Dépendance escrita por KarenAC


Capítulo 9
Capítulo 9 - Imersão


Notas iniciais do capítulo

Postando cedo hoje porque o capítulo tem muita coisa pra processar nas cacholas de vocês!
Aproveitem ♥



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Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal.

Oscar Wilde

Chat Noir levantou-se do lugar onde estava ao lado de Plagg. Sabia que Ladybug merecia e devia ouvir toda a história envolvendo a Miraculous, e que as coisas teriam sido muito mais fáceis desde o início se Tikki e Plagg não fossem super-protetores do jeito que eram. Ele mesmo lembrava o quanto Plagg havia tentando protegê-lo de toda a verdade, mas o azar dos agentes é que ele tinha o faro muito aguçado e não confiava tanto nas pessoas quanto Ladybug.

“Eu vou lá na Toca buscar algumas coisas e rastrear o perímetro.” Chat percebeu que quando terminou a frase, Ladybug estava com os olhos apreensivos sobre ele.

“N-não.” a voz de Ladybug saiu mais alta e menos firme do que ela planejava “Você não pode ir sozinho, Chat.” ela apertou o algodão entre os dedos, enquanto a imagem do homem morto no banheiro piscava em sua mente, sendo trocada pelo corpo de Chat e um calafrio sombrio percorreu sua nuca.

“Tá tudo bem, eu tô acostumado a andar sozinho por aí.” ele explicou, lançando um sorriso reconfortante na direção dela “E eu não vou me enfiar em nenhum problema desnecessário, não se preocupa.”

Chat percebeu que o olhar de Ladybug não desviou do seu, e que a mão dela ainda estava nervosamente cerrada sobre o algodão ensanguentado. Não estava acostumado com pessoas preocupadas com ele ou em ter com quem se importar, mas Ladybug estaria sozinha ali caso algo acontecesse, já que Plagg não estava em suas melhores condições físicas. E mesmo naquela situação, onde era ela quem corria o maior risco, ela estava preocupada com ele.

“Aqui.” ele puxou algo do bolso e Ladybug viu que era um celular “Me passa o seu número. Se eu precisar eu te ligo, e se você precisar, me liga. Pode ser?”

Ela sentiu a cabeça concordar e puxou o próprio aparelho do bolso interno na blusa do uniforme, copiando o número que Chat lhe mostrava na tela do celular dele.

“Eu vou te dar um toque, aí você salva o meu.” ela disse enquanto apertava a tela e levava o apareho até o ouvido. O celular de Chat soou no ambiente.

“Vou salvar aqui” ele falou, olhando para a tela do próprio celular “M-Y-L-A-D-Y” soletrou, sorrindo de canto enquanto escrevia e Ladybug sentiu-se corar, mas apenas baixou a cabeça em silêncio “Agora vou indo lá. Qualquer coisa me liga, tá?”

“Tá. Se cuida, por favor.” ela murmurou e viu ele sorrir, se afastando.

My Lady?” Plagg quebrou o silêncio em tom de deboche.

“Nem começa, Plagg.” ela bufou sem saber o que dizer.

“Ele é um cara legal.” Plagg falou, analisando a expressão no rosto de Ladybug.

“É sim.” Ladybug disse, colocando o algodão de lado e desconversando “Pronto, terminei.”

“Obrigado.” Plagg agradeceu, olhando para os múltiplos arranhões e hematomas no braço, e erguendo o rosto para olhar Ladybug que tentava se distrair juntando os materiais que havia usado para curativo. Percebia que ela não estava confortável na presença dele “Pra falar a verdade” ele começou “Eu preferia que a Tikki tivesse essa conversa com você” Ladybug olhou-o nos olhos e percebeu que uma expressão de dor torceu seu rosto ao lembrar de Tikki “Eu não sou tão civilizado quanto ela, então peço desculpas se eu for meio grosso.” Plagg colocou a mão no pescoço e coçou a nuca, justificando-se por algo que ainda não havia acontecido.

