Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 13
Da Árvore Incandescente à Árvore Chorona.


Notas iniciais do capítulo

Os nossos quatro bruxinhos, Tião, Nicko, Allpa e Ceci, finalmente entraram para Castelobruxo. Agora eles precisam se adaptar as condições diferentes dos demais alunos e isso vai ser um tanto quanto complicado no inicio. Mas o mais empolgante será conhecer o dormitório dos “sem tribo”, pois há algo especial lá que fará todos se encantarem.



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Diretora Orumã então disse aos quatro jovens.

— Bem. Então creio que devam por suas vestes para irem pro banquete de boas vindas o quanto antes.

— Desculpa diretora – disse Tião um tanto quanto encabulado – mas eu acabei deixando a minha mala e a do Nickolai na barca do Boto Maroto.

—  Eu já fui comunicada sobre elas, não se preocupe meu jovem.

Disse a diretora que se direcionou em meio a aquela pequena festa de comemorações até um espelho na parede, com uma moldura de madeira rústica e disse:

— Zelador Astúcio, por favor!

E o espelho nublou o reflexo da diretora e do ambiente atrás dela e de repente, apareceu uma sala que mais parecia um armário de vassouras, mas não pense em algo desorganizado, escuro e sujo, ao contrário. Era arrumado, limpo e organizado, mas um pouco escuro de fato.

— Zelador Astúcio? – disse a Diretora e todos se silenciavam enquanto ela usava o espelhofone. Uma tecnologia bruxa promissora usada para comunicação a longas distâncias, umas vez que bolas de cristal tinham muitas interferências.

— Sim – respondeu o topo da cabeça de um homem semi calvo, com uma voz rachada, mas doce. Logo após, esse topo de cabeça se ergueu, aparentemente subindo em algo para ficar na altura e visível na imagem do espelhofone.

Era um homem consideravelmente baixinho, meio calvo, narigudo e suas orelhas eram levemente pontiagudas. Seus cabelos meio arrepiados e seus dedos um pouco longos, perceptíveis ao ele tentar ajeitar sua cabeleira bagunçada, sem muito sucesso.

— Por favor, designe que um elfo traga as malas dos jovens bruxos, encontradas no Boto Maroto mais cedo com a chegada dos alunos, para minha sala por favoleza.

— Sim senhora – disse ele prestativo – elas já chegarão aí.

— Obrigada!

Agradeceu ela, logo após o espelho retornando a seu estado reflexivo normal. Em questão de segundos as malas aparataram magicamente em sua sala. Os jovens meninos reconheceram suas malas e ela disse.

— Vamos, ponham suas vestes logo e vamos para o salão da Andurá comemorar o novo ano letivo que se inicia – disse a diretora rindo.

— Assim como lo inicio del outono brujo – disse o professor Madeira sorridente e com os olhos semicerrados ao sorrir.

Os garotos colocaram suas vestes, fecharam suas malas mais uma vez e então diretora Orumã pediu ao professor Olívio para que levasse as malas dos jovens garotos para os seus futuros aposentos na sala chorona. Os pais dos jovens, por sua vez, se despediram dos mesmos desejando-lhes boa sorte no ano letivo e partiram, pois diretora Orumã havia permitido que o Boto Maroto os levasse de volta para o porto de Vila Verde. Enquanto ela e os demais professores retornavam para o banquete no salão da Andurá junto aos quatro jovens alunos e suas respectivas mascotes a tiracolo.

Chegando por uma das muitas entradas do salão, uma lateral, sem ser a grande e principal porta que dava de frente ao lago da boiúna. Antes deles se desvencilharem, professora Nadanna indagou a diretora Orumã sobre uma questão.

— Diretora Iracema. Onde esses jovens irão se sentar?

