Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 12
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Oi, voltei.



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Quando Raymond, Keen e o “capanga” de Red chegaram, Ressler e eu estávamos brigando. Brigando de verdade, com socos e xingamentos. Claro que o agente não queria partir pra violência, mas eu era capaz de irritar até um monge e fazê-lo brigar comigo.

Com a perna quebrada, eu tive que manter a briga no chão, derrubando Ressler e tentando prende-lo com meu peso. Ele me deu um tapa que virou meu rosto com tudo. Cuspi nele, irada.

O segurança particular de Reddington me tirou de cima de Ressler, me puxando para trás enquanto eu me debatia furiosa.

—Me solta! Me solta que eu não acabei ainda! Me. Larga!

O cara só me soltou quando estávamos na minha sala de treinamento. Me sentei no chão, respirando fundo. Meu rosto estava ardendo onde Ressler havia batido, mas em compensação... Eu cortei o lábio dele com um soco.

—Você conseguiu tirar Donald do sério e fazê-lo te bater. –Reddington disse, largando as muletas ao meu lado. –O que foi que disse pra ele?

—Um monte de coisas. Tenho que voltar lá... –Tentei me levantar, ele me impediu.

—Senta aí e se acalma.

—Não quero me acalmar, quero socar alguma coisa!

—Vai ter que deixar para mais tarde. Meera quer falar com vocês dois.

—Merda.

Entrei na ex-sala de Harold, então me sentei (obrigada) ao lado de Ressler, que nem olhou pra mim. O lábio dele ainda estava sangrando.

—Qual dos dois quer começar a explicar o que foi que aconteceu?-Meera perguntou, cruzando as mãos em cima da mesa. Ressler começou a falar antes que eu sequer considerasse o que dizer.

—Ela me provocou...

—Ai meu Deus, que dó!-Gritei, me virando para olhá-lo. –Tadinho do Ressler.

—Está vendo? Ela é infantil, impulsiva, inadequada, impossível, rebelde e grosseira. Não dá para trabalhar com alguém assim.

—Eu te daria um chute, se não estivesse com a perna quebrada.

—Viu isso?

—Vi. –Meera respondeu, suspirando. –Eu poderia pedir para transferir a agente Mhoritz, ou até mesmo demiti-la, mas Harold a queria aqui e Reddington também a quer. Não podemos tirá-la da equipe.

—Ela vai acabar fazendo besteira.

—Eu salvei a sua vida. –Lembrei-o. - E você sequer agradeceu. Quem é que fez besteira? Quis ir sozinho para a missão e dar uma de agente 007, mas quase morreu por isso.

—Não fala comigo, Mhoritz.

—Falo com você se eu quiser.

—Meera.

—Jenna, por favor. –Ela pediu. –Vocês dois erraram. Começaram uma briga num ambiente de trabalho, e por qualquer coisa. Vou ter que suspender vocês.

—O que?-Ressler e eu perguntamos ao meu tempo. –Não fui eu quem começou. –Olhamos um para o outro, irritados por falarmos a mesma coisa ao mesmo tempo.

—Não quero saber quem começou. Por mais que um tenha começado, o outro continuou. Os dois estão suspensos. Quero que usem esses dias em casa para pensar no que fizeram.

—Reddington precisa da gente. –Avisei. –Não pode nos colocar pra fora.

—Ainda estamos no meio de uma missão. Vocês serão afastados sem problemas.

—Meera!

—Não vou tomar outra atitude. Não acho que queiram ser demitidos. –Bufei, me jogando pra trás na cadeira. –Podem ir.

Me levantei com dificuldade e saí da sala, Ressler estava me esperando no corredor, me encarando mortalmente. Sorri pra ele.

—Cara feia não me intimida, querido colega chato. Desista.

—A culpa disso tudo é sua. –Acusou.

—Em vez de ficar me culpando, vai lá colocar gelo nesse lábio e não irrita. –Me virei e comecei a me afastar, sentindo o olhar fuzilador de Ressler sobre mim, até desaparecer das vistas dele.