Ali, naquele momento, Ladybug entendeu porquê Tikki tinha se apaixonado por Plagg. Embaixo de toda aquela imagem rebelde e antissocial, ele tinha um pedaço do coração cheio de gentileza e respeito. Ela baixou o rosto e sorriu para si mesma, pensando em quanta sorte tinha por estar cercada de pessoas tão maravilhosas.

“Tudo bem, Plagg.” ela ergueu o rosto, sorrindo para ele “Me conta o que eu preciso saber e vamos buscar a Tikki.”

Plagg sorriu de com o canto de um dos lábios e respirou fundo, fazendo movimento para se levantar. Tikki havia escolhido uma boa agente para a Miraculous.

“Eu trabalho com a Miraculous desde os meus 12 anos de idade” Plagg começou e Ladybug levantou-se atrás dele, oferecendo o braço para que ele pudesse se apoiar e caminhar. Ele recusou com um movimento de cabeça e seguiu em frente, devagar “Era um negócio de família. Meu pai trabalhou aqui, assim como o pai dele antes dele e isso até chegar no meu trisavô, que foi o fundador dessa espelunca.” Ele olhou em volta enquanto caminhava “Muita gente já entrou e saiu por essas portas, e eu tenho muito orgulho de fazer parte disso aqui.” Ladybug notava o brilho nos olhos de Plagg enquanto ele falava sobre a Miraculous.

“No início, a Miraculous era só uma agência de segurança meia-boca, mas conforme o tempo foi passando e coisas foram acontecendo, nós fomos mudando o nosso rumo.” ele sentiu Ladybug hesitar no caminhar ao seu lado, mas não parou “Hoje em dia, nós somos a maior organização de combate ao narcotráfico da Europa. Drogas, vício, gente surtada, o pacote completo. Mas acho que tu já conheceu algumas por aí, não preciso te explicar muito.” Plagg girou a cabeça para olhar para Ladybug, que mirava o chão com a testa franzida.

“E todas as pessoas que eu escoltei? Todos os clientes que eu protegi?” a voz dela soou timidamente.

“Gente enfiada até o talo no narcotráfico, joaninha. Pessoas que estavam sofrendo ameaças após tentarem vazar do mundo das drogas. A maioria deles, grandes figurões que forneciam matéria-prima, ajudavam com a fabricação ou distribuição dessas porcarias” Plagg pegou uma cadeira que estava caída no chão e a levantou, colocando-a à frente de uma das mesas de madeira, onde era o local original dela “A gente não lida com gente fina, Ladybug. A nossa base aqui é especializada em proteção pessoal de clientes que queiram se desligar dessa merda toda. O que quer dizer que a gente ajuda a quebrar as peças que fazem a máquina do mundo das drogas girar.”

“A nossa base?” Ladybug abaixou-se juntando as folhas que estavam espalhadas no chão.

“A Miraculous não existe só aqui na França. A gente tá por toda parte. Pela Europa toda.”

Ladybug parou com a mão no ar antes de apanhar uma folha no chão, sentindo os olhos arregalarem. A proporção daquilo era muito maior do que ela imaginava.

“Nós temos pelo menos uma base em cada país da Europa, e cada uma delas lida com um tipo de filha da putagem dessas.”

“Então o Chat Noir...?” ela começou a pergunta devagar, mas não precisou terminar para que Plagg entendesse o que ela queria saber.

“A base original dele é aqui, mas ele foi transferido por bastante tempo para outra base por causa de umas tretas que rolaram por aí.” Plagg juntou o monitor de um dos computadores do chão e colocou de volta sobre a mesa.

“Em outro país?” a curiosidade a fez perguntar.

“Não vou entrar em detalhes nisso. Depois tu pergunta pro loverboy, mas eu não sei se ele vai te contar, joaninha. O cara é um baú trancado.” Plagg tentou juntar algumas folhas do chão, mas a dor do movimento lhe provocou uma careta.

“Larga isso, deixa que eu faço.” ela levantou outra das cadeiras que estava caída “Senta aqui e me conta o resto.” Ladybug ficou surpresa ao ver Plagg sentar obedientemente. Ele parecia exausto.