Era uma boa pergunta, pois, o salão de Andurá era toda a parte interior e oca da pirâmide maior e essa ainda aprofundava-se alguns metros no solo. No centro dela estava uma imensa árvore da altura de um prédio de seis andares, essa era a Andurá. Era uma árvore gigantesca, esgalhada com galhos que cobriam quase todo o espaço superior da pirâmide, que era imenso. Seus galhos cobriam o espaço superior quase por completo, mas não possuíam folha alguma. Seu tronco era bem grosso e meio tortuoso, como um grupo de troncos que cresceram se entrelaçando e formando a árvore. Se notado, eram quatro aparentes troncos que cresceram em espiral e um deles parecia ser pouco menor que os outros de forma bem sutil. Suas raízes por sua vez cresciam imensas, subindo e descendo no chão, entrando e saindo do solo por todo o piso do lugar e curiosamente faziam quatro espaços, neste caso, as maiores e mais grossas raízes subdividiam a parte baixa do salão em quatro ambientes quase que do mesmo tamanho e dentro deles haviam várias mesas, de tamanhos e formas diversas. A mesa dos professores ficava ao fundo, numa parte alta com visibilidade a todos quatro subespaços. Cada um desses espaços pertencia a uma tribo, de forma que todos se viam e podiam interagir entre eles, mas cada espaço possuía mesas com toalhas nas cores de sua tribo, definindo bem que cada espaço era área de uma tribo diferente.

Dessa forma a indagação de professora Adanna era pertinente, “onde os garotos se sentariam?”.

— Eu já havia pensado nisso professora – disse diretora Orumã.

Entre o salão com as raízes de Andurá e patamar da mesa dos professores, havia uma sacada, feita naturalmente pelas raízes da árvore. Essa era grande o suficiente para caber uma mesa com oito cadeiras talvez, mas não havia escada ou acesso até ela, que ficava a uns dois metros de altura do chão.

— Professor Madeira – perguntou a Diretora Orumã em um tom alto para que o professor hippie e de dreads a ouvisse – pode providenciar as sementes que lhe pedi enquanto íamos para minha sala mais cedo?

— Sí. Ahora! – disse ele pegando sua varinha que parecia um galho verde e vivo e este usou um feitiço – Accio sementes de trepedadeiras preguiçosas.

Em questão de alguns poucos minutos, chamando certa atenção, um pequeno pacote de sementes surgiu voando e parou nas mãos do professor Madeira.

— Nas mãos minha diretora – disse o professor.

— Seria capaz de fazer o que conversamos nessa mesma conversa? - disse a diretora a ele.

— Claro que sí – disse ele risonho com seu jeito peculiar de sorrir – creio que sei do que la diretora planeja.

— Que bom meu rapaz – disse ela sorrindo.

O Professor Madeira abriu o pequeno pacote, colocou as sementes no chão. Seis sementes verdes pintadas de preto aproximadamente do tamanho de jujubas e usou um feitiço nelas.

— Herbivíctus Escalávia!

E as sementes entraram no chão e logo após, começaram a brotar pequenos brotos rapidamente e estes pareciam buscar algum lugar para se segurar como tentáculos desesperados. E foram crescendo e tomando a forma de trepadeiras e estas foram crescendo e ficando maiores, mais grossas e mais resistentes. Logo elas começaram a formar algo similar a uma rampa ou escada, até este patamar que ficava entre a mesa dos professores e os demais alunos. Assim que tocou a raiz que moldava o local, ela foi engrossando e se entrelaçando e em poucos minutos havia formado uma espécie de escada acesso ao local. Diretora Orumã então apontou para uma mesa vazia de uma das áreas próximas e usou um feitiço fazendo a mesa sobrevoar o espaço, chamando atenção de todos mais que ainda não tinham notado os ocorridos, criando certo alvoroço. A mesa, seguida de cadeiras, pousou sobre o local girando, fazendo voar inúmeras folhas secas caídas no lugar. Finalmente, diretora Orumã pediu a professora Ariel que mudasse a toalha da mesa:

— Professora Ariel, por favoleza, poderia mudar essa toalha da tribo Uiratatá para a cor branca dos alunos sem tribo?

— Com certeza – disse Professora Ariel apontando sua varinha e fazendo a toalha girar no ar mudando sua cor amarela laranja para branco com ramos verdes.

