Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 14
Os Diferentes Se Entendem Rumo a Aula de Feitiços.


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o primeiro dia de Aula chegou. Todos estão ansiosos por começar o ano letivo de fato e poderem começar o processo de se tornarem Bruxos. Mas eles irão descobrir que não será tão fácil como imaginavam e que nem todos os bruxos são bons e solícitos, sendo que alguns estão dispostos a atrapalhar. Não só a vida deles, como a vida de qualquer um que se destaque de alguma forma, ainda mais se for de forma bem grande e significativa.



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Todos estavam cansados e logo foram dormir em seus novos aposentos. Os quartos não possuíam janelas, pois o andar em que estavam era subterrâneo, mas havia um quadro grande que imitava uma janela  e nele estava pintado uma paisagem de floresta ao anoitecer que se movia suavemente. Era um quarto com mobílias antigas, mas bem conservadas e limpas, diferente dos móveis da sala circular do chorão. Tanto o quarto dos meninos quanto o das meninas eram muito parecidos. Os garotos arrumaram suas malas em seus armários e foram dormir o quanto antes devido ao exaustivo dia que tiveram. A noite passou num piscar de olhos. Os dois garotos mal fecharam os olhos e logo ouviram batidas na porta de seu quarto e a voz de uma garota um tanto quanto familiar dizendo:

— Acordem ou vão se atrasar pro primeiro dia de aula.

Era a voz de Ceci. Tião acordou meio contra sua vontade e ainda sonolento, notando que o quadro grande que imitava uma janela diferente, a imagem pintada nele não era mais uma floresta noturna e sim ao dia, com uma bela paisagem de floresta tropical com raios de sol acentuados brotando dentre a copa das árvores e suas folhas balançando suavemente a uma leve brisa. Ele adorou aquilo, pois tirava a sensação de estar enclausurado em uma toca. Levantou sonolento e chamou Nicko para que acordasse. Esse dormia esparramado na cama e resmungava a cada vez que Tião o chamava para acordar, dizendo “calma mãe, daqui a cinco minutos”. Com certa insistência ele conseguiu acordar o companheiro de quarto e esse se levantou ainda mais sonolento que ele.

— Já está de dia? – perguntou ele bocejando.

— Parece que sim – disse Tião apontando para o quadro que agora estava pintado em cores verdes vivas.

Os dois se levantaram e se arrumaram rapidamente, indo ao pequeno banheiro existente em seu quarto, apertado e com um toque de casa de avó. Saíram do quarto e encontraram Ceci e Allpa sentadas no sofá de sua sala comunal a esperar.

— Finalmente – disse Ceci – achei que essas duas dormideiras não acordariam hoje. Vamos que já estamos atrasados para o café da manhã.

— Bom dia meninos – disse Allpa sorridente a acariciar a barriga de Amarillo que dormia preguiçosamente sobre o sofá, enquanto Muqui cochilava em uma cadeira próxima a elas, mas distante o suficiente do gato animorfo.

— Bom dia Allpa – disse Nicko em tom simpático – e bom dia xamã rabugenta – disse ele com ar de implicância sorridente a Ceci.

— É isso o que ganho por me importar com os outros – disse ela levemente sarcástica e superiora – na próxima vez, não espero e nem os acordarei mais.

Levantou-se e foi em direção à porta de saída.

— Obrigado Ceci – disse Tião agradecendo – e bom dia pra você também Allpa.

E a garota sorriu.

Os garotos seguiram para a saída e pararam diante da porta fechada por raízes sem suas mascotes e disseram.

— Precisamos sair Salgueiro Chorão – disse Nicko apressado esperando que as raízes se mexessem magicamente.

Mas nada de se moverem.

— Precisamos cantar para sair também? – perguntou Tião curioso.

— Acho que não, afinal professor Olívio não cantou para sair, apenas para entrar – disse Ceci tocando nas raízes e esperando que essas se mexessem.

— Ele pediu com o coração – disse a árvore se mostrando sentimental em todos os momentos.

