Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO escrita por Flávio Trevezani


Capítulo 12
Um Atraso, Quatro Alunos do Primeiro Ano e Nenhuma Tribo.


Notas iniciais do capítulo

Tião, Nicko, Ceci e Allpa finalmente conseguiram chegar a Castelobruxo, só que não foi da forma mais comum e tranquila. Após a recepção do guardião do lago, a brilhante e perigosa cobra boiúna, eles foram recepcionados por vários alunos, professores e a pequena, porém bem durona, diretora Iracema Orumã. Agora basta saber se eles conseguirão de fato entrar para Castelobruxo ou terão de voltar embora para casa, acabando com o desejo de se tornaram alunos da famosa escola de magia brasileira.



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Caminharam eles, aflitos por todo o percurso do píer em frente a grande pirâmide principal onde ficava o salão de Andurá, até uma das duas pequenas pirâmides que ficavam para trás e ao lado da maior e central. No caminho, nem uma palavra eles disseram, tão pouco professor Olívio disse alguma coisa. Esse era um homem magro, estatura mediana de cabelo liso castanho escuro. Olhos amendoados, nariz curvo e com um sulco marcado no rosto, o tal bigode chinês. Ele aparentava ter seus quarenta anos, mas cabelos ainda sem fios brancos. Usava vestes de cor Verde escura, abotoadas como um grande jaleco.

Eles chegaram à entrada da pirâmide, que era feita de forma aberta, como arcos que davam um ar monumento e não edificação. A entrada adentrava o chão, numa escadaria que descia para um pavimento inferior. Era engraçado isso, pois, eles caminhavam sobre chão de terra, coberto por vegetação nativa, além de plantas ornamentais muito bonitas e algumas floridas com flores exóticas. Não parecia que haveria pavimentos inferiores, mas tinham.

Ao chegarem à parte inferior, essa era bem iluminada. Havia aberturas no teto, quadrados que davam para floresta acima, além de lindos lustres de velas, alguns cristais brilhantes, luminárias de parede com aspecto antigo, mas com belos acabamentos, cogumelos luminescentes e castiçais que se misturavam no tipo de iluminação. Aos pés da escada, parecia ser uma antessala, com uma magnifica porta entalhada em madeira, com inúmeras figuras. Animais, peixes, pássaros e no meio, uma árvore que possuía um rosto entalhado. Esse, que estava de olhos fechados, os abriu de forma mágica, deixando todos os quatro novos alunos impressionados. Então o rosto de madeira disse:

— Quem se aproxima?

Com uma voz grossa e forte, que parecia de trovão.

— Professor Olívio Mastodontes, da Disciplina de Feitiços.

— E o que deseja Prof. Olívio?

— Vim a mando da Diretora Iracema Orumã, trazer esses alunos, para aguardá-la.

— O que diz é verdade, entre e espere.

Disse a grande e grossa porta, se abrindo e dando visão a uma magnífica sala ampla, com pé direito bem alto, ao qual na parte superior estavam às aberturas arquitetônicas vistas da parte exterior, vazados e arcos de pedra, que deixavam entrar a brisa da mata e possivelmente avistar as folhas e vegetações da mesma e um pouco do céu, mas por já está quase anoitecendo a visão ficava menos bela. A sala parecia uma extensão da floresta lá fora. Plantas, árvores, raízes e pedras preenchiam o lugar. Uma pequena cascata corria na parede aos fundos a mesa da diretora até um pequeno lago de pouco mais de dois metros de diâmetro em formato de meio círculo. O chão era de terra batida, mas não aprecia sujar os sapatos dos garotos, não havia pó solto nele e havia velas, cristais e cogumelos iluminados, que clareavam bem o lugar.

— Sentem-se, Dir. Orumã logo chegará.

Disse Prof. Olívio com um sotaque nordestino sutil, mas perceptível. Todos se sentaram. Os pais nas cadeiras diante da grande mesa da diretora, que parecia uma árvore viva, com os quatro pés enraizados e com alguns pequenos galhos e folhas brotando da mesma. As cadeiras eram feitas de cipó trançado, acolchoado com almofadas coloridas de tecido. Os garotos se sentaram em um sofá, feito de um tronco de árvore caído, cortado em formato de sofá na parte do assunto e também acolchoado com assentos de tecido colorido. Professor Olívio por sua Vez, permaneceu de pé, aguardando a chegada da Diretora.