Diretora Orumã olhou para os jovens e disse:

— Por favor meus jovens alunos, sigam até a sua mesa.

Eles subiram junto a alguns professores, seguido dos olhares de vários alunos curiosos próximos. A sacada era feita pela raiz que dividia o espaço da tribo Uiratatá e Curupira e preenchida de terra normalmente. A escada feita da trepadeira preguiçosa subia até lá, com corrimão e tudo mais, que se estendeu criando um guardacorpo para a sacada, que possuía algumas folhas vedes escuras. Ao chegarem, professor madeira deu o toque final, fazendo brotar na parede do fundo, que dava para a parte superior onde ficava a mesa dos professores, cogumelos luminosos.

— Afinal, las raízes destes danadinhos estan em todo lado – disse professor madeira sorrindo.

— Explendacular professor Eloísio Madeira! – disse Diretora Orumã batendo palmas já no alto, sobre os garotos, que viam os professores de baixo para cima de muito perto, no local onde ficava a mesa dos professores. Ela então se aproximou e disse:

— Tenho os comunicados primários a fazer a todos, como todo ano eu faço, por favor, todos voltem a suas mesas.

Todos retornaram as suas mesas num reboliço grandioso, comentando, cochichando e tentando entender quem eram aqueles quatro alunos com vestes de iniciantes sem as cores de uma das tribos. Os professores se juntaram a diretora no alto, em sua mesa de professores e ela finalmente discursou com voz de megafone.

— Finalmente, não crendo que serei interrompida novamente – olhou para os jovens garotos – posso dar boas vindas a todos os alunos, novos e antigos de Castelobruxo! – e todos aplaudiram empolgadamente – Será um belo ano como todos os outros, tenho certeza disso. Este ano teremos o plano de intercambio com alunos de outras escolas, além das demais atividades corriqueiras de Castelobruxo, como nossa gincana bruxa. Antes que alguém pergunte sobre quem seriam esses jovenzinhos aqui com vestes virgens. Estes são quatro alunos retardatários, que junto a seus pais invadiram Castelobruxo e quase foram mortos por nosso querido guardião do lago, o boiúna. Sei que devem estar indagando “mas como alunos atrasados conseguiram entrar para Castelobruxo?”. Respondo: Eles serão um teste de tolerância e aprendizado para casos similares futuros, logo, tudo que fizerem, e fiquem atentos a isso – disse olhando para os jovens – será levado em consideração. Se por acaso conseguirem chegar até o final deste ano letivo de forma tranquila e aprobatória, eles ingressarão no ano letivo seguinte em tribos como todos alunos aqui presentes, passando pela cerimônia de seleção da Andurá. Por isso, nunca se esqueçam de que vocês estarão em observação jovens Sebastião, Nickolai, Allpa e Ceci.

Os quatro jovens ficaram extremamente encabulados, ainda mais que estavam quase que em um pedestal de amostra, de agora e até o final do ano letivo. Abaixavam seus rostos o máximo que podiam tentando esconder seus semblantes envergonhados dos demais alunos, uma vez que todos já sabiam seus nomes. A diretora Orumã prosseguiu:

