Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 18
Capítulo 18 - Memórias Restituídas


Notas iniciais do capítulo

Revelações rs



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WALTER

A casa de Bart era diferente das outras. Apesar da aparência antiga, Walter diria que ela se parecia bem mais com uma casa comum do planeta Terra comparada às outras no vilarejo, pois era composta por blocos de tijolo e cimento.

Rick bateu na porta de madeira e esperou por uma resposta, porém não houve nenhuma. Rick insistiu e bateu de novo, dessa vez mais forte.

— E se ele não estiver em casa? — Walter sugeriu.

— Duvido — Rick respondeu. — O Bart deve estar no porão secreto da casa dele trabalhando nos seus rituais.

Depois de mais alguns minutos sem respostas, Rick experimentou girar a maçaneta da porta. Para a sua surpresa, ela estava aberta. Empurrou a porta devagar e espiou o interior da casa.

— Bart? — Rick disse, entrando.

Walter seguiu o amigo e fechou a porta atrás de si. O lugar estava escuro, mas foi possível perceber o vulto de alguém de costas, sentado em uma cadeira, na cozinha. Ele tinha estatura de um adolescente e cabelos loiros bem mais claros que os de Walter.

— Bart, é você? — Rick se aproximou da pessoa e tocou o seu ombro. — Por que você não foi abrir a porta?

— Rick — a pessoa respondeu. Sua voz era como a de alguém que acabara de presenciar algo traumatizante.

— Bart, você está bem? — Rick insistiu. Ele virou a cadeira com Bart ainda sentado nela e o obrigou a encará-lo. O olhar do jovem era de peixe morto.

— Estou. Eu... — Bart se levantou calmamente. — Eu vou preparar algo para bebermos — disse, roboticamente.

Rick não protestou. Ele deixou Bart ir, e depois encarou Walter com uma expressão que dizia “Ele não é sempre assim”.

O garoto se dirigiu aos armários de madeira velha na sua cozinha, abriu, e pegou um copo. Bart o deixou cair no chão, como se o objeto tivesse duzentos quilos. O copo de vidro marrom se despedaçou no chão.

— Opa — disse, enquanto pegava outro copo, porém, o mesmo aconteceu a este.

— Bart, você obviamente não está bem. — Rick segurou os braços de Bart e o fez sentar novamente em sua cadeira. — Me diz. O que você está sentindo? Tontura? Febre?

Bart não respondeu. Ele ficou olhando para o nada com seus olhos de peixe. Suas mãos e braços estavam tremendo como alguém com mal de Parkinson.

— E a sua esposa? Onde ela está? — Rick forçou a memória. — Qual é mesmo o nome dela? Alice?

Bart começou a gritar, fazendo Walter e Rick levarem um enorme susto. O garoto colocou as duas mãos na cabeça e caiu da cadeira.

— Droga — ele rugiu. — Que dor de cabeça.

De repente, Walter começou a ficar com um medo irracional de estar ali. Tinha alguma coisa errada acontecendo. Ele se aproximou da porta para poder escapar rápido caso algo acontecesse. Porém, para a surpresa dele, a porta se abriu.

— Bart, cheguei... — A pessoa que abriu a porta perdeu a voz assim que encarou Walter, e o garoto se sentiu da mesma maneira.

Era ela. A maldita que havia ido à Terra atrás de Rick. A vadia que havia dito que Walter tinha cheiro de peixe. Fora ela quem havia começado todos os problemas de Rick.

— Sofia.

— Opa. — Ela sorriu cinicamente. — Parece que eu cheguei na hora errada. — A garota deu meia volta e já estava preparada para fugir.

De repente, uma enorme parede de pedra se levantou do chão e cobriu quase toda a porta, deixando apenas uma pequena fresta por onde passava um feixe de luz.

— Você não vai a lugar nenhum — Rick disse, sombriamente. Ele foi até Sofia e segurou seu braço com força.

— Olá, Rick. Com saudades de mim? — Ela continuou sorrindo, mas era óbvio que a garota estava nervosa. Sofia estava encurralada.

— Você vai nos explicar exatamente o que está havendo aqui — Rick ordenou, ignorando o comentário da mulher águia.

— Não precisa. — Quem respondeu foi Bart. Ele havia se recuperado da dor de cabeça e estava de pé. Seu olhar de peixe morto havia desaparecido completamente e dado lugar a uma expressão ainda mais furiosa que a de Rick.

