Eu passei o resto da noite pensando em Ehlena. Imaginei o quanto outras moças na mesma idade sofreram igualmente ela. De pensar que já fui um idiota desses, de mexer com garotas na faculdade. Apesar que na época de faculdade, tudo o que mais rolava era sexo, drogas e rock n' Roll. Entediante. Acho que isso descreveria tudo. Garotas como a irmã de Lility, sofria a cada momento esses tipos de abusos, e isso era absurdamente comum. Como Estupro pode ser comum na atual sociedade? Era esse meu questionamento diante de tudo que eu ouvira Ehlena falar. Imaginar a dor que sentira, fazia com que meu sangue fervesse. Levantei-me da cama e dirigi-me ao banheiro. Despi minhas vestes e liguei o chuveiro, o vapor da água do chuveiro, fazia com que todo o banheiro parecesse um "dia cinzento," cinzento como tudo que aquela garota havia sofrido. Droga! Dei uma porrada na parede, como eu poderia sentir tanta coisa em tão pouco tempo por alguém? Por que eu estava incomodado com o passado de Ehlena? Ao último pensamento, fechei os olhos. Ehlena... A imagem dela veio em minha mente e fez com que um arrepio me subisse a espinha. Ela era magnífica, mas porque pensar nela assim? Curvei a cabeça e esperei os jatos de água morna bater em meu peito, pensar nela me fazia lembrar de rosas, rosas brancas, uma de minhas flores favoritas. Fechei novamente os olhos e deixei me inebriar momentaneamente com a água. Ah, ela também me lembrara a Sarah. Nesse momento suspirei profundamente e lembrei de nosso aniversário de casamento.

Flashback on

—Eri, você sabia que adoro ver você com essas botinas e esse macacão?

— Sarah, não começa, já está me zoando novamente?

— Às vezes você é muito sério, gosto quando você sorri. - Disse ela vindo em minha direção, estávamos no campo de flores do sítio em que compramos no Teneese. A vi encaminhando pelo o campo lindamente, seu vestido esvoaçava, e seu perfume me atingia em cheio.

— Amor? Veja isso aqui, rápido! Disse ela me interrompendo, corri para chegar onde ela estava, e ao meio de todas aquelas flores, ela encontrou um passarinho com a asa quebrada.

— Eu tenho que a ajudas amor, imagina a dor que ela deve estar sentindo? - Aquele momento eu sorri momentaneamente, não poderia ter algo melhor, do que aquela mulher ao meu lado.

Flashback off

Ah, Sarah. Minha doce e bela Sarah, como eu sinto sua falta. Fechei o chuveiro, abri o box e me enrolei na toalha, ao sair para o quarto, senti um jato de ar frio bater em meu peito, ouvi vozes no corredor, e logo em seguida alguém batendo em meu quarto:

— Erick? Você está aí? Os convidados chegaram para o ensaio, estamos esperando você. - Ouvi meu irmão falar.

Merda! Havia me esquecido do ensaio de casamento. Vesti uma calça e uma blusa social, passei a mão em meus cabelos e sai. Meu irmão estava encostado a porta parecendo um dois de paus. O olhei de cima baixo e disse:

— Você está com medo de eu fugir? Eu não sou sua noiva. - Disse-lhe em tom divertido.

— Ah, eu estou sim, por que se não você dar uma de Dorothy e vai parar no mundo de Oz.- Rimos e então fomos para o ensaio. Tudo seria na praia, estava tudo montado, desde altar até a cobertura coberta de guirlandas. O padre estava se preparando para o ensaio, e todos os convidados estavam se acomodando, parecia que tudo sairia perfeito, logo, depois da noite passada, não havia mais, visto Ehlena pela casa, percebi então ela entrando com um vestido florido e os cabelos esvoaçavam ao vento, ah, ela estava linda. O vento trouxe até mim o seu delicado cheiro, e fez com que eu fechasse os olhos. Perfeito! Ela me acompanharia no altar, a vi se aproximando e sorrindo para todos, quando se aproximou de mim disse:

— Oi, depois precisamos conversar sobre a noite passada. - Seu tom era incerto, e senti um certo desconforto por parte dela. A olhei e concordei.

O ensaio havia ocorrido como planejado, tudo estava indo como deveria ir. Mais tarde naquele dia, todos resolveram ir à cidade para uma pequena comemoração antes do casamento, os amigos de meu irmão, resolveram fazer uma despedida de solteiro. Antes de sairmos, procurei Ehlena pela casa inteira e não a encontrei, todos já haviam saído da casa e então a vi, ela estava sentada lá no mesmo lugar que na noite anterior.

— Acho que precisamos parar de nos vermos aqui.

— Você sempre que aparece, eu gosto de ficar olhando para o mar e pensando.

— Ah, então agora eu sou o culpado?! - Disse, fingindo exasperação. Ela sorriu e então falou:

— Na verdade, foi até bom, eu precisava mesmo falar com você.

— Se for por causa da noite passada, eu sinto muito, mas meu extinto foi de te confor...

— Obrigada. - Disse ela me interrompendo com a voz trêmula.

— E porque você está agradecendo?

— Você é o único que sabe sobre isso.

— Como é que é?!

— Eu nunca contei para ninguém sobre a cicatriz, ou sobre a faculdade. Por isso não vejo muito minha família, eu prefiro não os preocupa-los.

— Mas durante todo esse tempo você guardou isso para si? Disse-lhe olhando incrédulo para ela.

— Esses são os meus problemas. Não deles.

— Eles poderiam ter tem ajudado, Elena.

— Não, não poderiam. Na realidade eu nem sei porque eu contei a você.

— Porque você um dia tinha que ter contado para alguém, Merda! Você achou que ninguém nunca perceberia essa cicatriz? - Disse-lhe me exaltando. Ela já começara a chorar e então me respondeu gritando:

— Eu nunca fui questionada sobre isso, ninguém nunca percebeu, ninguém nunca se importou. - Disse se levantando e correndo, instintivamente eu levantei e fui atrás dela, agarrei seu braço e a puxei para mim:

— Que merda Ehlena! Eu me importei, eu vi, eu percebi. - Quando dei conta de mim nossos corpos já estavam próximos demais, minha respiração estava descompassada e nossos lábios muito próximos, a olhei em seus olhos e ela me encarou:

— Você foi o único a se importar. - Disse ela em um sussurro. Naquele momento eu só conseguia sentir sua respiração junto com a minha e então a beijei.