Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 65
Stalker




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Dembe e eu éramos os únicos sabendo que Red estava vivo. Mesmo vendo que Lizzy estava super chateada e triste, eu me calei sobre isso. Talvez aquilo fosse um plano maior de Red, para alguma coisa, e eu não ia estragar isso. Talvez ele corresse perigo se a informação chegasse a certas pessoas. Jurei que se ele não voltasse em algumas semanas, eu contaria para Keen.
Naquele dia, subi apressada pelas escadas, já que o elevador continuava estragado, e quase esbarrei com tudo em um dos meus vizinhos. Eu honestamente não sabia o nome dele. Os únicos vizinhos de corredor (e do prédio todo, na verdade) que eu conhecia eram Sara e Aline.
—Desculpe. –Pedi, recuando um passo. –Não te vi aí.
—Tudo bem. Sem problema.
Acenei com a cabeça e continuei andando. Assim que cheguei ao meu apartamento, quase escorreguei por causa de um papel passado por debaixo da porta. Suspirei ao ver o cartão vermelho.
—De novo não, merda. –Murmurei, catando-o.
Era o décimo sétimo cartão que eu recebia. Aparentemente eu tinha um admirador ali no prédio. Porém, o cara não batia bem das ideias, e tudo o que ele conseguia com aqueles cartões era me assustar. O primeiro cartão tinha sido um dos mais preocupantes.
“Eu poderia trancá-la num quarto, para tê-la para sempre.”
É, bem bizarro, não? Me preparei psicologicamente e li o de agora.
“Seria capaz de matar por você.”
Amassei o cartão e liguei para a portaria. Seu Ivandro atendeu.
—Sim?-Perguntou.
—É a Jenna, do 302.
—Ah, senhorita Jenna.
—Queria saber quando vão instalar aquelas câmeras nos corredores.
—Algum problema?
—Sim. Tem alguém fazendo alguma brincadeira estúpida passando cartões por de baixo da minha porta. Quero saber quem é. Viu alguma coisa?
—Não. Mas vou perguntar pra ver se alguém viu.
—Obrigada. –Desliguei.
Ressler não sabia dos cartões, ninguém sabia. Talvez fosse alguma brincadeira mesmo, ou alguém querendo me assustar. Talvez fosse o pirralho do 403, que adorava sujar os carros nas garagens com tinta, ou colocar bolinhas de gude nas escadas. Mas ele tinha treze anos, seria capaz de fazer alguma coisa desse tipo?
Peguei o cartão que recebi naquele dia e todos os outros. Precisava de uma voz experiente no caso.
***
—Lizzy, será que eu...
—Entra, entra. –Limpou o rosto rapidamente e forçou um sorriso. Fechei a porta e peguei os cartões no bolso.
—Você meio que faz aquela coisa de ler as pessoas e tal, então eu meio que preciso de ajuda.
—Meio?-Entreguei os cartões.
—Tenho recebido isso aí faz uns dois meses. Pode ser uma brincadeira, mas está me deixando preocupada. –Ela começou a ler, testa franzida.
—Alguém parece fixado em você, e isso não é bom. Essa pessoa parece ser daquelas possessivas, sabe?
—Tipo aqueles caras que a gente vê na TV ameaçando explodir a cara da namorada por que ela terminou com ele?
—Sim. Bem isso. Quem te mandou isso?
—Não faço ideia. Os corredores do meu prédio não têm câmeras, e ninguém nunca vê nada. –Aline teria visto. Desde que John Adams invadiu meu apartamento, a menina passou a ficar de olho no corredor, atenta caso alguém fizesse o mesmo. –Acha que é uma brincadeira?
—Não. E você deveria tentar descobrir quem é. Parece estar evoluindo, se tornando cada vez mais fixado em você. Essa pessoa pode se tornar perigosa.
—Obrigada. –Peguei os cartões de volta. –Se puder manter isso entre nós...
—Claro. Ressler não sabe disso, não é?
—Não. Ele iria interrogar cada morador do meu prédio se eu contasse. –Levantei. –Se precisar conversar... Avise.