— Deixa que eu explico. — Bart chegou perto de Sofia, a olhou no fundo dos olhos e lhe deu um tapa que a faria cair se Rick não estivesse segurando-a.

A marca da mão do garoto ficou estampada em vermelho no rosto de Sofia, que começou a olhá-lo com a mesma raiva que ele.

— Bart — Rick perguntou, olhando para o rapaz com um pouco de surpresa. — O que foi que a Sofia fez?

— Eu vou dizer — Bart respondeu —, mas antes vamos levá-la para o porão. Tem algumas coisas que quero perguntar a ela.

Rick e Walter levaram Sofia para o porão secreto — que agora não era mais secreto — na casa de Bart. O alçapão para a entrada do local ficava debaixo de uma cama grande no quarto do garoto.

O lugar era maior do que Walter pensava. Havia várias mesas com diversos frascos de vidro contendo variados líquidos de cores diferentes. Algumas mesas também tinham pedras e outros materiais que Walter desconhecia.

Depois de andarem um pouquinho, chegaram ao final do lugar, onde havia uma cadeira encostada na parede. Rick e Walter forçaram sua prisioneira a sentar, e logo em seguida Bart prendeu os pulsos dela nos braços da cadeira com cordas de sisal.

— O que vão fazer? — Sofia perguntou, em tom entediado. — Me torturar?

— Não — Bart respondeu. — A não ser que você não responda o que eu quero saber.

O garoto foi em direção de uma de suas mesas onde continham uma série de elementos coloridos diferentes. Walter viu Bart misturar dois ou três destes elementos dentro de um copo de vidro maior que os outros. Ouviu-se um chiado sutil quando ele fez isso. Depois, ele puxou uma cadeira, a posicionou de frente para Sofia, e se sentou.

— Certo, Sofia — ele disse, com o copo do líquido prateado e fumegante nas mãos. — Primeira pergunta: Para quem você trabalha?

Sofia encarou Bart com uma expressão preocupada, mas logo ela se desfez e ela sorriu desafiadoramente.

— E se eu não responder, vai fazer o quê?

Bart a olhou com certa felicidade no olhar como se pensasse “Que bom que perguntou isso”. Num movimento vagaroso, ele inclinou o copo na sua mão levemente para baixo e deixou que uma pequena parte do líquido caísse sobre as coxas de Sofia, cobertas pelo seu vestido branco.

A garota águia gritou de dor. Ela fez uma careta e lágrimas saíram de seus olhos. Estava saindo fumaça do local onde Bart jogara o líquido. Quando esta se dispersou, Walter viu que havia um buraco mediano no vestido de Sofia, e que na parte de sua coxa que agora estava exposta, encontrava-se uma queimadura horrível. Uma bolha já estava começando a se formar ali.

Walter deu uma olhada no copo. Ele não sabia qual era o elemento que Bart estava usando para torturar Sofia, mas sabia que era extremamente poderoso. Apenas algumas gostas dele haviam feito um estrago na pele da garota. Se Sofia continuasse se recusando a responder, ainda tinha líquido o suficiente no copo para fazer no mínimo umas dez perguntas.

— Eu perguntei para quem você trabalha — Bart disse, num tom mais duro.

Sofia estava ofegante. Obviamente o líquido ácido em contato com a pele, além de fazer um estrago, era extremamente doloroso. Mas mesmo assim, ela insistiu em sorrir e disse:

— É só isso o que você tem?

Bart a olhou com ódio e já estava pronto para despejar mais do ácido na garota, mas Rick segurou em seus ombros e o impediu de fazer isso.

— Não precisa dessa coisa toda — Rick disse. — Nós sabemos para quem a Sofia trabalha. É um cara chamado TR.

Bart encarou Rick, com dúvida no olhar.

— Não pode ser. TR está morto. Eu mesmo o matei.

— Rá! — Sofia gritou, em tom de deboche. — Até parece.

Bart encarou Sofia e balançou o conteúdo no copo lembrando a ela que deveria permanecer calada.

— Como eu ia dizendo. — Ele pigarreou. — TR foi um espírito que me deu trabalho há algum tempo. Mas eu me livrei dele.

— Então, ou esse é outro TR — Rick respondeu — ou o TR que você matou ressuscitou.

Bart encarou Sofia novamente, sempre informando a ela indiretamente de que ele iria fazê-la sofrer muito caso não cooperasse.

— Muito bem, senhora dos ventos. Pergunta número dois: Quem exatamente é TR?

