Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 11
Devoção


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥
Peço desculpas por não ter conseguido postar semana passada, mas como prometido, capítulo novo hoje! Espero que gostem e estamos chegando à metade dessa história!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690726/chapter/11

Vendo-se refletido naquele par esverdeado que oscilava, Kouen sentia seu coração bater tão rápido. Seu corpo era consumido pela adrenalina.

Não que aquilo fosse algo ruim e o largo sorriso que ele tinha em seu rosto condenava o quão feliz estava por declarar seus sentimentos daquela forma.

Nunca, em todos seus longos 30 anos de vida, havia experimentado algo assim.

A ansiedade gerada pela expectativa da resposta de Ja’far era incrível. Fazia com que o primeiro príncipe de Kou se sentisse… vivo.

Ja’far, por sua vez, sentia aquela adrenalina de uma maneira bastante diferente, em especial ao sentir as mãos que seguravam seus braços se fecharem mais, apertando-os com firmeza. O mesmo receio que sentira quando ele parecia disposto a lhe ordenar a fazer o que quisesse.

— Eu te amo, Ja’far.

O príncipe reforçou suas palavras e, temeroso ao ouvi-las, Ja’far desviou o olhar, como se pudesse fugir dali se evitasse encará-lo. Como dizer que não correspondia àquele sentimento?

— Quero saber o que sente por mim também. - ele prosseguiu.

Ja’far voltou a fitá-lo. Precisava ser sincero e esperava compreensão de Kouen, afinal, confiava nele. Aquele homem fora seu único porto seguro desde que se viu sem passado, perdendo a si mesmo. Era Kouen que estava ao seu lado naqueles momentos tão difíceis.

— Eu… eu sinto muito, Kouen-sama. - tão nervoso que estava, Ja’far acabou adicionando o honorífico que tanto desagradava o ruivo que, apenas ao ouvir sua introdução, franzira o cenho. Mas o alvo não recuaria. - Eu fico muito lisonjeado por nutrir sentimentos tão fortes por mim, mas eu… eu não sinto o mesmo, apesar de estimá-lo profundamente.

Era como se toda aquela vida que Kouen adquirira ao se ver desafiado e tentado a se declarar e obter o amor de Ja’far tivesse sido extingüida.

A alegria e exasperação que estavam estampadas em seu rosto deram lugar à uma mistura de decepção e… raiva. A última que, subitamente, desapareceu quando o próprio príncipe percebeu que precisava se controlar. Não, ele não aceitaria que Ja’far não o amasse. Afinal, era o sucessor do trono, um homem cobiçado por tantas. Como um mero ex-assassino rejeitaria um nobre como ele? O aperto no braço do alvo enfraqueceu quando ele retomou o sorriso. Ele não estava disposto a perder.

Aquela mudança de expressões em um tempo tão curto assustou ainda mais Ja’far, que se sentia ainda mais coagido por aquele homem.

— Ja’far… Me perdoe ser apressado, eu… imaginei que mesmo com a amnésia, nosso sentimento permanecesse vivo.

Hm? - as esmeraldas piscaram. Perguntava-se do que o ruivo falava.

— Eu não queria falar, mas… Antes de você perder a memória, tínhamos confessado nossos sentimentos um pelo outro.

Ja’far arregalou os olhos. Instintivamente dando um passo para trás, sentiu suas costas se chocarem contra a parede. Agora estava, literalmente, encurralado.

— Depois de passarmos tanta coisa juntos, eu estava lendo na biblioteca quando você chegou e… decidiu contar a mim o que sentia. - ele mentia de uma forma tão articulada que era praticamente impossível dizer que não falava a verdade. - Você tinha medo de ser rejeitado, vendo que sou um príncipe e servido com concubinas.

— E-eu?

Sentindo a cabeça latejar mais uma vez, Ja’far tentava buscar aquelas lembranças, montar em sua mente aquele cenário que Kouen descrevia. Então estava apaixonado por Kouen? Mas como não sentia nada, naquele momento, se nutria algo tão forte? Porém pensou como o príncipe poderia estar sofrendo, resignado, respeitando seu estado delicado. E, agravando a situação mais ainda, sabendo que havia sido abusado de todas as formas pelo rei de Sindria.