Alguns minutos se passaram sem que ninguém dissesse uma única palavra. Todos os quatro meninos estavam nervosos, muito, temendo perderem a chance de estudar aquele ou, quem sabe, qualquer ano em Castelobruxo. Os pais, Xamã Guaraci e Senhora Amapola, sabiam da seriedade de invadirem as instalações de Castelobruxo e aguardavam sérios e calados a chegada da Diretora.

Tião não estava aguentando tamanho silêncio, que era quebrado pelo barulho da água caindo na cascata, do coaxar de sapos e pererecas entre as folhas largas das plantas dali e do farfalhar das folhas com o vento lá fora. Então resolveu tirar uma duvida que havia surgido em meio a entrada catastrófica pelo rio que se fechou magicamente e o ataque da cobra brilhante no lago em frente ao Castelobruxo, o assustador boiúna, o Guardião do Lago. Durante a vinda, ele percebeu que senhora Amapola usou uma varinha, dourada e trançada, não parecia feita de madeira. Era fina e curta de certa forma. Antes, ele vira a mulher usar um feitiço no beco contra o ladrão de sua mala com as mãos, que pareceram sair de sua pulseira. Agora, ela portava uma varinha e isso o intrigou, por isso ele perguntou a ela, quebrando o silêncio torturador.

— Senhora Amapola?

— Sim meu querido – disse ela seria, porém sorridente a ele.

— A Senhora está usando uma varinha, certo?

— Sim – disse ela, tirando sua varinha de dentro do grande bolso de sua saia.

— Mas antes, no beco da avenida vinte e cinco de março eu a vi usar um feitiço com as mãos. Como a senhora fez isso?

— Oh meu querido – disse ela risonha e aparentemente mais descontraída – Usei a mesma varinha – disse ela com a varinha em mãos, então, bateu o meio da varinha em seu pulso e essa amoleceu e enrolou-se duas vezes em seu pulso, tomando a forma de uma pulseira novamente – nós bruxos ciganos, por vivermos em meio a bruxos e trouxas...

— Ou babaquaras – disse Nicko fazendo gracinha, mas recebendo um olhar serio de Professor Olívio, fazendo-o abaixar o olhar sem graça e temeroso.

— Como eu ia dizendo – disse ela séria, olhando para Nicko com olhar carrancudo e desaprovação de seu comportamento brincalhão, mas voltando ao sorrir ao olhar para Tião novamente – por isso nós optamos a fazer uso de artefatos mágicos mais discretos, para evitar certos incidentes com curiosos. Mas feitiços feitos por bruxos com artefatos acessórios são menos precisos e mais complexos que feitos por varinhas. Por isso eles tendem a tomar os dois formatos.

— Acho que entendi – disse Tião aliviado por ouvir a voz de alguém.

Prof. Olívio permanecia sério e apenas observava, quando finalmente A porta se abriu mais uma vez e entrava a Sala Diretora Arumã, junto a quatro Professores.

— Desculpem a demora – que nem fora tão grande assim – mas precisava encerrar a cerimônia para que o banquete começasse.

— Então a cerimonia dos alunos de primeiro ano para seleção das tribos já acabou?

Perguntou Xamã Guaraci com um tom um tanto quanto desapontado e preocupado.

— Sim! Infelizmente – disse a diretora sentando-se em sua mesa, que não tinha cadeira, apenas um arbusto de folhas largas e densas, bem verde matizada de amarelo e vermelho. E essas se mexeram e formaram perfeitamente uma poltrona com assento, encosto e apoios para os braços.

— E como faremos em relação aos garotos? – perguntou senhora Amapola tensa e preocupada com a situação dos meninos.

— Nós temos regras Madame Bravanera – disse uma mulher negra, muito bonita, com um lindo vestido de aparência africana azul turquesa, colares e pulseiras de contas, um belo turbante em cores vivas como azul, verde, amarelo e turquesa – ou Pollok no caso. O horário de saída dos alunos do primeiro ano é bem sério, sabe que a cerimônia é pontual e não podemos adiar ou mudá-la. Por isso há séculos o dia do embarque é um dia muito importante e a chegada é feita com horas de antecedência.