— Bom dia Chorão – disse Allpa sorrindo para a árvore.

— Bom dia – disse a árvore com sua voz grossa e melosa.

— Pode nos deixar sair por gentileza – disse Allpa carinhosamente e com a voz risonha e doce.

A árvore abriu suas raízes e sem dizer nada mais além de:

— Aula boa para vocês.

E estagnou-se novamente em sua forma de tronco inerte.

— Precisamos ser mais sutis e educados com o chorão – disse Tião enquanto eles apressavam os passos para o Salão principal.

— Tô achando essa árvore muito melindrosa pro meu gosto – disse Nicko sobre a personalidade da árvore de seu alojamento.

— Acho que não custa nada sermos educados e carinhos com ele – disse Allpa em defesa de chorão – afinal ele protege nosso dormitório e parece ser bem emotivo.

— Como se estivéssemos em meio a bruxos malignos e precisássemos de guarda vinte e quatro horas por dia – disse Ceci.

— Um guarda chorão por sinal – disse Nicko rindo.

— A Allpa tem razão, se Chorão gosta que o tratemos de forma carinhosa e emotiva, nós o trataremos assim, pois não custa nada – disse Tião a todos.

Finalmente a passos largos chegaram ao salão de Andurá. Lá perceberam que haviam muitos alunos do primeiro ano, alguns poucos de outros anos, mas a grande maioria dos alunos eram calouros como eles. Dirigiram-se a sua mesa especial e notaram olhares e cochichos de quase todos.

— Não gosto do jeito que eles nos olham – disse Ceci um pouco incomodada com os olhares e cochichos de todos os lados.

— Não ligue para eles – disse Tião – a maioria está apenas curioso e a outra parte provavelmente tem inveja de nós. Seria isso que minha avó diria, mesmo que eu não veja motivo para isso.

— Ainda bem que falou – disse Nicko sorrindo – inveja de ser um sem tribo? Sentar a cima e afrente de todos e perto dos professores? Depois de todo esse ocorrido, nós com certeza não passaremos despercebidos aos professores. Vão cobrar mais da gente e a culpa de muita coisa vai acabar caindo sobre nós, escrevam o que estou falando. Isso só vai trazer coisa ruim pra gente – falava ele de boca cheia comendo feito um louco esfomeado.

— Ainda acho mui rico sentarmos sobre todos – disse Allpa feliz – somos privilegiados por isso.

Eles terminavam seu café quando uma voz surgia sobre eles:

— Bom dia meus jovens – dizia professora Nadanna, a linda professora de poções que hoje usava seus cabelos cacheados soltos com uma faixa colorida de tecido acima da testa e um belo vestido colorido, sem suas vestes verdes escuras de professora, mostrando seus magros e longos braços cor de jambo – tiveram uma boa primeira noite?

— Sim – disseram todos.

— Professora – disse Ceci – como faremos para alimentar nossas mascotes? Devemos levar comida a eles?

— De acordo com o tipo de mascote, elas ficam em áreas comuns propícias. Aviários comuns, celeiros ou estábulos, campos ou soltos pelos jardins da Amazônia sobre o colégio mesmo. Existem muitas árvores frutíferas nos jardins da Amazônia de Castelobruxo. Mas mascotes que ficam em seu alojamento, são alimentadas no próprio alojamento por vocês se quiserem, mas também por nossos elfos colaboradores. Acredito que Professor Olívio tenha lhes dito isso?

— Na verdade não – disse Allpa – acho que acabou se esquecendo de dizer. Foram tantas coisas no dia de ontem, que acabamos nem nos lembrando de perguntar também professora.

— Eu pedirei para que cuidem disso – disse ela sorrindo – por enquanto, terminem seu café logo que vocês já estão para sair.

E ela apontava com o olhar a direção da porta lateral, a mesma que eles entraram vindos da sala da diretora e de lá vinha Professor Olívio, que desceu e parou numa outra entrada subterrânea lateral e disse em voz alta.

— Alunos do primeiro Ano, por favor, me sigam.