Sentiu pena. Afinal, era ele quem havia lhe ajudado até ali. Não poderia haver espaço para desconfiança com aquele homem que lhe estendera a mão.

— M-me desculpe por não me lembrar… - ele corou, constrangido com tudo aquilo. - Deve estar sendo bastante doloroso me ver assim, praticamente uma casca vazia…

— Não.

A mão do ruivo tocou o rosto pálido de Ja’far. Usando dois dedos, Kouen ergueu seu queixo para que pudessem se encarar e, dessa vez, nenhum deles vacilou.

Devia acreditar nas palavras do homem que lhe salvou. E, com aquela certeza, Ja’far se viu mergulhar naqueles olhos escarlate.

Sentia-se tão tenso, mas determinado a confiar nele.

Kouen se aproximou mais dos lábios que, entreabertos, tremiam. Ele sorriu ao ver que Ja’far não recuaria, aproveitando para, suavemente, deixar sua boca roçar na dele.

O ex-conselheiro de Sindria sentia a respiração quente do ruivo se misturando com a sua, lentamente sendo envolvido pelos braços fortes, cujo calor lhe traziam tanto conforto. Podia sentir o aroma do perfume impregnado em suas vestes, o mesmo que, volta e meia, o inebriava.

Se sua mente debilitada não era capaz de se lembrar do que sentia, seus instintos mais profundos fariam aquilo no lugar dela.

Ja’far se sentia completamente enfeitiçado quando, investindo com mais ousadia, Kouen deslizou a língua por seu lábio superior, fazendo com que sentisse um arrepio lhe cruzar toda a espinha. Não havia volta.

As mãos que o mais baixo apoiava no peitoral do príncipe se fecharam, agarrando-se em suas roupas, quando ele desejava arrancá-las dali e despir aquele homem.

E se deixasse sua racionalidade interferir o mínimo que fosse, ele sabia que reconsideraria. Sabia que era loucura. Mas se seu corpo estava reagindo tão bem àquelas carícias, Ja’far conseguia ter mais certeza de que devia confiar mais ainda naquele homem, no que ele dizia.

Amava Kouen, havia se declarado a ele.

Com aquela convicção, por si só, Ja’far aprofundou aquele beijo. Tão doce e intenso, fazia com que o príncipe enlouquecesse.

Não demorou para que Kouen o puxasse da parede e o deitasse naquela mesa com violência o suficiente para que os pergaminhos, antes nela abertos, alçassem voo e se espalhassem por todo o lugar.

Ja’far sentia seu coração acelerar ainda mais. Como não cogitara aquilo? Não eram duas crianças e Kouen, certamente, desejava bem mais que um beijo. E aquilo se provou real quando o kimono que usava foi puxado para a lateral, expondo melhor seu colo para que o ruivo o abocanhasse.

Não conseguindo se conter, Ja’far gemeu alto, inclinando a cabeça para trás ao sentir aquelas mãos grossas invadindo suas vestes e começando a explorar seu corpo.

Sentia-se zonzo e ao mesmo tempo extasiado. Revirou os olhos antes de fechá-los por um breve instante, porém, quando os reabriu, Ja’far se viu em um lugar completamente diferente.

A sala onde estava era ampla e bem iluminada. O teto bastante alto era adornado por arcos e uma bela arquitetura. Confuso, a única coisa que conseguia sentir ainda eram as carícias depositadas por aquelas mãos que perscrutavam seu corpo. Onde estava?

— K-Kouen… - ele chamou de forma preocupada.

Quando Ja’far puxou os fios de cabelo daquele que deslizava a língua pela curva de seu pescoço, viu o púrpura contrastar com a alvura de sua mão.

Tão compridos aqueles fios que chegavam a fazer cócegas ao estarem jogados sobre seu corpo quando Ja’far encarou o par de olhos dourados. Agora ele podia ver com perfeição suas feições. O nariz bem talhado, as sobrancelhas grossas, os lábios finos. Não era possível.

— Não me ama, Ja’far?