—Obrigada.
***
—Sem a agente Malik, sem o Sr. Reddington... O que vai ser da nossa força-tarefa?-Aram perguntou, parecendo desolado.
—A gente vai dar um jeito, eu sei. –Me sentei na mesa dele. Cooper, em sua sala, parecia muito agitado, dando diversos telefonemas. Alguém precisava devolver o corpo de Red. Se eles soubessem que não havia corpo...
—Mas acabou. Só ele tinha a lista. E... Agora restam apenas três agentes.
—Quatro. Você também faz parte disso, Mojtabai.
—Eu faço?
—É óbvio. Quem mais encontraria Raymond Reddington num selfie? Você é incrível!-Sorriu, havia parado de fazê-lo desde o enterro de Meera. –Tenho certeza que tá cheio de criminosos lá fora que precisam ser pegos, e você vai nos ajudar a encontrá-los. E a gente não tem mais a lista do Red, mas aqueles não são os únicos criminosos do mundo! Vamos pegá-los, juntos. Keen, Ressler, você e eu. Ah, tem Cooper também. Alguém tem que dar as ordens.
Saí da mesa dele, encontrando Ressler não muito longe dali, ele também estava fazendo a busca por Red.
—Encontramos algo?-Perguntei, ele guardou o celular.
—Nada de Reddington. O que acha que podem ter feito com o corpo dele?-Dei de ombros.
—É uma boa pergunta. Acha que essa busca vai durar quanto tempo?
—Ordens de cima nos mandaram parar de procurar, mas Cooper quer fazer isso. Falou com Keen? Ela parece bem abalada.
—Não posso obrigá-la a falar sobre o assunto. Se ela quiser, vai nos procurar. Mas com Aram eu falei.
—Ele por acaso ligava pro Reddington?
—Não, mas ele acha que a força-tarefa acabou. E isso não é verdade. Enquanto houver nós quatro, ainda há uma equipe. Acho que deveríamos deixar o caso de lado.
—Jen.
—Sério. Pra que fazer tudo isso?-Fiz um gesto mostrando em volta. Vários agentes foram mobilizados para descobrir que fim Red levou. Sendo que nem morto ele estava. –Seria melhor deixar pra lá.
—Sabe de algo e não está nos contando?
—Não. Red está morto, não há nada que possamos fazer. –Olhou pra mim atentamente, estava desconfiando, mas não disse nada. –Podíamos estar prendendo pessoas.
—Sim, mas os assassinos de Reddington também sumiram. Vamos pegá-los. –Pausa. –Você também está triste, Jen, não precisa disfarçar. –Ops, eu precisava ser mais convincente sobre meu luto.
—É que... Ele fez tanta coisa errada comigo, que... Eu tenho medo de sentir e me chamarem de estúpida. Ele me machucou muito.
—Mas também foi bom com você. Pode sentir falta dele, sem problemas. –Assenti, culpada por dentro, triste por fora.
—Obrigada, eu precisava mesmo falar sobre isso com alguém.
—Jenna. –Olhei pra cima, era Cooper me chamando. –Preciso interrogá-la. –Ai, droga.
—Sim, tudo bem.
O segui até uma das salas de interrogatório, a que não era tão opressora. Eu até que estava tranquila, Cooper era legal, seria fácil. Porém, Martin estava ali. Merda.
—Agente Mhoritz, se importa em narrar os eventos desde que saiu do esconderijo?-Perguntou.
—Quando soube que os agentes mortos eram responsáveis pelo Projeto Dangerous, soube que Reddington estava em perigo. Ele havia me contato, pouco antes, que era um dos quatro. Fui atrás dele, convencê-lo a se esconder. Mas o pegaram antes, e a mim também. Depois eles... –Parei. Eu devia dizer que Red havia dado o último nome por que me torturaram? E se isso fizesse todo mundo pensar coisas erradas?
—Eles...?-Olhei para Cooper, que assentiu em encorajamento.
—Eles fizeram Reddington dizer o último nome.
—Como?
—Eles o torturaram.