E todos se levantaram eufóricos e saíram em direção ao professor que começou a andar corredor adentro. O mesmo fez os garotos apressados percebendo por um instante serem esquecidos pelos outros, que agora estavam mais preocupados e eufóricos pelo primeiro dia de aula que se iniciava. Mesmo assim os meninos ficaram ao fim da multidão de alunos das quatro tribos para evitar olhares. Afrente deles, a uma pequena distância seguia um grupo de alunos da Anhangá e a frente destes, uma garota da mesma tribo, Anhagá. Ela era muito alta, devia ter um metro e oitenta e poucos centímetros de altura. De cabelos castanhos, encaracolados e longos, e de pele morena clara. Possuía estrutura óssea larga e ela era forte, corpulenta. Não parecia uma aluna de primeiro ano. Andava curvada e olhando para baixo. Seguia no canto do corredor, visivelmente desconcertada carregando seus livros nas mãos, ao invés de uma bolsa como a maioria dos outros alunos. Então os garotos ouviram o grupo de alunos da Anhagá dizer:

— Como uma giganta pode entrar para Castelobruxo? – disse uma garota loira com ar de nobreza e superioridade.

— Gigantes são seres bárbaros e burros. E se ela ficar nervosa e agredir alguém? Ela pode quebrar alguém no meio – disse outra baixinha e magrinha de cabelos pretos e curtos.

— Ou comer alguém – disse um garoto magrelo e comprido maldosamente e rindo – olha o tamanho dela.

— Não falem muito alto que ela poderá ouvir – disse uma garota magra e pálida rindo com ar de desdém.

— Ralaxa, ela nem deve entender o que falamos Flor – disse um garoto magro e pálido como a garota, com cabelos irritantemente penteados.

Tião e Nicko reconheceram ao menos dois deles. Tratavam-se dos gêmeos esnobes da livraria Valfreixo da Biela Amarela. Parecia que estes haviam entrado para Castelobruxo de fato como os dois haviam imaginado quando os viram pela primeira vez e eles foram para Anhangá, notável pela cor das folhas marrons e roxas de suas vestes verde clara brilhante. A garota grande parou e esperou eles passarem por ela, onde um dos garotos derrubou seus livros com o ombro propositalmente. Ela parou para recolhê-los, onde Tião, Ceci e Allpa foram rapidamente ajuda-la. Ela recolheu todos, levantou-se e eles perceberam que ela chorava. Então ela voltou rápida a passos bem largos para trás.

— Espere – disse Tião, mas a garota não deu ouvidos.

— Não podemos deixar ela perder a aula por causa daqueles imbecis – disse Ceci.

— Tadinha dela – disse Allpa com olhos marejados – não podemos deixa-la sozinha agora.

Então Tião retornou correndo atrás da garota, seguido de Ceci, Allpa e consecutivamente Nicko. Após alguns passos apressados eles a alcançaram antes que ela chegasse ao salão da Andurá.

— Espere – disse Tião – você não pode perder a primeira Aula por causa daqueles idiotas.

A garota grande parou próxima a entrada do salão e encostou na parede e pareceu começar a chorar mais forte. E ela dizia para si mesma:

— Aliana sua burra, eu disse para não vir para essa escola idiota. Eles iriam ser maus com você, mas você deu ouvidos a sua mãe. “Você é bonita e valente”, “Você é bonita e Valente”, Você é feia, grande e esquisita, e eles te odeiam – sua voz era grave, bem mais grossa que de uma garota de onze anos.

Allpa se aproximou dela tentando a abraçando e dizendo:

— Não diga isso. Todos nós somos lindos do nosso jeito.

E a garota assustada ao toque de Allpa reagiu encolhendo-se, o que gerou um grande solavanco que acabou derrubando Allpa no chão. Ao perceber, ela se virou e pediu desculpas, enquanto todos ajudavam Allpa que caíra sentada.

— Me desculpe. Eu... Eu apenas me assustei.

— Mas alguém grande como você se assustando assim é besteira. Você pode quebrar um se quiser – disse Nicko com cara de assustado com o tamanho e possível força da garota. O que a fez ficar ainda mais envergonhada e querer sair dali.

