Sentada mais uma noite nessa mesa de jantar, comendo em silêncio e só. Sabendo que ele nunca voltava para casa antes das duas da manhã, fazia somente comida para uma pessoa, uma pobre pessoa de amor, de espírito. Eu estava fraca, não tinha forças nem para lutar comigo mesma, com meus sentimentos.

Acabando de jantar, levantei-me e peguei meu prato e talheres, levando-os até a pia, e voltei para recolher o copo. Lavei a louça. Os mesmos movimentos de todos os dias.

Ao acabar deu pequenos passos até a sala, sentando-me no confortável e luxuoso sofá, peguei o controle e liguei a televisão de tela plana. Imagem nítida, sem um chuvisco, mas isso não me interessava. Fiquei mudando de canal para ver se encontrava algo bom o suficiente para de distrair, deixei em um canal sobre culinária, adorava cozinhar. Após quarenta minutos, fitei o relógio, marcava exatamente 23hrs 16min. Suspirei cansada, desligando a TV em seguida, coloquei meu chinelo e subi a longa escada.

Ao entrar no quarto, fui até  o espaçoso armário, abrindo a gaveta que geralmente ficava roupas de dormir. Peguei a primeira que minha mão tocou, vestindo-a em seguida. Era uma preta decotada, com rendas da mesma cor delineando o busto, era curta, dos lados com uma pequena abertura, em cima do seio esquerdo, tinha uma flor prateada, e embaixo dela escrito em japonês: “Sensualidade”. Essa era por sinal, a camisola que eu usei na noite de núpcias.

Outro suspiro. Deitei-me no meu lado da cama. Aquela cama parecia tão espaçosa toda noite. Queria que ele estivesse ali comigo. Mas não estava, e por quê? Eu não era mulher o suficiente para satisfazê-lo, fazendo com que meu próprio marido fosse procurar satisfação na prima.

Mal amada. Era exatamente a palavra que a definia.

Resolvi deixar os pensamentos de lado, fechei os olhos, tentando imaginar, qualquer outra coisa... Mas logo lágrimas me vieram, agora ele deveria estar com ela. Aos beijos.

Tentei fechar os olhos novamente. Fiquei prendendo as lágrimas até adormecer.

Acordei pela manhã, esfregando os olhos. Olhei para o lado. Ele não estava. Não me surpreendi, não era nenhuma novidade mesmo. Levantei-me vagarosamente, erguendo uma das alças da minha fina camisola que caia pelo meu ombro. Apoiei a mão na cama, e dei um leve impulso para levantar-me.

Fui andando em passos lentos até o banheiro, apoiei a mão na pia, abaixando-me um pouco, abri a torneira, fazendo uma concha com as mãos, e molhando o rosto.

Olhei meu reflexo no espelho. Inútil. Era como eu me via.  Bati na pia de mão fechada. Ódio, apenas ódio que sentia. Ódio de mim, da minha vida, de tudo.

Se continuasse assim, morreria em breve. Porque a cada dia, eu me enfraquecia mais. Não queria, não podia, não devia deixar as coisas continuar esse rumo. Tinha que tomar uma decisão é já. Não suportava mais isso, é muita tortura.

Eu estava enlouquecendo aos poucos, em silêncio. E o tempo, era meu inimigo. Vou tomar uma atitude e lutar contra ele, recuperarei todo o tempo que perdi naquela casa. Naquela maldita casa.

Olhei meu reflexo no espelho, minha expressão estava decidida. Despi-me rapidamente e entrei no chuveiro, molhando-me por completa. Deixei a água escorrer por meu corpo, apenas fechei os olhos pra sentir o gostoso contato que ela me proporcionava. Depois de alguns minutos assim, estendi a mão alcançando o frasco de shampoo, virei-o de cabeça para baixo, colocando um pouco de seu conteúdo em uma mão, apliquei no cabelo, colocando o frasco em cima da prateleira própria para box. Fiz diversos movimentos com as pontas do dedo. Enxaguei, e logo após, fiz o mesmo com o condicionador. Passei sabão por todo meu corpo, o enxaguei, e assim terminei meu banho.

Estendi a mão, e alcancei a macia toalha perfeitamente branca, enrolei-me nela e saí do box, peguei uma outra toalha. Joguei os cabelos para frente, e enrolei os cabelos com a toalha. Fui para o quarto. Abri meu armário, entre os cabides e várias roupas que eu tinha, fui procurando alguma que me agradasse. Finalmente achei uma. Peguei o vestido e coloquei-a sobre a cama com cuidado, passei levemente a mão sobre ele, era um vestido que eu comprei, mas nunca havia usado. Falta de ocasião talvez.

Abri uma gaveta onde continha pencas íntimas. Peguei uma pequena calcinha branca e um sutiã tomara que caia da mesma cor, vesti as peças e logo em seguida, com muito cuidado, o vestido.

Peguei o secador e liguei-o na tomada, sequei todo o meu cabelo. Deixando-o brilhosos e sedosos.

Voltei para o banheiro, e abri o armário que ficava embaixo da pia, e peguei minha nécessaire de maquiagem que não usava à tempos. Abri-a, e retirei de lá uma base da cor da minha pele, abri aplicando-a um pouco à baixo de meu olhos, para esconder as olheiras de noites mal dormidas e de choros. Após aplicá-las perfeitamente, peguei um lápis de olho, e contornei meus olhos, deixando-os bem marcados, ressaltando minhas esmeraldas. Para deixar minha pele mais viva, apliquei um pouco de blush na cor rosada, e para terminar, passei um gloss rosado nos meus lábios. Fechei a pequena maletinha e coloquei-a de onde eu tirei. Voltei para o quarto, pegando na sapateira, um scarpin arredondado preto, calcei-os. Optei por uma grande bolsa preta também, colocando algumas coisas necessárias.

Penteei meus cabelos róseos que batiam um pouco abaixo do ombro. Peguei uma parte de cabelo de cada lado, levando-os para trás, e prendendo-os com uma fivela dourada. Depois apliquei um pouco de perfume em meu pescoço.

Olhei-me no grande espelho. Tendo uma visão completa de mim, de meu corpo todo. Mirei-me sensualmente.

- Estou diante de uma nova mulher, e essa mulher não está aqui pra brincadeiras. Ela vai mostrar que pode dar a volta por cima, e surpreenderá a todos que um dia a subestimaram. – Com esse pensamente saí de casa, pegando o taxi, e pedindo ao mesmo que me levasse para o destino que eu tinha intenção de ir.