— E não se envergonhem jovens – disse ela a eles num tom de voz mais amigável e risonho – vocês poderão ser um marco na história desse Castelo e creio eu que farão grandes coisas se esforçarem-se, dedicarem-se e se mantiverem unidos como me mostraram estar essa noite, fieis uns aos outros. Enfim, nosso zelador Astúcio Humperchant “E” Souza, continua sendo nosso fiel responsável pela manutenção e administração das instalações do Castelobruxo. Não se assustem se acaso avistarem algum tatu canastra perambulando pelos corredores, são os belos mascotes e auxiliares de nosso zelador. Claro, não zombem de nossos membros do corpo docente e da instituição, ou de colegas alunos por serem diferentes. Houveram expulsões devido a esse comportamento inaceitável e continuarão havendo se assim for necessário. Somos todos uma instituição formada de bruxos dos mais diversos tipos e nenhum é melhor ou superior ao outro, entendido? Nossos professores, estes aqui atrás de mim, conhecerão em suas respectivas aulas, isso referente aos alunos do primeiro ano – dentre eles havia uma professora que era difícil de não se notar, era uma criatura diferente, pois não era humana, nesse caso era um centauro, meio humana e meio equina, além dos quatro professores chefes das tribos que eles já conheceram e alguns outros mais, junto a professor Olívio que não se encontrava presente, pois estava organizando os aposentos deles na tal sala chorona, que ainda era um mistério – Os limites do Castelobruxo são claros e se resumem aos jardins da Amazônia. Saberão quando estes acabarem, por isso não ultrapassem os limites. Os caiporas estão autorizados a pegarem qualquer um que saia sem autorização desses limites e não adianta dar erva enfeitiçada para eles fumarem, eles aprenderam no ultimo feito dos Silva e Silva – olhou ela para um grupo de alunos dos mais diversos tipos, anos e tribos - a diferença das ervas. Caso algum aluno tente enganá-los, tenham certeza de que eles estão autorizados a fazerem coisas que eu não ousaria falar diante de uma refeição – disse ela num tom macabro e assustador - e creio que todos os pais estão cientes que não nos responsabilizamos caso algum aluno fujão ou desobediente seja devorado por qualquer criatura aos arredores de Castelobruxo. Sabemos que o acontecimento com boiúna hoje foi uma exceção, pois este é dócil e amigável, e estava apenas cumprindo seu papel de guardião do lago. Por isso, está liberado o banho no lago a todos os alunos nos finais de semana e feriados. Exceto a noite, dai não me responsabilizo pelo comportamento de boiúna. Falando em mascotes, sabem a política de bom comportamento das mascotes no salão de Andurá. Caso alguma mascote se desentenda e cause algum transtorno, essa ficará proibida de vir até aqui por tempo indeterminado. No demais, não creio que exista nada mais a ser tratado e se caso houver, pois minha memoria não está lá como era há... Alguns anos atrás – riu ela -, comunico a todos por seus chefes de tribo e monitores. Sem mais delongas, bom apetite novamente.

Todos finalmente voltaram a conversar e comer em suas mesas, mas seus olhares estavam centrados aos quatro garotos na mesa em destaque e estes começaram a conversar baixo, pois apesar de estarem bem próximos dos professores, havia uma distância considerável que davam a eles certa privacidade.

— Tenho certeza que ela fez isso de proposito – disse Nicko se enfiando na cadeira ao observar algumas garotas do primeiro ano de Uiratatá e Curupira olharem para eles – dizer nossos nomes perante toda escola e nos colocar aqui em frente, a frente de todos. Foi uma forma de nos castigar.

— E se foi, foi muito bem feito – disse Ceci – nós brincamos com as regras da escola, nós arriscamos nosso futuro bruxo e tivemos muita sorte de estarmos aqui ainda.

— Acho bem bacana até estarmos aqui – disse Allpa sorrindo e acenando para pessoas que olhavam para eles, algumas riam dela e outras desviavam o olhar – ficamos num lugar especial e privilegiado, próximo aos professores e podemos ver toda escola daqui.

— E toda escola também pode nos ver daqui. Não vejo isso como privilégio – disse Nicko colocando o capuz da veste verde clara brilhante, tentando esconder o rosto.

— Não adianta se esconder Nicko – disse Tião observando – todo os alunos de tribos possuem os ramos com folhas coloridas na cor da tribo deles em suas vestes e já nós, somos os únicos com vestes com ramos brancos ainda é sem folhas. Seremos notados em todos os cantos o ano todo. Agora é esperar isso passar e deixarmos de ser novidade.

— Acho que nunca deixaremos de ser novidade e estranhos pra eles – disse Ceci observando alguns olhares reprobatórios de alunos mais velhos de todas as casas, principalmente da de Anhangá.

— Pessoal, pense positivo. Nós ficamos juntos e não estamos sozinhos. Seremos amigos e poderemos fazer companhia uns para os outros – disse Allpa carinhosamente.