***

Eu tinha alguns problemas em me manter parada, então, mesmo com a perna quebrada, decidi dar uma geral no meu apartamento.

Ensaquei todas as roupas sujas e mandei para minha vizinha, que lavava roupa pra qualquer um que pudesse pagar, por cinco dólares cada peça. Era meio idiota fazer isso, mas eu não tinha condições de lavar nada no momento, e era uma tarefa que eu odiava.

Me livrei de todas as caixas de pizza e de comida chinesa que havia na cozinha, e coloquei a louça amontoada no lava louças. Tinha prato que estava ali há uns dois meses.

Depois disso, dobrei algumas roupas que tinha deixado largadas em um dos sofás, enquanto assistia à reprise de “Under The Dome”.

Após terminar, fiquei vagando pelo apartamento, sem nada pra fazer. Quando acontecia isso, e não havia missões, eu e os meninos treinávamos, o que significava troca de socos e coisas assim.  Nós éramos bem unidos, e se algum problema acontecia com um, todos nos uníamos pra ajudar. Mexer com um de nós era mexer com a equipe inteira.

Me lembrei da vez em que Ivan se meteu com uma garota comprometida, e o namorado dela veio com uns dez caras tirar satisfação.

“-Oou, gente. Problema na área. - Luke disse, apontando para a cena que se desenvolvia perto de nós. Vários caras cercaram Ivan, com expressões assassinas no rosto. –É o namorado daquela garota que nosso querido amigo idiota andou agarrando.

—Ivan nunca consegue se segurar, já perceberam?-Paul perguntou. Terminei minha bebida e me aproximei de Ivan, o resto da equipe fez o mesmo.

—Algum problema, amigo?

—Esse babaca aqui andou pegando a minha namorada. –O cara mais alto disse. Cruzei os braços.

—Ela quem quis me pegar. –Ivan disse, dando um sorriso convencido.

—Vou quebrar a sua cara.

—Quero vê-lo tentar. –Avisei. O cara olhou pra mim.

—É melhor sair daqui, bonitinha, não quero ter que te dar uma surra. –Olhei para minha equipe, então para o cara na minha frente.

—Não devia ter dito isso. –Daniel comentou, sorrindo.

Acertei um chutei no estômago do imbecil que mexeu com Ivan. Quando ele se dobrou, acertei uma joelhada em seu rosto, então um soco. Ele caiu no chão, com o nariz sangrando.

—Ainda quer me dar uma surra, gracinha?-Perguntei. Todos os amigos dele saíram correndo. Ele foi atrás, meio tonto.

—Valeu, Jen. –Ivan disse, passando o braço por cima dos meus ombros. Acertei um tapa na nuca dele.

—Vê se fica esperto e para de ficar com garotas comprometidas, idiota. Não vou salvar sua pele todas as vezes.

—Vai sim. Você me adora. –Revirei os olhos.

—Imbecil.”

Salvei a pele daqueles garotos mais vezes do que podia contar, eles sempre estavam fazendo besteira, principalmente enquanto estávamos na adolescência. Principalmente Daniel. Ele costumava fugir da base onde fomos treinados, para ir beber ou ficar com algumas garotas (reparem bem: algumas garotas). Naquela época era eu quem o encontrava quando ele voltava, caindo de bêbado. Eu era dois anos mais nova que ele, e a única que o ajudava. Todo mundo achava que ficaríamos juntos, mas eu não tinha noção de como esse tipo de coisa funcionava, então nunca me envolvi com ninguém.

“-Você tem que parar com isso. - Avisei. Tinha quinze anos, e era de acordo com quem nos treinava, esperta demais para minha idade em algumas coisas, e burra demais em outras. –Se alguém vê-lo assim... Vão te castigar.

—Garotinha do Daniel. –Ele murmurou, era assim que Ivan me chamava naquela época.

—Vem. –Passei um dos braços dele por cima dos meus ombros. –Faça silêncio.