— Seu abestalhado de cabelo bagunçado – disse Ceci a ele, segurando no braço da garota de forma gentil para que ela ficasse.

— Eu estou bem – disse Allpa sorrindo – só quero saber se você está bem – disse ela séria agora – foi horrível o que aqueles alunos disseram. Foi cruel e imperdoável.

— Eu já estou acostumada – disse a garota encolhendo-se como podia e esticando suas vestes para cobri-la.

— Não deveria – disse Ceci séria – eles não tem o direito de falar assim com ninguém. Mas espere só! Eu irei falar com o professor Olívio e eles terão o que merecem.

— Não! – disse a garota nervosa – Eles são da mesma tribo que eu. Se isso acontecer eu tenho medo de que eles fiquem implicando comigo nos dormitórios e eu não quero isso.

— Implicar mais do que eles já estavam fazendo? – disse Tião também irritado.

— Eles acharam que eu não estava ouvindo – disse ela tentando diminuir o tamanho das ofensas que sofreu – eu nem queria vir, mas minha mãe me convenceu. Mas acho que vou voltar para casa. Eles tem razão, isso não é lugar para uma... – calou-se a garota triste de cabeça baixa.

— Eu não vou deixar – disse Allpa – você não vai desistir de ser bruxa por causa de meia dúzia de caiporas idiotas como aqueles – a garota estava anormalmente irritada, como eles nunca viram antes.

— Vamos, você vai ficar conosco e eles não vão amolar mais você. Prometo – disse Ceci a ela.

Nessa hora professora Nadanna vinha a encontro deles, que provavelmente foram notados ali na saída do corredor que dava para o salão de Andurá.

— O que está acontecendo aqui? – perguntou a professora com voz dura – vocês deveriam estar juntos ao professor Olívio.

— Eu... Eu... – a garota alta tentou se explicar, mas era muito tímida e estava muito nervosa para conseguir. Então Tião disse.

— Ela deixou cair algo e voltou para pegar e nós viemos ajuda-la. Não é mesmo? – disse ele sorrindo para ela.

— Sim – disse ela encabulada.

— Então corram antes que percam sua primeira aula e sabem que não podem cometer um errinho sequer, se não serão expulsos.

— Sim professora. Estamos cientes – disse Ceci.

— Então, andem logo.

E eles saíram correndo e sendo repreendidos por ela que disse para não correrem, então eles caminharam o mais rápido que puderam na mesma direção onde professor Olívio e os outros alunos haviam seguido.

— Obrigado pela ajuda. Vocês quase se prejudicaram por minha causa – disse a garota.

— Não se preocupe – disse Allpa sorrindo enquanto andava apressada – eu me chamo Allpa. E esses são Ceci, Sebastião e Nickolai.

— Me chame só de Tião – disse Tião.

— E eu sou Nicko – disse o menino – desculpa se falei besteira, às vezes eu falo sem pensar, eu sou meio idiota as vezes.

— Tudo bem – disse ela sorrindo envergonhada – eu me chamo Aliana, mas meus pais me chamam de Nina.

Nina era uma garota de onze anos bem grande. Bem maior que todos de sua idade, mas era bonita. Seu rosto era muito belo e harmonioso, e seu cabelo num volumoso e bem torneado cacheado castanho escuro.

— Muito prazer Nina. Não se preocupe, não vamos deixar aqueles abobalhados falarem de você assim novamente – disse Ceci.

— Se falarem vão se ver com o Pollok aqui – disse Nickolai cerrando os punhos.

— Obrigado – disse ela já sorrindo.

Encontraram o restante dos alunos, após muito se apressarem, entrando em uma sala onde o professor Olívio aguardava com um semblante um tanto quanto serio ao observar os garotos se aproximarem quase correndo.

— Sebastião Matoso, Nickolai Pollok, Allpa Castillo Huamán Moralez, Ceci Anauá Pitanga e Jovem que ainda não conheço.