Apavorado, com os olhos arregalados, Ja’far lutou para se desvencilhar de seu toque. Empurrou-o, afastando aquele homem que agora ele reconhecia bem. Era o rei de Sindria. Aquela voz, a mesma voz que perturbava seus sonhos.

— JA’FAR!

Piscou mais uma vez e se surpreendeu ao ver um assustado Kouen lhe encarar. Ele parecia bastante preocupado diante do ex-conselheiro de Sindria. Ja’far estava ofegante, as mãos ao centro de seu peito tremiam freneticamente.

— Ei, Ja’far, olhe pra mim!

A primeira reação de Kouen, ao soltar um dos ombros dele foi tocar o rosto do alvo, a procura de reconhecimento dos olhos verdes que estavam enormes, ao mesmo tempo que pareciam desfocados no nada.

Mas assim que a ponta de seus dedos tocou a pele de Ja’far, o alvo espalmou sua mão com violência, encarando o príncipe com asco.

— N-não me toque! - ele gaguejou.

— O que aconteceu? Estava tudo bem até me afastar… - o príncipe tentava compreender.

Extremamente atordoado, Ja’far abraçou a si mesmo, dominado por um medo o qual ele era incapaz de compreender.

— Me desculpe… - ele sussurrava. - Eu… me lembrei daquele homem… Eu vi o rosto dele...

Aquilo era um mau sinal.

Kouen mordeu o lábio inferior vendo que seus planos não corriam tão bem quanto ele estava pensando. Ao mesmo tempo em que conseguira a confiança de Ja’far, ele parecia estar cada vez mais próximo de recuperar suas lembranças.

— Ele… me tocava como você estava fazendo, mas… Eu sei que ele apenas queria me usar como você me disse, Kouen! - Ja’far não conseguia mais conter as lágrimas. - Eu me lembrei de como ele abusava de mim! Me perdoe, mas… eu preciso ficar sozinho.

— Ja’far…

Apesar de se apiedar pela situação do ex-conselheiro de Sindria, Kouen não podia evitar ficar satisfeito ao ver que, apesar de se lembrar de algumas coisas, sua trama estava muito bem implantada na mente de Ja’far. Certamente, após investir tanta confiança, mesmo se ele pudesse se lembrar de tudo, Ja’far duvidaria de sua própria memória.

— Eu não posso fazer isso com você agora, Kouen. Me perdoe!

Shhh… Fique calmo.

O ruivo o abraçou firmemente, consolando-o da maneira mais compreensiva possível.

— Isso não importa. O que importa é que fique bem! Eu vou respeitar você, afinal, depois de tudo o que você passou, deve ser difícil...

Ja’far assentiu, sentindo-se extremamente grato pela empatia daquele homem.

Como o admirava, cada vez mais. De fato, se tinha alguma dúvida sobre seus sentimentos por Kouen, qual fosse tinha sido sanada. Ja’far tinha certeza de que o amava.

—------xxxxxxx-------

Abrindo os olhos dourados, Sinbad percebeu que a noite já havia caído.

Poucos candelabros estavam acesos, distantes o suficiente de sua cama para não perturbarem seu descanso. Finalmente se sentia bem melhor, apesar da inquietude dentro de si. Nem ao menos percebera quando adormeceu. Lembrava-se de estar escrevendo a carta que enviaria a Kou e mais nada depois disso.

Farfalhando os fios púrpuras, ele se sentou, recostando-se nos vários travesseiros apoiados à cabeceira.

Os olhos dourados encaravam as portas duplas de onde ele podia ver, com perfeição, Ja’far entrar trazendo uma farta bandeja, reclamando de sua bebedeira enquanto andava até as janelas e abrindo as cortinas para arejar seus aposentos. Reclamaria aos berros, cobrando responsabilidade de seu rei até ir a sua cama, para onde Sinbad o puxaria e o calaria com um beijo, deixando-o envergonhado. E com poucas carícias Ja’far estaria entregue. Amariam-se como faziam quase toda noite.

Mas, com um longo suspiro, o rei de Sindria voltava a se ver só naquele amplo quarto. Cabisbaixo, ele se surpreendeu com dois toques na porta, os quais antecederam sua abertura.

