a certeza de que Ja’far não estava ali. Porém, instável como a mente do ex-conselheiro de Sindria estava, não poderia presumir qual seria sua reação. E se, ao ver seu rei, Ja’far recobrasse a memória?

Não, não, não.

Ele esmurrou a mesa de mogno que estava entre os dois e arrancou um novo suspiro de Koumei, completamente desolado em ver seu irmão agindo de uma forma tão estúpida.

— Me deixe sozinho, Koumei!

— Você já está, meu irmão. Sua obsessão está lhe afastando de todos.

Foi tudo o que ele disse antes de se retirar, deixando o primeiro príncipe com seus próprios pensamentos. Como doía pensar na possibilidade de perder aquele que o cativara tanto com seu jeito de ser.

— Me ajude a matar esse homem!

 

A voz de Ja’far, aquela súplica, ecoava em sua mente.

Não tinha com o que se preocupar, afinal, ele mesmo havia lhe dado a solução perfeita para viver, eternamente, feliz ao lado de Ja’far.

—-----xxxxx------

Uma semana se passou e já era possível ver o ministro da economia do Império Kou de volta a sua rotina. E apesar do susto da tentativa de assassinato, Ja’far permanecia a tratar todos com a mesma simpatia e cordialidade. Inclusive, todos pareciam extremamente preocupados nos primeiros dias em que foi autorizado a sair de seus aposentos. E apesar de Kouen querer exigir que trabalhasse apenas por um curto período, Ja’far sempre tentava ficar um pouco mais em seu escritório. Afinal, havia passado quase cinco dias de repouso e todo seu trabalho estava acumulado. De certa forma, toda aquela pilha de pergaminhos e resmas de folhas em sua mesa lhe trazia uma sensação nostálgica.

Ele terminava algumas anotações quando passos apressados do lado de fora chamaram sua atenção. Ouvia vozes que pareciam bastante preocupadas. O que acontecia?

Afastando a cadeira, Ja’far se levantou, caminhando até a porta.

— Não acredito nisso!

— Será que teremos guerra?!

Ja’far piscou, desentendido ao ver as duas criadas conversando.

— E dizem que não é só um qualquer de Sindria que está chegando, como da outra vez!

— Sério?!

— Ouvi dizer que é o próprio Rei Sinbad!

O coração do alvo falhou uma batida. Sinbad estava em Kou?

E Kouen não havia lhe avisado nada. Será que estava lá para lhe recuperar, depois de toda aquela trama? Não. Não queria voltar a viver aquela mentira.

Suas pernas tremiam. Não sabia o que fazer.

— Ja’far, venha comigo!

Sentindo seu braço ser puxado ele quase caiu tentando acompanhar aquele homem, tão mais alto que ele. O primeiro príncipe e general se manteve quieto durante todo o percurso que seguiam. Parecia extremamente tenso.

Ja’far, por sua vez, permaneceu em silêncio. A mão livre apertava o centro de seu peito. Doía.

Chegaram então aos aposentos de Ren Kouen, que assim que adentraram o lugar, trancou aquela porta e encarou o assustado Ja’far. Estava mais pálido que de costume.

— E-En, o que está acontecendo?!

— Ja’far. - o ruivo segurou seus ombros. - Eu vou sair daqui e você vai fechar essa porta! Não abra até eu voltar! É uma ordem!

Ele parecia obstinado em suas palavras. Os olhos avermelhados decididos refletiam os esverdeados assustados. As largas mãos apertavam mais ainda aquele que queria tanto proteger.

— En, é o Sinbad, não é?! Ele está aqui, não é? - Ja’far gaguejava.

O ruivo apenas sacudiu a cabeça, confirmando o que o ex-conselheiro temia.

— Então eu vou, Kouen! Vou matá-lo! Você disse que me ajudar…

Shhh!!! - ele levou dois dedos aos lábios do alvo. - Ja’far, antes de me vingar do Sinbad pelo o que ele fez a você, o que me importa é te manter ao meu lado!

Ja’far corou ao ouvir tais palavras. Encarando um ao outro, tinha certeza da sinceridade dos sentimentos de Kouen.

— Esse homem é ardiloso, muito perigoso! Você sabe que não devemos ser descuidados!