— Aliana senhor. Aliana Gutierrez Argnord – disse a menina de cabeça baixa envergonhada.

— Filha de Eloísa Gutierrez pressuponho – disse professor Olívio cantarolando as palavras – sua mãe é bem famosa entre os bruxos pesquisadores.

— Eu sei professor – disse ela ainda mais envergonhada.

— Pois bem meus cinco jovens, estão levemente atrasados. Qual a sua justificativa?

— Eu... Eu...

Gaguejou a garota tentando se explicar, mas Tião tomou a frente novamente e disse:

— Nós retornamos, pois a Nina ou Aliana, esqueceu um livro no salão da Andurá e dai voltamos para ajuda-la a procurar.

— E ela não sabia onde havia sentado e deixado o livro? – indagou o professor com uma das sobrancelhas arqueadas e com o sotaque um pouco mais nítido devido ao tom de voz.

— Na verdade até sabia, mas fomos em mais pessoas para ter certeza, caso não estivesse no local que imaginava, para ajudar a procurar. Para sermos mais rápidos sabe? – disse Ceci tão rapidamente quanto Tião – Mas não precisou, estava exatamente lá onde ela achou que havia deixado – riu a garota tranquilamente.

— Certo. Fico feliz que já estejam se sociabilizando com outros alunos, mas façam isso sem se atrasarem e de preferência nos seus intervalos. Vocês estão sendo avaliados e sabem que se fizerem algo no primeiro dia será um tanto quanto perigoso. Como seu chefe de “não tribo” devo lhes avisar – disse o professor seriamente – então entrem e se acomodem logo em seus lugares.

Os garotos entraram, sendo observados por todos que já estavam sentados. Tudo o que eles não queriam no caso, ser o centro das atenções. E agora, com mais uma colega um tanto quanto chamativa, não que eles se importassem com isso, na altura do campeonato, mas os comentários e cochichos pareceram apenas aumentar devido a esse fato.

Os lugares ao fundo estavam todos ocupados pelo que eles perceberam, sobrando apenas alguns lugares a frente da sala. Sala essa que era em formato de auditório semicircular, com mesas contínuas que subiam em fileiras, mais altas de acordo com a profundidade da sala. De um lado ficava a mesa do professor, um quadro negro ao fundo dela e duas aberturas de janelas a cada lado do quadro negro, dando vista para deslumbrante floresta Amazônica e do outro os alunos. A sala era bem grande e deveria haver uns sessenta alunos ou mais ali. Havia armários e prateleiras diversas com muitos objetos na parte baixa onde o professor ficava. Então Professor Olívio se dirigiu a sua mesa, sem sentar-se e começou sua Aula.

— Bom dia novos Alunos de magia e bruxaria de Castelobruxo. Como de costume, todo ano vocês tem sua primeira aula comigo, professor Olívio Mastodontes Figueiredo. Serei teu professor de Feitiços básicos do primeiro ano. Aprenderão este ano sobre suas varinhas, de que são feitas, como funcionam, como usá-las e finalmente a realizar pequenos feitiços, aos que ainda não tentaram. Eu provavelmente já deva conhecer a maioria de vocês por suas fichas cadastrais ou por conhecer algum de seus pais, porém, gostaria que todos se apresentassem, como ritual tradicional de nossa primeira Aula. Gostaria que vocês se levantassem um a um e dissessem seus nomes, tribo a qual pertencem, quais características de sua varinha e se sabem ou já praticaram algum feitiço. Começando por você – apontou ele para o primeiro aluno na primeira fileira no canto direito da sala. Era um jovem oriental, cabelos lisos cortados com franja e parecia que esta cochilando levemente quando foi solicitado. Este se levantou, ajeitou suas vestes amassadas e disse em voz alta e meio desanimada:

— Me chamo Paulo Ichiro Sousa Kiwazaki, mas meus amigos me chamam de Pachiro, sabe né? Junção de Paulo com Ichiro, Pachiro, entenderam né? – e a turma deu risadinhas e ele riu junto - Sou aluno da tribo Iara – em suas vestes haviam folhas azuis e esverdeadas na barra e nas mangas – e... – ele fez cara de que não sabia o que mais deveria dizer e olhou como quem esperava de seu professor uma dica.