— Ma-Majestade?

Sinbad piscou ao ver a moça que parecia bastante sem jeito ao aparecer ali.

— Pode entrar.

Cabisbaixa, Yamuraiha seguiu a ordem de seu rei e adentrou seus aposentos. Mal era possível ver seu rosto, coberto parcialmente pelo enorme chapéu pontudo. O pouco que o moreno conseguiu ver estava úmido e inchado. Nitidamente ela havia chorado bastante.

Após fechar a porta, ela juntou as mãos entre os fartos seios ao seguir até a cama de seu rei para encontrá-lo. Sinbad logo notou o quão trêmula ela estava.

— Sente-se. - ele tentou esboçar um fraco sorriso.

Assentindo, a maga foi até a poltrona que ficava ao lado do leito de seu rei.

— Algum problema? - preocupado, o rei indagou. - Só fica chorosa assim quando briga com algum namorado… ou com o Sharrkan.

Ele riu de canto, tentando descontrair. Afinal, conhecia muito bem cada um de seus generais. Assim como Ja’far, havia visto praticamente cada um crescer.

A moça apenas balançou a cabeça para os lados e, tomando coragem, ergueu o rosto para mostrar os olhos azuis embebidos em lágrimas.

— Me perdoe, majestade! - foi tudo o que ela conseguiu dizer com a voz tão embargada.

— Y-Yamu? -  Sinbad piscou, sem jeito ao vê-la tão abatida.

— Eu menti para você, acreditando que era capaz de dar um jeito! Confiei numa tecnologia que desenvolvi e ainda estava em testes e, no final, não assumi que havíamos perdido contato com o Ja’far-san e, enquanto você esperava ansiosamente pelo retorno dele, eu sabia que ele não ia voltar!

As palavras foram praticamente cuspidas entre soluços que Yamuraiha continha da forma que podia. E, apesar de se sentir tão culpada, sentia-se bem ao falar tudo aquilo, afinal, foram quase duas semanas enganando seu rei e a todos em busca de uma solução que negasse aquele terrível fato: Ja’far não havia retornado e estava incomunicável. Sentia como se um enorme peso saísse de suas costas, por mais que estivesse ciente de que poderiam não mais confiar nela.

— Eu preferi pensar que estava enganada! Que o ítem mágico estava com defeito! Não sou a melhor maga do mundo e… eu tinha certeza de que o Ja’far-san voltaria e eu não precisaria preocupá-los. Eu realmente tinha esperanças e...

Tomada pela frustração, Yamuraiha sucumbiu às lágrimas, não conseguindo falar mais nada.

Sinbad, por sua vez, se alarmou ao vê-la tão entristecida.

Afastando os lençois sobre seu colo, ele pôs as pernas para fora da cama e segurou a mão da moça.

— Ei, eu não estou te culpando, Yamu. - ele sussurrava, tentando acalmá-la. - Nem eu nem ninguém. Pare com isso.

— Mas a culpa é minha, majestade. - Yamuraiha insistiu.

— Você é uma maga incrível, a melhor que já vi. Como você constatou, não tinha defeito algum no ítem mágico. Eu confio em suas habilidades. Seu único erro foi não me relatar que ele permanecia em Kou. Talvez eu tivesse tomado alguma atitude antes, mas seria um erro também. Eu não podia me precipitar.

Yamuraiha ouvia atentamente o que seu rei dizia. Como sempre, ele era extremamente compreensivo. E pensar que chegou a temer levar uma bronca, mas talvez fosse o que ela gostaria.

— Eu sinto muito! Quando eu pensava em lhe contar e imaginava que algo ruim tinha acontecido com o Ja’far-san, eu… pensava em como você ficaria, majestade. - a moça soluçava, desviando o olhar enquanto ainda sentia as mãos sendo afagadas pelas do moreno. - Quando ontem o vi tão destruído e… bebendo daquela forma, imaginei como o Ja’far-san me culparia ao vê-lo assim.

Mordendo o próprio lábio, Sinbad suspirou. Sentia-se envergonhado, lembrando-se da cena degradante que protagonizara na noite anterior.

