Ao abrir a porta , senti o vento frio atingir em cheio o meu rosto , as manhãs na Califórnia estavam ficando cada vez mais frias , mesmo a beira do mar. Percebi movimentações em todos os arredores da casa , e sabia que o dia seria grandioso. Lembrei-me do que minha mãe havia me falado antes de sair da cozinha , eu tinha que tentar resolver tudo com Ehlena. Ah, como se eu tivesse alguma coisa com ela . Passara-se uma semana que estávamos hospedados na casa de praia da minha família, e deveras sim, ter uma proximidade com a irmã de Lility. As conversas que todos participavam , sempre perguntavam sobre o seu trabalho no Brasil , e que ela achava da crise toda que o país vivia. Ehlena sempre fora cuidadosa com as palavras , e dizia apenas que acreditava que iria melhorar. Perguntavam também o porquê ela escolhera lá para viver, e ao lembrar disso pude ouvir sua voz respondendo delicadamente:
— Os brasileiros são tão calorosos, os vemos com muito preconceito, mas , eles são boas pessoas . Acho que isso faz , com que eu tenha escolhido exatamente esse país para morar.
Ah, sabíamos que tinha um gosto peculiar para diversos lugares. O Brasil seria um país do qual eu nunca visitei, mesmo quando Sarah , tinha suas exposições de artes pelo mundo. Eu adorava o que Sarah transmitia. Sua essência sempre fora , transformar em bonito o que se foi julgado como feio. Merda! Lá estava eu novamente , preso em meus sentimentos por ela. A saudade que eu sentia , fazia todos os dias meu coração doer , sangrava até não sobrar uma gota se quer , pois as forças se esvaiam junto. Ah, minha doce Sarah, como me fazia falta. O que pensaria se estivesse aqui e eu falando constantemente de outra mulher ? Merda! Eu fiz isso de novo. Como é que eu posso me dar uma chance, se constantemente eu luto com as memórias de Sarah em minha mente ? Eu vivia constantemente confuso com todas as sensações que Ehlena me causava , ela realmente me encantara com o seu jeito firme e doce ao mesmo tempo, aquela voz aveludada e seus olhos intensos. Ah, não sei como lidar com isso. Atormentado com todos esses sentimentos , sai de onde estava e dei uma volta por toda a casa , vi uma BMW prata se aproximando, ao encostar perto de casa, uma moça com um óculos de sol descera , e atrás duas crianças saíra também quando a moça me olhou gritou ao longe :
— Eri? Eri? Eu não acredito! - Disse ela retirando o óculos de sol e se aproximando.
— Como vai Eri, quanto tempo, que saudades de você, eu fiquei sabendo sobre Sarah meus sentimentos. - Disse ela , fingindo comoção.- Diga algo, Não se lembra de mim?
Não! Pensei comigo mesmo, quem era essa louca que me chamava pelo meu apelido?
— Ah, claro que lembro , quanto tempo , você está diferente. - Fingi que sabia do que estava falando. Para meu alívio, ouvi minha mãe se aproximando e falando:
— Giselle , como você cresceu, está linda , a quanto tempo.
Giselle ? Porquê eu não me lembrava de nenhuma Giselle ?
— Tia , como está indo os Preparativos? - Espera ai, tia? Como assim ? Esperei a Louca dos óculos escuros se afastar e perguntei para minha mãe :
— Mamãe, quem é essa mulher ?
— Você não se lembra de Giselle ? Sua prima oras , vocês brincavam juntos , ela veio para o seu casamento. - Merda! A única Giselle que conhecia era sua prima , e ela não se parecia em nada com ela.
— Mas, mamãe, a Senhora tem certeza de que essa é aquela Giselle ?
— Sim meu filho, a diferença só esta no tanto de plástica que fizera, e o corpo completamente siliconado. - Disse minha mãe com um tom engraçado.
— Mamãe! - Disse-lhe divertido. Seguindo-a para dentro , percebi várias crianças brincando na areia , e olhei procurando por qualquer sinal que seja de que Ehlena houvesse chegado. Nada. Novamente. Já se aproximava das 12h e o alvoroço parecia ter aumentado. Todos comeram com uma rapidez esplêndida, da qual me perguntei se era possível. Logo após o almoço, os últimos preparativos para a cerimônia estava sendo concluídas. Vi pessoas se amontoando em volta do altar que havia sido montado na praia. O horário fora se aproximando e eu resolvi ir me preparar. O meu terno estava perfeitamente passado, não havia uma única dobra , e meus sapatos sociais muito bem engraxados. Tomei um banho um pouco demorado , para não dar tempo de ninguém mais me chamar , a não ser que fosse Ehlena. Sai do box e me enrolei na toalha, sai do banheiro e comecei me arrumar. Já vestido impecavelmente, olhei-me no espelho e passei as mãos por entre meus cabelos. Na penteadeira peguei o meu perfume e borrifei algumas vezes. Arrumei o nó e minha gravata , e ao terminar de me olhar , encarei a imagem que estava em minha frente. Um homem austero e viril. Era isso que Sarah dizia quando o via de terno. O terno que eu estava usando tinha riscas de giz , o que fazia com que o terno parecesse custar 10.000,00,00U$. A gravata bem arrumada dava-me um ar serio do qual eu nunca quis ter. Assim aprovando o que estava vendo , sai de meu quarto e fui para a praia. O relógio marcava 14:20pm, e a cerimônia seria as 15h , com direito a atraso da noiva. Olhei mais uma vez , procurando por Ehlena e não a encontrei em lugar algum. Aproximando-se de mim, pude perceber meu irmão:
— Você está bonito, Eri.
