Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 37
O Informante


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥



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Reddington realmente foi embora. Não deu sinais, e eu nem esperava. Não sabia o que fazer caso o encontrasse.
Os dias passaram, casos de menos importância foram chegando e sendo tratados. Meera continuava dando ordens, e, estranhamente, Keen e Ressler pareciam próximos. Eu sabia que eles se conheciam antes de eu chegar à equipe, mas vê-los se tratando por apelidos e conversando pelos cantos era estranho. Ok, talvez eu tivesse mesmo com ciúme.
Naquele dia, me sentei na sala de Ressler e comecei a verificar meu email. Elizabeth e Donald haviam saído, para resolver um caso sei lá do que, e eu havia ficado de fora. Um email chegou. Endereço desconhecido.
“De: Informante
Assunto: Caso Especial
Stefan Colliar é um serial killer que nunca foi pego. Ele tem seis vítimas, e creio que fará mais uma. Cada uma das vítimas são apelidadas por Stefan, e o caso ganhou o nome “Princesas”. Aqui vai uma lista das seis garotas que ele matou, a forma, e o apelido.
Blair Devade: envenenada – Seria a Branca de Neve de Stefan
Serena Berger: afogada – Ariel
Elena Avidare: congelada – Elsa
Romena Weasley: esquartejada (o corpo foi encontrado numa cesta) – Chapeuzinho Vermelho
Bianca Morgan: empalada – Bela Adormecida
Corina Middar: atacada por lobos (feras) – Belle
Aqui vão anexos importantes para o caso. Espero que pegue Colliar.”
Li todos os anexos, cenho franzido. Era tudo muito fantasioso, mas enquanto lia os relatórios, pude entender a lógica de tudo. Parece que Colliar gostava de histórias infantis.
Eu tinha uma opção: dizer à Meera, ou trabalhar no caso sozinha.
Era hora de eu treinar minhas habilidades investigativas. Ia trabalhar sozinha.
–O que ele quis dizer com Bela Adormecida empalada?-Murmurei, anotando umas partes necessárias. –Ela dorme depois de furar do dedo e... Ah. –Stefan tinha lógica.
De acordo com o Informante, haveria mais uma vítima. Tentei pensar em mais histórias infantis, faltava a que era a favorita de Cassandra, minha falsa mãe: Cinderela. Mas como Stefan mataria a garota correspondente a ela?
Outro email chegou, dessa vez com um endereço. O anotei num papel e saí.
–Aonde você vai?-Meera perguntou, interrompendo a conversa com Aram.
–Volto logo!
–Jenna... –Entrei no elevador antes que tentasse me impedir.
***
Cheguei ao endereço fornecido quarenta minutos depois. Saltei do carro e olhei em volta. Era um condomínio que estava em construção, mas houve sérios problemas e as obras haviam sido suspensas.
Havia uma forma humana não muito longe de onde eu tinha estacionado, me aproximei, a mão na arma. Uma garota, loira e pálida estava caída no chão, os olhos abertos. Me abaixei e verifiquei a pulsação. Morta.
–Parece que você é a Cinderela. –Murmurei.
Não tive escolha, tinha que envolver alguém no caso, mas quem? Lembrei de um cara que auxiliava a Dangerous. Ele era um tipo faz-tudo e sabia fazer de tudo numa investigação, ia ter que servir. Ele tinha quase quarenta anos, cabelos bem curtos e uma tatuagem de espadas cruzadas no ombro direito.
Duas horas depois eu estava sentada em um balcão, enquanto Igory fazia uma autopsia na Cinderela de Colliar.
–Ela foi drogada. Overdose.
–Quais são as chances de ela ter feito isso sozinha?-Perguntei, lançando um olhar rápido ao computador ao meu lado, onde o resultado da pesquisa que fiz estava carregando.
–Foi forçada. Tá vendo as marcas na garganta? Alguém a segurou e a forçou a abrir a boca. E tem marcas nos pulsos, tá vendo? Amarrada. –O computador fez um som. Me aproximei.
–Nossa Cinderela é Julie Toubia. Desapareceu há dois dias, tem dezoito anos.
–Bem nova.
–Mesma idade das outras “Princesas”. –Comecei a ler as informações sobre Julie.