— Ele jamais brigaria com você. E aliás, se eu fiquei daquele jeito é por culpa dele. - ele abriu um sorriso, tentando confortá-la. - Não é?

— O-Obrigada, majestade. Eu... eu não mereço sua confiança depois de tudo…

Shhh. Só não me esconda mais nada, certo? Não tente me poupar de nada e sofrer calada. Se eu tiver que sofrer, vai ser inevitável.

Ela encarou os olhos dourados e assentiu, fazendo uma promessa não só àquele homem que tanto admirava, mas a si mesma. Precisava amadurecer e assumir as conseqüências de seus atos.

— Pode confiar, eu… nunca mais vou fazer algo assim… Se eu pudesse ajudar, de alguma forma…

— Você pode.

Dourados e azuis se encontraram novamente. Sinbad parecia determinado.

— Por favor, Yamu, você tem que me ajudar!

Do que seu rei estava falando? Independe do que ele propusesse, ela estava disposta a fazer qualquer coisa para ajudá-lo. A maga assentiu, correspondendo à expectativa dele.

—------xxxxxxx-------

O furor tomava conta do palácio.

Os servos, agitados com aquela chegada, tentavam se conter, porém era impossível ao ouvir aqueles berros que vinham do salão principal.

— Mande chamar o príncipe Kouen!

Um dos que espiavam pela fresta da porta decidiu se antecipar. Era o melhor a fazer, assumindo que o encontro entre mãe e filho sempre terminava de maneira trágica… para o lado do príncipe, claro.

E aquela situação não era nada atípica, afinal, toda vez que o quarto príncipe do Império Kou, Ren Hakuryuu, retornava ao seu “lar”, precisava confrontar a perversa mulher que não hesitava em provocá-lo de todas as formas.

— É assim que me trata, meu querido Hakuryuu?

A voz melodiosa questionava em meio à um dramático e fingido choro.

Porém, o jovem, com uma expressão nada satisfeita, estava disposto a ignorá-la. Não estava disposto a levar aquele embate à frente, sendo que havia ido até ali apenas para tentar, mais uma vez, convencer sua irmã mais velha a ficar ao seu lado.

Carregando aquela grande arma apoiada em um ombro, ele seguiu em direção à porta, porém seu braço foi segurado ao passar ao lado da imperatriz.

— ME SOLTA!

O exclamar do príncipe veio acompanhado do empurrão que ele deu em sua mãe. A bela mulher foi ao chão, com os olhos azuis arregalados ao mesmo tempo em que sorria abertamente, como se sentisse um imenso prazer ao ser agredida por seu filho caçula.

Mas assim que foi ao chão, as portas duplas se abriram e revelaram o primeiro príncipe.

Assim que Ren Gyokuen viu seu sobrinho e filho adotivo adentrar aquele salão, cobriu seu rosto com as mãos.

— Como está rebelde meu filhinho!!! - ela declarou entre soluços incontroláveis. - O que eu fiz para que ele odeie sua própria mãe?

Hakuryuu nem havia notado a presença do ruivo, até que sentiu seu braço ser puxado com força. Sendo Kouen bem mais forte que ele, não foi dificil.

— Enlouqueceu de vez?! Batendo em uma mulher?! Em sua mãe?!

— Não se meta com o que não é da sua conta! - os olhos azuis faiscavam. - Só quero me afastar dessa vagabunda!

— Kouen, meu filho, por favor, deixe o Hakuryuu fazer o que ele quiser! - Gyokuen exclamou em meio ao pranto. - Não quero que ele o machuque também!

— O que veio fazer aqui?! - Kouen a ignorou, ainda encarando o mais novo ao sacudi-lo. - Se veio apenas trazer discórdia e brigas para esse lugar, vá embora e não volte mais!

— Que eu saiba, príncipe legítimo aqui sou eu, então quem deve ir embora é você! - ele não estava disposto a engolir as palavras de Kouen. - ME SOLTE TAMBÉM!