Sofia olhou para o ferimento em sua coxa, depois para o ácido no copo, e depois para quem estava segurando o copo. Ela parecia estar pensando até onde Bart seria capaz de ir para obter as respostas que queria.

— Não vai responder? Tudo bem, então. — Ele já ia despejar mais do ácido em Sofia, mas então ela falou.

— Ah, qual é, garoto? — ela disse, assustada. — TR significa The Resuscitator, o espírito ressuscitador. Você acha mesmo que ele ia ficar morto por muito tempo? Ele voltou, seu estúpido!

Walter achou que Bart faria alguma coisa contra Sofia por ela o ter chamado de estúpido, mas ele não o fez. Apenas assentiu com a cabeça e disse:

— Certo, então. Eu acredito em você. — Ele suspirou. — Então eu devo presumir que foi TR quem te deu o ritual para alterar a minha memória, fazendo eu acreditar que você era a minha esposa.

Sofia fez que sim com a cabeça.

Bart a encarou por um tempo, e então, sem avisar, ele despejou mais de seu líquido de tortura, dessa vez em maior quantidade e na outra coxa de Sofia. A garota gritou mais uma vez e mais lágrimas rolaram em suas bochechas. O ferimento que formara agora foi bem maior que o anterior.

Walter achou aquilo desnecessário. Sofia havia respondido à pergunta, então não tinha porquê machucá-la outra vez. Bart não era uma pessoa piedosa.

— Muito bem Sofia, aqui vai a última pergunta. — Ele se levantou e a olhou com fúria e impaciência. — O que você fez com a Alice?

— Fala daquela garota loira e enjoada? — Sofia deu um sorriso seco, pois ainda estava sofrendo devido ao último ferimento. — Eu tive que me livrar dela, ora.

Bart largou o copo em cima da cadeira onde estava sentado e agarrou o vestido de Sofia com brutalidade, puxando-a para a frente.

— Não brinque comigo, Sofia Seiko — ele disse num tom baixo e tenebroso. — Onde está a minha Alice?

— Morta! — Sofia praticamente cuspiu na cara de Bart, fazendo ele se irritar intensamente. O garoto largou ela na cadeira e lhe deu um tapa em sua bochecha esquerda, depois outro na direita.

— Vou fazer você engolir todo esse líquido. — Bart pegou o ácido novamente e já estava pronto para despejar todo o conteúdo no rosto da garota águia, no entanto, Rick segurou os braços dele fazendo o copo cair e se estilhaçar, despejando todo o líquido fumegante ao chão. Um enorme buraco foi formado na parte do piso onde o ácido caiu.

Ainda bem que Rick fizera aquilo, se não Walter mesmo o teria feito. Nem mesmo Sofia merecia o que Bart estava prestes a fazer com ela.

— Pensa bem no que está fazendo, Bart — Rick disse. — Não se deixe levar pela raiva assim.

Rick segurou o garoto até que ele se acalmasse. Quando isso aconteceu, ele soltou Bart, e este retornou furioso para a saída do porão. Rick e Walter o seguiram até o seu quarto, e depois até a sala.

— O que é que você vai fazer, Bart? — Rick perguntou, preocupado com o que o jovem poderia estar planejando.

— Não é óbvio? — ele respondeu. — Eu vou atrás do TR.

— Isso é loucura. Como vai encontrar TR a essa altura? Você vai acabar morrendo. — Rick segurou o braço do rapaz.

— Me solta. — Bart movimentou o braço com força para baixo, fazendo Rick soltá-lo. — Eu não me importo com as consequências. TR matou os meus pais. E agora ele matou a minha esposa. Eu vou fazer ele pagar.

— Gente — Walter disse, interrompendo o diálogo dos dois companheiros. — Odeio atrapalhar a conversa de vocês, só que... — Walter apontou para a entrada da casa. A porta estava aberta e a muralha de pedra que Rick fizera havia sumido.

— Não é por nada não, mas — ele falou — não havia uma parede enorme de rocha na porta?

De repente, Walter sentiu o vento no local se agitar, ficando cada vez mais forte, forte o suficiente para criar um enorme tufão dentro da casa e destruí-la aos poucos de dentro para fora. Walter teria sido atingido pelos destroços se Rick não tivesse criado um escudo rochoso para proteger a todos. No entanto, não fora o suficiente. A força do vento foi suficientemente poderosa para quebrar sua barreira e atingir o trio com milhares de rochas pesadas.

A última visão de Walter antes de desmaiar foi a de uma enorme águia usando suas asas para devastar tudo ao seu redor.


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