— Por sorte alunos de primeiro ano não jogam quadribol na gincana bruxo mesmo – disse Nicko mal humorado agora dando de ombros.

— Talvez você não jogue ano que vem também ou nunca, porque quem vai permitir quem um aluno que passou um ano inteiro como “sem tribo” entre para o time? – disse Ceci estragando os planos de Nicko.

— Nem ouse brincar com isso – disse ele um tanto nervoso em pensar nisso.

— Acho que Allpa tem razão – disse Tião sendo otimista – estamos juntos e assim poderemos nos apoiar e ajudar caso alguém queira implicar com o fato de sermos diferentes.

Magicamente surgiu comida sobre a mesa deles e ao olharem para cima viram professora Nadanna no guarda corpo da sacada dos professores sorrir para eles com a varinha estendida.

— Quem bom – disse Nicko eufórico – eu estou faminto.

— Faminto e meio – disse Tião também.

Todos os quatro garotos começaram a comer e tentaram não prestar atenção nos olhares a sua volta. Ceci e Allpa deram comida a suas mascotes familiares e esses continuaram conversando ali por algum tempo. Finalmente professor Olívio chegou até eles, que não aguentavam mais comer e olhar apenas para o centro da mesa. Ele subiu até a pequena sacada onde a mesa dos garotos estava e disse:

— Belo lugar esse que improvisaram para vocês. Acredito que ficou até melhor do que eu imaginária.

— Foi um feito de Diretora Orumã, o Professor de Cabelo engraçado e a Professora loira bonita – disse Tião para ele, tentando ser simpático.

— Imaginei quando vi os cogumelos e a escada de trepadeira – riu professor Olívio parecendo um pouco mais amistoso que anteriormente – bom acho que a sala comunal de vocês está pronta, se já tiverem comido o suficiente, posso levar vocês até lá.

Mas passar em meio a todos aqueles alunos seria um tanto quanto vergonhoso e todos se entreolharam e pareceu que todos pensavam a mesma coisa, então disseram:

— Eu ainda estou com fome, se quiserem ir, podem ir, eu vou logo após – falou Nickolai de boca cheia, forçando-se a comer mais um pedaço de frango assado.

— Eu espero você então Nicko – disse Tião sorrindo sem graça.

— Se vocês ficarem, eu também fico. Não quero fazer o professor ter de ir levar alunos que já chegaram atrasados duas vezes aos seus aposentos – disse Ceci usando os amigos como desculpa pelo mesmo motivo.

— Eu poderia ir agora, estou satisfeita, mas já que todos vão depois, eu aguardo aqui com vocês – e sorriu Allpa para professor Olívio, que sorriu ao perceber que eles estavam com vergonha de irem agora.

— Tudo bem garotos – disse ele risonho – quando quiserem ir me avisem que estarei logo ali em cima, tudo bem?

E eles responderam que sim com a cabeça. Horas se passaram e o número de alunos foi diminuindo. Os alunos do primeiro ano de cada tribo foram levados a seus aposentos por seus monitores. Os alunos mais velhos, alguns apenas conversando e colocando a conversa das férias em dia, permaneceram, enquanto outros ficaram simplesmente para olhar os garotos de mais perto. Finalmente eles estavam exaustos e o professor Olívio percebeu e foi até eles e disse:

— Acho que já está vazio suficiente e podemos ir.

— E quem disse que era por esse motivo que não fomos ainda? Han! – disse Nicko que se endireitou rapidamente, pois já estava debruçado sobre a mesa quase babando.

— Não adianta mentir Nicko, todos sabem que ficamos até agora por isso, inclusive eles – apontou Tião para um grupo de alunos de Anhangá com cara de almofadinhas e davam risadas e arqueavam as sobrancelhas ao olharem eles, com uma feição clara de repudio e desdém – tem como não passarmos por eles?

— Têm sim, na verdade o caminho que irão fazer só nós professores fazemos habitualmente então, será mais tranquilo para vocês neste inicio um pouco conturbado – dizia professor Olívio com um soque gostoso e suave de nordestino.