–Quem está te passando essas informações?
–Sei lá.
Secretamente, eu suspeitava que fosse Reddington. Quem mais me mandaria um email com informações sobre um criminoso? Mas ele não havia dito que só falaria com Keen? Por que daria um caso pra mim?
–Você devia contar pra substituta do diretor assistente. Sério. Não pode esconder um caso assim.
–Não estou escondendo, estou investigando. Malik vai tirar o caso de mim antes que eu possa dizer “espera”. Esse caso é meu. E eu vou resolvê-lo.
–Por que iam te colocar de fora?
–Por que eu só sirvo pra pegar os caras maus, não pra investigar. Sou um cão de caça e destruição. Apenas isso. –Anotei o endereço de Julie. –Guarda o corpo dela aqui, vou falar com os pais dela. E se der, dar uma passada na casa das outras garotas. –Levantei.
–Jen.
–Hum?
–Toma cuidado. Esse cara... Não tá de brincadeira. Pode ser outra “Princesa” na mão dele.
–Não tem mais princesas, tem?-Deu de ombros.
–Sabe que eu não manjo de histórias. Agora vai. E não faça nada ilegal.
–Vou tentar.
***
–Senhora Toubia?-Perguntei, assim que uma cópia envelhecida de Julie abriu a porta. –Sou a agente Mhoritz, será que podemos conversar?
–É sobre a Julie?
–Sim. –Assentiu, engolindo seco.
–Entre. –Segui a mulher até uma sala incrivelmente branca e limpa. Me sentei no sofá, enquanto Juna, mãe de Julie, se sentava no outro. –Minha Julie...?
–Lamento, mas... Sua filha está morta. –A mulher abaixou a cabeça, tentando não chorar. Achei melhor ficar calada. Não era boa em consolar ninguém. –Preciso que a senhora responda umas perguntas e... –Puxei uma foto de Stefan do bolso. –A senhora já viu esse homem antes?-Juna ergueu a cabeça, olhando para a foto.
–Foi ele quem machucou a Julie?
–Sim. A senhora o conhece?
–Não. Espere... Como ele se chama?
–Stefan Colliar.
–Stefan... –Pareceu pensativa. –Ela disse algo sobre um Stefan, uma vez. Acho que o conheceu numa lanchonete, ou algo assim.
–Alguma amiga da Julie pode reconhecê-lo?
–Julie não tem amigas. É uma menina... Solitária.
–Entendo. Julie trocava mensagens ou emails com Stefan?
–Eu não sei, não... Não faço ideia. –Assenti. Estava na cara que as duas não tinham uma ótima relação confidente entre mãe e filha. –Não posso ajudar.
–Senhora Toubia, esse homem matou mais seis garotas, e pode matar mais. Qualquer informação sobre Stefan é útil.
–Eu não sei de nada.
–Tudo bem. –Entreguei um cartão. –Se a senhora... Souber de algo ou precisar, me avise.
***
–Cara, que tipo de mãe não sabe se a filha tá saindo com um cara?-Perguntei à Igory, quase revoltada, enquanto dirigia para a parte leste da cidade. –E Julie não tem amigas! Ninguém pra dizer uma única informação.
–Nem todas os pais e filhos se dão bem. Olhe a minha mãe, ela me expulsou de casa quando eu tinha quinze anos. E ainda liga pra reclamar que eu sou um filho horrível que não a visita nunca.
–Então por que não vai visitá-la?
–Por que ela só fica dizendo que meu irmão é melhor que eu. Por isso eu não a visito mais.
–Entendo. –Suspirei. –Tenho mais seis visitas pra fazer.
–Pra que? Você tem o relatório da polícia.
–Eu sei, mas acho que falar com os pais dessas garotas pode ascender uma luz no fim do túnel.
–Boa sorte.
–Obrigada.
Demorei o dia todo pra falar com todos os pais. Quando voltei ao escritório de Igory, era mais de duas da manhã. Havia seis ligações de Ressler no meu celular, e quatro mensagens. Ele ia me matar.
–E então?-Igory perguntou me estendendo uma xícara de café.
–Nenhum pai ou mãe conhecia Stefan. Só a senhora Toubia sabia que ele existia. –Bufei. –Estamos zerados.
