Elizabeth acordou passou a mão para o lado da cama e não encontrou Darcy, ela demorou um pouco para se despertar, mas quando o fez lembrou de sua decisão da noite anterior, e levantou para se vestir e procurar Darcy antes que os visitantes chegassem. Ela o encontrou no escritório absorto em papeis, aproximou-se cuidadosamente.

“Darcy, podemos conversar um pouco?” Perguntou ela, de forma hesitante, mas ele não percebeu.

“Claro, mas temos que ser rápidos, os visitantes já devem estar próximos.” Disse ele, saindo de trás da mesa passando para a frente, se apoiou nela e levou as mãos a borda. Elizabeth se aproximou, quase ficando entre suas pernas.

“Você sabe que o amo, não é?” Disse ela, olhando para baixo, ele notou sua hesitação e levou as mãos ao rosto dela e o levantou para encara-lo.

“Eu sei.” Então beijou sua testa de forma protetora e ela conseguiu foças para falar.

“Preciso lhe contar algo, um segredo que da minha família apenas Jane, meu pai e eu compartilhamos.” Ela olhava os olhos dele com intensidade, Darcy escutava com atenção. “Entenda, eu não queria que esse segredo retirasse meus méritos, aqueles que lutei para conseguir sozinha, sem um nome para me esconder na sombra, se você passou a me amar foi por mim e não quero que minha história interfira nisso.” Darcy se assustava para o rumo que a conversa tomava, apesar de não notar, ele pretendia fugir da discussão que parecia que ia levar a uma revelação ruim.

Quando Elizabeth parou para analisar as feições de Darcy, ouviram uma batida na porta. “Mr. Darcy, os visitantes chegaram.” Disse a criada do outro lado da porta.

“Devemos ir, depois podemos terminar essa conversa.” Disse Darcy, beijando o canto da boca de Lizzy, aliviado por ter mais tempo de se preparar para a conversa que teria com a esposa, enquanto ela murchava por ter que reunir forças mais tarde para explicar.

Estavam indo a sala de visitas quando se encontraram com Jane e Bingley no caminho, eles pararam quando se viram. “Bingley, não o vejo desde que partiu, espero que tenha feito uma boa viagem.” Disse Elizabeth, com sincera cordialidade, Bingley era o marido de sua irmã e o único cunhado que gostava, depois que conseguiu perdoa-lo pela tolices do passado, ele se tornou algo como irmão, ela o cumprimentou com um leve abraço, o que o intimidou, mas que começava a se acostumar e se sentir acolhido.

“Chegamos tarde, não havia motivos para perturba-la.” Disse Bingley, pegando a mão de Jane, e retomaram o caminho para conhecer os visitantes que já estavam na presença de Georgiana.

Quando as antigas Bennet’s avistaram os homens congelaram no lugar, eram belos e ninguém diria que eram pai e filho, elegantes, fortes, com olhos brilhantes que eram uma de suas diferenças mais marcantes, eles estavam de pé e com um lobo branco dos olhos azuis em ao lado do mais novo que devia ter 18 anos, Georgiana estava sentada, mas para as mulheres se via o fascínio pelos visitantes em seus olhos claros. Darcy notou a parada abrupta da esposa e virou-se para olha-la no rosto, ela estava com os olhos arregalados, respiração suspensa, e boca entreaberta, sua irmã espelhava suas feições.

Os movimentos da sala pararam por alguns segundos, só reiniciou quando o grande lobo correu e pulou em cima de Elizabeth e essa caiu no chão, todos se assustaram, mas o mais assustador foi a risada que se irrompeu de Elizabeth que foi acompanhada pelos visitantes e Jane, que sentou-se no chão ao lado da irmã e começou a passar as mãos sobre os pelos do lobo branco. “Winter, já chega. Eu também estou feliz em vê-lo.” Disse Elizabeth afastando o animal que a lambia para longe, ele parou quando o mais novo dos homens se aproximou e deu a mão a Lizzy.

“O que está acontecendo? Seu animal acabou de atacar minha esposa, e como podem rir disso? Como você pode rir disso?” Disse Darcy, com preocupação e raiva, virando-se para Elizabeth na última pergunta.

“Acho que devo ser responsável pelas explicações de agora em diante, meu filho complicaria mais as coisa.” Disse o mais velho se aproximando e tomando a mão de Jane para ajudar a levanta-la, quando de pé ele plantou um beijo em sua bochecha e virou-se para fazer o mesmo em Lizzy. “Conhecemos essas jovens desde muito tempo, sou um conde e um conselheiro do parlamento britânico, o que faz de mim muito influente e essas moças foram entregues a minha guarda, para cria-las como minhas filhas.” Completou ele, sua fala assustando os maridos, tanto quanto Georgiana.

