Entre ladrões não se há honra. Jim ouvia essa frase enquanto estava no barco de Max, o antigo capitão de Jim, antes dele se tornar parte da tripulação de Ben. Max o ensinou a roubar, a atirar com uma pistola, a controlar um timão e a invadir. Há sete anos atrás, quando ele era apenas um garoto de quinze anos esguio, era ridiculamente fácil para ele. Agora, um homem de vinte e dois anos, já tinha um corpo mais cheio por músculos que uma vida no mar havia providenciado. Mesmo sendo mais alto e musculoso, Jim ainda mantinha aquela agilidade e velocidade que tinha há sete anos atrás.

                Por isso que entrar no navio não era um problema. Ninguém acordou naquela noite, nem o tripulante com os melhores ouvidos. A cabine do capitão daquele navio fedorento era a parte mais luxuosa. Jack era um porco, roupas e qualquer tipo de tralha estava jogada pelos cantos formando pilhas enormes. Aquele navio já teve dias melhores. Jack já foi conhecido por sua crueldade na espoliação, agora era apenas mais um pirata comum. Após perder a sereia sua vida se transformou em uma maré de azar.

                Ele estava usando o cordão, como havia imaginado. E roncava como uma porca. Jim imaginou que a tripulação já estivesse acostumada com aquele barulho horrível. Ele puxou uma faca do bolso e cortou o cordão puxando apenas a escama brilhante do pescoço do homem.

                Após sua vitória, em pegar a escama sem acorda-lo, Jim estava pronto para ir embora quando um brilho chamou-lhe a atenção. “Já conseguiu o que veio atrás, agora vá embora” pensou. Mas o brilho parecia chama-lo. E se Jack ainda possuía algum tesouro com ele, Jim o queria. Ele foi até o outro lado da sala e viu uma caixa, menor que o palmo de sua mão, feita de ouro. Ela brilhava com um único desenho em sua tampa. Um tridente. Jim o abriu e, antes que pudesse se arrepender da decisão, um grito estridente ecoou por todo navio acordando toda a tripulação, inclusive o capitão.

                - Mas que merda? – Perguntou Jack surpreso.

                Jim, por precaução havia ido com o rosto coberto com um pano e a cabeça estava coberta por um capuz. Ah, caro leitor... Nosso estimado ex-pirata se viu sem alternativas além de fugir, ele era bom nisso. Correu até a porta que estava aberta, porém Jack foi mais rápido e se colocou entre a porta e Jim. Sacando a espada o capitão sorriu. Jim tentou frear, mas o chão encerado o fez escorregar em direção a lamina brilhante da espada. Não se preocupem, leitores, nosso ex pirata já saiu de situações piores. Jim se jogou no chão de joelhos e deixou que a inercia tomasse conta de seu corpo. O garoto sacou sua faca que escondia na manga.

                A lamina sibilou enquanto o ladrão escorregava por baixo dela, por centímetros o metal cortou levemente sua bochecha direita. O que poderia acabar com um degolamento foi apenas um corte raso na bochecha, então foi como uma vitória. Assim que sua cabeça estava a salvo da lamina, Jim ergueu sua faca e cortou o pulso do homem que segurava a espada. Este corte, caros leitores, foi profundo. Jack soltou a espada em um grito enquanto Jim se levantava e corria até a água.

                - Volte aqui, seu puto! – Jack correu até a beira do navio segurando fortemente o pulso que sangrava, porém era tarde, o ladrão já havia desaparecido na escuridão.

                O ladrão subiu na proa do navio, o responsável por fazer a vigia ficaria na popa, do outro lado do navio. Seus pés tocaram a madeira do piso sem fazer barulho. Ele estava encharcado, tudo foi como ele não esperava.

                - Um pouco tarde para nadar – Simon surge da escuridão, estava sentado na beira do deque entalhando.