— Adanna – disse senhora Amapola, parecendo conhecer a mulher – talvez nós tenhamos tido culpa, mas os garotos não podem pagar pelos nossos erros.

— Infelizmente Amapola – disse Diretora Orumã – não somos nós que decidimos o dia e horário em que Andurá encandecerá na virada de estação do verão para o outono mágico.

— Compreendo – disse a mulher triste e levemente inconformada.

— Então não há nada que possamos fazer pelos garotos.

— Provavelmente non – Disse um professor com aparência Hippie, cabelos de dreads loiro mel na altura dos ombros e de aparência bem jovial. Pele clara, olhos verdes intensos, vestes verdes escuras, com a parte inferior manchada de varias cores num efeito de tie dye.

— Por favor – disse Tião se levantando.

— Sim meu rapaz – disse diretora Orumã com seu olhar penetrante e seus cabelos curtos e lisos, num tom branco acinzentado, o que era incomum entre os indígenas, o que levava a crer que ela deveria ser bem mais idosa do que aparentava.

— Não os culpe pelo atraso. Se houver algum culpado aqui, esse sou eu – disse Tião de pé, olhando para a diretora seriamente.

— Claro que não meu querido – disse senhora Amapola o defendendo.

— Deixe o menino falar – disse Dir. Orumã, apoiando o queixo sobre as mãos de dedos entrelaçados – diga-me, como se chama rapaizinho?

— Me chamo Sebastião Silva Matoso Allar... – e interrompeu, pois o nervosismo o fizera esquecer de que não diria seu sobrenome por parte de pai – só Sebastião Silva Matoso no caso senhora.

— Hum – disse ela levantando a sombrancelha de um jeito intrigado – então é neto de Merentrofes Matoso?

— Sim senhora – disse o Garoto.

Alguns professores fizeram um semblante um tanto quanto surpreso e intrigado, em especial professor Olívio.

— Então me diga por que você foi o culpado desses alunos se atrasarem para o embarque na balsa do Boto Maroto?

— Meu tio avô iria me trazer, bem mais cedo, mas houve um imprevisto com umas Mandronas – disse ele se embolando nervoso com o nome das mandrágoras.

— Mandrágoras no caso – disse Senhora Amapola.

— Sim, isso! – disse ele – e por isso eu pedi para senhora Amapola, que havia me salvado no dia anterior, junto ao Nicko, no caso, Nickolai – e Nicko acenou com a mão – filho dela, de um assalto. E quando eu fui buscar minha mala, nós acabamos desmaiando com uma Mandrágora – disse ele quase soletrando para falar corretamente – e por isso nos atrasamos.

— Certo. Mas e essas duas jovens? Porque elas se atrasaram?

Ele não havia sido o motivo pelo atraso das duas garotas, mas não queria que outras pessoas perdessem o ano letivo e como ele já estava assumindo a culpa, resolveu assumir a culpa por elas também. Xamã Guaraci tentou se explicar, mas antes que ele falasse alguma coisa, Diretora Orumã levantou o dedo o mandando ficar quieto, sem tirar o olhar do garoto.

— O garoto ainda está falando, você terá sua oportunidade assim que ele acabar – disse ela.

— Mas diretora, esses meninos... – tentou dizer Guaraci, mas ela apontou-lhe a varinha mais rápido que eles pudessem perceber e lançou lhe um feitiço que fez sua voz sumir.

— Por favor, meu jovem, prossiga – disse ela para Tião, que estava assustado com a reação da diretora, assim como todos, incluindo os professores.

Ele se esforçou mentalmente para achar uma boa justificativa que pudesse ajudar as garotas, uma vez que eles só chegaram ali, graças ao xamã Guaraci.

— Nós chegamos em cima da hora e chegamos a embarcar na balsa, mas eu achei que havia visto algo de errado, indo correndo ver o que era, dai... – pensou ele um pouco – acabei assustando o gato de Allpa – que olhou para ele com um olhar assustado e corou as bochechas – e esse, que é um animorfo, certo? – e ela balançou que sim com a cabeça – transformou-se num jaguar ou onça, não sei dizer a diferença e assustou a macaca da Ceci – que abaixou a cabeça, envergonhada em estar deixando o garoto levar a culpa por todos ali – que subiu na árvore e por isso ela ficou tentando pegá-la e por isso todos perdemos a balsa.