Ela precisava se ocupar. Andou pelo cômodo desviando dos cacos de vidro e das manchas de sangue enquanto juntava os objetos espalhados pelo local, dividindo as pilhas em coisas quebradas que deveriam ser jogadas fora, coisas avariadas que poderiam ser consertadas e coisas intactas. Se ficasse apenas sentada ouvindo Plagg despejar milhões de informações de uma vez só, tinha certeza que sua cabeça ia explodir, então seguiu se movimentando e preenchendo o sistema organizacional que havia inventado.                        

“Você até que trabalha bastante pra quem vive reclamando.” Plagg comentou em tom de deboche e Ladybug o fuzilou com o olhar.

“E você até que fala bastante pra quem tá meio morto.” ela andou até ele e acertou um tapa no braço machucado, rindo quando ele se encolheu para suportar a dor sem gritar.

“Maldita.” Plagg gemeu, mas lançou um sorriso ameaçador na direção dela “Só espera eu melhorar pra tu ver, vou te cagar a pau.” ele mordeu o piercing no canto da boca.

“Você e mais quem?” ela se inclinou na direção dele com as mãos na cintura e os dois trocaram olhares raivosos até caírem na risada de novo.

“Você é dureza, joaninha. A Tikki sabia o que tava fazendo quando te escolheu.”

“Eu espero que sim.” Ladybug ouviu a voz murmurar e os dois caíram em silêncio, ambos com a imagem dolorosa de Tikki em suas memórias.

Ladybug buscou uma vassoura e começou a juntar os cacos de vidro para um canto. O som era repetitivo, mas ajudou a acalmar o coração e os pensamentos de ambos.

“Plagg, quem fez isso?” Ladybug perguntou, parando de varrer e olhando para Plagg que puxava um cigarro do bolso do casaco e o acendia. Ela viu a ponta do cigarro brilhar quando ele tragou e a fumaça rodopiar no ar à frente dele, formando imagens que se dissiparam.

“Papillon.” a voz rebateu nas paredes, mas era Chat Noir quem respondia, chegando pela entrada de vidros quebrados atrás deles.

“Quem são eles?” Ladybug perguntou, sentindo a mão fechar com força no cabo da vassoura.

“Eles são a maior organização de narcotráfico européia.” Chat respondeu, aproximando-se de Plagg e tirando o cigarro da mão dele, jogando-o no chão e pisando em cima “Não fuma essa merda com a gente aqui.” Ladybug arregalou os olhos com o linguajar dele na direção do moreno, e ficou mais impressionada ainda pelo fato de Plagg não discutir. Viu Chat jogar uma sacola no colo de Plagg e estender a mão na direção dela “Deixa que eu termino de varrer, descansa um pouco.”

“Não, tudo bem, eu prefiro me manter ocupada.” ela justificou com sinceridade, sorrindo sem jeito, e Chat retribuiu o sorriso em compreensão, indo até Plagg e abrindo a sacola, tirando os materiais de curativo de dentro da bolsa.

“A Papillon é a principal fornecedora de narcóticos da Europa.” Chat falava com a testa franzida “A base administrativa deles é aqui na França. Nós já conseguimos destruir várias bases deles em outros países, mas aqui a coisa é diferente.” ele apoiou as duas mãos sobre a mesa e relaxou os ombros, expirando com força “Parece que cada vez que cortamos uma cabeça, duas crescem no lugar.” Chat fitou Ladybug sobre o ombro, sem tirar as mãos da mesa “É por isso que estavam atrás de você.”

“Porque eu estou atrapalhando o plano deles.” ela ia juntando as peças e montando o quebra-cabeça mentalmente.

“Não só atrapalhando.” Chat sorriu com um canto dos lábios, virando o corpo e apoiando o quadril na mesa com os braços cruzados sobre o peito musculoso “Você quase destruiu metade da organização.”

“O quê?” ela arregalou os olhos, escorando a vassoura na parede e andando até eles com os braços abertos “Tem que ter algum engano, eu não fiz nada demais! Eu só escoltei algumas pessoas pra casa e bati em meia dúzia de drogados!” ela sacudia as mãos no ar de um lado para outro.