–Nem tanto. Acho que tenho um palpite.
–Um palpite?
–É. E um dos bons.
–Qual?
–O condomínio em construção. Acho que ele pode estar escondido lá. Li os relatórios que me falou. As vítimas um e dois tinham pó de cimento nas roupas.
–E...?
–Pó de cimento, Jen. Aquele condomínio tá em obras. Não acho que seja difícil encontrar isso por lá. E a Julie Toubia...
–Foi deixada na entrada.
–Ele ou estava com pressa pra se livrar do corpo, ou com preguiça. Por isso a largou lá.
–Você é um gênio, Igory.
Me sentei perto da porta, com minha xícara de café. Ainda não queria contar à Meera que estava investigando. Meu celular tocou, Ressler.
–Oi.
–Onde você se meteu?-Perguntou.
–Estou bem.
–O porteiro do seu prédio diz que você saiu de manhã e não voltou mais. Está tudo bem?
–Sim. Só... Estou ocupada. –Ressler diria que era loucura eu investigar sozinha, e que eu devia contar à Meera. Se não contasse, ele contaria.
–Fazendo o que?
–Ress, juro que conversamos amanhã.
–O que está aprontando?
–Jenna!-Igory chamou, fiz um gesto, o mandando esperar.
–Quem está aí com você?
–Só um amigo. –Respondi.
–Achei que não tivesse amigos...
–Donald, por favor, a gente conversa amanhã. Prometo. Eu... Te amo. Tchau. –Desliguei e fiz o mesmo com o celular.
–Era seu namorado?-Igory perguntou. Levantei e me aproximei de onde ele estava, mexendo no computador.
–Sim. E então?
–Dei uma olhada sobre o condomínio. As obras foram interrompidas cinco meses antes da primeira vítima, Blair Devade, ser morta.
–Vou dar uma olhada amanhã de manhã.
–Quer que eu vá junto?
–Não. Só vou olhar. Não acho que Stefan esteja morando lá.
–Ele está foragido, né? É um bom lugar pra se esconder.
–Mas ele não sabe quando as obras podem ser retomadas.
–Seria um risco necessário. –Deixei a xícara, agora vazia, na mesa.
–Vou pra casa. Ligo amanhã antes de sair.
–Tá. Se precisar de reforço... Ainda posso fazer um estrago.
–Ok. Obrigada, pela ajuda.
–Conta comigo, Dangerous.
***
Acordei cedo no diga seguinte, tomei café, liguei para Igory, e então saí para o condomínio abandonado. Stefan provavelmente havia deixado pistas.
Comecei a vasculhar pelos fundos do condomínio, uma dica que Igory me deu. Quando mais retirado, melhor para um assassino procurado se esconder.
Não encontrei nada na primeira casa que encontrei, então parti pra segunda. Espiei pelo vidro quebrado e sujo de uma das janelas. Não parecia haver nada, mas era melhor entrar e verificar.
Dei a volta, encontrando um quadrado, sem vidro, que deveria ser uma janela. Me apoiei pra pular. Foi quando uma sombra cobriu o sol. Tentei pegar a arma e virar, mas já era tarde.
***
Quando acordei, não pude acreditar no que estava acontecendo.
Eu estava amarrada em um poste de madeira, com vários gravetos e coisas assim aos meus pés. Exatamente como uma bruxa naqueles filmes antigos. Alguém estava planejando me queimar viva. E eu sabia quem era.
–Que bom que acordou, agente Mhoritz. –Ergui a cabeça. Stefan Colliar parou na minha frente, um pouco afastado. Devia ter mexido nas minhas coisas, ou visto TV. Não era difícil me conhecer depois de tanta informação da Dangerous ser exposta.
–Vai me queimar? Como uma bruxa?
–Creio que conheça a história do Corcunda de Notre Dame?
–Aquele do personagem corcunda... Que tem uma igreja e... Ciganos?-Eu me lembrava vagamente da história.
–Sim, essa mesma. Sabe quem é a personagem Esmeralda?-Refleti por alguns segundos.
–Uma cigana.
–E o que acontece com ela?
–Ela... Tentam queima-la?-A fixa caiu rapidamente. Não era possível.