Ele estava suando de nervoso já, pois temia que ela percebesse que algumas partes ele havia inventado. Mas Tião era bem convincente quando queria e enganava até mesmo sua avó, que o conhecia muito bem.

— Entendo – disse a diretora – e aquele jovem ali? – apontou para Nicko, que endureceu quando ela o fitou – porque ele não embarcou?

— Porque eu pedi a sua ajuda – disse Tião imediatamente, antes que o garoto falasse alguma coisa antes dele.

— Não senhora – disse Nicko – não foi culpa dele. Foi minha. Chegamos a tempo como ele disse, mas eu tive uma visão quando estávamos embarcando nos últimos segundos antes de apanharmos o pomo de ouro – fez uma apologia ao quadribol – dai eu sai correndo em direção as garotas, que se assustaram, assustando o gato da Allpa e dai o resto é o que ele disse.

Suava ainda mais Nicko do que Tião.

— Então você foi o culpado? – perguntava a diretora num tom de tortura psicológica.

— Sim – respondeu Nicko.

— Não diretora Orumã – disse Allpa – A culpa foi minha.

— Não, não foi – disse Nicko.

— Silêncio rapaz. Deixe a jovem falar a sua versão ou quer que eu te silencie como fiz com o pestatentado do Pitanga? – disse ela, mas logo se corrigindo – quero dizer, senhor Guaraci.

Afinal, diretora Orumã foi diretora e professora de muitos pais de alunos e ela se recordava bem de cada um deles. Então Allpa continuou.

— A verdade que Amarillo, meu gato... animorfo – dizia a garota nervosa, pausadamente – ele tem medo de aparatações e quando aparatamos no porto de vila verde, ele se assustou e tomou a forma de um jaguar, que é a forma verdadeira dele, assustando Muqui, a macaca da Ceci e dai o Nickolai teve a visão de uma onça pulando sobre uma menina e correu para ajudar e por isso perdemos a balsa. Desculpa-me Senhora.

— Estou entendendo – disse a Diretora olhando os três – então os três estão assumindo a culpa e eu não sei ao certo quem foi o culpado de fato.

— Eles não tiveram culpa diretora Oru... – tentou dizer senhora Amapola, que também recebeu o feitiço de silenciar e ficou muda.

Ela olhou para Ceci. Que estava calada e de cabeça baixa, com Muqui abraçada em seu peito.

— Pelo que vejo a única real inocente aqui é essa jovem indiazinha, estou correta? Ceci é seu nome, certo?

Guaraci olhou para a filha que estava de cabeça baixa e nada dizia.

—Eentão acho que todos contaram suas versões. Eu devo ver o que devo fazer então...

— Desculpa diretora Orumã – disse Ceci se levantando também – a culpa real foi minha. Amarillo, o gato de Allpa realmente assustou Muqui e ela fugiu e subiu em uma árvore – disse a menina olhando para Allpa, que ficou constrangida e corou ainda mais – Mas eu que me recusei a embarcar sem ela. Eu poderia ter embarcado e depois meu pai daria um jeito para me mandar Muqui ou eu a pegaria no primeiro feriado em visita a minha casa. Mas sou muito apegada com Muqui e me recusei, criando todo esse transtorno. Por isso os meninos perderam a balsa. Nickolai teve a visão e Sebastião veio o ajudar e acabaram perdendo a balsa para Castelobruxo.

— Bem, bem, bem! – disse diretora Orumã – acho que todos são culpados afinal. Creio que já tomei minha decisão.

— Diretora Orumã – disse professor Olívio – antes de tomar tua decisão, queria que considerasse que estes meninos tentaram assumir a culpa para que os outros pudessem estudar, arriscando perder o ano letivo e até quem sabe a chance de se tornarem bruxos.

— Entendo Perfeitamente Prof. Olívio – disse ela – mas infelizmente a cerimonia de seleção das tribos já aconteceu, não vejo muitas alternativas para esses garotos.