—Você também foi ferida. Os relatórios dizem que sofreu ferimentos na coxa. Isso aconteceu quando?
—Quando eu... Tentei interferir. Eles se irritaram e me feriram.
—Vocês passaram nove dias presos. O que mais houve? Por que não os mataram depois de obter o último nome?
—Eu não sei. Acho que torturaram Red... Reddington de novo. Eu passei muito tempo inconsciente, então não posso ter certeza.
—O último dia. O que houve? Eles entraram e atiraram nele?
—Eu não sei. Não sei. Estava... Desmaiada. Não vi nada.
Bem, isso era meio verdade. Eu estava acordada quando eles entraram. Mas Red me nocauteou, então eu apaguei antes de tudo terminar. Por que ele fez isso eu não sabia dizer.
—Por que eles não a mataram?
—Não sei. –Respondi, cansada. Como é que eu ia saber? Bom... Na verdade eu sabia. Red os impediu. Mas como todos achavam que ele estava morto... –Não sei.
Martin fez outras perguntas, que eu respondi, às vezes mentindo, às vezes dizendo a verdade, ou uma meia mentira e uma meia verdade.
Saí dali aliviada. Não tinha entregado Red.
Meu celular tocou, o número era conhecido.
—Sim? O que aconteceu?
—Seu apartamento foi invadido, senhorita Mhoritz. –Era o porteiro do meu prédio.
—Ele o que? Roubaram alguma coisa?-Comecei a ir pro elevador.
—Não entrei pra verificar, mas sua nova vizinha disse que a porta está um pouco aberta.
—Estou indo praí agora. –Desliguei.
—Jen, o que aconteceu?-Ressler perguntou, se aproximando.
—Hã... O síndico ligou, querem que os moradores participem de uma reunião urgente por causa das câmeras de segurança, eu tenho que ir. Volto o mais rápido possível.
***
O seu Ivandro se assustou quando me viu pegar a arma antes de entrar no meu apartamento. Dei uma geral. Nada sumiu, nada estava fora do lugar. Parece que haviam apenas entrado, olhado e saído.
—É por isso que temos que colocar aquelas câmeras. –Minha nova vizinha, Lola, disse, ela estava morando no ex-apartamento de Aline e Sara, era uma irritante universitária de vinte e cinco anos, que adorava colocar som alto e sair por aí com roupa de ginástica, sendo que o máximo que ela fazia era subir as escadas. –Imagina só se tivessem entrado pra roubar. Ainda bem que você é policial, garota.
—Agente federal. –Corrigi, sem olhar pra ela. Havia um grupinho de curiosos no corredor, espiando pela porta.
—Pegaram alguma coisa?
—Não. Obrigada pela preocupação, mas já podem ir.
O grupo se dispersou. Fechei a porta. Quem havia invadido meu apartamento, e por quê?
***
O som de algo raspando foi o que me acordou. Abri os olhos, encarando a escuridão, então ouvi uma respiração perto de mim. Me sentei, procurando a arma na cabeceira da cama. Tinha alguém ali. Alguém que correu assim que me movimentei.
—Parado!-Gritei, levantando e correndo atrás do vulto. Parecia ser um homem, mas coberto por um casaco longo e um capuz, não dava pra ter certeza.
O vulto sumiu no corredor e desapareceu. Suspirei, frustrada. Aquelas câmeras precisavam ser colocadas depressa.
***
Falei com Cooper e pedi para que me tirasse da equipe responsável por encontrar Red e seus assassinos. Disse que não podia lidar com aquilo tudo, e ele acreditou. Na verdade, eu só não conseguia mais ficar fingindo. Era cansativo.
Como qualquer outro caso não viria pra minha equipe, eu voltei pra casa, sabendo que passaria longos dias ali.
Lola estava com som alto de novo, músicas indianas. Não era irritante, apenas o volume incomodava, e fazia minha cozinha (parte mais próxima do apartamento dela) tremer. Fiquei tentada em ir lá e mandá-la abaixar aquela droga. Isso era um sinal de que eu precisava me acalmar.