“Isso que você chama de meia dúzia de drogados era o grupo principal de distribuição de drogas da Papillon, joaninha.” a voz de Plagg soou divertida e ele levou a mão até o bolso, puxando outro cigarro “Você quase destruiu eles.”

“Se você acender outra merda dessas eu vou fazer você engolir isso.” Chat arrancou o cigarro e o isqueiro da mão de Plagg e atirou ambos pela entrada de vidro quebrada na cobertura, vendo-os cair vinte andares abaixo.

“Eu paguei uma fortuna naquele isqueiro!” Plagg gritou, olhando furiosamente para Chat.

“Então compra um mais barato da próxima vez, porque ele vai parar no mesmo lugar!” Chat socou a mesa e se inclinou na direção de Plagg, desafiando-o.

Atrás dos dois, Ladybug estava com a cabeça em outro lugar. Quando Tikki lhe procurara oferecendo o trabalho na Miraculous, havia lhe dito que seria algo arriscado, e ela nunca entendera onde estava o risco em apenas assegurar que algumas pessoas chegassem a salvo em casa. Se Tikki tivesse lhe dito que aquelas pessoas eram figurões do narcotráfico, ela teria recusado o trabalho na mesma hora.

Sentiu o nariz franzir em reprovação. Foi por aquele motivo que Tikki não havia lhe contado toda a história. Sabia que ela não aceitaria o trabalho. E por aquele mesmo motivo, Tikki agora estava em perigo e precisava dela.

“Ladybug.” sentiu algo voar na sua direção e pegou o objeto no ar em reflexo, vendo que era uma maçã “Você não deve ter comido nada ainda.” ele mordeu a maçã na própria mão e puxou uma cadeira, sentando-se ao lado de Plagg.

Ela puxou outra cadeira e sentou de frente para os dois, mordiscando a maçã e juntando na cabeça todas as informações que eles haviam lhe dado. Ainda tinha tanto que ela queria saber, mas não sabia se devia perguntar.

“Pergunta.” a voz de Chat a assustou.

“O quê?” ela sobressaltou-se. Era como se ele tivesse lido seus pensamentos.

“Você está fazendo aquela cara de quem quer perguntar algo.” ele mordeu a maçã enquanto apontava para o rosto dela.

“Q-que cara? Como você sabe?” ela abaixou a mão, sentindo os lábios entreabrirem em surpresa.

“Você é fácil de ler.” Chat fechou os olhos, sorrindo satisfeito.

“Vocês vão me fazer vomitar.” Plagg dizia enquanto mordia um pedaço de queijo.

“Isso daí é queijo?” Ladybug torceu o nariz vendo Plagg mastigar.

“É sim, camembert. Da melhor safra. Por quê? Quer um pedaço?” ele esticou o braço na direção de Ladybug que de longe sentiu o cheiro fermentado do alimento e fez uma careta.

“Que nojo, Plagg.” ela disse.

“Viu? Eu disse que era nojento.” Chat concordou, sacudindo a cabeça.

“Meu paladar é muito refinado pra vocês entenderem.” Plagg fingiu uma expressão esnobe e colocou todo o resto do queijo de uma vez só na boca, mastigando com um sorriso no rosto. Ladybug e Chat Noir fizeram sons de ânsia de vômito.

“Pergunta.” Chat encostou o joelho no dela, inclinando-se após largar o miolo da maçã terminada sobre a mesa atrás dele.

“Você disse que eu era a sua missão.” Ela percebeu que Plagg virou o rosto rapidamente na direção de Chat, com os olhos arregalados e um sorriso debochado despontando nos lábios “O que você quis dizer com isso?” Ladybug notou o rosto de Chat Noir corar sob o olhar divertido de Plagg.

“Você contou mesmo pra ela?” Plagg perguntou, inclinando-se para procurar o olhar de Chat que tentava desviar dele sem sucesso.

“C-contei ora! Ela tinha que saber!” Chat respondeu hesitante.