— Iracema – disse um senhor mais velho. Forte e corpulento, de barbas consideravelmente grandes, porém cheias e acompanhando o formato de seu rosto e óculos quadrados de armação fina. Rosto redondo e vestia as mesmas vestes verdes escuras dos outros professores, porém abertas, sobre um paletó cinza escuro, coletes no mesmo tom xadrez e uma gravata roxa – acho que regras existem para que possam delimitar as barreiras de certo e errado. Por isso Andurá só encandece naturalmente apenas na mudança do verão para o outono no mesmo dia e na mesma hora a séculos. Seria um tanto quanto imprudente ficar abrindo exceções para alunos que não seguem regras, além de incentivar os alunos baderneiros e irresponsáveis a praticar atos ilícitos e a quebrar as regras.

— Compreendo Professor Barbosa. Mas temos que considerar o que o Professor Olívio falou. O ato deles tentando ajudar uns aos outros foi deverasdeiramente nobre, não acha?

E o homem consentiu meio a contragosto com um gesto de cabeça, olhando de forma desaprovatória para os garotos.

— Diretora Iracema – disse uma bela professora loira, muito bonita de olhos azuis e cabelos loiros dourados na altura dos ombros. Vestia uma espécie de bata larga amarela, laranja e dourada e calça pantalona sob a veste verde escura aberta – São quatro alunos, porque não os designamos temporariamente um para cada tribo até a próxima cerimônia de seleção?

— Disparate! – afirmou o professor Barbosa veemente.

— Caramba! – disse o professor Hippie de dreads, surpreso com a ideia.

— Como? – indagou professora Adanna meio confusa com a sugestão.

Todos ao mesmo tempo, expressando reações e opiniões diferentes sobre a situação. Diretora Orumã apenas levantou o a varinha como forma de ameaça, possivelmente de silenciar eles como fez com os pais dos alunos e todos se Calaram.

— Foi uma boa sugestão Ariel, mas confesso que não poderemos aceita-la. A seleção é algo que vai além de nossa compreensão e Andurá a faz observando o interior do aluno e tudo que ele é, pensa e intenciona ser. Não seriamos justos e sensatos se tomássemos essa decisão por ela. Acho que não poderemos fazer isso.

— Então não vejo outra alternativa a não ser manda-los embora e eles retornarem ano que vem – disse professora Ariel visivelmente triste com o que dizia, ao olhar os alunos todos em pé, quietos, nervosos e os observando, assim como seus dois pais silenciados.

— Acho que ainda há alternativa – disse Diretora Orumã.

— E qual seria? – perguntou Professor Olívio.

— Podemos deixa-los estudarem esse ano sem tribo – disse ela com olhos semicerrados observando os alunos.

— Mas como isso seria possível. Os alojamentos dos alunos são devidamente separados por tribos. Onde esses alunos sem tribo ficariam afinal? – Perguntou indignado professor Barbosa.

— Temos um espaço vago, inutilizado e adequado para isso – disse diretora Orumã.

— E onde seria isso? – perguntou professora Adanna.

— No antigo alojamento dos professores. Na sala chorona – disse ela sorrindo.

— Mas os professores deixaram aquele lugar, pois é quase impossível ficar lá com aquela árvore louca – disse Professor Barbosa – ao menos que a removêssemos de lá.

— Nem sobre mi cadáver! – disse o Professor hippie – aquela árvore é una espécie rara, ameaçada e mui delicada. Ela non suportaria una remoção e jamais deixarei que sugiram extermínio daquele ser.

— Se acalme Professor Madeira – disse diretora Orumã para ele – não iremos remover ela de lá, afinal ela é uma guardiã da sala, o que torna ela perfeita para um dormitório tribal para esses jovens sem tribo. E como será provisório, não vejo grandes empecilhos para eles, afinal, o salgueiro chorão reage à energia daqueles que o circulam e duvido que quatro jovens alunos tão dedicados e nobres irão fazer com que aquela árvore se torne depressiva e instável como nós professores fizemos no passado com nossas pequenas intrigas pessoais.

