... uma forte luz invadiu meu campo de visão, estremeci momentaneamente. Senti o meu corpo enrijecer, só conseguia pensar apenas em uma coisa. Sarah! Olhei tudo o que estava ao meu redor e não a encontrava, pude perceber que estava deitado na grama. Olhei para todos os lados e não consegui me levantar, tentei chamar Sarah, mas, abri a boca e a nada saiu. O desespero tomava conta de meu ser, e quis insistentemente tentar me levantar. O movimento que fiz com a cabeça, fez com que, eu percebesse que meu corpo estava inerte. A dor atingira em cheio o meu pescoço e a perna. Mas uma vez, abri a boca para gritar Sarah, e nada saiu. Flashbacks insistentes rondavam meus pensamentos, uma luz havia vindo em minha direção, ouvi vozes ao fundo, pessoas estavam se aproximando. Percebi que ela não estava lá. Ouvi sirenes e alguém mandando se afastar. Ouvi alguns passos e uma voz masculina comentando:

— Encontrei outra pessoa aqui, acho que é um rapaz, tragam a maca, rápido! Ele parece estar respirando. Senti mãos passarem em volta de meu pescoço, e mais uma vez eu tentei gesticular algumas palavras, o único ruído que consegui expressar foi:

— ...S-Sarah. Depois disso, as luzes se apagaram. Eu não conseguia ver e nem ouvir mais nada...

Acordei em um sobressalto, meu travesseiro estava repleto de suor, meu corpo estremecia de cima a baixo, as imagens daquele acidente rondavam a minha cabeça, e ainda fazia com que o desespero, tomasse conta de meu ser. Levantei-me e segui em direção a cozinha, peguei um copo em cima do armário e me servir de um pouco de água, meu corpo ainda sentia o peso daquele dia, e hoje eu ainda me assombrava com aquilo. A morte de Sarah Mexia diretamente com a minha cabeça, me sentia impotente em não poder ter lhe dado um último adeus, ou somente ajuda-la. Resolvi ir à praia e pensar um pouco em tudo que eu estava passando, percebi que a porta estava destrancada, e ao longe vi Ehlena. Me aproximei e sentei ao seu lado:

— Não conseguiu dormir? Perguntei a ela, esperando uma resposta.

— Acho que vai ser difícil, por um bom tempo. - Disse ela olhando o horizonte que se formava a nossa frente.

— Porque não consegue dormir?

— Bem, acho que eu não estou disposta a falar sobre isso...

— Desculpe-me, não quis ser indelicado, apenas me preocupei contigo.

— Vejo, que não fui a única a não conseguir dormir. - Disse ela voltando-se para mim. Percebi que a mesma me analisava com intensidade, tentando descobrir o que eu estava pensando.

— Você acha, que me olhando assim vai descobrir tudo sobre mim?

— Ah... sério? Como se meu único interesse fosse esse.

— Existem interesses a mais então? - Disse-lhe com um tom de malícia, suas bochechas enrubesceram momentaneamente.

— Bem, eu não quis dizer isso, mas cada um pensa o que quiser...- Disse ela divertida, percebi que ela continuava a me analisar.

— Bem, se não é descobrir sobre mim, é porque minha beleza está te encantando.

— Ah, claro, como se você fosse o cara mais incrível que eu já conheci. - Disse ela com sarcasmo.

—Bem, eu não sou o mais incrível, mas vejo, que sou o único por aqui. - Rimos, e então eu percebi uma cicatriz atrás de sua orelha, seguia de lá até o pescoço.

— Onde conseguiu essa cicatriz? - Perguntei, e foi o ápice para ela tentar esconder com os cabelos.

—N-nada, não aconteceu nada.

— Você tem certeza?

—Tenho. - Disse ela apressadamente. Percebi que ela estava aflita, e que sua voz saia trêmula ao se expressar. Mantivemos silêncio por alguns minutos, e a ouvi respirar fundo. Percebi que havia fechado os olhos quando ela quebrou o silêncio:

— Eu estava na faculdade... - Ela respirou fundo mais uma vez e prosseguiu- Eu era uma garota esforçada, gostava de me preocupar com as pessoas, quase não ia em festas, passava muito tempo estudando na biblioteca, não tinha amigos, gostava de ser reclusa. - Mas uma vez ela suspirou - Um dia, a bibliotecária me pediu para ajudá-la organizar os livros que estavam fora das prateleiras, a ajudei e estava indo embora, quando me encaminhava para a casa, dois caras me abordaram, e começaram a me perturbar, eu fingi que não estava os vendo e continuei andando, eles acabaram se enfurecendo por eu não ter dado atenção e... - Nesse momento sua voz falhou. Percebi seus olhos marejados e então ela prosseguiu - Eles me empurraram para um beco escuro, rasgaram toda a minha roupa... E depois começaram a passar a mão em mim como se eu fosse um objeto qualquer, fiz menção em gritar, quando um dos caras, tapou a minha boca e mandou eu ficar quieta. Eu devia ter ficado quieta... - outro suspiro - consegui escapar dos dois e comecei a correr do jeito que eu estava ... - suspirou- mesmo assim eles me alcançaram, me carregaram pelos cabelos e me levaram para trás de uma casa abandonada, como castigo por ter fugido, um dos caras, me cortou com o canivete... - Nesse momento, eu estava desesperado por ela. Inconscientemente, a abracei e a coloquei encostada em meu ombro, deixei-a chorar, seu corpo estremecia sobre o meu e eu pude perceber o quão vulnerável ela se tornara. Então percebi, que estava na hora de sair do meu mundo, a história de Ehlena, me fizeram tomar um choque de realidade.