— Sua varinha Paulo Ichiro, de é feita sua varinha, por favor e se já praticou algum feitiço?

— A sim! Minha varinha é ipê com escama de boiúna e já fiz alguns feitiços sim.

— Pode nos dizer ou mostrar se possível.

— Claro – disse ele com ar de quem pouco se importava – qual o senhor quer?

— O que achar mais seguro fazer aqui junto a seus colegas.

— Tudo bem – disse o garoto com sua varinha em mãos. Observou uma pequena estatueta sobre a mesa do professor e então disse – Deprimo!

E a estatueta girou e caiu sobre a mesa do professor de forma bem sutil.

— Uau! Um aluno que sabe feitiços muito bem e com uma mira e precisão exemplar. Parabéns – bateu palma o professor, seguido da turma. Mas o garoto pareceu nem se importar, se jogando na cadeira preguiçosamente novamente.

Assim o professor chamou o segundo aluno e pela ordem, Tião seria o sétimo a falar. Por isso nicko o chamou de canto e um tom bem baixo e disse:

— Como fará com sua varinha? Já que não quer que as pessoas saibam que ela é... – e Tião o cutucou com seu cotovelo no braço de seu amigo para que não falasse “sem núcleo” e alguém ouvisse – é o que é! Ai! Você entendeu – disse nicko alisando a parte que fora atingida pela cotovelada ossuda de Tião.

— Eu não sei. Acho que vou inventar um núcleo qualquer, mas não me lembro mais quais são os núcleos.

— Diga que é núcleo de escama de boiúna – disse Ceci sem olhar para os garotos.

— Está bisbilhotando nossa conversa xamãzinha ranzinza? – disse Nicko para a garota.

— Acho que todos perto podem ouvir vocês falando – disse ela exagerando – mas eu tive de prestar atenção para poder me justificar caso professor Olívio chame a atenção de vocês.

— Tudo bem, está certa – disse Tião nervoso – vamos parar de falar nisso.

— Mas depois irá me contar sobre essa historia de mentir sobre sua varinha – disse a garota.

— E você ainda me deve explicações – disse Nicko.

Chegou a vez de Nina falar sobre sua Varinha. Ela se levantou lentamente, envergonhada como parecia sempre estar e disse com uma voz baixa e afinada de forma forçada.

— Me chamo Aliana Gutierrez Argnord...

E alguém falou num tom baixo, mas audível para eles na primeira fileira “Arrrg Nooorrd”, como se fosse um grunhido feroz de algum animal. Alguns alunos riram e o professor Olívio disse:

— Por favor, quem tiver algo a declarar que diga em voz alta e compartilhe com a turma.

Mas ninguém se prontificou.

— Imaginei. Da próxima vez que algo assim acontecer na sala de aula, terei que tomar providências um tanto drásticas – disse ele serio e bem duro - Por favor, minha querida, continue.

Nina estava mais envergonhada que antes para conseguir falar, mas Allpa pegou na sua mão e sorriu para a garota e ela pareceu relaxar um pouco com o apoio e terminou de falar.

— Sou Aliana Gutierrez Argnord. Sou da tribo de Anhangá. Minha varinha é de cerejeira e pelo de unicórnio e sei alguns feitiços apenas.

— Pode nos mostrar algum que tenha segurança em fazer Aliana?

— Erecto! – disse a garota apontando para a mesma estatueta derrubada pelo colega da Iara. A estatueta girou e se colocou de pé mais uma vez.

— Uau! Muito bem senhorita Aliana – disse o professor batendo palmas, seguido de muitos alunos, mas alguns, aqueles que zombavam dela, batiam palma desmotivadamente – temos ótimos lançadores de feitiços aqui. Excelentes candidatos a membros das esquadras das tribos da gincana bruxa.