—Você é muito fofa, Jen. –Revirei os olhos.

—E você só me elogia quando está bêbado.

—É que aí eu me solto.

—Cala a boca. Espero que Tian não te mate quando você chegar no treino amanhã, de ressaca. –Fez um gesto com a mão, mostrando que não se importava. Abri a porta do quarto e levei Daniel para dentro, empurrando-o para a cama, ele me puxou com tudo, me fazendo cair em cima dele. –Dan!

—Ops, foi sem querer, Jen.

—Mentiroso. –Me levantei, cruzando os braços. Ele se sentou, apoiando-se nos cotovelos.

—Sabe, até as mulheres que limpam a base suspiram quando eu passo. Por que você não me dá bola?

—O que isso significa?

—Que você não quer ficar comigo. –Franzi o cenho.

—Em que sentido?-Daniel riu, balançando a cabeça negativamente.

—Caramba, Jen! Você entende tudo sobre armas, dá surras em caras três vezes maiores que você, mas não entende de relacionamentos?

—O que quer que eu faça? Eu só saio da base quando necessário. E tenho quinze anos, não entendo nada de relacionamentos. Nem deveria.

—Deveria sim. Mês que vem vamos matar pela primeira vez, para completar o treinamento e a fase dos testes. Enquanto garotas beijam, você mata. Não faz muito sentido. –Suspirei.

—Não sei por que estamos falando disso. –Ele se levantou, meio cambaleante, e segurou meus ombros. Daniel era grande comparado comigo, mas eu era acostumada a lutar com ele de vez em quando e meter boas porradas no cara.

—Se eu fizer uma coisa, você jura que não me bate?

—Depende, o que você vai fazer?

—Vou te mostrar.

Para minha surpresa, Dan aproximou o rosto do meu e me beijou. Não sei o que ele queria que eu visse, ou sentisse, porque tudo o que eu pude achar era que era estranho. O gosto do álcool se enfiou na minha boca, me fazendo recuar e me soltar de Daniel. Ele deu um passo para trás, no mínimo achando que tinha me assustado ou algo assim.

—Isso foi... Estranho. –Comentei. –E você está bêbado. Provavelmente me embriagou também. –Riu, acabei fazendo o mesmo.

—Sentiu alguma coisa?

—O gosto do álcool. –Ele cruzou os braços, com a mesma expressão que usava antes de desafiar um oponente maior e mais forte que ele.

—Só isso?

—Eu devia sentir mais alguma coisa? E se devia, bem, acho que a bebida tratou de camuflar. –Deu um passo na minha direção.

—Se eu não estivesse bêbado, acha que seria diferente?-Dei de ombros.

—O álcool foi o problema, então talvez...

—Me espere aqui. –Foi em direção a porta do banheiro. –Não saia daí, Mhoritz. –Quando ele sumiu pela porta, me sentei na cama dele, batendo os dedos na parte de madeira. Seja lá o que estava acontecendo ali, estava ficando interessante. –Ok, vamos tentar de novo. –Se sentou ao meu lado.

—Tentar o que?

Me puxou pela cintura e me beijou de novo, respondendo minha pergunta. Dessa vez não foi tão ruim, porque o gosto das bebidas que ele havia ingerido não interferiram. Quando me separei de Daniel, ele estava sorrindo.

—E então?

—Até que foi legal. –Respondi, levantando. –Mas se acha que vamos evoluir, de alguma forma, saiba que não vai acontecer. –Fez gesto de rendição.

—Tudo bem. Eu pelo menos tentei.”

Daniel acabou desistindo de mim, ao reparar que eu realmente não estava interessada nele. E de quase namorados passamos à apenas amigos. Tudo voltou ao normal, e eu não era mais a “garotinha do Daniel”. Ivan largou o apelido, e Luke me contou que foi porque Dan o mandou fazer isso, ao ver que eu estava começando a ficar incomodada. Ivan me pediu desculpas, e prometeu parar com a coisa dos apelidos. Temporariamente, pois Daniel passou a me chamar de “general”, só pra irritar, e aí todos passaram a me chamar assim também.