“Acredito que seria melhor todos nos sentarmos, as revelações futuras podem ser um pouco confusas para aqueles que as desconhecem.” Disse o mais jovem, pegando a mão de Elizabeth caminharam até o sofá, o senhor imitou a ação do filho levando Jane para se sentar ao lado da irmã, os maridos os seguiram e sentaram-se no sofá a frente, enquanto os visitantes se posicionavam em pé atrás do sofá das moças, o mais jovem colocou a mão no ombro de Elizabeth, mas ela não notou, não conseguia tirar os olhos de Darcy e agonizar por não ter se mantido no escritório até terminar de contar toda a verdade. Com a visão da mão do homem no ombro de sua esposa, os sentidos de Darcy nublaram, seus olhos desfocaram e ele sentiu um nó na garganta, ele não entendeu o que sentia.

“Como existe uma jovem que nos desconhece começaremos com apresentações, eu sou o Conde Austen Wolff e esse é meu filho Edward Wolff, como já disse conhecemos as mais velhas das irmãs Bennet a muito tempo, acredito que você Elizabeth tinha 8 anos quando nos conhecemos, certo? Jane tinha 9 e Edward tinha 5.” Ele falava como se contasse uma história de pesca e não como se revelasse a parte fundamental da vida de duas jovens. Darcy escutava com atenção, observando Elizabeth que brincava com o lobo, Winter colocava as patas da frente em seu colo, e todos estavam alheios aos olhares fixos de Edward e Georgiana, que envergonhada abaixou os olhos para as mãos em seu colo.

“Meu pai, Mr. Bennet, havia ido a trabalho em Londres e levou Lizzy e eu, lá nos conhecemos Edward, o garotinho mais doce que alguém poderia conhecer, e logo nos conectamos, nós brincamos durante todos os dias que nosso pai passou trabalhando para o Conde Austen e no dia de irmos embora Edward não queria deixar.” Explicou Jane, com um sorrisinho brincando em seu rosto. “Mr. Wolff convenceu meu pai de que seria nosso guardião, e assim fomos deixadas aos seus cuidados até os 16 anos de Lizzy e os meus 17 anos. Ainda mantivemos contato e eles foram convidados a nosso casamento, mas infelizmente devemos manter segredo sobre nossa interação, Edward é um irmão mais novo tanto para Lizzy quanto para mim.”

“Oh, minha querida você sempre consegue suavizar uma história com tantos infortúnios. Mas, tenho certeza que suas esposas podem contar os detalhes que quiserem, de qualquer modo nossos vínculos devem se manter nas sombras para a sociedade, claro que agora podemos ser conhecidos.” Disse Austen.

“De qualquer forma é tão bom vê-los.” Disse Elizabeth, se levantando e contornando o sofá, passou os braços pelo pescoço de Edward e o abraçou com força, o outro retribuiu passando os braços na cintura dela e beijando sua bochecha, Darcy sentiu seu corpo frio e algo como um vazio em seu peito, uma angustia nunca antes sentida. Jane imitou as ações da irmã de forma mais contida e delicada com Conde Austen, mas diferente de Darcy, o sentimento de angustia em Bingley não aflorou com tanta força, pois era de sua natureza confiar e evitar conflitos.

Elizabeth abraçou Conde Austen com a mesma intensidade e foi tomar seu lugar ao lado de Darcy, discretamente segurou a mão dele, ele se desvencilhou do toque levando suas mãos a costa e adotando uma postura rígida, ela teve uma lembrança nostálgica do baile em que se conheceram e sentiu-se de novo na posição de alguém incapaz de tentar Mr. Darcy. O lobo Winter foi em direção a Georgiana que estava em pé, sorrindo para a cena que em seus olhos era o reencontro de um pai com suas filhas e um irmão com suas irmãs, Winter se esfregou nas pernas da menina que se abaixou e passou as mãos pelo seu pelo branco, ela não notou quando Edward se aproximou.

“Impressionante, ele geralmente não é gentil com ninguém que não considera de bom caráter, e só obedece a pessoas da família Wolff.” Disse Edward sorrindo de lado admirado como o animal se entregava as caricias das mãos de Georgiana. “Não acredito, senhor, que esse belo animal consiga ser descortês com alguém, parece tão amável e brincalhão, já que derrubou Lizzy sem dó quando chegou.” Disse ela, reunindo todas as forças que tinha para espantar a timidez e falar o que pensava, assim como Lizzy a tinha dito.

Edward sorriu, ela ainda não conseguia encarar seus olhos e encarava o lobo com um sorriso doce, ele se abaixou para passar a mão no lobo “Isso porque Lizzy é um de seus donos, ela deveria ter adotado o nome Wolff a muito tempo.” Disse ele, Darcy não prestava atenção a conversa e nem ao clima que os rodeava, mas ouviu a última fala de Edward e entendeu que o rapaz já havia cortejado sua esposa e acreditou que ela portaria seu nome e legado, isso o fez se sentir estranho, como se seu corpo fosse inundado por sensações venenosas e seu orgulho ferido.