Pov's Manuela

Já está anoitecendo e eu estou ficando nervosa. Não podemos sair à essa hora. Lanternas podem atrair zumbis e é exatamente tudo o que não queremos.

— Não avançamos muito _ comentei em um suspiro.

— Por enquanto _ me completou.

Tomás e eu estamos trancados no quarto que tem nessa humilde casa. O ar da sala estava impregnado com o cheiro de defunto, e não podemos nos livrar dele pela porta ou janela porque ainda tem zumbis do lado de fora. Dá para ouvir aquele barulho agoniante que eles fazem.

— É só o primeiro dia _ ele continuou.

— Claro _ me levantei da cama e comecei a andar pelo quarto. _ Menos de um dia na estrada e já estamos trancados em uma casa, rodeados de zumbis famintos do lado de fora sem ter ideia de como sair. Realmente, não consigo ver melhor início para essa história! _ ironizei.

— Melhor aqui dentro do que dentro do estômago dos zumbis, não acha? _ perguntou calmo, ainda sentado no chão.

Cruzei os braços, aborrecida com minha derrota no diálogo e ele sorriu de lado.

— De qualquer forma, poderia ser melhor _ falei fuçando alguns livros da estante.

— Ou poderia ser pio...

— JÁ ENTENDI! _ me estressei. _ Fazendo comparações à coisas piores que podiam acontecer até eu ganho no jogo da conversa!

Ele riu da minha rápida explosão e logo um silêncio se instalou no quarto.

— Por que os zumbis não comem uns aos outros? _ perguntou passando a mão pela barba rala.

Percebi de imediato que era uma pergunta retórica, mas pensei em uma resposta mesmo assim. Logo me lembrei do cheiro horrível que saía do zumbi da sala antes e depois do tiro. Fedia das duas formas, principalmente depois de morto.

— Você comeria carne podre? _ ele franziu o cenho. _ Acho que eles preferem comer carne fresca, de pessoas e animais vivos.

Depois de um momento de pensamento da parte dele, Tomás finalmente falou.

— Claro! E acho que sei um jeito de sairmos daqui até amanhã sem nos preocupar.

Fui receosa e lentamente acompanhando seu raciocínio e não gostei nada.

— Não _ resmunguei.