Eles se levantaram e seguiram o professor. Eles desceram a escada de trepadeiras e entraram na primeira porta ali em baixo, que estava ao lado da escada que descia do patamar dos professores. Seguiram um corredor largo e bonito. Iluminado pelos cogumelos, cristais brilhantes de luz própria e velas que flutuavam ou estavam no chão, bem derretidas. As vezes eles passavam por janelas, sem vidro, apenas aberturas que davam para mata, visivelmente davam para trechos de relevo baixo, como valas ou pequenos vales no meio da floresta. Curvaram primeiro para direita, depois para esquerda, seguiram reto por um longo percurso passando por varias entradas e finalmente chegaram ao final, num portal de pedra largo, fechado por raízes.

— Pronto chegamos – disse professor Olívio – vejam bem, existe uma senha para dar acesso a sala chorona, então precisam aprender exatamente o que vou dizer.

— Sim. Estamos atentos professor – disse Ceci seria observando.

Professor Olívio então começou a cantar uma canção:

— “Quando olhei a terra ardendo, como fogueira de são João, eu perguntei, a Deus do céu ai, porque tamanha judiação?” – cantou o professor com a voz mais melódica e triste que eles já ouviram e as raízes se abriram como em uma cortina, dando passagem para uma sala redonda com uma grande árvore, não tão grande quanto a Andurá, mas bem robusta e no centro do lugar.

Eles entraram e viram o lugar, que era grande e bonito, apesar de ter a aparência de abandonado. Havia alguns moveis velhos e rústicos, visivelmente descobertos recentemente. Era claramente um ambiente social, havia uma lareira e um espelho velho e manchado. Estava iluminado pelas luzes brancas dos cogumelos e cristais, além de algumas velas, mas também era banhado pelo luar que entrava de uma abertura consideravelmente grande no teto alto em formato circular, bem sobre a árvore. A árvore era uma espécie similar a Andurá, bem esgalhada e de poucas folhas. Era um Salgueiro chorão, mas com menos folhas que o normal. Suas raízes haviam quebrado o chão do lugar e ao redor dele, havia um pequeno canal que corria um pequeno fio de água. Esse vinha da parede ao leste, saído de uma pequena abertura, circulava num circulo perfeito a árvore, porem quebrado pelas raízes da planta e seguia para oeste e sumia na parede novamente num pequeno orifício quadrado. Dos galhos do salgueiro chorão, pendiam galhos de folhas pequenas em ramos, que caiam do alto até quase o chão. Por isso os salgueiros chorões são chamados assim, por suas ramas de folhas caírem como se fossem lagrimas, mas não era por isso que esse tipo de salgueiro chorão era chamado assim.

Assim que entraram em meio ao tronco da árvore, que lembrava um rosto um pouco desforme, dois orifícios que simulariam os olhos fechados, abriram-se e de repente a árvore começou a chorar. Sua feição começou a se mexer e a árvore a chorar e A emitir o som do choro de uma criatura grande e de voz grossa, soluçando e mexendo todos os galhos e ramos de folhas pendentes quando soluçava. Professor Olívio disse a eles:

— A senha de entrada é uma canção triste, não apenas essa, mas qualquer canção emotiva, mas precisa ser de coração, se não o Chorão não deixará vocês entrarem e saibam que árvores sabem quando estão dizendo a verdade e sendo sinceros.

A árvore chorava como criança e minava seiva de seus supostos olhos ocos e por isso Professor Olívio foi até a árvore, acariciou seu tronco e disse:

— Se aperreie não chorão! É apenas a senha para entrar na sala. Não pode chorar sempre que alguém cantar uma música triste, afinal agora terão alunos aqui, eu te disse isso.

— Eu saber – disse a árvore soluçando – mas você cantar bonito Olívio.