Plagg deu dois tapas na própria coxa e começou a gargalhar incessantemente, curvando-se para a frente.

“É sério que você contou pra ela?” Plagg perguntou novamente, no meio das gargalhadas, enquanto secava as lágrimas nos cantos dos olhos, e Ladybug começou a se sentir desconfortável com a situação.

“Cala a boca, Plagg!” Chat recriminou-o vendo a reação de Ladybug.

“Tá bem, tá bem!” Plagg levantou-se devagar da cadeira e alongou os braços, suspirando “Vocês podem seguir conversando aí, eu tenho uma coisa pra resolver lá dentro” Ladybug percebeu que Plagg apontou para o banheiro onde estava homem morto e franziu a testa “Não se preocupem, vocês tem o trabalho de vocês e eu tenho o meu.” a voz dele se tornou mais grave e ele se afastou em passos firmes. Parecia um pouco melhor depois do período de descanso.

“Ele que me deu a missão.” Chat estava com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos cruzadas à frente, falando enquanto via Plagg caminhar até o banheiro “Tanto ele quanto Tikki sabiam que a Papillon estava atrás de você, e me chamaram para te proteger.” ele falava seriamente e Ladybug sentiu a testa franzir. “Não só para te proteger” ele se corrigiu, sacudindo a cabeça “Mas também para proteger isso aí.” Chat indicou o ioiô preso na cintura de Ladybug.

“Meu ioiô?” ela ergueu uma sobrancelha, tirando o objeto a cintura.

“Não o ioiô. O que tem dentro dele.” Chat olhou-a por baixo das pálpebras semicerradas, inclinando-se para trás na cadeira.

Ladybug segurou o ioiô nas mãos e tentou lembrar o movimento que Chat fez para abrí-lo. Girou-o algumas vezes, mas não conseguiu sucesso. Percebeu que Chat inclinou-se na sua direção e colocou a mão sobre a dela.

“Posso?” ele perguntou, tocando-a de leve com as pontas dos dedos, com o rosto próximo ao dela.

“Sim.” ela respondeu sentindo um frio na barriga e entregando o ioiô para ele.

“Você gira assim, e assim, e depois empurra um pouco pra baixo.” ele mostrou o movimento murmurando as indicações, e ela sentiu-se hipnotizada pela voz dele “Agora tenta.”

Ela repetiu os movimentos e acertou na primeira vez. Agradeceu-se mentalmente por conseguir prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, ou não teria como explicar que não havia decorado os movimentos porque desejava sentir a voz grave mais perto de seu ouvido.

Ladybu sentiu o metal sob os dedos ceder quando ela girou e pressionou a lateral do objeto, abrindo um compartimento no qual ela notou diversas pequenas cápsulas brancas alocadas em divisões metálicas individuais. Contou onze ao todo, e uma divisão vazia, provavelmente a que Chat havia usado no Sniper.

“Você disse que isso é um antídoto.” Ladybug passou os dedos de leve nas cápsulas, sem retirá-las dali, e fechou o ioiô novamente.

“É. Ele neutraliza o akuma.” Chat respondeu, ajeitando-se na cadeira.

“Papillon, akuma, são muitos nomes pra eu lembrar.” ela gemeu, baixando a cabeça.

“Não precisa se preocupar. Isso vai entrar na sua cabeça naturalmente.” ele explicou.

“O que é esse akuma?” ela ergueu o rosto e percebeu que uma sombra cobriu os olhos verdes.

“É um alucinógeno.” Chat respondeu com um misto de cansaço e dor. Era como se falar naquilo o fizesse sofrer “O mais poderoso já sintetizado até hoje.” ele suspirou e inclinou-se para frente na cadeira, passando a mão nos cabelos por baixo do capuz “A BioSans começou a sintetizar isso há cerca de dez anos atrás como uma medicação para tratamento de doenças que diminuíam a função cognitiva e motora, como o Alzheimer e o Parkinson, mas essa porcaria caiu nas mãos erradas. Agora ela é usada em um composto concentrado pela Papillon pra encher as ruas de gente que faz tudo pra eles sem questionar.”