Eu podia ter ficado com Dan, mas não havia espaço pra esse tipo de coisa na minha vida, e eu estava meio assustada com isso. Ele era um cara super bonito, daquele tipo que parece um modelo e tal, mas realmente não ia rolar. Não na Dangerous.

Nada nunca aconteceu com os outros também. Como crescemos juntos, acabamos ficando amigos, e logo éramos como irmãos. Em incontáveis vezes eu os vi quase sem roupas, e eles me viram de roupas íntimas também. Nós encarávamos isso com naturalidade. Enquanto outros caras me olhariam com malicia, eles sequer pareciam notar que eu estava quase nua. Nunca vimos problemas nisso, mesmo depois de crescermos e nos tornarmos adultos.

Automaticamente, Ressler veio na minha cabeça. A encenação na nossa primeira missão juntos havia o deixado incomodado, o que não aconteceria se eu estivesse com qualquer um da minha equipe. Ok, talvez Daniel tiraria proveito e Ivan faria piadas, mas com certeza eles não estariam perto de ficarem vermelhos de vergonha. Era engraçado como podia ser tão... Diferente.

“-Caramba, nunca terminamos uma missão tão sujos. - Paul disse. Tirei a blusa e a leggue, entrando em um dos chuveiros. Como não havia portas em nenhum deles, nós não ousávamos tirar tudo.

—Aquela bomba filha da mãe lançou pó pra todo lado. –Luke reclamou.

—Nem me fale. –Murmurei, esfregando cada centímetro de pele que havia sido suja com o pó negro. –Vamos levar três horas pra nos lavarmos e sairmos limpos.

—Se quiser ajuda... –Daniel começou, cheio de diversão. Olhei feio pra ele enquanto os outros riam.

—Se concentre em tomar banho sem parecer estar num filme adulto, meu amigo, e depois conversamos.

—Ai, essa doeu. –Ivan zombou, levando água na cara de Dan. –Ei. Ela ta falando a verdade. Quer seduzir quem aqui, Vidar?

—Eu é que não sou. Acho que Dan e eu jogamos no mesmo time.

—Você tem um time?-Daniel perguntou, me esforcei pra fazer cara séria. Esse tipo de palhaçada geralmente acontecia quando íamos para o banheiro compartilhado.

—Tenho sim.

—Prova. Vem tomar banho comigo.

—Wou!-Paul fez, rindo. –Mais direto que isso, impossível.

—Se fosse bonito, Dan, até rolava. –Provoquei.

—Soldado ferido, pessoal! Chamem uma ambulância. –Todos rimos.

—Eu pelo menos tentei. –Daniel disse, fazendo gesto de rendição. Suspirei e me concentrei no meu banho. ”

Daniel sempre dizia que tudo era apenas brincadeira (as provocações dele), mas às vezes parecia que ele estava falando sério e tentando disfarçar se escondendo atrás de um tom debochado.

Era quase impossível saber quando ele estava brincando.


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Notas finais do capítulo

Capítulo meio parado, mas o próximo... Vish, segurem seus forninhos!
"-Estamos trancados!
—Não pode ter se trancado sozinha.
—Então alguém nos trancou. –Comecei a chutar a parede de metal. –Ei! Alguém está ouvindo? Ei!
—Não vão te ouvir. –Se afastou, pegando o celular, aí praguejou baixinho.
—O que foi? Tá esperando o que pra ligar pedindo ajuda?
—Não tem área."
...
"Quando a água começou a nos cobrir, nós nos separarmos, respirando todo o oxigênio que havia restado. A água nos cobriu por inteiro, não havia nenhuma parte sem ela sobrando.
Uma das coisas que eu não havia aprendido a fazer na Dangerous era prender a respiração por muito tempo. Coloquei a mão na garganta, sabendo que a qualquer momento água entraria nos meus pulmões. Era hora de dizer adeus."
O que estão achando? Comentem, eu não mordo! ♥



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