— Mas acha que daria certo dar a esses garotos um lugar como esse, fazê-los permanecer sem tribo um ano inteiro até a próxima cerimônia de seleção? – Perguntou professora Adanna – não sou tão drástica como Paulo Roberto, – referia-se ao professor Barbosa, uma vez que esse era seu primeiro nome – mas quem se responsabilizaria por eles? Já que nós quatro somos professores chefes das quatro tribos. Penso na segurança deles, sem monitores, sem responsável. Pode ser um pouco arriscado e perigoso em certas tarefas padrão para alunos do primeiro ano.

— Eu me responsabilizo – disse professor Olívio – eu ficarei responsável por eles até o ano que vem, se assim for permitido.

— Então eu acho que temos uma alternativa, certo? Alguém se opõe a essa decisão? De manter esses quatro alunos na sala chorona, antigo alojamento dos professores pelo período do primeiro ano deles aqui em Castelobruxo, até que haja outra cerimônia de seleção da Andurá e eles possam então ir para suas devidas tribos corretamente? Onde professor Olívio Mastodontes Figueiredo, professor de Feitiços, irá monitorá-los e será responsável por eles neste ano letivo?

— Sabem bem minha opinião sobre esse tipo de atitude e decisão – disse professor Barbosa ríspido e serio.

— Sim eu sei, mas não vejo grandes ameaças vindas de quatro bruxinhos do primeiro ano Professor Barbosa. Nada que vá destruir nosso Castelobruxo. Então, mais alguém se opõe? – perguntou a diretora ainda seria.

— Acho uma decisão primorosa e muito conveniente – disse professora Ariel.

— Nestas condições e com um responsável eu não vejo porque não – disse professora Adanna.

— Se todos estan de boa, eu tambien estoy de boa – disse professor Madeira sorrindo sem mostrar os dentes, o que fazia suas bochechas fecharem os olhos e balançando seus dreads de forma um tanto quanto engraçada fazendo pequenos movimentos de sim repetidos varias vezes.

— Eu estou de total acordo Iracema – disse professor Olívio.

— Tudo bem então. Mas quero apenas colocar um porém – disse professor Barbosa coçando a barba – se por acaso algum desses jovens cometer alguma infração ou estimular a desordem nesse ano, quero que eles sejam expulsos definitivamente, nada contra eles, mas temos um nome e uma instituição com princípios e regras para zelar e não podemos arriscar tudo por quatro alunos um tanto quanto irresponsáveis e retardatários.

— Tudo bem então – disse a diretora Orumã, apontando a varinha para os pais dos garotos e tirando-lhes o feitiço, antes avisando com o olhar e o dedo erguido de que se eles falassem alguma coisa sem ser solicitados ela retornaria o feitiço – pais e alunos estão de acordo com essas condições ou preferem começar no próximo ano?

— O que vocês acham crianças? – perguntou senhor Guaraci aos quatro.

Eles se entreolharam, sérios. Pensaram aparentemente juntos e então Nicko sorriu, seguido de Tião e Allpa. Os três olharam para Ceci, esperando sua reação antes de darem uma resposta, ela pareceu pensativa, demorou alguns instantes e então sorriu também. Assim Tião respondeu por todos aparentemente:

— Sim, aceitamos essas condições.

— Então ótimo. Bem vindos ao Castelobruxo alunos do primeiro ano – disse diretora Orumã sorrindo.

Eles se abraçaram e abraçaram xamã Guaraci e senhora Amapola, que deixou correrem algumas lágrimas de emoção. Depois agradeceram os professores, assim como os pais também o fizeram e por ultimo agradeceram a diretora, um a um, apertando sua mão, que possuía um aperto bem forte para uma senhora nem tão jovem assim. O último a cumprimenta-la foi Tião que disse:

— Muito Obrigado diretora Orumã.

— Não há de que jovem Matoso. – riu ela – Conheci bem seu avô e seu tio avô. Mas acho seria melhor te chamar de... – então ela abaixou o tom da voz, ainda apertando sua mão - ...de jovem Allario!

Deixando o garoto um tanto quanto surpreso e desconcertado enquanto todos comemoravam a conquista de conseguir chegar, mesmo que atrasados para a cerimônia da Andurá, mas a tempo para poderem ingressar em Castelobruxo.


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