A garota se sentou tímida, mas sorridente por ser elogiada. Os quatro alunos sem tribo aplaudiam ela com vontade o que a fez ficar bem risonha, dando um ronco de riso sem querer, tapando a boca após o ocorrido sem graça, tendo vários alunos rindo de seu riso estranho. Mas Tião, Ceci, Nicko e Allpa riram também, seguido de um gesto carinhoso de Allpa e Ceci para ela, o que pareceu tranquilizar a garota de alguma forma por saber que não estava sendo estranha ou ridícula, mas apenas engraçada.

A próxima foi Allpa.

— Me chamo Allpa Castillo Huamán Moralez. Sou uma sem tribo, acho – riu a garota, acompanhada de todos os alunos, mas que não pareceu se importar e riu junto deles tranquilamente – eu possuo uma varinha feita de jaqueira com lagrima de Anhagá e não sei muitos feitiços.

— Quer demonstrar para a gente algum que domine de alguma forma? – perguntou o professor a garota.

— Melhor não – disse ela – da ultima vez explodi o vaso favorito de minha avó, então melhor deixar para as praticas de aula.

— Boa resposta Allpa – disse Olívio – quero que saibam quando podem usar ou não algum feitiço que estejam aptos para realizar. Se não dominam algum feitiço, pratiquem. Pratiquem muito até dominarem ele completamente. Pois num momento crucial, precisarão ter total domínio sobre o feitiço realizado. Pode se sentar Allpa.

Allpa se sentou. A próxima era Ceci.

— Me chamo Ceci Anauá Pitanga, também não tenho uma tribo ainda – e alguns alunos riram, mas menos do que anteriormente, o que fez a garota olhar irritada e seria para trás e logo voltar-se para frente novamente e continuar a falar – minha varinha é de jacarandá com broto de Victória Régia e sei apenas alguns feitiços básicos.

A varinha de Ceci era um pouco diferente, na verdade parecia uma flecha indígena, com penas coloridas numa ponta e a outra ponta sem a ponta de flecha, porém mais grossa que uma flecha comum.

— Quer nos mostrar algum feitiço que domine? – perguntou Professor Olívio.

— Sim! – disse a garota confiante que apontou sua varinha para a mesma estatueta e disse – Wingardium Leviosa – e a estatueta começou a levitar sobre a mesa, tremula, mas levitou uns trinta centímetros e então ela devolveu a estatueta ao lugar, meio cambaleante.

— Muito bem! – bateu palmas professor Olívio seguido de outros alunos – Temos alunos bem avançados em nossa turma pelo que vejo. E como gostaram de minha estatueta – disse ele sorrindo. Usou sua varinha e fez uma mesinha redonda levitar até o centro da sala e depois fez a estatueta levitar até a mesinha, ficando bem em destaque diante de todos os alunos – vamos ao próximo.

Esse era Tião, que estava nervoso, então Nicko cutucou Tião e se levantou subindo quase sobre o garoto.

— Na verdade é minha vez professor – disse ele trocando de lugar com Tião – porque Tião roubou meu lugar quando íamos sentar, mas agora é minha vez – riu o garoto, seguido de todos da turma.

— Então vamos Nickolai, se apresente a turma – disse o professor segurando o riso, serio.

— Me chamo Nickolai Pollok, sou um bruxo cigano. Isso mesmo meninas, bruxo cigano – e riu ele como se mostrasse charme, mas mais parecia que fazia careta, tendo varias garotas rindo dele – eu também sou um aluno sem tribo, mas só até a próxima cerimônia da Andurá, só pra lembrar. Minha varinha é feita de ipê com fibra de coração de Dragão e sou ótimo em feitiços.

— Que bom saber que temos mais um aluno avançado na turma – disse professor Olívio – desse jeito não terei mais utilidade a instituição – disse ele sorrindo – então nos mostre um feitiço, por favor, Nickolai.

— Com certeza – disse ele, pigarreando e limpando a garganta. Levantou sua varinha e num sacolejo forte e desajeitado ele disse – Alvibombirds!