–Pela sua expressão, você entendeu. É a minha Esmeralda.
–Não pode me queimar viva.
–Não posso? Quem disse?-Tirou uma caixa de fósforos do bolso e riscou um, atirando-o no monte de gravetos aos meus pés. –Adeus, Esmeralda. –Se afastou mais alguns passos.
Tentei forçar as correntes que me prendiam, mas parecia impossível, considerando que além de todo meu tronco estar amarrado, meus pulsos também estavam. O aperto era suficiente para deixar minhas mãos dormentes.
O fogo não ia demorar a me queimar. Ia me alcançar logo, então eu ia... Virar churrasco. Continuei forçando as correntes e tomei uma atitude realmente desesperada: gritei por socorro. Isso pareceu divertir Colliar, que começou a rir.
–Ninguém vai te ouvir!-Avisou, tentando gritar mais alto que eu. –Ninguém vai ouvi-la! Estamos muito longe!
–Socorro!-Alguém tinha que ouvir. Alguém tinha que vir e me ajudar. –Socorro!
As chamas subiram, a fumaça começou a me fazer tossir e sufocar. Stefan desapareceu da minha linha de visão, coberto pela fumaça negra. Eu ainda podia ouvi-lo rir.
A tosse me obrigou a parar de gritar. Era isso... Era o fim.
***
Tinha alguma coisa no meu rosto. Ainda de olhos fechados puxei aquilo pra longe. Alguém deu algumas batidas de leve no meu rosto.
–Jen, acorda. Jen. –Abri os olhos e comecei a tossir de novo. Aos poucos Ressler foi tomando forma ao meu lado. Eu estava deitada ao lado de uma ambulância, numa maca.
–Me queimei muito?
–Não. –Tentei olhar pra mim mesma, mas minha cabeça estava doendo muito.
–Como me acharam?-Tossi.
–Uma ligação anônima. Quando chegamos, você estava caída no chão, e um cara amarrado. Além disso, uma fogueira enorme.
–Ele queria me queimar. Stefan Colliar. –Fiz esforço e me sentei.
–O que está fazendo aqui? O que aconteceu?
–Eu estava investigando, depois eu explico. –Tossi de novo. Minha blusa e o meu jeans estavam pretos. Olhei em volta, Stefan estava sendo levado dali. Se o FBI não havia interferido, quem havia me salvado?
–Eu queria te dar uma coisa, e acho que agora é um bom momento, considerando que acabou de driblar a morte de novo...
–Hum?-Olhei pra ele, que tirou uma caixa média do bolso e me entregou. A abri, vendo um colar. Corrente de prata, uma pedra vermelha. –Por quê?
–Não sei. Pedi a ajudar de Keen, e... Como não sabia o que te dar... Por que... Bem, você gosta de armas, e quase nunca usa jóias...
–Eu adorei, obrigada. É por isso que estava andando pelos cantos com Elizabeth?
–É. Por quê? O que achou que... Ah.
–Sim, eu estava com ciúmes. –Sorriu.
–Bom saber. Aqui. –Tirou o colar e o colocou no meu pescoço, fechando-o. - Vai me contar agora o que andou aprontando?
–Depois. Tenho que fazer uma coisa agora.
***
“Caro Informante, Stefan Colliar foi preso e duvido que saia da prisão tão cedo. O caso foi resolvido. Obrigada pelas dicas, Reddington.”
Terminei o curto email e o enviei. Não demorei a receber uma resposta.
“Fico contente em saber que o caso foi resolvido. Mas tenho que perguntar: Reddington? De onde tirou que sou Reddington?”
Revirei os olhos. Pra que se fazer? Era óbvio que Raymond havia me dado o caso.
Alguém bateu na porta e parou nela.
–Olá, Mhoritz, o que fazendo?-Era Reddington. Olhei dele para o computador algumas vezes.
–Por que me deu informações sobre Colliar?
–Quem? Que informações?
–Espera, se não era você me passando informações... Quem é meu informante misterioso?


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Notas finais do capítulo

Se Jenna Mhoritz não for se meter em confusão, ela nem sai de casa.
E então, o que estão achando? Comentem aí ♥



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