Ele apenas assentiu. Precisava ser forte. Kouen estava pensando além de qualquer sentimento egoísta seu. De fato, o que importava para Ja’far era permanecer ao lado de seu salvador, daquele que tanto amava.

— Vou ficar preocupado sabendo que está com ele!

— Não se preocupe. Vou apenas despistá-lo e ele irá embora logo, com certeza! Confie em mim!

— En…

Ja’far desviou o olhar, mas Kouen lhe soltou os ombros para segurar as maçãs de seu rosto, forçando encará-lo.

— Olhe para mim, Ja’far! Me prometa! Prometa que não vai sair daqui!

Ele tremia quando assentiu. Precisava confiar em Kouen, por mais que tivesse tanto receio.

Foi quando o ruivo tomou seus lábios, num intenso beijo apaixonado.

Tendo de ficar na ponta de seus pés, sentiu os fortes braços envolverem sua cintura. Agora podia sentir o calor do robusto corpo que o envolvia enquanto que suas línguas pareciam travar uma verdadeira guerra na busca do sabor um do outro.

Como o amava! Como se sentia protegido ao seu lado, em seus braços, em sua cama!

Apartaram-se apenas ao sentir o ar faltar e voltaram a se admirar.

Kouen deslizou os polegares pela maciez daquelas bochechas e contemplou mais uma vez a beleza de Ja’far. Seu Ja’far. Não havia dúvidas nem receios em seus beijos.

— Eu já volto!

Ele deu dois passos para trás sem deixar de fitar o alvo, que juntou as mãos como se fizesse uma prece. Pelo bem de Kouen. Pelo bem dos dois.

A porta se fechou e ele acatou o que lhe foi pedido. Trancou-a com aquela chave antes de se dirigir às janelas daquele tão luxuoso quarto.

— En… Preciso ser forte para cumprir o que me pediu.

—-----xxxxx------

Ainda era início da tarde quando avistaram terra firme. Em menos de meia-hora estaria desembarcando naquele país para buscar aquilo que lhe pertencia.

Já era possível ver as bandeiras do império hasteadas naquele porto.

E Sinbad só podia sentir a ansiedade crescer dentro de si, afinal, que Ja’far encontraria ali? Como traria ele de volta das garras de Kouen? E o que o primeiro príncipe teria tramado? Como seria recebido?

— Não se preocupe. - Sinbad sentiu uma forte mão tocar seu ombro. - Finalmente vamos buscar o Ja’far.

 Ele assentiu e Hinahoho sorriu, transmitindo-lhe a confiança que precisava. Parecia ler seus pensamentos. E ao seu lado não estava só ele, mas seus outros amigos também. Todos empenhados para recuperar o que lhe era mais precioso.

E como o rei de Sindria desejava reencontrá-lo! Como devia estar? Passaram mais de três meses distantes um do outro. Imaginava como Ja’far também sentira sua falta.

A cada instante que o grandioso navio se aproximava da costa daquele país, Sinbad se sentia mais próximo de seu grande amor. Porém, precisava agir com cautela para que seu plano desse perfeitamente certo.

— Não se esqueçam de orientar para que, assim que desembarcarmos, partam com o navio! - o moreno comentou.

— Estão todos cientes. - Drakon, que tinha os braços cruzados, respondeu.

Sinbad se sentia mais tranquilo. Já que utilizariam a magia de Yamuraiha, levariam Ja’far de volta sem dar chance para serem perseguidos ou até mesmo atacados. E, claro, não queria colocar sua tripulação em risco também.

Não havia mais medo em sua expressão, apenas a confiança de que sucederiam em sua missão e a alegria de ter a certeza de que ele voltaria aos seus braços.

— Me espere, Ja’far! Já estou chegando!


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Notas finais do capítulo

Enfim, chegamos ao ponto crítico da história! Mas foi bem romântica esse momento do Kouen com o Ja'far, hein? Terrível pegar eu me derretendo pelo crackship! Hahaha!
Algo que eu adoro em escrever fics é a possibilidade de eu encaixar os personagens em situações atípicas. E apesar de não ser uma fic AU, confesso que adorei fazer o Kouen xingando! Olha o que o amor não tá fazendo com esse homem!!!
Muito obrigada por lerem, acompanharem, comentarem! ♥ Lembrando que respondo todas as reviews então podem dar sugestões, críticas, elogios. Sempre são bem-vindos! Até semana que vem!



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