“BioSans.” Ladybug murmurou para si mesma, colocando a mão sobre o queixo “Eu já ouvi esse nome”

“Ouviu sim. Aquele seu cliente, o Oliver. Ele era subgerente da BioSans.”

Ladybug sentiu as mãos cobrirem a própria boca e as sobrancelhas erguerem em surpresa.

“É aquilo que a droga faz. Ela aumenta a sua capacidade de absorção de informações de uma forma tão absurda que você não consegue filtrar o que é certo ou errado. É como uma lavagem cerebral. Ele provavelmente estava envolvido no primeiro projeto da BioSans e a Papillon pegou ele antes que a Miraculous pudesse ajudar.” Chat confirmou “Não foi sua culpa. Tem vezes que eles são mais rápidos do que os nossos olhos.”

“Mas eu podia ter feito algo!” Ladybug ergueu-se rapidamente da cadeira “Eu poderia ter ajudado ele! Aquela hora que ele saiu da boate ele estava bem! E eu fiquei só olhando!” ela socou a mesa, sentindo o tom de voz perder o controle “Eu não fiz nada, Chat!”

“Ladybug, escuta.” Chat se aproximou e colocou as mãos sobre os ombros dela. Ela conseguia ver o olhar tranquilizados sob a máscara de visão noturna, e desejou ser como ele. Desejou ser forte e controlada. Desejou saber como se comportar diante daquela situação. Porém, tudo que sua cabeça conseguia fazer no momento era perder o controle e procurar algo que pudesse fazer para ser útil.

“Não, Chat! Você não entende!” ela se afastou dele e ergueu os braços em volta “Tudo isso podia ter sido evitado! Se eu soubesse disso tudo antes, se alguém tivesse me contado! Se eu tivesse percebido! Como eu pude ser tão cega!?” ela fechou os punhos ao lado do corpo e sentiu as mãos tremerem em raiva.

Chat Noir relaxou os ombros, vendo a garota à sua frente perder o controle. Ele sabia que aquilo aconteceria. Muita coisa havia acontecido em tão pouco tempo, e ele sabia o quanto ela se cobrava e o quanto se sentia responsável por tudo que acontecia.

“Não, Ladybug.” ele murmurou, sacudindo a cabeça negativamente “Todo mundo sabia que isso aconteceria.”

“O quê?” ela perguntou devagar, erguendo os olhos na direção dele.

“Foi por isso que a Tikki colocou o antídoto dentro do seu ioiô. Foi por isso que eles pediram pra gente ficar juntos. Tanto o Plagg quanto a Tikki sabiam que a Papillon viria atrás deles. Eles sabiam o risco que estavam correndo.” Chat se inclinou na direção de Ladybug e descansou a palma da mão sobre a porção do braço dela próxima ao ombro, acariciando com a ponta do polegar a área costurada do uniforme, olhando fixamente para o ponto reparado com pontos atravessados “Eles sabem o quão longe você é capaz de ir para conseguir o que quer. A Tikki não te contou antes porque achou que as coisas não aconteceriam tão rapidamente, mas a Papillon não esperava que a gente conseguiria neutralizar o Oliver. A Tikki e o Plagg confiam em você, Ladybug.” ele ergueu os olhos verdes para encontrar os dela “ E eu também.”

Ela viu Chat Noir sorrir e sentiu o vento noturno invadir a sala, acariciar seus cabelos e tremular o capuz dele, como se os incentivando a seguir em frente. A não desistir. Ela sentiu um pulso de energia percorrer seu corpo.

“Eu vou achar a Tikki, Chat.” a voz dela soou certeira e segura e o olhar dela carregou um calafrio espinha acima nele “Nem que seja a última coisa que eu faça.”


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Notas finais do capítulo

Eu sei, a cabeça de vocês deve estar a mil com a quantidade de informações, mas tava na hora das coisas começarem a aparecer!
Não se preocupem, vocês vão ter todo o final de semana pra pensar em nas mil teorias que aposto que estão pipocando nas cabeças de vocês! xD
Bom final de semana ♥