Hakuryuu se desvencilhou de Kouen, que também não insistiu. No fundo, não queria machucá-lo e de certa forma compreendia tamanha revolta. Se não fosse pela consideração que tinha quanto aos irmãos falecidos do príncipe, certamente já teria o matado. Sabia que, se o fizesse, a imperatriz lhe ofereceria o trono facilmente, mas sua moral e sentimentos por Hakuyuu e Hakuren eram mais fortes que sua ambição.

Seguiu bufando pelos corredores, ignorando os servos que não conseguiam disfarçar, observando a passagem do príncipe. Ele precisava encontrar Hakuei o mais breve possível para ir embora dali e de vez, estava decidido.

Porém, enquanto andava distraído, os olhos azuis encontraram alguém que Hakuryuu jamais, em toda sua vida, imaginou ver naqueles corredores.

Passava carregando uma pilha de pergaminhos e trazendo um sorriso gentil, o mesmo que ele usava quando o conheceu naquele país do extremo sul.

Usando vestes simples, porém bonitas, típicas de Kou, aquele homem magro, de estatura mediana, indefectível pele alva como seus cabelos. Os olhos esverdeados e as sardas que cruzavam o rosto fino sendo as únicas coisas que davam cor a ele. O conselheiro de Sindria.

— J… JA’FAR-DO...

O príncipe não conseguiu completar seu chamado.

Seus lábios foram tapados ao mesmo tempo em que foi puxado para trás, sendo praticamente arrastado para uma das salas daquele corredor.

Assustado, Hakuryuu se debateu, demorando a reconhecer seu algoz que, ao soltá-lo, rapidamente trancou a porta do lugar onde estavam para se voltar a ele.

— JUDAL!

O príncipe ficara furioso. Por que o magi fizera aquilo?

— Por que me impediu de falar com o Ja’far-dono? - indignado, ele questionou.

— Eu acabei de salvar sua vida. - Judal cruzou os braços, ele estava sério. - Nem ouse pensar que Kouen ao menos sabe que viu o Ja’far aqui!

— Mas o que está acontecendo?! - Hakuryuu estava intrigado e, até mesmo, chocado. - Como Ja’far-dono está aqui? O que houve com…

— Kouen armou um teatro idiota para matar o Ja’far. Mas na hora H ele ficou com peninha e decidiu se apaixonar por ele. - Judal ria.

— Mas… Mas por que o Ja’far-dono está aqui tão feliz? Se tudo isso…

— Hakuryuu. - o sacerdote do Império Kou o interrompeu. - Ja’far perdeu a memória. Eu mesmo o joguei de um penhasco. - simplificou.

Hakuryuu rangeu os dentes, simplesmente horrorizado com a naturalidade que Judal expressava ao falar aquilo.

— Ele não lembra de nada! Nem do Sinbad e, óbvio, nem de você!

Chocado, o príncipe balançou a cabeça negativamente. Aquilo era um absurdo!

— Kouen decidiu inventar falsas lembranças para o Ja’far. Na verdade, eu acho que o franguinho está até muito bem agora, melhor do que com o rei idiota!

— Isso não importa, Judal! - foi a vez de Hakuryuu interrompê-lo. - Eu preciso contar o que está acontecendo ao Sinbad-dono!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O Hakuryuu era um elemento fundamental nessa fic. Enquanto eu desenvolvia o roteiro, eu fiquei várias semanas pensando em como as coisas poderiam se encontrar e como eu poderia trazer ao conhecimento geral às situações que acontecem de um lado do mundo e do outro. Quando comecei a escrever fics de Magi, eu me via um tanto quanto perdida devido às limitações do universo arcaico, mas hoje isso me diverte porque preciso criar soluções plausíveis com a obra original! Hoje penso que seria dificil montar uma long fic pós-timeskip com as novas invenções! Hahaha!
Quanto à cena do Kouen com o Ja'far, sinceramente, não sei se EU os segurei, ou EU MESMA ME SEGUREI. Hahaha! Foi bastante intenso escrever aquilo e, como sempre, adoro brincar com o psicológico dos personagens. Me preocupo, sou bastante cruel ao escrever! XD
Como sempre, muito obrigada por acompanharem, lerem e comentarem! ♥ Me deixa muito feliz e me motiva muito a prosseguir! Até semana que vem!! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Remember Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.