— Obrigado, meu irmão. E seu coração?
— A ponto de sair pela Boca, de pensar que hoje a noite , Lility será oficialmente minha mulher.
— Calma, você ainda nem a viu para morrer.
— Eu estou imaginando, não consegui nem pensar direito. - Olhei para ele e sorrir.
— Normal , ficamos sempre assim. - Rimos e ficamos esperando, os convidados já haviam chegado , e o relógio já marcava 15h. Ver o brilho de emoção nos olhos do meu irmão , fazia com que eu me sentisse vivo de novo e um sentimento que a muito tempo não me acometia , veio a tona. Eu estava feliz! E naquele momento, ali ao lado de seu irmão no altar se sentira feliz. Como aquela sensação era maravilhosa. A mini-orquestra que minha mãe havia contratado começou a tocar a marcha nupcial, e então ao longe , vi Lility se aproximar. Seu vestido não era igual de todas as noivas, apesar de ser branco ele não era longo. Sua grinalda estava repleta de pérolas, e seus braceletes reluziam com a luz do sol, realmente meu irmão seria um homem de sorte. Quando virei-me para olha-lo, meus olhos só distinguiu a figura de Ehlena. Ela estava linda! Seu cabelo estava solto com umas ondas jamais vistas , seu olhar estava mais intenso, e seu jeito firme não transpareceu, sua doçura estava sendo exalada em cada canto de seu vestido de cor salmão, sua boca estava com um batom que , instintivamente fazia com que eu tivesse vontade de beija-la. Ela cumprimentou o meu irmão e se postou ao meu lado , do qual me cumprimentou somente com um meneio de cabeça. Quis que alguma frase tivesse se formado , para expressar o quão linda estava , mas a voz falhara. E assim , continuei calado. A cerimônia havia ocorrido como o esperado, meu irmão estava tremendo mais que a própria Lility, seus votos e a troca de alianças , foram excepcionais. Todos estavam se encaminhando para a área onde ocorreria a festa. O salão repleto de comida , doces e o bolo dos noivos , por eu ser um fotógrafo, dei todo álbum de casamento de presente para os noivos , eu havia tirado a foto de cada detalhe da cerimônia, incluindo várias fotos as escondidas sem Ehlena perceber. Eu poderia estar ficando louco, mas a vontade de ter uma imagem dela para mim , parecia plausível no momento. Para o casamento eu havia contratado um estagiário para me auxiliar, deixei as fotos da festa com ele , e vi Ehlena cumprimentando algumas pessoas , e logo em seguida a vi indo no meu irmão e Lility, pude observa-la abraçando e limpava algumas lagrimas que escorriam . Sua irmã a abraçara e então Ehlena se foi. Andei atrás dela seguindo-a pelas guirlandas de flores e a vi entrando dentro da casa, ao entrar fui logo atrás e corri para alcança-la.
— Ehlena! - Ao som da minha voz ela parou, mas não se virou.
— Ehlena! - Disse-lhe mais uma vez.
— Porquê ainda está atrás de mim?- Sua voz parecia fria demais.
— Porque eu preciso falar com você.
— Não, não precisa. Você já deixou tudo muito claro para mim. Agora vá para a festa , eu preciso ir embora. - Disse ela com a voz carregada de emoção. Puxei-a pelo braço e a segurei. A senti tentando de desvencilhar, a pedi para olhar em meus olhos :
— Ehlena? - ela parou de súbito e subiu o olhar de encontro com o meu. - Me desculpa, pelas coisas que eu falei ontem.
— Você não acha que é tarde ?
— Porque seria?
— Eu vou embora!
— Porque você quis , meu irmão me falou que você marcou a passagem para as 5h.
— Não posso mais ficar aqui.
—Não pode , ou não quer?
— Não quero! Não pos... - Não aguentei , a beijei intensamente , o beijo que antes era doce agora se tornara possessivo, simples , singelo e único. A sensação de a tê-la em meus braços , fazia com que eu arrepiasse ,seu corpo quente junto do meu , sua respiração junto com a minha , parecia que estávamos na mesma sintonia. Afrouxei meus braços ao seu redor e a senti se entregando ao beijo. Aquele beijo significava o que eu queria naquele momento . E o que eu mais queria ela. Ela novamente se afastou e perguntou com a voz rouca:
— Porque você sempre faz isso?
— Porque eu sempre quero deixar você sem palavras. - senti-la em meus braços fazia com que meu coração se acalmasse . E então percebi , que agora ela era a minha calmaria. A senti se desvencilhar novamente. Sua mão estava apertando meu braço com muita força. Assustado . Parei momentaneamente. Que merda estava acontecendo?! Seus olhos estavam assustados e então Ehlena deu um passo para trás:
— Sai de perto de mim, sai de perto de mim! - Disse ela em meio a gritos e seu corpo tremia e sua voz estava quase inaudível. Seus olhos transbordavam , lágrimas saiam e eu não sabia o que fazer. Merda , o que foi que aconteceu? Ela se jogou no chão :
— Por favor , não se aproxima, você não merece , eu não sou boa para você. Por favor... - A olhei novamente, e foi o momento em que encontrei seus olhos que pude entender o que estava acontecendo.