Tomei um banho, e quando saí, o som estava mais alto ainda. Droga. Aline e a mãe dela nunca incomodavam, não dava nem pra notar que tinha alguém morando ali. Lola era totalmente inconveniente.
Fui pra cozinha pegar minha arma (talvez a visão – inocente – dela convencesse Lola de que eu não deveria ser irritada), e então parei, totalmente alerta, me preparando para uma futura briga.
—Como entrou aqui?-Perguntei, olhando com o canto de olho para o balcão, onde minha arma deveria (mas não estava) estar.
—Creio que sabe dos cartões.
—Sim, eu sei. Mas como sabe disso é um mistério. A não ser que... Ah, merda. Foi você.
Era meu vizinho de corredor. Aquele que eu quase derrubei na escada. Não consegui me lembrar do nome dele.
Desarmada, só me restava partir pra luta corporal. Ele era grande (ombros largos, músculos aparecendo), mas não era dois, e eu já tinha derrubado homens maiores. Porém, era melhor tentar dialogar primeiro.
—Por que fez aquela brincadeira?-Perguntei.
—Não era uma brincadeira. Eu realmente gosto muito de você. Mas você nunca me notou.
—Isso não é verdade, eu o conheço...
—Há quanto tempo moro aqui?-Cruzou os braços.
—Hum... Eu realmente não sei.
—Cheguei dois meses depois que você. Dois. E você nunca me deu bom dia.
—Eu sou um pouco desatenta. –Isso era verdade. Eu nunca cumprimentava meus vizinhos, por que nem reparava neles. –Desculpe, hã...
—Cameron. Meu nome é Cameron.
—Ah, certo. Desculpe, Cameron.
—Tudo bem. –Estendeu a mão. –Só... Desculpe se eu a assustei. Eu... Não deveria ter entrado assim.
—Foi você que invadiu ontem, não é? Quando eu estava no trabalho, e depois, quando estava dormindo.
—É. Fui eu. Desculpe. –Estendeu mais a mão. –Desculpa?-Suspirei. Tinha sido fácil.
—Certo. Desculpado. –Aceitei a mão dele. –Mas você nunca mais...
Foi um movimento rápido, e que eu não previ. Cameron me puxou pra frente, me girando e ficando atrás de mim. Um pano foi colocado contra o meu rosto, então eu apaguei.
***
Eu estava na mesma situação em que estivesse em São Petersburgo, com Adrian. A diferença era que Cameron havia me sequestrado apenas por que estava (supostamente) apaixonado por mim. Se isso era verdade, por que eu estava algemada?
—Desculpe, por isso. –Pediu, vendo que eu estava tentando esfregar meus pulsos doloridos. –É para que não se machuque tentando fugir.
—Se você ama uma pessoa, deve deixá-la ir, mesmo que seja para longe de você. –Gritar com ele, espernear, tentar fugir... Nada disso ia me ajudar. Eu tinha que me manter calma, e fingir acreditar no que ele dizia.
—Passei muito tempo longe. Não posso deixá-la escapar. –Droga. –Eu não quero machucá-la, Jenna, eu a amo.
—Não sei se acredito. Não sei se alguém me amaria de verdade.
—Que história é essa? É claro que...
—Nenhum homem presta! Nenhum! Quatro namorados, e todos me machucaram. –Olhei pra baixo, sabendo que derramar algumas lágrimas falsas seria ótimo.
—Machucaram você? Até aquele que não sai do seu apartamento?
—Principalmente ele. –Voltei a erguer a cabeça, lágrimas de mentira quase caindo. –É um grosso, bruto... Me bate quando está irritado.
—Ele ousou bater em você?-Fiz que sim. –Por que não termina com ele?
—Por medo. Medo dele... Medo de ficar sozinha... Se soubesse que poderia encontrar alguém melhor...
—Você pode. –Encostou na minha mão. Me afastei.
—Não tenho certeza.
—Mas você pode. Eu sei que pode. Está com fome, precisa de algo?