Os garotos ficaram impressionados, afinal a árvore falava, não apenas chorava ou se mexia, mas falava similar a voz da porta da sala da diretora Orumã. Era maravilhoso e ao mesmo tempo assustador. Então Allpa colocou Amarillo no chão, foi até a árvore e o professor Olívio fez menção de impedir a garota de se aproximar da árvore. Mas essa foi mais rápida e simplesmente abraçou a árvore, que parou os soluços e torceu seu tronco para ver quem o abraçava.

— Cuidado – disse o professor – chorão é um pouco traumatizado e aceitou não fazer nada com vocês, mas acho melhor evitar contato com ele, às vezes ele fica meio descontrolado quando chora.

Mas Allpa não pareceu o ouvir e disse:

— Essa música também me deixa muy triste chorão – e a garota deixava correr uma lagrima em seu rosto, que tocou o tronco da árvore que pareceu sentir aquilo.

O semblante da árvore pareceu sorrir, enquanto corria seiva de seus orifícios similares a olhos e ela disse:

— Se você não chorar. Eu prometer não chorar.

— Tudo bem então – disse a garota soltando-o do abraço e sorrindo, secando sua lagrima e secando a seiva colenta de chorão.

Ela então deu um beijo no tronco, enquanto Amarillo acariciava seu corpo como todo gato fazia em suas raízes. E dai ela pegou seu gato e se distanciou.

— Está tudo bem chorão? – perguntou Olívio surpreso num misto de tocado com apreensivo.

— Eu estar bem, melhor que nunca estive. Posso dormir em tranquilo agora – disse a árvore sorrindo e voltando a estagnar a sua feição no tronco como uma feição de sorriso. Voltando a ficar parada como uma árvore comum.

— Acho que essa escolha de deixa-los aqui foi a melhor escolha já feita pela diretora Orumã – disse o professor – bem, agora vejam, aquela porta ali, dá para os aposentos dos meninos e aquela ali, para os aposentos das meninas. Suas malas já estão em seus aposentos. Verão que tem apenas uma porta para um único quarto. Essa sala é uma sala mágica e de acordo com o número de pessoas necessitando habitar aqui, ele cria mais aposentos. Como nas outras tribos, vocês ficarão juntos no mesmo quarto. Meninos em um e meninas no outro. Poderão estudar juntos e conversar aqui na sala comum. Mas peço que tomem cuidado com as conversas e barulhos, para não incomodar Chorão, tudo bem?

E eles acenaram que sim com a cabeça. Então professor Olívio se despediu:

— Estão entregues, as aulas começam amanhã excepcionalmente as sete da manhã, nos demais dias as oito da manhã. Estejam no salão da Andurá mais cedo para o desjejum. Espero que tenham uma boa noite e qualquer duvida ou necessidade me procurem. Pois o dia de vocês parece ter sido bem cheio de emoções.

— Onde te procuramos? – perguntou Ceci.

— Ou como? – perguntou Tião.

— Como seria a pergunta – sorriu o professor – Veem aquele espelho, caso necessitem, digam meu nome e eu aparecerei lá se estiver disponível. Saibam que aquele espelhofone, só funciona com link direto com seu professor chefe em primeiro momento, podendo haver novos contatos desbloqueados. Mas poderão haver comunicados gerais da Diretora ou outros professores através dele. Entenderam?

— Sim – disseram todos.

— Então bom descanso e até amanhã! Tchau meu amigo Chorão.

Mas a árvore não se mexeu, além das raízes que abriram para o professor passar e se fecharam novamente após sua passagem. Os quatro sentaram nas cadeiras próximas a lareira apagada, uma vez que estava muito calor e finalmente puderam relaxar.

— Acabou o primeiro dia – disse Nicko.

— Na verdade nem começou – disse Tião – vai ser amanhã.

— Junto com todos os outros alunos do primeiro ano, de perto – disse Ceci um pouco desanimada com a ideia.

— Estou bem feliz de estar aqui, né Amarillo? – disse Allpa beijando a barriga seu gato que fez cara de gostar do carinho – acho que seremos bem felizes aqui com chorão.

Por mais que a ironia de dizer felizes com chorão fosse grande, eles todos estavam aliviados e contentes de terem conseguido finalmente chegar a Castelobruxo.


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