Um raio vermelho saiu de sua varinha ziguezagueando no ar e atingiu a estatueta do professor em cheio, explodindo-a em muitos pedaços. Todos da sala deram um grito, pois não esperavam isso.

— Caramba! – disse Nicko sem graça – eu queria transformar ela num pássaro.

— Você estava mais para um feitiço Bombarda do que para um feitiço Avifors. Já havia tentado esse feitiço antes Nickolai? – perguntou o professor assustado, pois estava bem próximo da estatueta que fora explodida.

— Na verdade – disse o garoto constrangido – eu vi minha irmã usar um assim uma vez, mas parecia muito fácil.

— Tudo bem Nickolai, sente-se, por favor – e todos riram, enquanto Nicko se afundava na cadeira e cobria sua cabeça com o capuz da sua veste – isso foi bom de certa forma. Tirando que perdi minha estatueta, que ganhei de presente de um famoso bruxo Africano muito importante. Isso servirá de exemplo para vocês entenderem o quão perigoso é executar um feitiço erroneamente. Não o executem se não tiverem total domínio. Vamos prosseguir nossas apresentações, mas sem mostrar feitiços que sabem por enquanto.

— Me agradeça depois – disse Nicko para Tião em voz bem baixa, por chamar atenção antes dele para que poucos notassem seu nervosismo, que após o ocorrido, teria um motivo.

O Próximo era Tião, que estava nervoso com o que diria e então o garoto se levantou e disse:

— Sou Tião, quer dizer, Sebastião Silva Matoso – e dessa vez não disse Allario sem querer por se esquecer desse detalhe – sou um aluno sem tribo como meus amigos aqui – chamou os seus colegas de alojamento de amigos instintivamente e depois percebeu que o dissera e se sentiu um pouco constrangido – eu possuo uma varinha – gaguejou ele um pouco – de baobá com núcleo de escama de boiúna e não sei fazer feitiços.

A cara do professor Olívio era intrigada quando ele falava e ficou ainda mais quando disse que sua varinha era feita de baobá com núcleo de escama de boiúna.

— Muito obrigado Sebastião.

Então sem delongas o professor o aplaudiu também sem nenhum comentário e prosseguiu as apresentações. Tião se sentou aliviado, pois parecia que não havia chamado atenção e passado despercebido. Todos da turma se apresentaram, entre tímidos, palhaços, exibidos, esnobes, indiferentes. E claro, os antipáticos e almofadinhas dos gêmeos que se chamavam Florinda e Augustin Barbuera e seus amigos Calendula Mendonça Lumiera, a garota loira de olhos azuis e ar superior. Felipo Alvarez Noustraquio, o garoto alto, magrelo, levemente corcunda e de rosto chupado e Ana Beatrice Serpideme, a garota baixinha de cabelos curtos e negros. Ao fim, professor Olívio se pronunciou.

— Bem! Creio que todos se apresentaram, acho que todos os que não conheciam puderam perceber existir muitos tipos de varinhas por aqui. Creio que quase todos sabem bem sobre varinhas, mas alguns que não vieram de famílias bruxas provavelmente tiveram a curiosidade de ler sobre varinhas no apêndice do livro padrão de feitiços da primeira série de Miranda Goshwak, traduzido por Celga Batista. Compostas por madeira de lei ou outro material condutor e isolante simultaneamente, como ouro, prata, mas nunca sintéticos. E um núcleo – e nessa hora olhou atentamente para Tião, que ficou intrigado com aquele olhar – que pode variar entre os ditos aqui por todos e por um que percebi ninguém mais além de mim possui, que seria pena de fênix. Então iremos agora para nossos primeiros passos de como executar feitiços simples nos três passos principais: varinha, citação e movimento.

E assim prosseguiu a primeira aula do primeiro dia de muitos alunos ali, incluindo nossos quatro alunos sem tribo e talvez sua nova amiga Aliana ou Nina, a garota muito grande para uma menina de apenas onze anos.


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Notas finais do capítulo

*Corrigido e Modificado em 12/06/2016 as 07:43 a,m,



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