—Não, obrigada. –Me forcei a sorrir um pouco. –Você parece gentil. Diferente daquele monstro... –Caí no choro, deitando a cabeça no ombro de Cameron.
Ele acreditou totalmente.
Idiota.
***
Enrolar Cameron era fácil. Ser a Jenna indefesa que só se ferra com o sexo oposto era a parte difícil. Inventei uma história horrível sobre Ressler ser um namorado muito violento, e eu, a mocinha sofredora. Cameron acreditou, e passou a ser muito atencioso. Porém, nada de tirar as algemas.
Eu ia ter que pegar pesado.
—Obrigada pelas flores, Cam. –Agradeci, apontando com a cabeça para o vaso ao lado da cama. –Você é tão... Gentil e fofo... Queria ter conhecido você melhor antes. –Se sentou na minha frente. –Acho que depois de ver como eu sou tão... Idiota, nem deve mais gostar de mim, não é?
—O que? Claro que gosto, Jen.
—Você é tão bom... Não existem palavras que possam descrever como você... Me faz bem. –Sorriu. Idiota. Idiota. Idiota. –Cam... Será que... Pode tirar a algema?–O sorriso sumiu. Eu tinha que ser rápida. –Eu queria te dar uma coisa, mas... –Dei de ombros.
—Jenna, eu não sei. Você pode acabar se machucando. –Como? Tentei não revirar os olhos e me aproximei.
—Tudo bem, eu dou um jeito. –O peguei de surpresa, beijando-o. Entrei totalmente no modo atriz, como fazia na época de Dangerous. –Se você me soltar... Talvez eu possa fazer melhor.
Procurou a chave no bolso, quase desesperado, e soltou a algema. Idiota, idiota. Como podia ser tão burro?
Voltei a beijá-lo (na verdade querendo esganá-lo) e o obriguei a deitar, ficando por cima dele. Era hora da cartada final.
—Feche os olhos. –Sussurrei. Ele obedeceu. Quase senti pena ao socá-lo forte o suficiente para fazê-lo apagar.
O algemei só por segurança, e saí do quarto rapidamente, procurando por um telefone. Encontrei um na sala e disquei o número de Ressler. Enquanto esperava, espiei pela janela. Onde eu estava?
—Alô?
—Ress, sou eu. Jenna.
—Jen? Onde você está?
—Eu não sei. –Comecei a andar de um lado para o outro. –Meu vizinho me pegou. Cameron. É tudo o que eu sei.
—Você conseguiu fugir?
—Não. Estou numa casa, e tudo o que eu vejo ao olhar pra fora é... Mato. Nocauteei Cameron e o algemei.
—Faça-o acordar e dizer onde está. Vou pedir para Aram verificar as casas no nome de Cameron.
—Ok. –Comecei a voltar para o quarto.
—Jen.
—Sim?
—Vou achar você, eu prometo.
***
—Vamos, acorda, acorda!-O tapa que dei no rosto de Cameron foi um pouco forte demais. Ele abriu os olhos e demorou vários segundos para entender o que tinha acontecido. –Onde estamos? Qual o endereço?
—Você me enganou!-Parecia magoado. Filho da mãe.
—Me diz onde estamos. Ou quebro a sua cara.
—Pra que eu vou dizer? Pra você ir embora, de volta pro seu namorado violento?
—Spoiler: Ressler não é nada violento. Agora me diz onde estamos. Por que a violenta sou eu.
—Não vou te dizer. Não pode ir. Eu vou cuidar de você.
—Se não me disser... –Pensei. Socá-lo não ia adiantar. –Então saberei que estava mentindo sobre me amar. Saberei que estava apenas querendo me usar, como os outros.
—Não! Eu não...
—Então me diz. Prove que ama de verdade. –Hesitou. Esperei, em silêncio.
—Tudo bem. Se é o que quer de verdade...
Quase uma hora depois dois carros pararam na frente da casa. Em um deles estava Ressler e Keen.
Donald praticamente me esmagou, me abraçando com força. Keen desviou os olhos da cena e se apressou em entrar na casa. Cameron foi retirado pouco depois, ainda algemado.
—Se machucar a Jen, - Começou, se recusando a continuar andando. –eu mato você, Donald Ressler. Eu mato!-Um dos agentes o empurrou, então conseguiram o enfiar no carro.
—O que foi isso?-Ressler perguntou.
—Deixa pra lá. –Pedi. –Esqueça.
***
Bati na porta aberta, Lizzy ergueu a cabeça dos papéis que lia e acenou, me deixando entrar. Fechei a porta e me sentei na frente dela. Sabia que tinha algo a fazer.
—Preciso contar uma coisa. –Avisei. –É sobre o Red.
—Ele te disse alguma coisa antes de... –Respirou fundo. –Antes de...
—Ele não está morto. –Olhou pra mim, incrédula.
—O que?
—Red está vivo, Lizzy.
—Ele falou com você? Você o viu? Por que ele... Onde...
—Elizabeth, calma. Eu não sei responder nenhuma das suas perguntas. Apenas sei que ele não está morto.
—Como?
—Quando entraram, para matá-lo, ele me nocauteou. E depois... Não havia corpo. Fui atrás dele, Dembe disse que não sabia onde ele estava. Mas eu sei que Reddington está vivo. –Ela riu, afastando os papéis, lágrimas brilhando nos olhos.
—Aquele desgraçado... Por que não me disse antes, Jenna?
—Se Red fez isso, então há um motivo. Não quero atrapalhar o plano dele, seja lá qual for.
—Vamos manter segredo absoluto sobre isso. Ninguém pode saber além de nós e Dembe.
—Bom... –Suspirou.
—Você contou ao Ressler.
—É. Depois que me trouxeram de volta... Eu acabei contando. –Ele queria saber por que eu não parecia triste pela morte de Red, por que saí do caso, e por que estava estranha. Acabei dizendo a verdade.
—Tudo bem. Mas vamos manter segredo.
—Certo.
—Jenna... Mudando de assunto... –Fez uma pausa, desviando os olhos, então voltando a me encarar. –Como lidou com o fato de que Daniel havia te enganado? Quer dizer... Ele não a enganou, no fim das contas, mas...
—É sobre Tom?
—Sim. Não sei se posso lidar com isso. Ele foi embora, mas... As lembranças não somem. Com você foi assim? Com Daniel?
—Lizzy, não dá pra esquecer. Superar, talvez. E você consegue fazer isso, eu sei que consegue. Você parece delicada, frágil... Mas é bem durona por baixo dessa capa. Tom vai reaparecer, com certeza. E aí você o pega e não o deixa escapar. Confronte-o. Isso vai fazer com que se sinta melhor. Pode demorar? Talvez. Mas um dia isso não vai a ferir tanto.
—Você acabou de ser profunda. E deu um bom conselho. É mesmo Jenna Mhoritz? A Dangerous que veio para a equipe, dando ordens e falando palavrão?
—Sim e não. Eu amadureci um pouco. Bem pouco. –Sorrimos. –Aprendi com essa equipe. Com você, Cooper, Ressler, Aram, Meera... E até mesmo Reddington. Todos que conhecemos nos marcam, e deixam uma lição para trás. Até mesmo Tom me ensinou algo. –Levantei.
—O que ele ensinou?
—Não desistir. Mesmo que pareça impossível. Uma vez, quando lutamos, parecia tudo perdido. Ele estava ganhando. E eu estava muito ferida. Daniel precisou ser segurado por Ivan, Luke e Paul, ou teria vindo me ajudar. Tom gritou comigo, uma série de insultos. Sabe o que aconteceu?
—O que?
—Eu me levantei, e acabei com a raça dele. Foi a primeira vez que o venci, e não foi a última. Ele achava que me insultando e me humilhando, ia me dominar, e eu ia recuar. Mas se enganou. Foi justamente isso que me deixou mais forte. –Assentiu. –Tenho certeza de que o que ele fez com você, vai te deixar forte também. –Fui pra porta.
—Jenna. –Parei. –Obrigada.
—Conte comigo... Amiga.


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